Cefaléias Leonardo Medeiros Residente Neurologia – Famema Prof. Dr. Milton Marchioli- Ambulatório Mário Covas Introdução • Definição – Todo processo doloroso referido no segmento cefálico, o qual pode originar-se em qualquer das estruturas faciais ou cranianas. Introdução • Representa, possivelmente, o sintoma mais freqüentemente referido na prática clínica. • 30% dos indivíduos apresentarão, ao menos uma vez ao ano, um episódio de cefaléia, e metade deste número, mais de dois. • Perda de 150 milhões de dias de trabalho e 329 mil dias de escola a cada ano (Stang e Osterhaus, 1996) Introdução • O que deseja o paciente que procura ajuda médica com queixa principal de cefaléia? Introdução • O que deseja o paciente que procura ajuda médica com queixa principal de cefaléia? – Explicação para o problema – “Por que comigo?” . Introdução • Prevalência – Enxaqueca: 15% (Rasmussen et al., 1995) – Cefaléia Tipo-Tensão: • 38,3% (Schwartz et al., 1998) • 70,4% (Ramussen et al., 1991) – Cefaléia em Salvas: 0,5-0,8% (Bigal et al., 2003) Introdução • Prevalência Cefaléias Secundárias Tipo Prevalência (%) Infecção sistêmica 63 Trauma craniano 4 Cefaléia induzida por drogas Distúrbios vasculares Adaptado de Rasmussen, 1995 3 1 Classificação Classificação • Primárias • Secundárias Enxaqueca ou Migrânea Definição Enxaqueca • “A enxaqueca é um distúrbio familiar caracterizado por crises recorrentes de cefaléia muito variáveis em intensidade, freqüência e duração. As crises são comumente unilaterais e geralmente associadas com anorexia, náuseas e vômitos. Em alguns casos são precedidas por, ou associadas com, perturbação neurológicas ou de humor. Todas estas características referidas não estão necessariamente presentes em cada crise ou em cada paciente” Epidemiologia • Segunda em (15-25%) • Sexo feminino vezes mais masculino Enxaqueca freqüência 2-3 que • 25% dos casos, início antes dos 10 anos; na sua maioria, antes dos 20 anos • História familiar (2/3 dos casos) Quadro Clínico Típico Enxaqueca • Recorrente • Periodicidade: mais comum no início ou final do dia • Freqüência variável (geralmente 1-4/mês) • Pode ocorrer poucas vezes no ano ou até ser diária • Pode aparecer “em salvas” (relacionada ou não a fenômenos periódicos como ciclos menstruais) Quadro Clínico Típico • Quatro fases: – Pródromo – Aura – Fase álgica – Fase de recuperação Enxaqueca Quadro Clínico Típico Enxaqueca • Pródromo – Sinais premonitórios – 24-48h antes da fase álgica – Manifesta-se com: • Distúrbios do humor (irritabilidade; depressão) • Distúrbios do sono (insônia) • Alterações na capacidade intelectual (dificuldade em memorizar) • Distúrbios gastrintestinais (anorexia; bulimia) Quadro Clínico Típico Enxaqueca • Aura – Sinais de disfunção neurológica focal – Duração: 5-20min – Pode preceder (minutos a horas) ou acompanhar a fase álgica – Manifesta-se com: • Alterações visuais – – – – Fosfenas (pontos de luminosidade, cintilações) Escotomas (pontos cegos) Teicopsias (espectro de fortificação) Micropsias e macropsias (diminuição ou aumento do tamanho dos objetos) – Diplopia – Perda da nitidez • Distúrbios da fala e da linguagem (afasia; disartria) • Distúrbios sensitivos (parestesias peri-orais, nas mãos) • Distúrbios motores (paresia) Enxaqueca Quadro Clínico Típico • Aura – evolução Enxaqueca Quadro Clínico Típico • Aura – evolução (espectro de fortificação) Enxaqueca Quadro Clínico Típico • Aura – espectro de fortificação Enxaqueca Quadro Clínico Típico • Aura – espectro de fortificação Enxaqueca Quadro Clínico Típico • Aura – manifestações visuais Quadro Clínico Típico Enxaqueca • Fase Álgica – Pulsátil (latejante) – Intensidade moderada a forte (pode acordar o paciente; o paciente pode ter que parar os seus afazeres) – Frontotemporal – Unilateral (2/3 dos casos) – Duração: 4-72h – Piora com esforço físico e movimentos da cabeça Quadro Clínico Típico Enxaqueca • Fase Álgica – Sinais e sintomas associados: • • • • fotofobia (80% dos casos) fonofobia osmofobia fenômenos vasomotores (palidez, sudorese e, menos freqüentemente, congestão nasal e conjuntival) • sintomas gastrintestinais (náuseas em 2/3 dos casos, vômitos em 1/3 dos casos, diarréias) • retenção hídrica e oligúria Quadro Clínico Típico Enxaqueca • Fase Álgica – Paciente interrompe suas atividades habituais – Procura lugar calmo, escuro, sem ruídos • Fase de Recuperação – Astenia; euforia. Quadro Clínico Típico Enxaqueca • Fatores precipitantes: – – – – – – – – – – – Problemas emocionais Modificações do ciclo vigília-sono (“sono atrasado”) Exposição a odores fortes e penetrantes (perfumes) Exposição a estímulos luminosos intensos Exercícios físicos intensos Menstruação Medicamentos (contraceptivos orais, nitroglicerina) Longas viagens aéreas Altitudes elevadas Jejum prolongado Alimentação: chocolate, aspartame, frutas cítricas, enlatados (conservantes com nitrito), queijos (tiramina), crustáceos – Ingestão de bebidas alcoólicas (vinho tinto) Quadro Clínico Típico Enxaqueca • Desativada por sono • Remissões comuns na gravidez e após a menopausa • Diminuição da freqüência e severidade com o passar dos anos Fisiopatologia Enxaqueca Enxaqueca Fisiopatologia Teoria vascula r Teoria da Depressão Alastrante Cortical Genética Teoria neurovascular Teoria serotoninérgica Fisiopatologia Enxaqueca • Teoria Vascular – Vasoconstrição inicial aura – Vasodilatação posterior cefaléia – “Hipoperfusão alastrante” (Olesen, 1990) Fisiopatologia Enxaqueca • Teoria da Depressão Alastrante Cortical – Onda de despolarização que se alastra pelo córtex cerebral, movendo-se da região occipital em direção à frontal a uma velocidade de cerca de 3 mm/min. – Seguida por um prolongado período de supressão da atividade neuronal Fisiopatologia Enxaqueca • Teoria da Depressão Alastrante Cortical Leão, 1944 Fisiopatologia Enxaqueca • Teoria da Depressão Alastrante Cortical – DAC e a “hipoperfusão alastrante” • Mesma velocidade de progressão – DAC e a aura migranosa • Relação têmporo-espacial Fisiopatologia Enxaqueca • Teoria Neurovascular – Sistema Trigêmino-Vascular (STV) • Ação ortodrômica – Transmissão da dor (núcleo caudal do trigêmeo) • Ação antidrômica – Inflamação neurogênica estéril perivascular – Ativação do STV: • DAC • “Gerador de migrânea” Fisiopatologia Enxaqueca • Teoria Serotoninérgica – Durante as crises: • Pico inicial no nível de serotonina (5-HT) plasmática vasoconstrição hipoperfusão aura • Queda subseqüente no nível de serotonina plasmática vasodilatação hiperperfusão cefaléia • serotonina plaquetária • metabólitos de serotonina na urina 5-HT = 5-hidroxitriptamina Enxaqueca Fisiopatologia Hipótese Integrada Fatores deflagradores (estresse, álcool, privação de sono, brilho intenso, barulho etc.) Cérebro propício (hiperexcitabilidade cortical/mesencefálica) Alterações genéticas e bioquímicas constitucionais Ativação de centros mesencefálicos ? (locus ceruleus, núcleo dorsal da rafe) DAC Hipofluxo alastrante Ativação trigeminal (STV) Condução antidrômica Aura Cefaléia DAC = Depressão Alastrante Cortical STV = Sistema Trigêmino-Vascular Condução ortodrômica trigeminal Inflamação estéril neurogênica perivascular Tratamento Enxaqueca “O tratamento do paciente com enxaqueca, ou qualquer outra forma de cefaléia, começa pela obtenção da história, atenção durante o exame e muitas vezes termina durante as explicações que precedem a prescrição do tratamento” Tratamento • Medidas Gerais Enxaqueca Tratamento • Tratamento das Crises Enxaqueca Tratamento Enxaqueca • Tratamento das Crises – Crises fracas que não cedem com medidas gerais • analgésicos comuns ou AINEs – Crises moderadas • analgésicos comuns, AINEs, derivados do ergot ou triptanos – Crises fortes • triptanos (+AINE se recorrente); dexametasona ou haloperidol – Estado migranoso • corticóides parenterais (associados ou não à ergotamina) Cefaléia Tipo Tensão Definição Cefaléia Tipo Tensão • “A CTT é caracterizada por cefaléia de fraca a moderada intensidade, que pode prejudicar, porém não inibir as atividades diárias do paciente. Tem qualidade em peso, pressão, aperto ou compressão, é bilateral e não é agravada por atos como subir escadas ou outros esforços físicos. Pode ainda acompanhar-se por não mais do que um dos seguintes sintomas: fotofobia, fonofobia ou náusea leve” Epidemiologia Cefaléia Tipo Tensão • Primeira em freqüência (40-70%) • Incidência igual em ambos os sexos • Início a partir da segunda ou terceira década (problemas emocionais, familiares e profissionais) • Estudo realizado em nosso meio mostrou que estudantes universitários reportam 24% de queda em sua performance quando com crise (Bigal et al., 2001). Quadro Clínico Cefaléia Tipo Tensão • Recorrente ou contínua • Periodicidade: geralmente no período vespertino ou noturno (após um dia estressante) • Freqüência: pode ocorrer poucos episódios no mês, mas pode ser diária ou até mesmo contínua. Quadro Clínico Cefaléia Tipo Tensão • Cefaléia: – Não latejante; em “peso”, “pressão”, “constrição” – Intensidade fraca a moderada (não acorda o paciente; o paciente não precisa parar seus afazeres) – Fronto-occipital ou têmporo-occipital – Bilateral – Duração prolongada: de 30 min a vários dias – Não piora com esforço físico ou movimento da cabeça Cefaléia Tipo Tensão Quadro Clínico • Cefaléia tipo tensional - localização Quadro Clínico Cefaléia Tipo Tensão • Sinais e sintomas associados: – Inexistência de fenômenos associados, como náuseas ou vômitos (no máximo náusea leve em casos crônicos) – Fotofobia ou fonofobia (somente uma das duas) – Pode estar associada a rigidez da musculatura cervical Quadro Clínico Cefaléia Tipo Tensão • Outras condições associadas: – Co-morbidade com alterações psiquiátricas • Episódica Pacientes ansiosos • Crônica Pacientes deprimidos Quadro Clínico Cefaléia Tipo Tensão • Fatores desencadeantes: – Tensão emocional – Situações que exigem contração muscular prolongada: • esforços visuais • dirigir veículos • outras situações de estresse • Fatores atenuantes: – Massagem – Relaxamento Cefaléia Tipo Tensão Formas Clínicas • CTT Episódica – Infreqüente Crises em < 1 dia/mês (< 12 dias/ano) – Freqüente Crises em 1 a 14 dias/mês • CTT Crônica Crises em pelo menos 15 dias de cada mês (≥ 180 dias/ano) Cefaléia Tipo Tensão Fisiopatologia Ansiedade, estresse, distúrbios emocionais Contração muscular exagerada e persistente (mm do pescoço, couro cabeludo, face) Sistema límbico Tronco cerebral Sistema trigeminal Sensibilização de nociceptores periféricos Sensibilização de interneurônios (medula ou centros supra-espinhais) Resposta antinociceptiva incompleta Modulação anormal da dor Cefaléia (mecanismo central) (mecanismo periférico) hiperexcitabilidade neuronal Tratamento Cefaléia Tipo Tensão • CTT Episódicas – Retirada ou redução de fatores desencadeantes – Analgésicos comuns como sintomáticos eventuais • CTT Crônicas – Auxílio psicológico ou psiquiátrico – Antidepressivos tricíclicos – IERS Abordagem Diagnóstica • Sinais de alarme – – – – – – – – – – início após os 50 anos início súbito características progressivas (intensidade, freqüência, duração) caráter intenso e persistente matinal ou que acorda o indivíduo à noite recente em paciente com neoplasia ou HIV doença sistêmica (febre, rigidez de nuca, rash cutâneo) sinais neurológicos focais edema de papila resistente ao tratamento convencional Abordagem do Paciente Paciente com cefaléia Cefaléia e história médica. Há sinais de alarme? Sim •Considerar encaminhamento Não Exame físico e neurológico. Há alterações? •Excluir cefaléia secundária usando investigação apropriada Sim Não Especificar o diagnóstico da cefaléia primária. Existem características não-habituais? Não Tratar a cefaléia primária Sim Reconsiderar cefaléia secundária Abordagem Diagnóstica • Anamnese Abordagem Diagnóstica • Dicas Finais – Os pacientes podem ter mais de um tipo de cefaléia – Atenção para cefaléias severas, persistentes que atingem intensidade em poucos segundos – Cuidado quando o paciente relata: • • • “A pior dor de cabeça da minha vida” “Primeira dor de cabeça da minha vida” “Estou com enxaqueca” Abordagem Diagnóstica “O diagnóstico das cefaléias depende da anamnese. Nenhum detalhe será redundante ou desnecessário”