DIARRÉIA AGUDA Marina Mendes Vasco Orientadora: Drª Elisa de Carvalho Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF Diarréia Aguda Conceito • Alteração do hábito intestinal caracterizada por aumento do número de evacuações e do teor de água nas fezes • Cursa com depleção hidrossalina de intensidade variável e má absorção de água e eletrólitos • Instalação súbita e curso autolimitado (max.14 dias) • Etiologia provavelmente infecciosa Diarréia Aguda Epidemiologia • Nos países em desenvolvimento, a OMS estima que crianças menores de 5 anos apresentam, em média, 2-3 episódios de diarréia/ano e nos dois primeiros anos de vida ocorrem 20 óbitos/1000 casos de diarréia. • A maioria dos agentes infecciosos é transmitida pela via oro-fecal e relaciona-se à qualidade da água, à falta de saneamento básico e às más condições de manipulação e estoque de alimentos. Diarréia Aguda Fisiopatologia • Diarréia osmolar : ↑ exagerado da osmolaridade na luz intestinal, atraindo água para a luz ( causada por vírus, bactérias, carboidratos) • Diarréia secretora : patógenos não-invasivos agridem o intestino delgado com toxinas que promovem secreção abundante de água e eletrólitos • Diarréia disabsortiva: distúrbio da absorção causado por toxinas Diarréia Aguda Fisiopatologia • Diarréia motora: alteração da motilidade intestinal – hipermotilidade ou hipotonia • Diarréia exsudativa: processo inflamatório que sugere infecção por agentes invasivos, com agressão de íleo distal e cólon • Sínd. do intestino curto: perda de área intestinal Diarréia Aguda Fisiopatologia • Mecanismos de virulência dos microorganismos: Adesivisidade: adesão à mucosa intestinal por meio de adesinas secretadas pelas fímbrias Invasividade: capacidade de invadir a mucosa e multiplicar-se nas células epiteliais ou atingir a lâmina própria Toxigênese: Enterotoxinas: causam secreção exagerada de sais e água Citotoxinas: lesam a célula e causam necrose do tecido Diarréia Aguda Fisiopatologia • Principais Enteropatógenos Bactérias: Escherichia coli E. coli enteropatogênica- diarréia secretora E. coli enterotoxigênica- diarréia secretora E. coli enteroinvasora- diarréia exsudativa E. coli êntero- hemorrágica- diarréia sanguinolenta E. coli enteroagregativa- diarréia persistente Diarréia Aguda Fisiopatologia Shigella - diarréia exsudativa por ileocolite Salmonella - diarréia exsudativa por ileocolite, sepse em lactente desnutridos Campylobacter jejuni - diarréia secretora exsudativa Vibrião colérico - diarréia secretora grave Clostridium difficile - diarréia pósantibioticoterapia (colite pseudomembranosa) Diarréia Aguda Fisiopatologia Vírus: Rotavírus – mais freqüente aos 6 meses a 2 anos de idade, principalmente no inverno Adenovírus entérico - diarréia secretora e osmótica Vírus Norwalk - diarréia secretora e osmótica Astrovírus - diarréia secretora e osmótica Diarréia Aguda Fisiopatologia Protozoários: Cryptosporidium - diarréia secretora Ameba histolítica - colite ( rara) Giardia lamblia - raramente causa diarréia aguda em regiões endêmicas Diarréia Aguda Quadro Clínico • Diarréia secretora Fezes líquidas, abundantes e claras, fétidas, sem sangue, muco ou pus Desconforto abdominal Pode haver febre ou vômitos Diarréia Aguda Quadro Clínico • Diarréia exsudativa ( disenteria) Fezes amolecidas, com muco, sangue e pus Eliminações repetidas, em pequenas porções, com dor à evacuação Febre alta Leucocitose, neutrofilia e desvio a esquerda Diarréia Aguda Quadro Clínico • Diarréia exsudativa secretora Inicia-se como secretora e torna-se exsudativa • Diarréia viral Fezes líquidas, sem muco, pus ou sangue Evacuações sem dor Vômitos e febre Casos semelhantes na família/comunidade Linfocitose Diarréia Aguda Quadro Clínico • Diarréia relacionada com antibióticos Ocorre em 10-14 dias após o início da ATB ou em até 3 semanas após o seu término ( penicilinas, cefalosporinas, clindamicina) Diarréia aquosa intensa Casos graves (colite pseudomembranosa): febre, vômitos, distensão abdominal, toxemia, leucocitose acentuada, muco e sangue nas fezes TTO: metronidazol e/ou vancomicina VO Diarréia Aguda Complicações • Desidratação • Distúrbio hidroeletrolítico • Desnutrição - decorrente da inapetência e vômitos, mau aproveitamento dos alimentos e catabolismo aumentado Diarréia Aguda Diagnóstico • Anamnese Início do quadro, características das fezes, febre, prostração, tolerância à hidratação oral, outros sintomas digestivos (vômitos, dor ou distensão abdominal) Sinais de infecção e antecedentes de parasitoses Dieta atual e pregressa Uso de drogas e alergias Condições sociais e sanitárias Diarréia Aguda Diagnóstico • Exame Físico Sinais de desidratação – mucosas secas, oligúria, alterações ortostáticas da FC e PA Estado nutricional Sinais de toxemia Diarréia Aguda Diagnóstico • Exames complementares Coproscopia direta, coprocultura e EPF – pouco valor na diarréia aguda HC, hemocultura, ionograma e gasometria – úteis nos casos mais graves, com maior repercussão sobre o estado geral, suspeita de infecção sistêmica e pesquisa de DHE e ácido-básicos. Devem ser feitos após a fase de reparação rápida Diarréia Aguda Tratamento • Objetivo: Reidratar a criança ou evitar que ela desidrate • Hidratação Nas crianças hidratadas administra-se > quantidade de líquidos que o habitual, com ênfase na SRO (OMS) que utiliza a absorção fisiológica de eletrólitos e glicose Soluções com < teor de solutos poderá levar a < absorção e a secreção de água e eletrólitos, agravando a desidratação (ex: água de coco) Diarréia Aguda Tratamento • Em crianças desidratadas: Fase de reparação c/ SRO em 4-6h: 50-75ml/kg – casos leves 100-150ml/kg - casos severos O término dessa fase é observado com a emissão de 1-2 micções claras e abundantes Fase de manutenção: SRO após cada evacuação Diarréia Aguda Tratamento • Se a criança não aceitar por VO a quantidade necessária de soro, tentar a hidratação por sonda nasogástrica • Quando houver falha na TRO por ingestão insuficiente, vômitos incoercíveis, diarréia de alto fluxo, sinais de choque, depressão neurológica grave ou doenças graves associadas, iniciar reparação EV com solução salina e glicosada • Se não for possível a manutenção por VO, fazêla EV Diarréia Aguda Tratamento • Antibióticos São desnecessários, pois a diarréia é autolimitada O uso deve ser avaliado em casos mais graves de diarréia invasiva, com febre alta e > repercussão sobre o estado geral, em desnutridos graves, em RN, em lactentes pequenos e nos imunodeprimidos Diarréia Aguda Tratamento • Dieta: Dieta livre adequada `a idade, respeitando as preferências da crianças O jejum agrava a desnutrição, o que predispõe à diarréia persistente Em crianças desidratadas, fazer a reparação com SRO e reinstituir a alimentação após Aumentar a freqüência das mamadas em crianças que são amamentadas ( não suspender) Diarréia Aguda Tratamento • Antidiarréicos – não devem ser utilizados Inibidores do peristaltismo intestinal (Loperamida e Difenoxilato): inibem o mecanismo de limpeza do intestino, em doses altas podem ter efeito anti-secretor à custa de efeitos colaterais graves: íleo paralítico e intoxicação do SNC Adsorventes ( pectina, carbonato de Ca2+, carvão ativado): adsorvem a água já eliminada e tem apenas efeito cosmético sobre as fezes Diarréia Aguda Tratamento Modificadores da flora intestinal (probióticos): Não tem ação comprovada. Ex: lactobacilos Anti-secretórios ( Racecadotril): Reduzem a secreção intestinal com melhora significativa dos sintomas. Como não interferem com a motilidade intestinal, não alteram o tempo de trânsito e não produzem supercrescimento bacteriano Diarréia Aguda Tratamento • Antieméticos: São desnecessários. As náuseas e os vômitos regridem com a reidratação. Seu efeito sedativo pode prejudicar a TRO • Antitérmicos: Geralmente são desnecessários, pois a febre pode desaparecer após a reidratação. Indicar se houver febre elevada com desconforto evidente. Dar preferência a medicamentos que não causem sedação • Analgésicos: São úteis no desconforto abdominal • Antiespasmódicos: São contra-indicados Diarréia Aguda Indicações de internação • Desidratação grave ou sinais de choque • Crianças com desidratação moderada que não toleram a TRO • Desnutrição grave • Toxemia grave, suspeita de sepse ou infecção grave associada • Crianças de famílias muito pobres sem condições sociais de garantir o tratamento ambulatorial Diarréia Aguda Sinais de alerta para a mãe • Diarréia muito intensa (fezes liquídas, mais de 1 episódio/h) • Vômitos freqüentes, sede muito intensa, olhos fundos, ficar sem urinar por mais de 8h, diarréia com sangue, febre, gemência, abatimento • Diarréia por mais de 5 dias Diarréia Aguda Prevenção • Promover o aleitamento materno exclusivo até os 4-6 meses de vida • Introduzir práticas adequadas de desmame – alimentos de boa qualidade nutritiva e preparados com boa higiene • Seguir o esquema básico de vacinação • Incentivar o saneamento básico Diarréia Aguda Bibliografia • Marcondes, E; Vaz, FAC; Ramos, JLA; Okay, Y. Pediatria Básica. Tomo I – Pediatria Geral e Neonatal. Nona Edição.São Paulo: Sarvier, 2002. • Murahovschi, J. Pediatria: Diagnóstico + Tratamento. Sexta edição, São Paulo: Sarvier, 2003. • Oliveira, RG. Blackbook-Pediatria. Terceira edição, Belo Horizonte: Black Book Editora, 2005. • Rego, CFR; Pires, LAA.. Diarréia aguda. Manual de Gastroenterologia pediátrica, 2002; 49-52.