“Tratamento do uso nocivo e da dependência de drogas: o que funciona?” VI Semana de Integração Católica e Sociedade: Um olhar sobre a cidade VIII Jornada em Dependência Química Católica/MPPE Jornada Regional da ABEAD 2008 Práticas efetivas na prevenção e no tratamento das dependências químicas Recife - Agosto, 2008 João Carlos Dias Tipos de uso (%) DROGAS Maconha Solventes Benzodiazepínicos Orexígenos Estimulantes Cocaína Xaropes (codeína) Opiáceos Alucinógenos Esteróides Crack Barbitúricos Anticolinérgicos Merla Heroína Na vida 8,8 6,1 5,6 4,1 3,2 2,9 1,9 1,3 1,1 0,9 0,7 0,7 0,5 0,2 0,1 No ano 2,6 1,2 2,1 3,8 0,7 0,7 0,4 0,5 0,32 0,2 0,1 0,2 0 0 0 No mês 1,9 0,4 1,3 0,1 0,3 0,4 0,2 0,3 0,2 0,1 0,1 0,1 0 0 0 CEBRID, 2005 Dependência: Brasil (drogas) Álcool 2005(%) 12,3 Tabaco 10,1 Maconha 1,2 Benzodiazepínicos 0,5 Solventes 0,2 Estimulantes 0,2 CEBRID, 2005 Dependência de drogas e Tratamento AOD: procura por tratamento • Cuidados primários de saúde: 20 a 36% transtornos por uso de AOD (Fiellin, 2000 Am J Med) • Muitos não tratados e muitos dos que são tratados não recebem tratamento em unidades especializadas (NIAAA, 2006) Percepção de necessidade de tratamento e esforço feito para acesso ao tratamento entre indivíduos com 12 anos ou mais que precisavam de tratamento para uso de droga ilícita ou uso do álcool, porém não receberam : 2006 Não acreditam necessitar de tratamento 95.5% 3,0% Percebem que necessitam de tratamento, mas não fizeram esforço 1.5% Percebem que necessitam de tratamento e fizeram esforço 21.1 milhões necessitam de tratamento mas não receberam tratamento para uso do álccol ou de drogas ilícitas Tratamento • crescente entendimento de que se deve prestar mais atenção ao curso do tratamento: como o tratamento se desenvolve e como pode ser melhorado (Prendergast et al, 2002; Simpson, 2004) • escasso conhecimento dos processos envolvidos no tratamento: identificação mais precisa dos elementos “ativos” ou “inativos” do tratamento (Hubbard et al, 1989; Moos, 1997; McLellan et al, 1997). Gossop. M. Treating drug misuse problems: evidence of effectiveness, National Addiction Centre, King’s College London, 2007 Tratamento • A despeito do amplo e difundido conhecimento de que o tratamento tem que ser adequado as diversas necessidades e problemas do paciente muitos programas têm apenas um único modelo de intervenção • Nenhum tratamento pode ser efetivo para todos os quadros de dependência de drogas • O conjunto de diversas intervenções é necessário Gossop. M. Treating drug misuse problems: evidence of effectiveness, National Addiction Centre, King’s College London, 2007 Princípios do Tratamento da Dependência de Drogas (OMS,2008) 1. Disponibilidade e acesso - oferta de amplo sistema que atenda as várias possibilidades de necessidades do paciente - fundamental a redução de obstáculos para procura e permanência no tratamento 2. Triagem, Avaliação, Diagnóstico e Planejamento terapêutico - indivíduos portadores de dependência de drogas apresentam múltiplas necessidades de atenção e tratamento - a ampla e detalhada avaliação é a base para uma intervenção personalizada, um tratamento efetivo e um paciente com maiores chances de adesão. WHO, United Nations, Principles of Drug Dependence Treatment, March 2008 Princípios do Tratamento da Dependência de Drogas (OMS,2008) 3. Intervenções baseadas em evidências - os tratamentos devem basear e atualizar seus protocolos fundamentados nas evidências científicas de efetividade. 4. Direitos humanos e preservação da dignidade do paciente - os tratamentos devem estar inseridos numa ampla perspectiva de respeito ao paciente, o que inclui o direito de alcançar padrões, os mais elevados possíveis, de saúde e bem estar e devem assegurar a ausência de qualquer tipo de discriminação. 5. Atenção aos subgrupos e condições específicas - vários subgrupos dentro da população que apresenta transtornos por uso de AOD vão necessitar especial consideração e, frequentemente. cuidados especializados. Estes incluem adolescentes, mulheres, gestantes, indivíduos com comorbidades físicas e psiquiátricas e indivíduos que sofrem alguma discriminação social. WHO, United Nations, Principles of Drug Dependence Treatment, March 2008 Princípios do Tratamento da Dependência de Drogas (OMS,2008) 6. Tratamento e Sistema Criminal de Justiça - é elevada a associação entre crimes e uso de drogas e é alta a prevalência de indivíduos no sistema criminal que são dependentes de drogas. 7. Envolvimento da comunidade e Orientação ao paciente - é importante a criação e manutenção de uma rede integrada dos vários setores da comunidade para dar suporte e encorajar as mudanças de comportamento dentro da própria comunidade. 8. Organização do serviço - o tratamento para dependência de drogas exige uma responsável, eficiente e efetiva metodologia de organização que facilite o alcance dos objetivos. 9. Sistema de tratamento: Desenvolvimento de políticas, Planejamento estratégico e Coordenação dos serviços WHO, United Nations, Principles of Drug Dependence Treatment, March 2008 Avaliação 1. Gravidade dos problemas de uso de substâncias: padrões de consumo 2. Vulnerabilidade do paciente: fatores que podem colocar em risco ou interferir na efetividade do tratamento 3. Expectativas do paciente a respeito dos efeitos da(s) substância(s) usada(s) 4. Prontidão do paciente para se engajar no tratamento e para mudar o comportamento atual de uso da(s) substância(s) 5. Presença de comorbidades psiquiátricas e sua gravidade 6. Outros campos de investigação: – Condições clínicas – Situação familiar e social – Situação financeira e laborativa – Situação legal Negrete, J.C., 2005 Avaliação • Passos da avaliação: – Triagem: passo preliminar, 1º passo na avaliação de uso de substâncias. Inclui procedimentos breves (instrumentos específicos) para detectar indicadores de provável presença de problemas por uso de AOD – Avaliação: tem por objetivo reconhecer a exata natureza da situação do paciente. • A escolha dos processos de triagem e avaliação dependerá: – Dos recursos disponíveis – Das características da população assistida Avaliação • Procedimentos gerais – Observação clínica – Relato: informações colhidas com o paciente e com colaterais • Elementos importantes: – a história pessoal do familiar; – a investigação a respeito do uso de substância e padrão pelo familiar; – o relato da história de abuso de substâncias do paciente – Instrumentos de avaliação – Testagem toxicológica Comorbidades Psiquiátricas Prevalência • 27% das pessoas acima de 18 anos com transtorno mental grave usaram droga ilícita no último ano • 5.7 milhões sofreram intoxicação alcoólica • 1,9 milhões são bebedores pesados • 4,2 milhões tem duplo diagnóstico National Survey on Drug Use and Health, SAMHSA, 2003 Prevalência • 7 a 10 milhões de pessoas tiveram ao menos um transtorno mental concomitante a um transtorno por uso de álcool ou outra droga • Freqüentemente estes indivíduos são tratados para apenas um dos dois transtornos, quando são tratados Achievieng the problem, 2003 – EUA Comorbidades • Tipo homogêneo: dois ou mais transtornos que pertencem a um mesmo grupo diagnóstico. Ex.:dependência de álcool e dependência de cocaína • Tipo heterogêneo: dois ou mais transtornos de grupos diagnósticos distintos. Ex: dependência de benzodiazepínicos e depressão maior. Comorbidade e Tratamento • A população é muito heterogênea e por isso não existe uma metodologia de intervenção ou setting de tratamento que seja eficaz para todos os tratamentos com comorbidade • Os tratamentos de pacientes com transtornos por uso de AOD que apresentam comorbidades psiquiátricas precisam incluir: – Triagem para os problemas associados ao uso de AOD e transtorno(s) mental(is) – Ampla avaliação – Intervenções psicoterápicas e farmacológicas – Planejamento para cuidado e suporte continuados – Tratamento integrado Skinner, W.J.W., Treating Concurrent Disorders, Canada, 2005 Conseqüências da Comorbidade Comprometimento Agravamento da saúde do transtorno Aumento de risco para: - suicídio - violência - comportamentos de risco Redução da capacidade do serviço e coordenação Incremento da utilização dos serviços de saúde Repercussões no tratamento • sintomas mais graves • resposta terapêutica menor • recaídas mais rápidas e/ou mais freqüentes • maior grau de incapacitação • interferência com a farmacoterapia • maiores dificuldades de adesão ao tratamento • exclusão de certos serviços • necessidade de mais cuidado na abstinência e monitoramento mais intenso Comorbidades e Níveis de cuidados Transtorno por Álcool e Outras Drogas Gravidade elevada III Transtorno mental menos grave / DQ mais grave Local de tratamento: Nível intermediário de tratamento de DQ I Transtorno mental menos grave / DQ menos grave Local de tratamento: Atenção básica Gravidade baixa IV Transtorno mental mais grave / DQ mais grave Local de tratamento:tratamento integrado, CT, Hospitais, Salas de emergência II Transtorno mental mais grave / DQ menos grave Local de tratamento: Sistema de Saúde Mental Transtorno Mental Gravidade elevada Sumário • Comorbidade psiquiátrica: expectativa e não exceção • Suas conseqüências são profundas para o indivíduo, para a sociedade e para os serviços • Serviços integrados são a prioridade • É uma área com enorme potencial de pesquisa Tratamento baseado em evidências: aspectos centrais • Motivação do paciente • Avaliação para individualizar o plano terapêutico • Desenho do planejamento do tratamento de acordo com as necessidades do tratamento • Contínua avaliação e modificação do planejamento do tratamento • Técnicas de intervenção baseadas em evidências Evidence-based treatment: Information for the service provider, Canadian Centre on Substance Abuse, 2006 Tratamento baseado em evidências: aspectos centrais • Manutenção e suporte no pós-tratamento • Tratamento com características singulares para populações específicas • Completa cobertura de serviços • Abstinência X redução de danos • Obstáculos do tratamento • Características da porta de entrada dos progamas • Treinamento e qualificação dos profissionais envolvidos Evidence-based treatment: Information for the service provider, Canadian Centre on Substance Abuse, 2006 Níveis de atenção Dimensões de avaliação Gravidade da Complicações Complicações Aceitação/ Risco de Suporte intoxicação/ social psiquiátricas resistência ao recaída clínicas abstinência tratamento Risco mínimo em todas as dimensões Ambulatório Baixa gravidade de dependência e baixo risco em suas complicações mas alto risco de recaída Ambulatório com supervisão intensa Risco moderado Internação domiciliar Alto risco Internação Hospitalar (EmergênciaUTI)/ Centro de tratamento Considerações finais • Não há consumo de substâncias psicotrópicas isento de risco • Quanto maior uso de álcool e de outras drogas per capita mais problemas • O uso nocivo e dependência do álcool e de outras drogas são muitas vezes sub-diagnosticados • A contínua capacitação profissional é fundamental • A permanente avaliação e incremento dos serviços é essencial para o monitoramento da efetividade e melhoria dos resultados Considerações finais • Para cada $1 dólar investido em prevenção são economizados $10 em tratamento por transtornos por uso de álcool e outras drogas (Aos et al, 2001; Hawkins et al, 1999; Pentz, 1998, Spoth et al, 2002, NIDA, 2004) • Para cada $1 dólar investido em tratamento $7 são economizados em saúde e problemas sociais (OMS, 2004) Obrigado! 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