INQUÉRITO SOROEPIDEMIOLÓGICO PARA HIV EM PROFISSIONAIS DO SEXO, EM TUBARÃO E LAGUNA (SC). Área de conhecimento. Medicina Audrei Wolfart, Geisiane Custódio, Mikely Byala de Oliveira– Acadêmicos– Curso de Medicina do Campus de Tubarão Fabiana Schuelter Trevisol – Professora-Orientadora do Campus Tubarão Introdução Discussão As doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a AIDS, constituem grave problema de saúde pública devido ao grande número de casos notificados, à progressão da doença e ao impacto social e econômico nos países atingidos. 1 A transmissão sexual é responsável pela maior parte dos casos de infecção pelo HIV. A co-infecção entre HIV, HCV e HBV ocorre em número considerável de casos e é explicada pelas vias de transmissão comuns a esses vírus, tais como a sexual, vertical e sanguínea.2 Da mesma forma, a sífilis é uma doença sexualmente transmissível ulcerativa que facilita a entrada de agentes infecciosos, como o HIV. 3 Pesquisas realizadas tanto no Brasil como em outros países demonstraram que profissionais do sexo apresentam baixa adesão ao uso de preservativos, concomitantemente à execução de práticas sexuais de risco, envolvimento com drogas ilícitas, alta prevalência de DST, além das más condições de vida dessas mulheres que aumentam os riscos de infecções.4 Além disso, é uma população vulnerável e flutuante, de difícil monitoramento. Os profissionais do sexo apresentam o agravante de sua condição "marginal" na sociedade, o que faz com que tenham dificuldade no acesso a serviços de saúde e programas de prevenção. O objetivo desse estudo foi verificar a frequência de infecção pelo HIV, HCV, HBV e sífilis entre profissionais do sexo em três cidades do Sul de Santa Catarina. A já evidenciada maior susceptibilidade de profissionais do sexo à infecções virais pelos vírus HIV, HCV, HBC e outras DST`s, 5,6 devido a fatores como número elevado de parceiros sexuais, uso incorreto ou falta de uso de preservativos em todas as relações e dificuldade de aplicar medidas de prevenção em suas rotinas, é corroborada neste estudo pelas altas taxas de prevalência, onde HIV esteve presente em 12,3% dos profissionais, HCV em 7%, HBV em 17,5% e sífilis em 12,3%. Em estudo realizado em profissionais femininos e masculinos em Buenos Aires em 1999, foram identificadas prevalências de 30% para HCV, 12,2% para HBV e 3,8% para HIV 7. Outro estudo argentino, agora realizado em 6 diferentes cidades do país 14,4% para HBV, apresentou taxas de 4,3% para HCV e 3,2% para HIV 8. A coinfecção de HIV com HBV é muito comum devido à semelhança entre a forma de transmissão das doenças; mas o HBV é transmitido com maior eficiência que o HIV nas relações entre homossexuias e no uso de drogas injetáveis 9. Nos EUA mais de 10% de todos os pacientes infectados pelo HIV possuem HIV – HBV coinfeção 10. Dentre fatores que influenciam as taxas de infecção merecem destaque os dados sócio-econômicos desta população. A baixa escolaridade (média de 6anos) acaba por dificultar o entendimento sobre o contágio, evolução, transmissão e medidas preventivas das DST`s. O elevado índice de uso de álcool (91%) e outras drogas ilícitas (70%) pelos profissionais estão ligados a alterações na percepção de suas realidades, deixandoos novamente mais expostos a atividades de risco para contágio de infecções. Neste estudo, o consumo de álcool esteve associado ao HCV. O uso inadequado dos preservativos é achado comum. Quando ao uso com clientes, 77% dos entrevistados relatam uso do preservativo nas relações, porém não durante todo o ato sexual e, além disso, 19% relatam usar ocasionalmente. Esses índices refletem uma realidade assustadora quanto ao descaso dos profissionais frente aos riscos inerentes de sua profissão ao contágio das DST`s além de evidenciar a errônea concepção dos mesmos que acreditam que somente as relações comerciais e não as pessoais trazem perigo de contágio. Analisando a prevalência de HIV em profissionais do sexo femininas individualmente, encontramos estatísticas semelhantes em outros estudos brasileiros. Em Imbituba, no ano de 2005 foi identificada prevalência de 6,7% 6, em Paranaguá em 1993 a taxa foi de 4,5% 11. Houve uma predominância de prevalência de HIV nos gêneros masculino e transgêneros, sugerindo que os homens adotam menos medidas preventivas em relação às mulheres.Esses dados não contrariam estudo realizado em Pernambuco no ano de 2000 13 , e confirmam as informações disponíveis pelo Ministério da Saúde Brasileiro 14. Outro fato que merece destaque é a presença de outras DST`s ou lesões mucosas influenciando a contaminação por HIV, HBV e HCV. A presença de ulcerações (sífilis, cancróide e herpes, por exemplo) e/ou lesões mucosas causam inflamação, o que diminui as defesas próprias do tecido acometido, facilitando a entrada de patógenos no organismo. Uma história de DST foi relatada por quase metade da população e a presença de sífilis foi identificada em parte dos indivíduos; porém os dados contrastam com o estudo realizado na Argentina por Pando e cols, onde quase metade da população estudada apresentava a doença (12,3% no presente estudo contra 45,7% no estudo argentino). Pode-se afirmar que um maior número de relações por dia e de parceiros por mês (culminando em maior traumatismo da região) esteve associado a uma maior prevalência de HIV. Devido a estas associações, torna-se evidente que o combate às DST`s constitui de estratégia de suma importância para o controle de infecções virais crônicas. Metodologia Estudo epidemiológico com delineamento transversal. Foram estudados profissionais do sexo feminino, masculino e transgêneres em duas cidades do sul de Santa Catarina. Após a anuência ao termo de consentimento livre e esclarecido, foi aplicado questionário semi-estruturado para análise das variáveis de interesse: dados sóciodemográficos, práticas sexuais, fatores de risco para aquisição de DST, hábitos de vida e uso de drogas. Foi coletada amostra de sangue para detecção de anticorpos antiHIV, anti-HCV, marcadores de hepatite B – HbsAg, anti-HBs, anti-HBc - e testes para detecção de sífilis - VDRL e TPHA - ao final da entrevista. Os resultados reagentes para HIV foram confirmados segundo a portaria 59 do Ministério da Saúde. Os dados foram computados no Epidata, versão 3.1 e a análise estatística foi feita com auxílio do programa SPSS versão 14.0. Resultados Foram estudados 57 profissionais do sexo, sendo 44 mulheres, 6 homens e 7 transgêneres. A média de idade foi de 30,4±9,9 anos, variando entre 18 e 54 anos. Apenas 18 (31,6%) têm relação estável com companheiro fixo. Com relação a etnia, 27 (47,4%) eram brancos. A maioria (34 - 58,7%) não possui residência fixa, 36 (63,2%) possuíam menos de 8 anos de estudo e a renda média mensal gira em torno de 2 salários mínimos. O tempo de atuação como profissional do sexo teve mediana de 60 meses (5 anos). O comportamento sexual predominante foi o heterossexual (38 – 66,7%), porém 45,6% realizam prática de sexo anal. Entre as mulheres, 31,6% têm relações sexuais durante o período menstrual. O número de clientes por dia teve mediana de 3, variando de 1 a 15, e o número de relações sexuais por mês teve mediana de 50, sendo a média diária de 2 relações sexuais por dia. A prevalência de infecção pelo HIV na amostra estudada foi de 12,3%, sífilis 12,3%, hepatite C 7% e hepatite B 21%, sendo 3,5% na fase aguda da infecção. Apenas 15,8% dos participantes apresentam imunidade contra hepatite B. Houve associação estatística entre a infecção pelo HIV e indivíduos caucasianos (p = 0,03), tempo de profissão maior que 60 meses (p = 0,03) maior número de relações sexuais por dia (p = 0,004), maior número de parceiros sexuais por mês (p = 0,007), entre profissionais do sexo do gênero masculino ou transexuais (p < 0,0001) e uso de álcool (p = 0,01). Em relação as hepatites houve associação entre hepatite B e tempo de profissão (p = 0,001) e hepatite C e uso de álcool (p = 0,001). Bibliografia 1. Vieira LM, Saes SO, Dória AAB, Goldberg TBL. Reflexões sobre anticoncepção na adolescência no Brasil. Rev Bras Saude Matern Infant 2006; 6(1): 135-40. 2. World Health Organization. Child and adolescent health and development. [online]. Available from <URL: http://www.who.int/child-adolescentshealth/OVERVIEW/AHD/adh_over.htm. [2001 Sept 2001] 3. Karofsky PS, Zeng L, Kosorok MR. Relationship between adolescent parental communication and initiation of first intercourse by adolescents. J Adolesc Health 2000; 28:41-5. Apoio Financeiro: Unisul