Mar Morto Mar Morto pertence à primeira fase do autor: depoimentos líricos, com predominância do elemento sentimental, sobre rixas, e amores de marinheiros. A história se passa no Cais da Bahia, onde viviam os marinheiros, e um dos mais antigos era Seu Francisco que criava o sobrinho Guma, ensinandolhe as leis do mar. Guma, com o tempo, tomou conta do saveiro chamado Valente. A fama de Guma no cais ocorreu em uma noite de tempestade, onde Guma, com o seu Valente, salvou um navio (Canavieiras) que iria naufragar. Depois disso, Guma conheceu Lívia, uma das moças mais bonitas do cais, casou-se com ela e foram morar com Seu Francisco, onde ao lado deles foram morar Rufino (um grande amigo de Guma) e Esmeralda. Viviam muito bem, até que Guma envolveu-se com Esmeralda que o perseguia, Rufino descobriu, matou Esmeralda e depois matou-se de desgosto. Logo depois, Lívia descobriu que estava grávida. Guma, com remorso de ter traído Rufino e Lívia, pegou o Valente e foi para o mar e bateu nas pedras. Não morreu, mas o Valente ficou totalmente destruído. Lívia teve o filho que se chamava Frederico e Guma estava feliz com o filho, mas ao mesmo tempo arruinado por ter perdido seu saveiro. Sem escolha, começou a contrabandear seda (já tinha comprado outro saveiro) para os árabes. Numa dessas viagens, o filho de um dos árabes tinha ido junto para Porto de Santo Antônio, mas caiu no mar. Guma pulou no mar e conseguiu salvá-lo, mas morreu com seu ato de coragem. Lívia ficou com Frederico e o Seu Francisco, e tomaram conta do saveiro (de nome Paquete Voador) apenas com a lembrança de Guma que ficará na memória do cais, principalmente porque após sua morte as águas do mar se tornaram calmas e mortas, mas também por ele ter sido um homem de coragem e bom coração. Mar Morto Melodia O mar lhe mandou os ventos mais rápidos, lhe enviou o nordeste que atira o Valente para o cais da Bahia. Canoas que passam, saveiros que cruzam, jangadas que levam pescadores, batelões carregados de lenha, lhe desejam boa viagem: - Boa viagem, Guma... Boa viagem, que ele vai em busca de Lívia. A Lua ilumina sua rota, o mar é uma estrada larga e boa. E o nordeste sopra, o terrível nordeste das tempestades. Mas agora ele sopra como amigo que o ajuda a transpor mais rápido esse braço de rio. O nordeste traz as canções da beira do rio, canções de mulheres lavadeiras, cantigas de pescadores. Os tubarões saltam nas ondas da entrada da barra. Há danças no navio iluminado que entra. À luz da Lua um casal conversa. “Boa viagem”, diz Guma, e sacode a mão. Eles respondem e ficam comentando, entre sorrisos, a saudação daquele marítimo desconhecido. Ele vai buscar Lívia, ele vai buscar uma mulher bonita para oferecer ao mar. Não demorará muito a carne de Lívia terá o gosto da água salgada do oceano, os seus cabelos serão úmidos dos salpicos do mar. E cantará no Valente as canções do cais. Saberá da história de Besouro, da história do cavalo encantado, de todas as histórias de naufrágios. Será como um saveiro, o casco de uma canoa, uma vela, uma cantiga, apenas uma coisa do mar. O nordeste sopra, empina as velas do Valente. Corre, saveiro, corre, que já brilham as luzes da Bahia. Já se ouve o baticum dos candomblés, a música dos violões, o triste gemer das harmônicas. Guma parece já ouvir a risada clara de Lívia. Corre, saveiro, corre.