PARÂMETROS PARA MOBILIZAÇÃO PRECOCE DO PACIENTE CRÍTICO PARAMETERS FOR EARLY MOBILIZATION OF THE CRITICAL PATIENT Ricardo Ribeiro Badaró¹ José Aparecido de Sousa Júnior2 RESUMO Introdução: A imobilidade no leito leva a desordens clínicas como a sepse e a síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), déficit nutricional e exposição a agentes farmacológicos como bloqueadores neuromusculares e corticosteroides. Traduzem todos os fatores que podem afetar adversamente o status funcional e resultar em maior período de intubação orotraqueal e internação hospitalar. Objetivos: O objetivo desse estudo é avaliar os parâmetros que estão envolvidos na prática da mobilização do paciente crítico. Metodologia: A busca de artigos científicos foi realizada nas bases de dados PubMed, MedLine, LILACS e Cochrane utilizando as palavras-chave: Early mobilization, intensive care, physical therapy early, early mobilization parameters. Resultados/Discussão: A mobilização precoce tem se demonstrado um procedimento viável e seguro, que promove aumento da força muscular, permite em poucos dias a transferência do paciente da cama para a cadeira e a deambulação, e um menor tempo de internação na UTI e hospitalar. A monitorização durante e após o exercício é mandatória e recomenda-se a avaliação das variáveis cardiovasculares e respiratórias, além de observar o nível de consciência. Considerações finais: Esta análise da literatura permitiu verificar que a mobilização precoce tem sido evidenciada como uma terapia eficaz para a prevenção e tratamento de complicações provocadas pelo imobilismo. Palavras-chave: Mobilização precoce; terapia intensiva; fisioterapia motora precoce; parâmetros de mobilização precoce. ABSTRACT Introduction: Immobility in bed leads to clinical disorders such as sepsis syndrome and inflammatory systemic response syndrome (SIRS), nutritional deficiencies and exposure to pharmacological agents such as corticosteroids and neuromuscular blockers. Reflect all factors that can adversely affect tar functional status and result in greater periods of intubation and hospitalization. Objectives: The aim of this study is to evaluate the parameters that are involved in the practice of mobilizing the critical patient. Methods: A search of scientific literature was conducted in the databases PubMed, Medline, Cochrane and LILACS using the keywords: Early mobilization, intensive care, physical therapy early, early mobilization parameters. Results / Discussion: Early mobilization has proved a procedure feasible and safe, which promotes increased muscle strength, in ¹Fisioterapeuta do HRG e HMSS, docente da FG e mestrando pela SOBRATI. 2 Fisioterapeuta do Hospital Albert Einstein a few days allows the transfer of patients from bed to chair and walking, and a shorter hospital stay in ICU and hospital. Monitoring during and after exercise is mandatory and recommended the assessment of cardiovascular and respiratory variables, and observe the level of consciousness. Conclusion: This literature review has shown that early mobilization has been demonstrated as an effective therapy for the prevention and treatment of complications caused by immobility. Keywords: Early mobilization, intensive care, physical therapy early, early mobilization parameters. INTRODUÇÃO A síndrome do imobilismo é definida como uma diminuição do trofismo muscular, emagrecimento, retração de tendões e vícios posturais que podem provocar contrações permanentes, úlceras de pressão, dor, causadas pelo tempo de imobilidade. A imobilidade no leito leva a desordens clínicas como a sepse e a síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), déficit nutricional e exposição a agentes farmacológicos como bloqueadores neuromusculares e corticosteroides. Traduzem todos os fatores que podem afetar adversamente o status funcional e resultar em maior período de intubação orotraqueal e internação hospitalar.[1]. Estudos anteriores determinaram que, após uma semana de repouso no leito, a força muscular diminui cerca de 20%, com uma diminuição adicional de 20% em força a cada semana sucessiva(9). Outros afirmam que os prejuízos com a função muscular variam de uma diminuição diária de força muscular de 1,3 a 3% e de 10% no período de uma semana de inatividade(6). A etiologia da fraqueza adquirida na UTI é multifatorial, com uma série de estudos que estabelecem fatores de risco independentes para o seu desenvolvimento. Além disso, a presença de fraqueza muscular clinicamente detectável foi positivamente associada com o número de dias, e com duas ou mais disfunções orgânicas em uma análise multivariada [2]. Outros fatores de risco incluem a duração da ventilação mecânica [2] e tempo de internação [3], bem como níveis séricos de glicose [3] hiperosmolalidade, [4], e uso de nutrição parenteral [4]. Há 30 anos a mobilização precoce tem mostrado redução no tempo para desmame da ventilação e é a base para a recuperação funcional. Recentemente tem-se dado mais atenção para a atividade física (precoce) como uma intervenção segura e Página 2 viável em pacientes com estabilidade neurológica e cardio-respiratória.[5] A mobilização precoce inclui atividades terapêuticas progressivas, tais como exercícios motores na cama, sedestação a beira do leito, ortostatismo, transferência para a cadeira e deambulação.[6] Ainda há pouca informação sobre o melhor tipo de atividade para beneficiar os pacientes criticamente doentes durante a hospitalização. Existem poucos estudos publicados que detalham os benefícios, duração e frequência dos exercícios em pacientes de UTI. As práticas de fisioterapia variam grandemente entre UTIs, variando de amplitude de movimento passivo para a transferência de pacientes da cama para uma cadeira. Em geral, uma terapia mais intensa, como a deambulação, raramente ocorre em pacientes sob ventilação mecânica [7,8]. Um estudo multicêntrico [9] demonstra que apenas 27% dos pacientes com lesão pulmonar aguda tinha recebido qualquer fisioterapia na UTI, com tratamentos que ocorrem durante apenas 6% dos dias de UTI. Em uma outra observação, estudo de 20 pacientes fisiologicamente estáveis com internação na UTI de 5 a 15 dias [6] demonstraram que a atividade terapêutica para além de viragem simples e variedade de exercícios de movimento era raro, com apenas 1,5% das atividades observadas envolvendo terapia mais intensiva, como sentar em uma cadeira ou ficar em pé. Estudos têm confirmado que a mobilização em pacientes ventilados mecanicamente é um procedimento seguro e viável, diminuindo o tempo de internação na unidade de terapia intensiva e hospitalar. Porém mais estudos se fazem necessário para se identificar o tipo de exercício, duração, intensidade e a repercussão da fisioterapia motora precoce em grupos específicos de pacientes. O objetivo desse estudo é avaliar os parâmetros que estão envolvidos na prática da mobilização do paciente crítico, e portanto, buscamos definir o termo estabilidade do paciente crítico, descrever os parâmetros de estabilidade, definir mobilização precoce e apresentar os parâmetros de intensidade e evolução de carga para a mobilização do paciente crítico. METODOLOGIA Página 3 A busca de artigos científicos foi realizada nas bases de dados PubMed, MedLine (Literatura Internacional em Ciências e Saúde), LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências e Saúde) e Cochrane utilizando as palavras-chave: Early mobilization, intensive care, physical therapy early, early mobilization parameters. Para efeito de comparação foram selecionados estudos controlados, randomizados e prospectivos, abordando o tema mobilização precoce para pacientes em unidade de terapia intensiva que foram publicados nos últimos anos. Dos 64 artigos encontrados, apenas 17 preencheram aos critérios de inclusão. A maioria dos artigos sobre o tema foram publicados nos anos de 2005 e 2012. Dentre estes, todos os artigos abordavam sobre a aplicação da fisioterapia motora precoce em pacientes com diagnósticos variados. Não foram incluídos na pesquisa resumos de dissertações ou teses acadêmicas. RESULTADOS\DISCUSSÃO O imobilismo acomete os sistemas musculoesquelético, gastrointestinal, urinário, cardiovascular, respiratório e cutâneo.[6] O desuso, como no repouso, inatividade ou imobilização de membros ou corpo e a perda de inervação nas doenças ou injúrias, promovem um declínio na massa muscular, força e endurance. Com a total imobilidade, a massa muscular pode reduzir pela metade em menos de duas semanas, e associada à sepse, declinar até 1,5 kg ao dia.[6,10] Estudos experimentais com indivíduos saudáveis demonstraram uma perda de 4% a 5% da força muscular por semana.(9) Nos casos em que a conexão neural para o músculo é destruída, a atrofia muscular ocorrerá mais rapidamente.[6] Poucos são os estudos que abordam o papel da cinesioterapia em pacientes críticos, que na fase inicial são vistos como “muito doentes” ou “muito instáveis clinicamente” para intervenções de mobilização.[11] Porém, os exercícios terapêuticos demonstram benefícios, principalmente quando iniciados precocemente, apesar das variedades de abordagens.[12] Postergar o início dos exercícios apenas colabora para intensificar o déficit funcional do paciente. A mobilização precoce tem se demonstrado um procedimento viável e seguro, que promove aumento da força muscular, permite em poucos dias a transferência do paciente da cama para a cadeira e a deambulação, e um menor tempo de internação na Página 4 UTI e hospitalar. Além disso, os pacientes que receberam mobilização precoce tiveram menos dias de VM. Ao avaliar a função muscular dos pacientes de UTI utilizando estudos de condução nervosa e eletromiografia, doenças críticas associadas a alterações neuromusculares são ainda mais comuns. O trabalho de Garnacho, em 2007, demonstrou que 46% dos 1.421 pacientes de UTI avaliadas em 24 estudos tiveram doenças associadas a anormalidades neuromusculares. Estas anomalias foram associadas com um aumento na duração da ventilação mecânica e tempo de permanência. Durante o acompanhamento após a alta hospitalar, mais de 50% dos pacientes desenvolvem doenças associadas a alterações neuromusculares persistentes[3], com 28% sofrendo de deficiência grave, como tetraparesia, tetraplegia, paraplegia[4]. A atividade precoce teve um baixo risco (<1%) de complicações. Sendo que os eventos adversos não resultaram em extubações, complicações que necessitavam de uma terapia adicional, aumento de custos ou longo tempo de permanência hospitalar.[14] Para uma prática viável é necesssária uma equipe , que consiste de enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas físicos e técnicos de cuidados críticos. A equipe deve ser educada para trabalhar como uma equipe para realizar duas vezes por dia de atividade. Isto exige uma mudança na cultura da unidade e os hábitos equipe de trabalho durante um período de adaptação prolongada. Dentro dessa perspectiva, de cuidados e atenção múltipla, um enfoque multidisciplinar sobre a mobilização precoce é necessário, como parte das rotinas diárias de clínicos na UTI e a prática da mobilização precoce começa imediatamente após a estabilização fisiológica do paciente. A definição de "estabilização fisiológica 'varia entre os estudos publicados, mas geralmente leva em conta a estabilidade neurológica, respiratória, cardiovascular [8,15,14,17]. Apesar da estabilidade fisiológica, clínicos creem que a mobilização não é viável devido à presença de um tubo endotraqueal, o dispositivo de acesso vascular, ou outro equipamento médico. No entanto, em um estudo de coorte prospectivo [14] pacientes com um tubo endotraqueal participaram de 593 eventos de atividade, desde sentado na beira da cama até a deambulação. Em 42% destes eventos que envolvem Página 5 deambulação, não houve extubações acidentais [14]. Além disso, durante um total de 1.449 eventos de atividade, houve apenas um incidente de deslocamento do equipamento, que envolveu a remoção acidental de um tubo de alimentação [14]. Estes resultados são reforçados por um estudo controlado de um protocolo de mobilidade em 145 pacientes entubados na UTI [8], em que nenhum incidente de remoção acidental de dispositivos foram relatados. Estes estudos indicam que a mobilidade precoce na UTI é viável com uma cultura de apoio. A definição de "precoce" é o intervalo de partida com a estabilização fisiológica inicial e contínua através da internação em UTI. Este intervalo é cedo comparado com a atividade que começa geralmente após alta da UTI. Alguns trabahos levam em consideração os seguintes fatores: o critério neurológico para iniciar a sua atividade deve ser a resposta do paciente ao estímulo verbal, e portanto, a atividade não seria iniciada em pacientes comatosos; porém outros autores defendem a utilização da mobilização precoce mesmo em situações de coma, através de atividades passivas ou utilização de eletroestimulação. Os critérios respiratórios para iniciar atividade foram FIO2 menor que 0.6 e pressão expiratória final positiva menor que 10 cm H2O. Os critérios de circulação para iniciar a atividade são a ausência de hipotensão ortostática e pinga de catecolaminas. Para pacientes que não satisfazem os critérios respiratórios ou circulatórios, mas que de outra forma parecia pronto para a atividade, deve-se iniciar um estudo cuidadoso da atividade com monitorização cuidadosa dos efeitos adversos. Portanto, deve-se observar uma adequada reserva cardiovascular, demonstrada por variação menor que 50% da FC de repouso, e pressão arterial sistólica menor que 200mmHg e acima de 90mmHg; adequada reserva respiratória, demonstrada pela saturação periférica de SpO2 maior que 90%, com fração inspirada de oxigênio FiO2 menor que 60%, sem sinais de desconforto respiratório e frequência respiratória FR menor que 25ipm. A monitorização durante e após o exercício é mandatória e recomenda-se a avaliação das variáveis cardiovasculares e respiratórias, além de observar o nível de consciência. Avaliação das variáveis cardiovasculares (frequência cardíaca e pressão arterial) e respiratórias (padrão muscular ventilatório do paciente e sincronia do paciente com o ventilador quando em VM, saturação periférica de oxigênio e freqüência respiratória), além de observar o nível de consciência e verificar as dosagens de Página 6 sedativos e drogas vasoativas.[3] Pacientes com instabilidade hemodinâmica, que necessitam de altas frações inspiradas de oxigênio (FiO2) e altos níveis de suporte ventilatório não são recomendados para atividades de mobilização mais agressivas. Devem ser critérios para interrupção da mobilização precoce os pacientes que apresentarem taquicardia ou bradicardia, sinais de desconforto respiratório evidenciado pelo uso de musculatura acessória, batimento da asa do nariz e aumento da FR acima de 25ipm, alteração da SpO2 para menor de 90% e aumento ou redução da pressão arterial média em 20mmHg. Uma padronização tanto dos críterios de adoção da terapia como da prática abordada na mobilização devem ser bem sistematizadas e organizadas em forma de protocolos a serem aplicados. Uma razão para a variabilidade observada no tratamento de fisioterapia para pacientes de UTI pode ser a falta de uma abordagem uniforme para a fisioterapia. Tais protocolos existem para outras intervenções na UTI: desmame da ventilação mecânica, a liberação de sedação. Para o nosso conhecimento não existem estudos anteriores que avaliam a eficácia, custo-benefício, ou hospitalar ou benefícios de longo prazo da terapia precoce mobilidade UTI em pacientes clínicos. Estudos sugerem que os protocolos de mobilidade sejam administrados aos pacientes 7 dias por semana exclusivamente pela Equipe de Mobilidade (enfermeira de cuidados intensivos, auxiliar de enfermagem e fisioterapeuta). A confirmação desses dados pode ser útil para justificar o início de um programa desse tipo para os administradores hospitalares. Tem sido adotado programas para início e evolução da mobilização precoce do paciente crítico, e são divididos em 4 ou 5 fases de fácil aplicação. As informações fornecidas incluem os tipos de pacientes para os quais cada fase é adequada, mobilidade na cama, transferências, marcha, exercícios terapêuticos, o posicionamento, a educação, e a duração e freqüência das sessões de mobilidade. Uma boa comunicação dentro da equipe multidisciplinar da UTI, que inclui um médico, fisioterapeuta e enfermeiro, é fundamental para proporcionar a mobilização adequada, dependendo da estabilidade clínica do paciente. O objetivo na fase 1 é iniciar a mobilização, logo que uma condição médica do paciente seja estável. Enquanto o paciente estiver inconsiente deve ser realizada Página 7 mobilização passiva em todas as articulações dos MMSS e MMII, onde deve ser utilizada toda a amplitude de movimento, pelo menos duas vezes o dia. Além disso, é importante manter um bom posicionamento articular. A fase 2 inclui pacientes cuja condição médica geral e força permitir atividades com maior grau de funcionalidade. Os doentes devem ser capaz de seguir comandos simples de forma consistente e para participar em terapia. O avanço para o nível dois exige força muscular dois para os MMSS. Além das mobilizações realizadas anteriormente, pode-se iniciar exercícios ativos-assistidos ou exercícios livres nas mesmas articulações de MMSS e MMII.Também pode-se exigir do paciente a manutenção da posição sentada por 20’ minutos, duas vezes ao dia. Na fase 3, os pacientes devem seguir avanços que estão prontos para iniciar um programa de reeducação progressiva, com força de MMSS acima de 3, e devem realizar os mesmos exercícios da fase anterior, mas primeiramente contra a gravidade e depois com auxílio de peso. Utiliza-se também as transferências para a beira do leito e cicloergometria para MMII por 3, 5, e 10 minutos, com escala de Borg entre 12 e 13. Durante a fase 4, observa-se o atendimento de pacientes que são transferidos para fora do leito, sendo capazes de passarem do leito para uma cadeira, além de permanecer em ortostatismo. Para isso, deve apresentar grau de força muscular para quadríceps maior ou igual a 3. Na fase 5, no último estágio do programa de mobilização, podem ser adotados todos os exercícios das fases anteriores, com adição de exercícios de equilíbrio, transferência de peso e deambulação assistida. Chiang et al., em 2006, testaram o efeito de um programa de treinamento físico de 6 semanas em pacientes ventilados mecanicamente por mais de 14 dias que não tinham recebido fisioterapia antes da internação na UTI. O programa consistiu de um treinamento para os músculos periféricos e respiratórios. O treinamento muscular periférico seguia a seguinte ordem: 1) exercícios para as extremidades superiores e inferiores, focando em movimentos passivos e ativos com pesos leves enquanto o paciente permanecesse na cama; 2) treinamento funcional a beira do leito, focando em mudança e transferências para fora da cama; 3) deambulação. Uma melhora foi relatada no índice Barthel de Atividade de Vida Diária (AVD) e em todos os subitens da Medida Página 8 de Independência Funcional (FIM), que incluem atividades de vida diária, controle esfincteriano, mobilidade e execução de funções.[17] Bailey et al., em 2007 realizaram um estudo de coorte prospectivo, focando a segurança e a viabilidade da deambulação precoce em pacientes ventilados mecanicamente por mais de 4 dias que foram admitidos na UTI respiratória. A atividade iniciava-se precocemente quando o paciente atendia adequadamente aos critérios neurológicos (resposta a estimulação verbal), respiratórios (fração inspirada de oxigênio (FiO2) < 0,6 e pressão expiratória final positiva (PEEP) < 10 cmH2O) e circulatório (ausência de hipotensão ortostática e uso de catecolaminas). O protocolo continha 4 níveis de atividade. O paciente estando inconsciente era realizado mobilização passiva nas extremidades superiores e inferiores 3 vezes por dia pelos auxiliares (Nível I), sendo realizadas 5 repetições em cada articulação. A fisioterapia era iniciada no nível II, onde o paciente estaria habilitado a participar se respondesse corretamente 3 dos 5 comandos a seguir: “Abra (feche) os olhos”, “Olhe para mim”, “Abra a boca e coloque a língua para fora”, “Movimente a cabeça” e “Levante a sobrancelha quando eu tiver contado até 5”. O avanço para os próximos níveis foi baseado na força muscular durante um esforço, força 3/5 em bíceps para avançar do nível II para o III e força 3/5 em quadríceps para evoluir do nível III para o IV, sendo realizado 5 repetições por exercício. A progressão aos exercícios era sempre focada em atividades funcionais como transferência para a beira do leito, para a cama ou cadeira, atividades de equilíbrio em sedestação, exercícios em ortostatismo e deambulação.[14] Outro parâmetro importante a ser avaliado nos doentes críticos é a independência funcional prévia ao internamento na UTI através das escalas de Barthel e da Medida de Independência Funcional (MIF), quando oportuno, para quantificação da perda funcional durante internamento e para melhor direcionamento do tratamento fisioterapêutico; e quando não é possível, deve-se realizar a aplicação das escalas durante o período de internação ou na alta hospitalar para uma avaliação da evolução futura. Por fim, as complicações neuromusculares após a doença crítica são comuns e podem ser persistentes. Para a melhora destas complicações, o interesse pela mobilização precoce vem crescendo a cada dia, e tem se tornado um campo de estudo que envolve aspectos relacionados não só aos parâmetros, mas aos impactos na Página 9 diminuição de custos hospitalares, aumento de vagas em UTIs devido a uma menor permanência do paciente, além de uma melhor funcionalidade do indivíduo após a alta. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta análise da literatura permitiu verificar que a mobilização precoce tem sido evidenciada como uma terapia eficaz para a prevenção e tratamento de complicações provocadas pelo imobilismo. Sendo um tratamento que merece atenção especial por parte dos profissionais que compõe as unidades de terapia intensiva. Porém a ausência de uma padronização nos parâmetros e o uso de metodologias variáveis entre os estudos realizados impossibilitou a comparação da eficácia entre os protocolos apresentados. Grande parte dos estudos analisados nesta revisão restringe-se à utilização da mobilização manual. Porém, a eletroestimulação em indivíduos inconscientes, a bicicleta ergométrica(utilização de cicloergômetros), e a utilização de atividades funcionais específicas são recursos ainda pouco utilizados em unidades de terapia intensiva, e podem ser caminhos para futuros trabalhos na área da mobilidade em terapia intensiva. REFERÊNCIAS 1. FRANÇA EET, FERRARI FR, FRNANDES PATRÍCIA V, CAVALCANTI R, DUARTE A, AQUIM EE, DAMASCENO MCP. Força tarefa sobre a fisioterapia em pacientes críticos adultos: Diretrizes da Associação Brasileira de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva (ASSOBRAFIR) e Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). [Internet].[citado 2009 Nov 11]. 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