Vigotski

Propaganda
FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
“Psicologia da Educação I - Teorias Psicogenéticas e Temáticas Educacionais
Contemporâneas"
Professora: Elizabeth dos Santos Braga
Slides utilizados na disciplina (2º semestre / 2013)
O INSTRUMENTO E O SÍMBOLO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
VIGOTSKI
Explicação do desenvolvimento infantil
 Modelos botânicos e zoológicos
o Maturação per se: fator secundário no desenvolvimento das formas mais
complexas do comportamento humano
o Paradoxo: singularidade dos processos humanos X extensão direta dos
processos correspondentes nos animais
Análises da inteligência prática nos animais e nas crianças
 Kohler - experimentos com macacos antropoides
o comparação com a inteligência prática na criança
 K. Buhler e C. Buhler- experimentos com crianças pequenas
o manifestações de inteligência prática em crianças do mesmo tipo das dos
chimpanzés
o K. Buhler:
 “idade de chimpanzé”
 início da inteligência prática  independente da fala
 relações entre fala e raciocínio prático permanecem intactas ao longo
da vida
Reflexões de Vigotski
 “[...] o sistema de atividade da criança é determinado em cada estágio específico,
tanto pelo seu grau de desenvolvimento orgânico quanto pelo grau de domínio no uso
de instrumentos.” (Vygotsky, 1991, p. 23)
 Crítica a Buhler  raciocínio técnico independente da linguagem por toda a vida
 “Essa análise, postulando a independência entre ação inteligente e fala, opõe-se
diretamente aos nossos achados, que, ao contrário, revelam uma integração entre fala
e raciocínio prático ao longo do desenvolvimento.” (p. 24)
Outras análises da inteligência prática nas crianças e animais
 Shapiro e Gerke - desenvolvimento do raciocínio prático em crianças, com base em
Kohler
o papel dominante da experiência social por meio do processo de imitação
o ações repetidas acumulam-se, umas sobre as outras, como numa fotografia de
exposição múltipla  cristalização de um esquema, um princípio definido de
atividade
Reflexões de Vigotski
 Críticas:
o concepção mecanicista de repetição
o não consideração das mudanças na estrutura interna das operações
intelectuais da criança
o análise da fala  não leva em conta a contribuição para o desenvolvimento de
uma nova organização estrutural da atividade prática
Outras análises da inteligência prática nas crianças e animais
 Guillaume e Meyerson - experimentos com macacos antropoides
o métodos coincidentes com os usados por afásicos
Reflexões de Vigotski
 “[...] a fala tem um papel essencial na organização das funções psicológicas
superiores.” (p. 25)
 importância de se compreender a atividade prática das crianças quando começam a
falar
 preocupação com as formas de inteligência prática especificamente humanas
Considerações da psicologia da época sobre o uso de signos e o uso de instrumentos
 Kohler: uso de instrumentos por macacos antropoides  independente da atividade
simbólica
 Estudo do uso de instrumentos isolado do uso de signos  comum entre os psicólogos
que analisam o processo simbólico em crianças
 Uso de signos verbais
o exemplo do intelecto puro e não como produto da história do
desenvolvimento da criança
o produto da atividade mental (Stern)
 Inteligência prática e fala
o origens diferentes
o participação conjunta em operações comuns sem importância psicológica (ex.:
Shapiro e Gerke)
o estudados como processos separados
o ocorrência simultânea  fatores externos fortuitos
o fenômenos paralelos (ex.: análise da fala egocêntrica de Piaget)
o A relação entre o uso de signos e de instrumentos para Vigotski
 “Embora a inteligência prática e o uso de signos possam operar independentemente
em crianças pequenas, a unidade dialética desses sistemas no adulto humano constitui
a verdadeira essência no comportamento humano complexo. Nossa análise atribui à
atividade simbólica uma função organizadora específica que invade o processo do uso
de instrumento e produz formas fundamentalmente novas de comportamento.” (pp.
26-27)
A relação entre o uso de signos e de instrumentos para Vigotski
 “[...] o momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá
origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece
quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes
de desenvolvimento, convergem.” (p. 27)
FALA
(observações de Vigotski a partir dos experimentos)
 “Embora o uso de instrumentos pela criança durante o período pré-verbal seja
comparável àquele dos macacos antropóides, assim que a fala e o uso de signos são
incorporados a qualquer ação, esta se transforma e se organiza ao longo de linhas
inteiramente novas.” (p. 27)  uso de instrumentos especificamente humano
 “Antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a controlar o
ambiente com a ajuda da fala.” (p. 27)
 crianças em situações similares às dos macacos  não só agem, como também falam
 fala  aumenta em intensidade e torna-se mais persistente quanto mais complicada a
situação e mais difícil o objetivo a ser atingido
 aumento da fala egocêntrica (experimentos de Levina)
 “[...] a fala não só acompanha a atividade prática como, também, tem um papel
específico na sua realização.” (p. 28)
 “A fala da criança é tão importante quanto a ação para atingir um objetivo. [...] sua
fala e ação fazem parte de uma mesma função psicológica complexa, dirigida para a
solução do problema em questão.” (p. 28)
 “Quanto mais complexa a ação exigida pela situação e menos direta a solução, maior
a importância que a fala adquire na operação como um todo.” (p. 28)
 “[...] as crianças resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala, assim como dos
olhos e das mãos.” (p. 28)
 Ações de uma criança que fala ≠ ações de um macaco antropoide, na solução de
problemas práticos
o liberdade incomparavelmente maior das operações
o maior independência em relação à estrutura da situação visual concreta
o uso de métodos instrumentais ou mediados (com a inclusão de estímulos não
contidos no campo visual imediato)
o operações práticas menos impulsivas e espontâneas (ao invés de tentativas
descontroladas para resolver o problema, a criança que fala divide sua
atividade em duas partes consecutivas)
FUNÇÕES DA FALA NA ATIVIDADE PRÁTICA DA CRIANÇA
 uso de palavras  plano de ação específico  variedade maior de atividades 
procura e preparo de instrumentos/estímulos para a solução do problema e para o
planejamento de ações futuras
 planejamento da solução do problema (manipulação dos objetos substituída por um
processo psicológico complexo)
 controle do comportamento da própria criança (sujeito e objeto do próprio
comportamento)
ANÁLISE DA FALA EGOCÊNTRICA
 “[...] a quantidade relativa de fala egocêntrica [...] aumenta em relação direta com a
dificuldade do problema prático enfrentado pela criança.” (p. 29)
 Para Vigotski e seus colaboradores: fala egocêntrica  forma de transição entre a fala
exterior e a interior
 fala egocêntrica  fala comunicativa  muitas formas de transição (ex.: apelo ao
adulto)
 mudança na capacidade para usar a linguagem como instrumento para a solução de
problemas  internalização da fala socializada
 apelo ao adulto pelas crianças passa ao apelo a si mesmas  função interpessoal da
linguagem
 “A história do processo de internalização da fala social é também a história da
socialização do intelecto prático das crianças.” (p. 30)
RELAÇÃO DINÂMICA ENTRE FALA E AÇÃO
 “A relação entre fala e ação é dinâmica no decorrer do desenvolvimento das crianças.
[...] Inicialmente a fala segue a ação, sendo provocada e dominada pela atividade.
Posteriormente, entretanto, quando a fala se desloca para o início da atividade, surge
uma nova relação entre palavra e ação. Nesse instante a fala dirige, determina e
domina o curso da ação; surge a função planejadora da fala, além da função já
existente da linguagem, de refletir o mundo exterior.” (pp. 30-31)
LINGUAGEM E AÇÃO HUMANA
 Atividade intelectual verbal: “[...] uma série de estágios nos quais as funções
emocionais e comunicativas da fala são ampliadas pelo acréscimo da função
planejadora.” (p. 31)
 macacos antropoides  “escravos de seu próprio campo de visão” (Köhler)
 crianças  independência em relação ao ambiente concreto imediato
 função planejadora  visão do futuro
 “[...] a capacidade especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a
providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superar a ação
impulsiva, a planejar uma solução para um problema antes de sua execução e a
controlar seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para as crianças,
primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas.” (p. 31)
 Fala e ação  várias combinações (fusão, substituição da ação pela fala, apelo ao
adulto)
 “Ao fazer uma pergunta, a criança mostra que, de fato, formulou um plano de ação
para solucionar o problema em questão, mas que é incapaz de realizar todas as
operações necessárias.” (p. 32)
 “A capacidade que a criança tem de controlar o comportamento de outra pessoa
torna-se parte necessária de sua atividade prática.” (p. 32)
 Processo de solução de um problema: as crianças fundem a lógica do que estão
fazendo com a lógica necessária para resolver o problema com a cooperação de outra
pessoa
 “O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra
pessoa.” (p. 33)
 Desenvolvimento para Vigotski  ligações entre história individual e história social
 “Se os animais comunicam, eles não falam; se eles mudam o meio de alguma forma
(construindo ninhos, usando gravetos etc.), eles não planejam essas atividades, não
registram suas experiências, eles não constróem e transmitem conhecimento
adquirido através da linguagem, eles não trabalham; assim, é consensualmente aceito
que eles não produzem cultura ou fazem história. Cultura e história são
especificamente humanas. [...] Através do discurso o homem se distingue dos animais”
(Smolka et al., 1994, p. 110)

“Para tornar-se um ser ‘humano’, a criança terá de ‘reconstituir’ nela (não
simplesmente reproduzir) o que já é aquisição da espécie. Isso supõe processos de
inter-ação e inter-comunicação sociais que só são possíveis graças a sistemas de
mediação altamente complexos, produzidos socialmente.” (Pino, 1991, p. 35)
 “A incorporação da fala (sistema sígnico) à ação prática (simples uso de instrumentos)
constitui o limiar que separa a atividade propriamente humana, de natureza simbólica,
da atividade prática, própria das crianças na fase pré-verbal ou sensório-motora
segundo Piaget (Vygotsky, 1984). Todavia, a duplicidade de funções, umas inscritas na
ordem biológica, as elementares, as outras na ordem simbólica, as superiores, é
problemática, pois, embora a fala seja a porta de acesso à ordem simbólica, a criança
já nasce inserida nela como ‘objeto do discurso do outro’. Desde o início, ela é ‘sujeito’
de ações significantes para o outro, o que a insere irremediavelmente no circuito do
simbólico. Que outro sentido podem ter as palavras do autor quando afirma que,
‘desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um
significado próprio num sistema de comportamento social’ (Vygotsky, 1984, p. 33)?”
(Pino, 1991, p. 36)
Referências bibliográficas
PINO, A. O conceito de mediação semiótica em Vygotsky e seu papel na explicação do
psiquismo humano. Cadernos CEDES. Campinas : Papirus, nº 24, p. 32-43, 1991.
SMOLKA, A. L. B.; FONTANA, R. A. C.; LAPLANE, A. L. F.; CRUZ, M. N. A questão dos indicadores
de desenvolvimento: apontamentos para discussão. Caderno de Desenvolvimento Infantil.
Curitiba. v. 1, n. 1, p. 71-76, 1994.
VYGOTSKY, L. S. O instrumento e o símbolo no desenvolvimento da criança. In: A formação
social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Orgs. M. Cole et al.
Trad. J. Cipolla Neto. 4. ed. São Paulo : Martins Fontes, 1991.
Download