UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FOR A FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA (EBA) DISCIPLINA: ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM I Métodos de trabalho em Enfermagem DUTRA, Herica Silva Profa. do Depto. EBA 1. Objetivos Identificar os diferentes modos de organização da assistência de enfermagem; Discutir as particularidades, vantagens e desvantagens de cada um dos modelos assistenciais; Reconhecer os modelos de organização da assistência de enfermagem como ferramenta do gerenciamento em enfermagem. 2. Introdução Modelos ou métodos de trabalho são formas de organização do trabalho da equipe de enfermagem de maneira que essa possa atender adequadamente às necessidades de cuidado da clientela sob sua responsabilidade. Ao fazer opção por um determinado método de trabalho, é importante considerar a habilidade e disponibilidade das pessoas envolvidas, recursos físicos e materiais disponíveis, as condições do paciente, bem como a natureza do trabalho a ser realizado (Marquis e Huston, 2010). Vamos tratar de alguns métodos de organização do atendimento ao paciente: método integral, método funcional, enfermagem de equipe e enfermagem primária. 3. Método integral O atendimento integral ao paciente é a maneira mais antiga de organização dos cuidados de enfermagem. Nesse tipo de atendimento, cada membro da equipe de enfermagem assume a responsabilidade de atender a todas as necessidades de cuidado dos pacientes a eles designados (Marquis e Huston, 2010). Baseia-se no conceito de cuidado global. Nesse modelo, o atendimento não é fragmentado durante o turno de trabalho. O cuidado de todos os pacientes é responsabilidade de um enfermeiro líder, que avalia e coordena os cuidados, tendo um poder decisório em todas as etapas do processo (Costa, s/d). A designação das atribuições de cada membro da equipe se dá de forma simples e direta. A responsabilidade de cada um dos colaboradores é facilmente identificada. Teoricamente, o paciente recebe atendimento holístico e não-fragmentado durante sua permanência na instituição sob os cuidados de enfermagem. A desvantagem desse método reside na falta de preparo profissional ou número limitado de colaboradores para assumir tais atividades. Outro ponto de conflito refere-se aos rodízios de turnos, o que expõe o paciente a diferentes cuidadores durante o processo de hospitalização (Marquis e Huston, 2010). 4. Método funcional Consiste na distribuição das tarefas relacionadas aos cuidados entre os diferentes colaboradores da equipe de enfermagem. O processo global de trabalho é fracionado em atribuições e cada colaborador é responsabilizado pela concretização de parte dessas tarefas. Essas, por sua vez, são previamente definidas quanto à sua seqüência e execução. Assim, a execução repetida de atividades com desempenho rápido e simples refletem o princípio taylorista de parcelização. A ênfase é “fazer com que seja feito” (Costa, s/d). Esse método de trabalho surgiu durante a Segunda Guerra Mundial em consequência do deficiente número de profissionais de enfermagem para atender a demanda de clientes. Assim, profissionais não qualificados foram designados a assumir tarefas de menor complexidade e tornavam-se habilidosos por repetição. Dessa forma, os enfermeiros passaram a gerenciar o cuidado (Marquis e Huston, 2010). Esse método de trabalho tem como principal vantagem a eficiência, pois as tarefas são executadas com rapidez e com pouca confusão relativa a responsabilidades. Além disso, possibilita o atendimento com uma quantidade mínima de colaboradores de enfermagem. Para os administradores isso é bastante significativo, já que podem-se reduzir enormemente os custos com salários e encargos funcionais. Entretanto, percebese nessa perspectiva que o atendimento holístico e qualificado não é considerado essencial (Marquis e Huston, 2010). As desvantagens residem principalmente na fragmentação da assistência e negligência das reais necessidades do paciente, resultando em baixa qualificação do cuidado prestado. A crença de que poupar o enfermeiro de determinadas tarefas pode aumentar o tempo para atividades mais complexas é questionada quando reporta-se ao tempo dispendido nas atividades de supervisão da equipe. Soma-se ainda a monotonia no trabalho e falta de desafios, o que gera insatisfação no trabalho e baixa produtividade (Marquis e Huston, 2010). O método funcional traz a necessidade de reavaliar o trabalho e os valores da enfermagem. Assim, a contradição surge entre a prática fragmentada e a crença de que se deve prestar um cuidado holístico. Apesar dessa preocupação do enfermeiro com o indivíduo em suas dimensões biopsico-sócio-espiritual, o processo de trabalho funcional dificulta essa prática. O enfermeiro busca então, alternativas para que o cuidado de qualidade seja mais importante que a padronização dos procedimentos (Bellato, Pasti e Takeda, 1997). 5. Método de Enfermagem em equipe A enfermagem em equipe surgiu na década de 1950 como uma alternativa aos cuidados fragmentados oferecidos no método funcional. Neste modelo assistencial, um grupo de profissionais da equipe de enfermagem, sob o comando de um enfermeiro, colaboram no atendimento a um grupo de pacientes. “Como líder da equipe, o enfermeiro é responsável por conhecer a condição e as necessidades de todos os pacientes designados à equipe e pelo planejamento do atendimento individual” (Marquis e Huston, 2010: p. 340). Se conseguirmos pessoas para trabalharem juntas, elas serão capazes de obter mais do que se trabalhassem sós. Ou seja, trabalhar em colaboração e respeito mútuo pelas dificuldades e um sentido de responsabilidade compartilhado para completar o trabalho que os uniu, desenvolver um espírito de cooperação (Costa, s/d). O instrumento mais importante nesse método é a comunicação, que de maneira formal ou informal, consolidará o atendimento completo aos pacientes e o planejamento das atividades da equipe. “A enfermagem de equipe costuma ser associada à liderança democrática. É dado aos membros do grupo o máximo possível de autonomia na realização das tarefas a eles confiadas, embora sejam da equipe a responsabilidade e o comprometimento” (Marquis e Huston, 2010: p. 341). A necessidade de habilidades excelentes de comunicação e coordenação dificulta a implementação e manutenção desse modelo de atendimento, e exige também muita disciplina dos membros da equipe. Os membros da equipe, nesse modelo assistencial, podem colaborar com suas habilidades e conhecimentos técnicos, trazendo assim grande satisfação no trabalho. O líder deve ser capaz de reconhecer as capacidades individuais de cada colaborador e designar as atividades de modo que as potencialidades de cada um possam ser bem exploradas. Portanto, o líder deverá ter habilidades de comunicação, organização, administração e liderança para implementar a enfermagem em equipe. As desvantagens desse método são frequentemente associadas a dificuldades de implantação do modelo. Em geral o tempo é escasso ao planejamento e comunicação, o que pode gerar dificuldade em compreender as responsabilidades, erros no cuidado ao paciente e atenção fragmentada. 6. Enfermagem primária A enfermagem primária surgiu na década de 1970 e utiliza alguns conceitos do atendimento integral ao paciente, trazendo a figura do enfermeiro novamente para o cuidado direto com o paciente. “De acordo com a configuração original, a enfermagem primária exige um corpo de funcionários composto somente por enfermeiros. O enfermeiro primário tem responsabilidade de planejar o atendimento 24 horas, de um ou mais pacientes, desde a internação hospitalar, ou início do tratamento até a alta, ou término do tratamento. Durante as horas de trabalho o enfermeiro primário presta atendimento integral a esse paciente” (Marquis e Huston, 2010: p. 341). Por isso, esse método é também chamado de Enfermagem baseado nas relações. Cada paciente está vinculado a um enfermeiro primário, que é responsável pelos cuidados totais 24 horas por dia, durante todo o internamento. Dessa forma, a enfermagem primária garante avaliação individual dos efeitos dos cuidados. O objetivo principal é a humanização dos cuidados e a descentralização das tomadas de decisão, garantindo assistência qualificada e individualizada. O cliente participa ativamente quanto possível. Assim, demonstra-se o valor essencial da prática da enfermagem nos resultados dos clientes (Costa, s/d). Os enfermeiros associados são responsáveis pela continuidade do atendimento quando o enfermeiro primário está ausente. Cabe ao enfermeiro primário também, estabelecer comunicação com os enfermeiros associados, médico e demais profissionais que atendem ao paciente, além de buscar feedback dos outros enfermeiros na coordenação do atendimento ao paciente. A vantagem desse método reside no atendimento holístico proporcionado por um trabalho consistente e direto ao paciente prestado por um número reduzido de pessoas. Além disso, o grau de satisfação no trabalho é elevado, pois os enfermeiros sentem-se desafiados e recompensados (Marquis e Huston, 2010). As desvantagens recaem novamente na implantação inadequada, além da falta de preparo do enfermeiro para coordenar uma equipe, identificar necessidades complexas ou mesmo mudanças na condição do paciente. Soma-se ainda o fato de que em nossa realidade, a maioria das instituições não conta com equipes exclusivas de enfermeiros. 7. Considerações finais Independente do modelo assistencial adotado, cabe ao enfermeiro grande responsabilidade no cuidado ao paciente, quer atuando na assistência direta, quer liderando a equipe, organizando e administrando o serviço. Marquis e Huston (2010) apontam algumas perguntas que podem ser úteis para avaliar o método adotado na instituição: O método de atendimento do paciente está oferecendo o nível de cuidados enunciado na filosofia da instituição? O método facilita ou cria obstáculos para outras metas organizacionais? O oferecimento de atendimento ao paciente está organizado para ser custo-efetivo? O sistema de atendimento satisfaz o paciente e as famílias dos pacientes? A organização do atendimento oferece algum grau de realização e satisfação para os funcionários da enfermagem? O sistema possibilita a implementação do processo de enfermagem? O sistema promove e apóia a profissão de enfermeiro como independente e interdependente? O método facilita a comunicação adequada entre todos os membros da equipe de atendimento de saúde? De que forma uma mudança no sistema de atendimento do paciente alterará o processo decisório individual e em grupo? Quem será afetado? A autonomia aumentará ou diminuirá? Como ficarão as interações sociais e as relações interpessoais? Os colaboradores encararão de forma diferente sua unidade de trabalho? A mudança exigirá mais ou menos habilidades e capacidades do cuidador? A mudança reconfigurada mudará a forma como os colaboradores recebem um retorno sobre o desempenho? Os padrões de comunicação mudarão? Todos os modelos assistenciais de enfermagem demandam um enfermeiro que tenha boa formação acadêmica, que utilize a prática baseada em evidências e que tenha capacidade de trabalhar e coordenar uma equipe. Cada um dos métodos apresentados apresenta vantagens e desvantagens, cabendo ao enfermeiro avaliar seu ambiente de trabalho, as necessidades dos pacientes e as competências da equipe para escolher qual o melhor método a ser escolhido. O enfermeiro deve compreender que a organização, a filosofia do serviço de enfermagem e a disponibilidade de recursos são determinantes do tipo de modelo assitencial adotado, e terão impacto direto no sucesso ou insucesso da configuração do trabalho da enfermagem. Assim, não existe um melhor método de organizar o atendimento ao paciente. A integração entre liderança e funções administrativas garante que o modelo escolhido trará atendimento qualificado e satisfação dos membros da equipe. 8. Referências BELLATO, R.; PASTI, M. J.; TAKEDA, E. Algumas reflexões sobre o método funcional no trabalho da enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n. 1, Jan. 1997 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411691997000100009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 Nov. 2010. COSTA, J.S. Métodos de prestação de cuidados. Escola Superior de Enfermagem de Viseu. s/d. Disponível em: http://www.ipv.pt/millenium/Millenium30/19.pdf. Acesso em: 15 nov. 2010. MARQUIS, B.L.; HUSTON, C.J. Administração e Liderança em Enfermagem. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.