“Conhece-te a ti mesmo.” - Inscrição do Oráculo de Delfos Na Grécia Antiga, o período pré-socrático foi dominado, em grande parte, pela investigação da natureza. Essa investigação consistia na busca de explicações racionais (cosmologia) para o universo manifestando-se na procura de um princípio primordial (a arché) de todas as coisas existentes. Seguiu-se a esse período uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações políticas do homem com a sociedade. Essa nova fase foi marcada, no início, pelos sofistas. Em uma época de lutas políticas e intensos conflitos de opiniões nas assembléias democráticas, os cidadãos sentiam necessidade de aprender a arte de argumentar em público. Os sofistas eram professores viajantes que vendiam ensinamentos práticos de filosofia: o desenvolvimento da argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Ou seja, raciocínios e concepções utilizados na arte de convencer pessoas, que favoreceram o surgimento de concepções filosóficas relativistas. Etimologicamente, o termo sofista significa “sábio”. Entretanto com o decorrer do tempo ganhou o sentido de “impostor”, por ser a sofística, isto é, a arte dos sofistas, apenas uma atitude viciosa do espírito, uma arte de manipular raciocínios, de produzir o falso, de iludir os ouvintes, sem qualquer amor pela verdade. A verdade, em grego, se diz aletheia e significa a manifestação daquilo que é, o não-oculto. Aletheia se opõe a pseudos que significa o falso, aquilo que se esconde, que ilude. Os sofistas parecem não buscar a aletheia; se contentam com pseudos. Tanto assim, que se usa a palavra sofisma, derivada de sofista, para designar um raciocínio aparentemente correto, mas que na verdade é falso ou inconclusivo, geralmente formulado com p objetivo de enganar alguém. Nascido em Abdera, Protágoras (480-410 a.C.) é considerado o primeiro e um dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em Atenas, tendo como princípio básico a idéia de que o homem é a medida de tudo que existe. Conforme essa concepção, todas as coisas são relativas às disposições do homem, portanto não haveria verdades absolutas. A filosofia de Protágoras sofreu críticas por dar margem a um grande subjetivismo: tal coisa é “O homem é a medida de todas as coisas; verdadeira se para mim parece verdadeira. Qualquer tese poderia ser encarada como falsa daquelas que são, enquanto são; e daquelas que não são, enquanto não são.” ou verdadeira, dependendo da ótica de cada um. Górgias de Leontini (487-380 a.C., aproximadamente), considerado um dos grandes oradores da Grécia. Aprofundou o subjetivismo relativista de Protágoras aponto de defender o ceticismo absoluto. Afirmava que: a) Nada existia; b) Se existisse, não poderia ser conhecido; c) Mesmo que fosse conhecido, não poderia ser comunicado a ninguém. “O bom orador é capaz de convencer qualquer pessoa sobre qualquer coisa.” Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecedem são chamados présocráticos e os que sucedem, de pós-socráticos. Sócrates desenvolvia o saber filosófico sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral. “Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente por não supor que saiba o que não sei.” Tanto quanto os sofistas Sócrates abandonou a preocupação em explicar a natureza e se concentrou na problemática do homem. No entanto, contrariamente aos sofistas, Sócrates opunha-se ao relativismo em relação à questão da moralidade e ao uso da retórica para atingir interesses particulares. Sócrates procurava um fundamento último para as interrogações humanas (O que é bom? O que é a virtude? O que é a justiça?), enquanto os sofistas situavam suas reflexões a partir dos dados empíricos, sem se preocupar com a investigação de uma essência da virtude, a partir da qual a própria realidade empírica pudesse ser avaliada. A pergunta fundamental que Sócrates tentava responder era: o que é a essência do homem? Ele respondia dizendo que o homem é a sua alma, entende-se “alma” como a sede da razão, o nosso eu consciente, que inclui a consciência intelectual e a consciência moral, que distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza. Por isso, o auto conhecimento era um dos pontos básicos da filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos. Sua filosofia era desenvolvia mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica. Na linguagem cotidiana, a palavra ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas não é esse o sentido da ironia socrática. No grego, ironia quer dizer “interrogação”. De fato Sócrates interrogava seus discípulos naquilo que pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? E a coragem? E a piedade? São exemplos de algumas perguntas. Sócrates buscava demolir o orgulho, a arrogância e a presunção do saber. A primeira virtude do sábio é adquirir a consciência da própria ignorância. “Sei que nada sei” dizia Sócrates. A ironia socrática tinha, portanto um caráter purificador. Levando seus discípulos a confessarem sua próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências, tomando consciência de suas próprias respostas e das conseqüências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes repletas de conceitos vagos e imprecisos. Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam então iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias. Novamente, Sócrates lhes propunham uma série de questões habilmente colocadas. Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar os discípulos a conceberem suas próprias idéias. Assim, transportava para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe, que sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo. Por isso, essa face do diálogo, destinada à concepção de idéias, era chamada maiêutica, termo grego que significa “arte de trazer à luz”. Nascido em Atenas, Platão (427-347 a.C.) foi discípulo de Sócrates. Fundou sua própria escola filosófica Academia. A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por ele mesmo, Platão. Teoria das idéias Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria das idéias, que procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento se “Os males não cessarão para os desenvolve por meio da passagem progressiva do homens antes que a raça dos puros e mundo das sombras e aparências para o mundo autênticos filósofos chegue ao poder.” das idéias e essências. Vejamos: • A primeira etapa desse processo é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. Essas impressões sensíveis são responsáveis pela opinião que temos da realidade. A opinião que se adquire sem busca metódica. • O conhecimento, entretanto, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das idéias. Para atingir esse mundo, o homem não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia); precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia) A opinião nasce, portanto, da percepção da aparência e da diversidade das coisas. O conhecimento, por sua vez, é elaborado quando se alcança a idéia, que rompe com as aparências e a diversidade ilusória. O método proposto por Platão para realizar essa passagem e atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a dialética. Dialética Consiste na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos. Nascido em Estagira, na Macedônia, foi discípulo de Sócrates. Discordava do mestre, em sua teoria das idéias. Para Aristóteles, a partir da observação da realidade da existência do ser, é que atingiríamos sua essência. Realidade essa que seria tudo o que vemos, pegamos, ouvimos e sentimos. Aristóteles entendia que o ser individual, concreto, único não pode ser objeto da ciência. O objeto próprio das ciências é a compreensão do universal. “O ser se exprime de muitos modos, mas nenhum modo exprime o ser. O ser se diz em vários sentidos.” A indução (operação mental que vai do particular para o geral) representa, para Aristóteles, o processo básico intelectual de aquisição de conhecimento. Para a polêmica entre Heráclito e Parmênides, Aristóteles propôs uma nova interpretação, segundo a qual em todo ser devemos distinguir: • o ato – a manifestação atual do ser, aquilo que já existe; • a potência – as possibilidades do ser (capacidade de ser), aquilo que ainda não é mas pode vir a ser. Sendo assim a transitoriedade ou mudança das coisas, se resumiriam na passagem da potência para o ato. Segundo Aristóteles devemos distinguir também em todos os seres existentes: • a substância – aquilo que é estrutural e essencial do ser; • o acidente – aquilo que é atribuído circunstancial e não-essencial do ser; A causa Aristóteles emprega o termo causa em tudo aquilo que determina a realidade de um ser. Distingue, assim, quatro tipos de causas fundamentais: • causa material – refere-se à matéria de que é feita uma coisa; • causa formal – refere-se à forma, à natureza específica, à configuração de uma coisa; • causa eficiente – refere-se ao agente que produziu diretamente a coisa; • causa final – refere-se ao objeto, à intenção, à finalidade ou à razão de ser de uma coisa; A felicidade humana Aristóteles define o homem como ser racional e considera a atividade racional, o ato de pensar, como a essência humana, Por conseguinte. Investigando a questão ética, ele diz: “(...) aquilo que é próprio de cada criatura lhe é naturalmente melhor e mais agradável; para o homem, a vida conforme o intelecto (a razão) é melhor e mais agradável, já que o intelecto, mais que qualquer outra parte do homem, é o homem. Esta vida, portanto, é também a mais feliz.” ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, (1178 a.C.), p.203 Para ser feliz, portanto, o homem deve viver de acordo com a sua essência, isto é, de acordo com a sua razão, a sua consciência reflexiva. E, orientando os seus atos para uma conduta ética, a razão e conduzirá à prática da virtude. Para Aristóteles, a virtude representa o meio-termo, a justa medida de equilíbrio entre o excesso e a falta de um atributo qualquer. Ex: a virtude da coragem é o meio-termo entre a covardia e a valentia insana. O período helenístico teve início com a conquista da Grécia pelos macedônios (322 a.C.), e caracterizou-se por um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. Na história da filosofia, a produção filosófica do período helenístico corresponde basicamente à continuação das atividades das escolas platônica e aristotélica. As principais correntes filosóficas desse período vão tratar da intimidade, da vida interior do homem. Entre as novas tendências desse período, devemos registrar correntes filosóficas como: o epicurismo, o estoicismo, o pirronismo e o cinismo. Epicurismo Fundado por Epicuro (324-271 a.C.) propunha que o ser humano deve buscar o prazer pois, segundo ele, o prazer é o princípio e o fim de uma vida feliz. Os epicuristas buscavam a ataraxia, termo grego usado para designar o estado de ausência da dor, quietude, serenidade e imperturbabilidade da alma. Defendendo uma administração racional e equilibrada do prazer, evitando ceder aos desejos insaciáveis que, inevitavelmente, terminam no sofrimento. Estoicismo Corrente filosófica de maior influência em seu tempo. Foi fundada por Zenão de Cício (336-263 a.C.). Os representantes desta escola, defendiam que toda realidade existente é uma realidade racional. Assim, em vez do prazer dos epicuristas, Zenão propõe o dever da compreensão como o melhor caminho para a felicidade. O ideal perseguido era um estado de plena serenidade para lidar com os sobressaltos da existência, fundado na aceitação e compreensão dos “princípios universais” que regem toda a vida. Pirronismo O pirronismo, de Pirro de Élida (365-275 a.C.) – segundo suas teorias, nenhum conhecimento é seguro, tudo é incerto. O pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o imediato captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena, pois seria impossível ao homem saber se as coisas são efetivamente como aparecem. Assim o pirronismo é considerado uma forma de ceticismo, pois professa a impossibilidade do conhecimento, da obtenção da verdade absoluta. Cinismo O cinismo vem do grego kynos, que significa “cão”; cínico, do grego kynicos, significa “como um cão”. O termo cinismo designa a corrente dos filósofos que se propuseram a viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a filosofia de Sócrates, segundo a qual o homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Diógenes, foi o pensador mais destacado dessa escola, questionava os valores e as convenções sociais e procurava viver estritamente conforme os princípios que considerava moralmente corretos. Período Greco-romano O último período da filosofia antiga, conhecido como greco-romano, corresponde, em termos históricos , à fase de expansão militar de Roma (desde as Guerras Púnicas, iniciadas em 264 a.C., até a decadência do Império Romano, em fins do século V da era cristã). Trata-se de um período longo em anos, mas pouco notável no que diz respeito à originalidade das idéias filosóficas. Os principais pensadores desse período, como Sêneca, Cícero, Plotino, Plutarco, dedicaram-se muito mais à tarefa de assimilar e desenvolver as contribuições culturais herdadas principalmente da Grécia clássica do que de criar novos caminhos para a filosofia. A progressiva penetração do cristianismo no decadente Império Romano é uma das características fundamentais desse período. A difusão e a consolidação do cristianismo, através da Igreja Católica, atuaram no sentido de dissolver a força da filosofia grega clássica que passou a ser qualificada como pagã (própria dos povos não cristãos).