De Anchieta a Euclides (J.G. Merquior) (cap. III) "O espírito da literatura romântica" "O caráter específico do romantismo brasileiro” "Dos pré-românticos a Gonçalves Dias" Origem e Características • Movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa que durou por grande parte do século XIX. • Primeira grande resposta estética da cultura ocidental à Revolução Industrial e à Revolução Francesa. • Negação da harmonia entre natureza e cultura. • Nostalgia dos paraísos perdidos foi sua marca registrada; a alma romântica é saudosista. Origem e Características • No Brasil, compreende período entre o final da Regência e os primeiros anos após a Guerra do Paraguai. • No Brasil: literatura de importação. • Dinamizou dois grandes mitos: a nação e o herói, que ficaram bem caracterizados no século XIX, período de afirmação nacional, quando se estruturou um complexo fundador – indianismo e valorização do seu folclore. Os pré-românticos Pré-romantismo é uma etiqueta muito útil, porém equívoca: • Pré romantismo à inglesa - literatura sentimental e “noturna”. - Produto da sensibilidade da camada burguesa. • Prosa de Chateaubriand - ressuma nostalgia, todo voltado para o passado. • • • • Na literatura brasileira: Linguagem fortemente neoclássica; Destaques: - Souza Caldas e José Bonifácio; Errôneo considerar pré-romântico o lirismo só aparentemente individualista de Gonzaga; No oitocentos o pré romantismo se prolongou nas obras de alguns autores secundários (Domingos Borges de Barros); No Brasil joanino, sua lírica meditativa contrastava singularmente com o arrevezamento dos últimos neoclássicos, do tipo José Bonifácio, abrindo caminho à singeleza melódica dos românticos. • Sociedade Filomática: academia universitária fundada em São Paulo por Francisco Bernardino Ribeiro. As novidades da Filomática se resumiam no ensaísmo de JUSTINIANO José DA ROCHA, que endossava as exortações de Garrett aos escritores brasileiros para que trocassem a imitação dos clássicos pela construção de uma literatura de cor local. e na poesia populista de João Salomé QUEIROGA (1810-1878), autor de um nada romântico "Retrato da Mulata" e de algumas eficazes quadrinhas satíricas. Queiroga, ardente nacionalista, propunha que a literatura nacional adotasse um idioma trirracial por ele crismado de "luso-bundoguarani" • O nosso único grande escritor pré-romântico, contemporâneo de Borges de Barros, Frei Francisco de MONTE ALVERNE (1784-1857). • Sua personagem e sua oratória impressionaram decisivamente os nossos primeiros românticos. • Seus sermões estão banhados no sentimento religioso como experiência mística, pessoal e poética, deliberadamente contraposta à frieza efetiva e imaginativa do racionalismo ilustrado. Religiosidade exaltada, de caráter narcisista, tremendamente sedutora aos olhos do egocentrismo romântico. Compreende-se que o espiritualismo de Monte Alverne, servido por esse estilo atraente, pitoresco e inebriante, influísse como influiu no seu aluno Gonçalves de Magalhães, o fundador do romantismo. • O ato de fundação do romantismo brasileiro seria, com efeito, o lançamento, em Paris, da "revista brasiliense“ Niterói (1836). O núcleo fundador compreendia Magalhães, Araújo Porto Alegre e Torres Homem. • O programa da Niterói nacionalização das letras brasileiras. Em seu "Discurso sobre a História da Literatura do Brasil", Magalhães declara que "cada povo tem sua literatura própria, como cada homem seu caráter particular ( ... )"; contempla a nossa tradição literária, destacando a sua brasilidade; e deplora que a influência clássica, de cunho português, tenha sufocado a plena afirmação de uma arte brasileira aberta à inspiração do meio tropical e da raça ativa (elementos brasileiros) e do sentimento religioso (que julgava essencial ao novo estilo). No conjunto, o primeiro romantismo foi decididamente oficialista. E igualmente de muito parco valor artístico. Se não fosse Gonçalves Dias, esse elenco inicial, que ocupa sozinho a cena literária de 1836 a 1851, não contaria com nenhum grande escritor. Domingos José Gonçalves de MAGALHÃES (1811-1882): • Formado em Medicina em 1832. Este também é o ano em que publica seu primeiro livro:Poesias. Viajou pela Europa, onde conheceu as tendências literárias românticas que influenciariam de forma decisiva a sua forma de escrever, evidentes no livro Suspiros Poéticos e Saudades. Livro: Suspiros Poéticos e Saudades (1836) : • É um Livro de Poesias escritas segundo as impressões dos lugares. Magalhães se inspirava muito sobre os lugares e paisagens de por ele visitados. Esta obra dele foi considerada a obra inaugural do Romantismo no Brasil. Antônio Gonçalvez Dias (1823-1864) Expoente do primeiro elenco romântico brasileiro. • “Clarividência sociológica” em “Meditação”. Enquanto a maioria se alinhava à sociedade imperial, às políticas da regência, à coroa, Gonçalvez Dias denunciava a escravidão usando a estrutura da bíblia para ilustrar a humilhação dos escravos. No meio das tabas de amenos verdores Cercados de troncos - cobertos de flores, Alteiam-se os tetos da altiva nação; Mediavalismo • “Sextilhas de Frei Antão”. Português arcaizante. Destoa do nacionalismo levantando temas polêmicos relacionados a monarquia e a escravidão. • Lírica trovadoresca. Indianismo. • “I-Juca-Pirama”. Valorização da cultura indígena. • “O mais belo poema longo da literatura nacional, o sonho romântico de idealização do índio adquire a magia atemporal do mito.” • José de Alencar. “O Guarani”. Nacionalismo • “Canção do Exílio”. Característica dos contemporâneos românticos. • Melodrama: “Leonor de Mendonça” (1847). “Tragédia dos sentimentos nobres estrangulados pela intolerância do preconceito”. Rio de Janeiro 1846 • Retorno de Coimbra. Não finalizou os estudos. Crise financeira familiar por conta da balaiada. • “Primeiros Cantos” (1847). Lançou-se. • “Segundos Cantos” (1848) e “Últimos Cantos” (1851) quando lecionava latim e história do Brasil no colégio Pedro II. Alemanha (1857) • “Os Timbiras”, epopeia indianista. • “O Dicionário da Língua Tupi”, “missão científica oficial”. Dias X Magalhães • Lirismo do eu, da natureza e do sentimento religioso nos “Cantos”, semelhantes as características de Magalhães. • Formação classicista, alto grau de riqueza simbólica e plasticidade musical que Magalhães não apresenta. Uma febre, um ardor nunca apagado, Um querer sem motivo, um tédio à vida, Sem motivo também, - caprichos loucos, Anelo doutro mundo e doutras coisas.