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Propaganda
Romantismo
Contexto Mundial
Características
Prof. Fernanda Monteiro
Origens e contexto
A ascensão da burguesia europeia é um processo
que se inicia com o Mercantilismo, nos séculos XVI
e XVII, passando pela Revolução Inglesa, de 1688,
pela Independência Americana, de 1776, e atingindo
o seu o momento culminante na Revolução
Francesa, de 1789.
Na França sobretudo, a derrocada da aristocracia
permite não apenas a extinção dos privilégios
seculares, mas também o fim das barreiras rígidas
entre as classes sociais. Um novo sentido de vida,
baseado na livre iniciativa, exalta a audácia, a
competência e os méritos pessoais de cada
indivíduo, independentemente dos seus títulos e dos
seus antepassados. A era do Liberalismo atinge o
seu auge e com ela um conjunto notável de
mudanças na história do Ocidente.
A liberdade de expressão
O primeiro efeito favorável da vitória burguesa
para a literatura reside no artigo onze da
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão:
"A livre comunicação dos pensamentos e
opiniões é um dos direitos mais preciosos do
homem; todo cidadão pode portanto falar,
escrever, imprimir livremente." Como afirma um
historiador, "cada francês é agora um escritor em
potencial, todas as Bastilhas acadêmicas caem
por terra e uma aventura da palavra escrita está
acontecendo."
O novo público leitor
Lord Byron
Outro efeito importante resulta do esforço de
alfabetização empreendido pelos revolucionários.
Todo o cidadão precisa ter acesso à leitura, até
para conhecer as proclamações do novo regime.
Assim irá surgir um novo público leitor, mais
diversificado e numeroso, já sem nenhuma
identificação com a arte neoclássica da
aristocracia cortesã. Este público consome livros
de forma intensa. E os escritores, até então
dependentes do mecenatismo, vêem que podem
sobreviver apenas com a venda das suas obras,
agora transformadas em mercadoria de larga
aceitação.
Certos números ainda hoje
impressionam: num só dia, em Londres, Lord
Byron vende dez mil exemplares do seu romance
O corsário; jornais que publicam romances em
fascículos, como La presse, em Paris,
conseguem mais de duzentos mil assinantes.
Walter Scott, Victor Hugo e outros fazem fortuna
com os seus direitos autorais.
A consciência da liberdade propicia
ao
artista um duplo sentimento:
- O de euforia, por não ter mais de se sujeitar à
vontade individual de protectores da nobreza.
- O de medo, por ser agora um produtor para o
mercado que, muitas vezes, desconhece.
Além disso, sua confusão aumenta porque ele exalta
o caráter quase que sagrado da obra de arte no
exacto momento em que ela perde toda a
sacralidade e começa a fazer parte do reino dos
negócios.
Assim,
o
Romantismo
coincide
com
a
democratização da arte, gerada sobretudo pela
Revolução Francesa, tornando-se a expressão
artística da jovem sociedade burguesa. Victor Hugo
afirma que o Romantismo nada mais é que o
liberalismo em literatura. De facto, o movimento
mantém uma relação viva e contraditória com a nova
realidade. Filho da burguesia, mostra-se ambíguo
diante dela, ora exaltando-a, ora protestando contra
os seus mecanismos, conforme observaremos ao
estudar-lhe as características.
Nas últimas décadas do século XVIII, o Romantismo já está mais ou menos
anunciado pelas obras do filósofo Rousseau, especialmente pela sua teoria
do "bom selvagem", e pelo movimento Sturm und Drang,(Tempestade e
Ímpeto),constituído, nos anos de 1770, por jovens alemães, que valorizam o
folclórico, o nacional e o popular, em oposição ao universalismo clássico.
Também a publicação de Os cantos de Ossian, pelo inglês Macpherson, em
1760, torna-se uma referência fundamental para os futuros românticos.
Na verdade, Macpherson promove uma grande fraude literária pois escreve
um conjunto de textos em prosa rítmica, dizendo serem traduções de uma
obra perdida do legendário poeta medieval - de origem gálica - Ossian.
Apesar do embuste, o livro apresenta forte apelo emotivo e abre duas das
mais valorizadas tendências românticas: o culto pelo antigo, em especial pela
Idade Média, e o gosto pela prosa poética. No entanto, a antecipação mais
genial de um novo espírito de época - centrado no exagero da faculdade
imaginativa e no transbordamento das paixões - ocorre em 1774, com a
publicação, sob forma epistolar (cartas), do romance Os sofrimentos do
jovem Werther. O seu autor, Goethe, então com apenas vinte e quatro anos,
produzirá um dos maiores comoções já ocorridas na história literária.
“Está decidido, Charlotte, desejo
morrer.(...) Quando leres esta
carta, minha querida, a terra fria
já estará cobrindo os restos
rígidos deste infeliz, deste
homem desassossegado que nos
seus últimos momentos de vida
não conhece doçura maior do
que falar contigo."
O termo romântico figura desde o início do
século XVIII, no vocabulário francês com o valor
de romanesco, isto é, referente ao género
narrativo chamado romance. No entanto, a partir
de 1780, as palavras romanesco (de romance) e
romântico (aplicado à paisagens e estados de
espírito) separam-se nitidamente. Já o termo
Romantismo - que indica o período artístico,
com o sentido de anti-clássico - parece ter
surgido na Alemanha, expandindo-se, em
seguida, pelo resto do mundo.
Nos primórdios do século XIX - favorecido pelas
grandes mudanças políticas e culturais na
Europa, o estilo e as visões românticas de
mundo sedimentam-se com as obras dos Irmãos
Schlegel na Alemanha, Coleridge e Wordsworth
na Inglaterra, Madame de Stäel e Chateaubriand
na França.
É Importante frisar que o Romantismo não é um
movimento exclusivamente literário. As suas
manifestações dão-se também em larga escala
na música, através das obras de Beethoven e a
sua intensa monumentalidade; de Tchaikovsky,
mestre da melodia e da angústia romântica; e de
compositores que buscaram as raízes nacionais
e populares, como Grieg (Noruega), Dvórak
(República Tcheca), Granados (Espanha), entre
outros. Surgem os concertos para o grande
público. A ópera - reunindo música e teatro populariza-se espetacularmente através de Verdi
(Itália) e Wagner (Alemanha).
Também nas artes plásticas, o espírito romântico
triunfa. Nas pinturas de Géricault, Delacroix e
Turner,
entre
outros,
enfatiza-se
o
emocionalismo, os contrastes violentos de luz e
sombra, a distribuição intensa das cores.
O Romantismo constitui-se assim como uma
poderosa e verdadeira revolução artística que
modifica para sempre a cultura ocidental.
Características
INDIVIDUALISMO E SUBJETIVISMO
A ideologia burguesa centra-se nas
liberdades (expressão, iniciativa,
concorrência) do novo homem e nas
infinitas chances de auto-realização do
indivíduo. O Romantismo, reflexo da
nascente ordem social, centra-se na
glorificação do particular, do singular, do
íntimo, daquilo que diferencia uma
pessoa de outra. O individualismo e o
subjetivismo parecem ser faces distintas
da mesma moeda, no caso o eu.
Veja-se o exemplo de Lord Byron:
Já é tempo do meu coração não se comover
porque aos outros já deixei de emocionar
mas embora eu não possa ser amado
que possa pelo menos amar.
SENTIMENTALISMO
Os sentimentos tornam-se mais importantes do que
a racionalidade. A existência só adquire sentido, se
guiada e desenvolvida sob o seu domínio. Eles são
sob a medida da interioridade de cada pessoa, a
medida de todas as coisas. Negar-se à expressão
sentimental significa ser insensível e estúpido.
Werther morre de amor, e tudo se justifica - perda da
honra, cisão da moral… - se os gestos nascerem de
sentimentos autênticos. Observe-se um fragmento
do mais famoso romance de Goethe:
Como a sua imagem me persegue! Ela toma conta
de toda a minha alma, quer esteja desperto, quer
sonhando. Aqui, quando fecho os olhos, aqui, atrás
de minha fronte, onde se concentra a visão interior,
encontram-se os seus olhos negros. Exatamente
nesse lugar! Não sei como exprimir-te isso melhor.
Quando fecho os meus olhos, os dela estão lá;
descansam diante de mim, como um mar, como um
abismo, preenchendo todo o meu sentir.
Um novo sentido do amor
Os românticos - em obsessões sentimentais - terminam
indiscutivelmente por criar um novo significado para as paixões
humanas. A expressão "amor romântico" ainda hoje é comum e indica
profundidade, intensidade, delicadeza e afecto desmedido.
Às vezes não compreendo como outro possa amá-la, tenha o direito
de amá-la, quando eu, somente eu a amo com tanta ternura, tão
profundamente, não pensando em outra coisa, querendo apenas esse
amor, e não possuindo nada além dele.
CULTO À NATUREZA
Um dos elementos mais importantes da
estética romântica, a natureza exerce profundo
fascínio sobre os escritores do período, que
vêem nela a antítese da civilização que os
oprime. Encontrar-se com a natureza significa
encontrar-se consigo mesmo, significa alargar
a sensibilidade. Rousseau identifica a natureza
com o sentimento interior. Nos seus passeios
solitários, essa subjectivização do mundo
natural é visível:
Da superfície da terra elevava as minhas
idéias a todos os seres da natureza. Então,
perdido o espírito nessa imensidão, não
pensava, não raciocinava, não filosofava.
Sentia-me - sentia-me com uma espécie de
voluptuosidade. (...) Amava perder-me com a
imaginação no espaço. Sufocava-me com o
universo e gostaria de lançar-me ao infinito.
Mas a natureza é também a confidente para as horas melancólicas e a
amante desencadeadora de inspirações. É quase impossível produzir arte
sem o seu influxo, como se nota neste fragmento de Madame de Stäel:
Na natureza o homem reencontra em si mesmo
sensações, alegrias ocultas que se
correspondem com o dia, com a noite, com a
tempestade. Esta aliança secreta de nosso ser
com as maravilhas naturais é que garante à
poesia a sua verdadeira grandeza.
Sublinhe-se, enfim, que a natureza funciona também no Romantismo
como uma mãe que protege o filho dos desconcertos do universo,
conforme se verifica no excerto extraído de Devaneios de um
caminhante solitário, de Rousseau:
Brilhantes flores, coloridos prados, sombras frescas,
bosquezinhos, verdura, vinde purificar minha imaginação
(...) Galgo os rochedos, as montanhas, mergulho nos vales,
nos bosques, para me furtar, tanto possível, à lembrança
dos homens e aos ataques dos maus. Parece-me que sob
as sombras de uma floresta sou esquecido, livre e calmo
como se não mais tivesse inimigos, ou como se a folhagem
dos bosques me defendesse.
FORMAS DE EVASÃO
A inconformidade do artista romântico com o "mundo
cruel" leva-o a uma série de procedimentos de fuga. Já
que a sociedade não quer escutá-lo ou não sabe
compreendê-lo, já que ele está perdido numa realidade
incómoda e brutal, já que a sua sensibilidade não possui
força para mudar o destino, resta-lhe apenas a tentativa
de escapar.
A) Sonho e fantasia
A evasão mais comum dá-se através do princípio da
fantasia. O poeta devaneia, cria universos imaginários,
onde encontra a luz e a alegria que a sociedade
burguesa não lhe oferece. O sonho não é apenas a fonte
obscura e misteriosa que alimenta a criação artística,
mas uma forma de resposta à hostilidade do mundo.
Novalis declara isso textualmente: "O sonho parece-me
uma vala de protecção contra a vulgaridade da vida."
Álvares de Azevedo transita continuamente entre os
níveis concretos da vida social e as fantasias de sua
subjectividade
atormentada,
sem
escapar
do
dilaceramento que esta divisão sonho-realidade lhe
causa:
Vinte anos! derramei-os gota a gota
Num abismo de dor e esquecimento...
De fogosas visões nutri meu peito...
Vinte anos!... não vivi um só momento!(...)
Eu sonhei tanto amor, tantas venturas,
Tantas noites de febre e d'esperança.
Mas hoje o coração desbota, esfria,
e do peito no túmulo descansa!
B) O "mal do século"
O "mal do século" é uma "enfermidade moral" e não física. Resulta do tédio
("ennui", "spleen"), mas não do tédio comum (enfado diante da monotonia da
vida). A concepção romântica aponta para um aborrecimento desolado e
cínico, que ressalta tanto a falta de grandeza da existência quotidiana quanto
o vazio dos corações juvenis. Estes acreditam ter vivido todas as paixões e ter
experimentado todos os abismos.
C) O culto do passado
Em contraponto ao presente insatisfatório, o romântico encontra
constantemente no passado ideais sublimes e valores modelares. Essa
afirmação do tempo pretérito dá-se em dois planos:
Passado histórico: textos sobre a vida na Idade Média.
Passado individual: textos sobre a infância e a adolescência dos escritores.
Esta mitificação daquilo que já transcorreu obedece, geralmente, a uma
tendência de fuga da realidade, pois tanto o mundo medieval como o mundo
infantil representam o paraíso perdido, uma época de ouro na qual as criaturas
seriam felizes.
Também o retorno saudoso à infância toma a forma de uma
inconformidade com a vida presente, conforme podemos ver
neste fragmento de Casimiro de Abreu:
Ah! minha infância saudosa
Que me mostravas à mente,
Neste viver inocente,
Tão verdejante e florida,
A longa estrada da vida
Que é toda tão escabrosa!
LIBERDADE ARTÍSTICA
A arte clássica sempre esteve sujeita a normas,
padrões e modelos. Durante o Romantismo, em
decorrência da liberdade de expressão
alcançada pela sociedade burguesa, todas as
receitas de conteúdos e de escrita das obras
são destruídas. Esbatem-se as fronteiras entre
os géneros: num mesmo texto admite-se o
cômico e o trágico, o sublime e o grotesco.
"Ao martelo com as regras" - grita Victor Hugo
no prefácio de sua peça Cromwell, em 1827,
indicando que nem os temas, nem as estruturas
de composição, nem os estilos devem
responder a esquemas rígidos e pré-fixados. Ao
contrário, devem nascer espontaneamente, de
acordo com o propósito individual de cada
criador.
O ESTILO ROMÂNTICO
Estilisticamente, o Romantismo apresenta alguns princípios elementares:
- A expressão artística ( a exemplo da temática) é um processo resolvido
mais pela inspiração do que pela pesquisa formal. Daí a impressão de
descuido e excesso que muitos textos do período nos deixam.
- Na poesia, há grande variedade métrica, de ritmos e de rimas, indicando
a liberdade de composição que os autores experimentam.
- O uso intenso de adjectivos, em função de sua força expressiva e do
seu poder de qualificar uma numerosa gama de sentimentos. Os
adjectivos - segundo os românticos - ampliam ao máximo a conotação
emotiva das palavras, fixando tonalidades e nuances da natureza e das
paixões humanas. Com o tempo, alguns desses vocábulos tornam-se
verdadeiros lugares-comuns: doce, cálido, mimoso, infeliz, fatal, puro,
cândido, celestial, etc.
- A frequente utilização de metáforas, hipérboles e outras figuras tanto na
poesia quanto na prosa, aproximam (até certo ponto) um género de outro.
No campo simbólico, predominam imagens extraídas de fenómenos
naturais, normalmente grandiosos: florestas, correntezas, tempestades,
tufões, etc.
- A abundância de interjeições e exclamações , criando um tom de
exaltação retórica.
No conjunto, a linguagem romântica deixa a
impressão
de
grandiloquência,
ênfase
declamatória e busca do sublime. Ainda no
século XIX, ela seria atacada por realistas,
parnasianos e mesmo por simbolistas.
Entretanto, a sua destruição -- como fórmula
expressiva -- aconteceria somente com as
vanguardas artísticas do século XX, que
instaurariam o domínio da linguagem coloquial.
E por te amar, por teu desdém, perdi-me...
Tresnoitei-me em orgias, macilento,
Brindei, blasfemo, ao vício, e da minh'alma
Tentei-me suicidar, no esquecimento!
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