Hans-Georg Gadamer (19002002) Nasceu em Marburg, na Alemanha; Breslau • Em 1918 fez um curso de introdução às ciências humanas na Universidade de Breslau que incluía história, filosofia, literatura (especialmente alemã), música, línguas e história da arte. Em 1919 iniciou seus estudos em filosofia em Marburg com Paul Natorp, com o qual escreveu sua dissertação intitulada “A natureza do prazer de acordo com os diálogos de Platão”. 1922 - recebe o título de doutor e foi acometido pela poliomielite (o que o deixaria pelo resto da vida com um acentuado manquejar); Foi mantido isolado por meses e aproveitou o tempo para ler filosofia e na ocasião estuda a obra Investigações filosóficas de Edmund Husserl e encontra-se com Martin Heidegger em Freiburg. O projeto de uma hermenêutica filosófica Quando hoje falamos de “hermenêutica”, encontramo-nos situados, bem ao contrário, na tradição científica da modernidade. O uso moderno da palavra “hermenêutica” principia exatamente aí, quer dizer, com o surgimento do conceito moderno de método e de ciência. No seu uso aparece sempre implícita uma espécie de consciência metodológica. Não apenas possuímos a arte da interpretação como também podemos justificá-la teoricamente (GADAMER, 2002, p. 96). A analítica temporal do Dasein existente desenvolvida em Heidegger tem mostrado em minha opinião de maneira convincente que a compreensão não é um dos modos de comportamento do sujeito, mas o modo de ser do próprio Dasein. Neste sentido é como temos empregado aqui o conceito de “hermenêutica”. Ele designa a característica fundamental móvel do ser aí, que constitui sua finitude e sua especificidade e que portanto abrange assim o conjunto de sua experiência de mundo (GADAMER, 1984, p. 12). Em sua origem o problema hermenêutico não é de forma algum um problema metódico. Não se interessa por um método da compreensão que permita submeter os textos, igual que qualquer outro objeto da experiência, ao conhecimento científico. Nem sequer se ocupa basicamente de constituir um conhecimento seguro e de acordo com o ideal metodológico da ciência. Embora também trate de ciência, e também de verdade (GADAMER, 1984, p. 23). Em sua origem o problema hermenêutico não é de forma algum um problema metódico. Não se interessa por um método da compreensão que permita submeter os textos, igual que qualquer outro objeto da experiência, ao conhecimento científico. Nem sequer se ocupa basicamente de constituir um conhecimento seguro e de acordo com o ideal metodológico da ciência. Embora também trate de ciência, e também de verdade (GADAMER, 1984, p. 23). uma experiência de verdade que não somente é justificada filosoficamente, mas que é ela mesma uma forma de filosofar. Por isso a hermenêutica que aqui se desenvolve não é tanto uma metodologia das ciências do espírito nem tanto tentar entrar num acordo sobre o que são na verdade as ciências do espírito, mas dirigirse para além de sua autoconsciência metodológica, e sobre o que as liga com toda a nossa experiência de mundo (GADAMER, 1984, p. 25). Numa época em que a ciência está penetrando com mais força na práxis social, ela não poderá por sua vez exercer adequadamente sua função social se ocultar para si mesma seus próprios limites e o caráter condicionado do espaço de sua liberdade. A filosofia deve esclarecer justamente isso a uma geração que acredita na ciência até ao nível da superstição. É isso que faz com que a tensão entre verdade e método seja de uma inalienável atualidade (GADAMER, 1984, p. 642). O conceito de jogo Mas a experiência que tentamos fixar contra a nivelação da consciência estética consiste precisamente nisto, que a obra de arte não é nenhum objeto frente ao qual se encontra um sujeito por si mesmo. Ao contrário a obra de arte tem seu verdadeiro ser no fato de que se converte em uma experiência que modifica quem a experimenta. O “sujeito” da experiência da arte, o que permanece e fica constante, não é a subjetividade daquele que experimenta senão a obra de arte mesma. E este é precisamente o ponto em que se torna significativo o modo de ser do jogo. Pois este possui uma essência própria, independente da consciência daqueles que jogam (GADAMER,1984,p.145). A atração do jogo, a fascinação que ele exerce, consiste precisamente em que o jogo se faz dono dos jogadores. Inclusive quando se trata de jogos nos quais alguém deve cumprir tarefas que ele mesmo tinha planejado o que constitui a atração do jogo, é o risco de se ‘vai’, se ‘conseguirá’ ou se ‘voltará a conseguir’. Aquele que tenta, assim é na realidade o tentado. Justamente as experiências nas quais não tem mais do que um só jogador torna-se evidente até que ponto o verdadeiro sujeito do jogo não é o jogador mas o jogo mesmo. Este é o que mantém enfeitiçado o jogador, é o que o envolve e o mantém ali (1984, p. 149-150). Minha tese portanto é que o ser da arte não pode ser determinado como objeto de uma consciência estética, porque, por seu lado, o comportamento estético é mais do que sabe de si mesmo. É uma parte do processo ontológico da representação e pertence essencialmente ao jogo como jogo (GADAMER, Ed. Vozes, p. 172).