Universidade Federal de Itajubá Instituto de Engenharia de Sistemas e Tecnologias da Informação Engenharia da Computação ELT303 – Eletrônica Analógica I Análise de Circuitos com Diodos (Reta de Carga e Modelos) Prof. Paulo C. Crepaldi Prof. Leonardo B. Zoccal Universidade Federal de Itajubá Instituto de Engenharia de Sistemas e Tecnologias da Informação Engenharia da Computação Atenção O material constante destas notas de aula foi preparado com base na bibliografia recomendada e destina-se a servir como um apoio ao acompanhamento da disciplina. Em alguns slides são utilizados recursos coletados da INTERNET e considerados de domínio público. Análise de Circuitos com Diodos As análises que serão abordadas (Reta de Carga e Modelos) representam uma alternativa para se encontrar o ponto de operação de um dispositivo semicondutor sem a necessidade de procedimentos de cálculo muito extensivos e trabalhosos. Deve-se ter em mente que os resultados obtidos são aproximados e que resultados absolutamente precisos não são possíveis de ser alcançados. Algumas razões pelas quais esta precisão absoluta não é obtida são: Resistores possuem tolerância (Adendo 1, Adendo2); Fontes de tensão e corrente sofrem o efeito de carga, ou seja, possuem impedâncias internas que não são “infinito” (fonte de corrente) ou “zero” (fonte de tensão); Dispositivos semicondutores de um mesmo lote de fabricação apresentam dispersões entre os seus parâmetros elétricos; Dispositivos semicondutores e componentes eletro-eletrônicos de uma forma geral sofrem a influência da temperatura e da umidade relativa do ar. O grau de precisão a ser alcançado depende da aplicação em questão. 3 Análise através da Linha de Carga (Reta de Carga) Para este tipo de análise é preciso ter em mãos a curva característica do dispositivo (o que nem sempre é possível) e representa uma abordagem extensivamente utilizada em circuitos com transistores que serão estudados posteriormente. A idéia fundamental é traçar uma linha sobre a curva característica do diodo de modo a se alcançar uma solução gráfica para o ponto de operação (Q). Portanto, é necessário que esta linha “cruze” a curva do diodo. Esta linha pode ser traçada para diferentes carregamentos (cargas) daí o nome linha de carga.Particularmente, para uma carga linear, esta linha se torna uma reta e tem-se, então, a reta de carga.O circuito básico para a construção da reta de carga é ilustrado no próximo slide. Observar que a fonte de tensão (VTH) e o resistor de carga (RTH) podem representar o equivalente Thévenin de um circuito mais complexo. Léon Charles Thévenin (1987-1962 4 Análise através da Linha de Carga (Reta de Carga) Aplicando-se a lei de Kirchhoff para as tensões (KVL), neste circuito, tem-se: Gustav Robert Kirchhoff (1824-1887) VTH Analisando-se esta equação verifica-se que ela representa a equação de uma reta que pode ser traçada em um I D RTH VD (KVL) plano cartesiano que contém ID em função de VD, ou VD VTH ID seja, a própria curva característica do diodo. O RTH RTH coeficiente angular é -1/RTH e o ponto de intersecção y ax b com o eixo y (ID) é VTH/RTH. O ponto de intersecção com o eixo x (VD) é VTH (basta fazer ID=0). 5 Análise através da Linha de Carga (Reta de Carga) O ponto de intersecção com o eixo y (VTH/RTH) corresponde a uma situação em que o diodo estaria em “curto circuito” (VD= 0V) e é o maior valor de corrente que poderia circular através deste dispositivo. O ponto de intersecção com o eixo x (VTH) corresponde, agora, a uma situação em que o diodo se encontra em “circuito aberto” (ID= 0A) e é o maior valor de tensão que pode aparecer entre o seus terminais. ID ponto B I D 0A A ponto A VD 0V IDQ VD VTH Q -1/RTH VTH ID RTH B VD VDQ 6 Análise através da Linha de Carga: Exemplo Avaliar, no circuito a seguir, o ponto Q usando o conceito da reta de carga. O diodo utilizado é um diodo de sinal (1N4148) e T= TAMB = 300K. A D1N4148 R1 1K 6V + VD _ R2 1K ID Aplicar o teorema de Thévenin entre os pontos A e B e reduzir o circuito a um circuito série. R3 500 B No cálculo de VTH usamos a lei do divisor de tensão e na avaliação de RTH a fonte de excitação deverá estar em repouso (no caso, V = 0). 6V.1K 3V 1K 1K 1K//1K 500 VTH RTH 7 Análise através da Linha de Carga: Exemplo RTH + VD _ A D1N4148 500 VTH ID R3 500 3V A partir do circuito equivalente, pode-se traçar a reta de carga. Para tanto, determinar os cruzamentos com os respectivos eixos de corrente e tensão. 3V I D .500 VD I D .500 (KVL) B 3V I D .1000 VD VD p/I D 0 3V ID I D p/VD 0 3V/1000 3mA 10mA 9mA 8mA 7mA 6mA 5mA 4mA Q 3mA 2mA IDQ ≈ 2,4 [mA] e VDQ ≈ 0,65 [V] VD 1mA 0A 0V 0.5V 1.0V 1.5V 2.0V 2.5V 3.0V 3.5V 8 Análise através dos Modelos: Exemplo Utilizando o mesmo circuito, pode-se avaliar como ficariam os resultados para o ponto de operação de diodo para cada um dos modelos (ideal, simplificado e linear por partes). A equação da reta de carga não muda tendo em vista que ela depende de uma situação de curto circuito e de circuito aberto, portanto os seus pontos de intersecção continuam o mesmo. Análise através do Modelo Ideal Neste caso, o diodo é uma chave fechada. ID 10mA 9mA 8mA 7mA 6mA 5mA 4mA 3mA Q IDQ = 3[mA] e VDQ = 0[V] 2mA VD 1mA 0A 0V 0.5V 1.0V 1.5V 2.0V 2.5V 3.0V 3.5V 9 Análise através do Modelo Simplificado Neste caso, o diodo é uma chave fechada após a barreira ser vencida. RTH + 0,7V _ A 500 ID VTH R3 500 3V ID VTH 0,7V 3V 0,7V 2,3 [mA] 1K 1K B ID 10mA 9mA 8mA 7mA 6mA 5mA 4mA Q 3mA IDQ = 2,3[mA] e VDQ = 0,7[V] 2mA VD 1mA 0A 0V 0.5V 1.0V 1.5V 2.0V 2.5V 3.0V 3.5V 10 Análise através do Modelo Linear por Partes Neste caso, o diodo é uma chave fechada após a barreira ser vencida e deve-se incluir a resistência AC média (rAV). Pela curva do diodo, rAV vale aproximadamente 17W e VT aproximadamente 0,6V (Adendo 3). + (0,6V+IDrAV) _ RTH A rAV 500 ID VTH R3 500 3V ID B 10mA 9mA 8mA 7mA ID 6mA 5mA VTH 0,6V 3V 0,6V 2,37 [mA] 1K 12Ω 1012Ω VD 0,6V I D 12Ω 628 [mV] 4mA 3mA Q 2mA IDQ = 2,37[mA] e VDQ = 0,628[V] VD 1mA 0A 0V 0.5V 1.0V 1.5V 2.0V 2.5V 3.0V 3.5V 11 Análise envolvendo Superposição de Efeitos Avaliar vD e iD: vTOTAL [V] 30 1K vac=2VPP 25 2VPP, 1KHz + 25,7V iD + vD _ 20 15 O sinal de entrada é a superposição de uma fonte DC de 25,7V com uma fonte senoidal de 2VPP com freqüência de 1KHZ. O diodo é de sinal (1N4148). VDC=25,7V 10 5 t [s] 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 Utilizam-se letras maiúsculas para representar sinais DC e letras minúsculas para representar sinais AC. Os valores das resistências estática e AC média, extraídas da curva característica do diodo são, respectivamente, 31W e 2,8W @ IDQ=25mA. (Adendo 4) Se o sinal AC é incremental, ou seja, a variação de corrente representa no máximo 10% do valor de corrente quiescente, pode-se utilizar a resistência rd no lugar de rAV 12 Análise envolvendo Superposição de Efeitos Circuito Equivalente DC: Fonte AC em repouso (vac= 0V): Circuito Equivalente AC: Fonte DC em repouso (VDC= 0V): 1K 1K vac = 0V + VD RD + VD _ 25,7V 25,7VxRD 25,7Vx31Ω 773 [mV] RD 1K 1031Ω ID 2VPP, 1KHz VD 773mV 24,94 [mA] RD 31Ω O circuito equivalente DC estabelece o ponto de operação do diodo. No caso: IDQ=25,1mA e VDQ=778mV rd + vd _ VDC = 0V vd 2VPP xrD 2VPP x2,8Ω 5,58 [mVPP ] rD 1K 1002,8Ω id vd 5,58mVPP 2 [mAPP ] rd 2,8Ω O circuito equivalente AC estabelece as variações que irão ocorre no entorno do ponto Q. No caso: DVD= vd = 5,58mVPP e DID= id = 2mAPP 13 Análise envolvendo Superposição de Efeitos IDQ=24,92mA com DID= 2mAPP e VDQ= 780,3mV com DVD= 5,7mVPP Observar a aparente linearidade das formas de onda. Uma análise espectral (domínio da freqüência) seria necessária para avaliar a presença de harmônicas (distorção harmônica). 800mV 26.3mA Valor Médio 26.0mA 790mV 25.6mA 780mV 25.2mA 24.8mA 770mV 24.4mA 760mV 24.0mA 750mV 23.6mA 0s 0.5ms 1.0ms 1.5ms 2.0ms 2.5ms 3.0ms 3.5ms 4.0ms Tensão e Corrente no Diodo – Resultado de Simulação 4.5ms 14 Dicas de Análise Ao se analisar circuitos com diodos é preciso saber, inicialmente, em que região (direta ou reversa) ele está polarizado. Uma técnica interessante consiste em: Substitua o diodo por um resistor e verifique o sentido da corrente convencional resultante. Se este sentido coincide com a seta do símbolo do diodo, está polarizado diretamente. Naturalmente, esta condição será verdade se as tensões aplicadas possuírem valores superiores a VT. Estando o diodo polarizado diretamente substitua-o pelo modelo mais adequado e calcule as tensões e correntes necessárias. Se o sentido de corrente estiver ao contrário da seta do o diodo o dispositivo estará polarizado reversamente. Substitua o o diodo por uma chave aberta e calcule as tensões e correntes necessárias. Obs: Sempre que possível, ter em mãos os valores limites (tensão e corrente) do diodo para avaliar se o dispositivo esta operando fora de seus limites seguros e garantidos. Utiliza-se a aproximação ideal quando o comportamento do diodo (ou a sua função) no circuito está sendo avaliado. São irrelevantes os níveis de tensão e corrente; A aproximação simplificada é a mais utilizada. Na maioria dos casos, as tensões e resistências envolvidas são maiores que VT e muito maiores que rAV o que leva a resultados bastante satisfatórios; A aproximação linear por partes deverá ser usada, obrigatoriamente, quando as resistências do circuito forem da mesma ordem de grandeza de rAV. 15 Adendo 1: Tipos de Resistores retornar Resistores de Carvão: São os mais antigos e geralmente mais baratos. Neles, os grãos de carvão são misturados com um material de preenchimento e inseridos em um envoltório tubular. Nos primeiros resistores, o carvão era misturado com borracha vulcanizada, contudo, hoje utiliza-se um preenchimento cerâmico. O valor da resistência é determinado pela quantidade de carvão adicionada à mistura. Possuem uma faixa de tolerância maior (10% a 20%), ou seja, seu valor não pode ser determinado com muita precisão. São mais apropriados para aplicações que envolvem grandes picos de tensão, em relação a outros tipos de resistores. Resistores de Filme Metálico: São feitos de pequenos bastões de cerâmica revestidos por uma liga metálica ou de óxido metálico. O valor da resistência é controlado primeiramente pela espessura do revestimento (quanto mais espesso menor a resistência). Além disso, uma fina espiral pode ser cortada ao longo do bastão, por meio de um laser, criando uma longa tira, a qual formará efetivamente o resistor. Devido a este processo de fabricação, podem ser obtidos resistores com valores bem mais precisos (cerca de 1% de tolerância). Também existem os resistores de filme de carvão, similares aos de filme metálico, porém, mais baratos e menos precisos (5% de tolerância). Estes últimos são, sem dúvida, os mais utilizados em circuitos eletrônicos. Resistores de Fio: Tais resistores variam bastante em construção e aparência física. Seu elemento resistivo é geralmente feito de longos fios, principalmente de uma liga metálica chamada Nicromo (niquel + cromo), os quais são enrolados ao longo de um bastão cerâmico ou de fibra de vidro e revestidos por um cimento resistente ao calor. São fabricados para potências mais elevadas e resistências de menor valor. 16 Adendo 2: Código de Cores para Resistores retornar Em algumas aplicações, é necessária a informação sobre o comportamento do resistor em função da temperatura. ppm (partes por milhão) 17 Adendo 3: Resistência AC Média (exemplo slide 11) ID [mA] 50 45 40 1N4148 35 30 25 20 15 (0,72V; 10mA) 1 10 rAV 5 2 0.2 0.4 ponto a ponto (0,6V; 0mA) 0.6 rAV retornar ΔV D ΔI D 0.8 1.0 VD [V] 1.2 1.4 1.6 1.8 ΔVD 0,72V 0,6V ΔI D 10,0mA 0mA rAV 0,12V 12 Ω 10mA 18 Adendo 4: Resistências Estática e AC Média (exemplo slide 12) ID [mA] ID[mA] 50 35 45 40 30 35 (784,04m; 26,23m) 1N4148 (776,92m; 23,73m) 30 25 25 IDQ =25mA (0,78V; 25mA) 20 VD [mV] 20 640 15 680 720 760 800 840 10 5 VD [V] 0.2 retornar 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 ηU T 2.25,8.10 3 rd 2Ω I DQ 25.10 3 19 Adendo 5: Análise Interativa Existe, ainda, uma análise para circuitos com diodos denominada de interativa. Embora possa levar a resultados mais precisos, para circuitos mais complexos, torna-se desconfortável (esforço e tempo exigidos) se realizada manualmente. Veja o procedimento através do exemplo do slide 8. Comparar os resultados. VD1 VD2 I D1 I S e ηU T I D2 I S e ηU T VD1 I D1 I D2 ISe ηU T VD2 VD2 VD1 VD2 ηU T 52mV @ TAMB VTH ID R3 500 3V B 3V 0,6V 2,4mA 1K I 1mA 646mV VD1 ηU T ln D1 600mV 52mV.ln I 2,4mA D2 VD2 646mV@I D2 2,4mA I V V ln D1 D1 D2 I ηU T D2 I ηU T ln D1 I D2 + VD _ D1N4148 500 I D2 ηU T I S e ηU T A Partida VD1 600mV@I D1 1mA VD1 VD2 e RTH I D3 VD3 3V 0,646V 2,354mA 1K I 2,4mA 645mV VD2 ηU T ln D2 646mV 52mV.ln I 2,354mA D3 VD3 645mV@I D3 2,354mA 20