MÓDULO 04 – ECONOMIA AÇUCAREIRA RAÍZES DO BRASIL. SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA Capítulo 2 – Trabalho & Aventura Essa exploração dos trópicos não se processou por um empreendimento metódico e racional, fez-se antes com desleixo e certo abandono. A colonização holandesa não nos teria levado a melhores e mais gloriosos rumos. Dois princípios se combatem e regulam as atividades dos homens. Encarnam-se nos tipos do aventureiro e do trabalhador. Para o aventureiro, o objeto final assume relevância tão capital que chega a dispensar todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore. O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco compensador e persistente, tem sentido bem nítido para ele(...) (...)Essa pouca disposição para o trabalho não deixa de constituir o aspecto negativo do ânimo que gera as grandes empresas. Essa ânsia de prosperidade sem custo, de títulos honoríficos, de posições e riquezas fáceis, tão notoriamente característica da gente de nossa terra, não é bem uma das manifestações mais cruas do espírito de aventura? O gosto da aventura teve influência decisiva em nossa vida nacional. Foi o elemento orquestrador por excelência. Favorecendo a mobilidade social, estimulou os homens a enfrentar com denodo as asperezas ou resistências da natureza e criou-lhes as condições adequadas a tal empresa (empreendimento). (...)O que nos faltou para o bom êxito de tantas formas de labor produtivo foi uma capacidade de livre e duradoura associação entre os elementos empreendedores do país. Em sociedade de origens personalistas como a nossa, é compreensível que os simples vínculos de pessoa a pessoa tenham sido quase sempre os mais decisivos. As agregações e relações pessoais, embora por vezes precárias, e, de outro lado, as lutas entre facções, entre famílias, entre regionalismos, faziam dela um todo incoerente e amorfo. O peculiar da vida brasileira parece ter sido uma acentuação enérgica do afetivo, do irracional, do passional, e uma estagnação ou atrofia correspondente das qualidades ordenadoras, disciplinadoras, racionalizadoras. Quer dizer, exatamente o contrário do que parece convir a uma população em vias de organizar-se politicamente(...)