Os campos sociais e o campo midiático Emergência campos sociais O surgimento dos campos sociais ocorre a partir de um processo de secularização do qual resulta a autonomia dos diferentes domínios da experiência e que engendra a constituição de campos de saber específicos. Secularização Berger (1985) conceitua a secularização como “o processo pelo qual setores da sociedade e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos religiosos” (p.119) Rodrigues (2000) define a secularização com a perda da autoridade do sábio para o especialista Secularização e desencantamento do mudo Martín-Barbero (1995) fala em desencantamento do mundo em função da perda de autoridade por parte da Igreja, Estado, família. A mídia recoloca as simbólicas do religioso no cotidiano da vida das pessoas – havendo a partir do processo de secularização e do papel central da mídia um reencantamento do mundo. Especialistas Com os processos de secularização em curso, a competência dos campos não é mais só pragmática, mas também discursiva Atividade dos campos se realiza através do trabalho de especialistas e de profissionais que vão cristalizando seus saberes e constituindo a sua simbólica específica. Singularidade do campo Os campos sociais possuem características intrínsecas e regras específicas para seu funcionamento Os campos são dotados de funções e de normas que orientam suas ações e o constituem como tal. Singularidade do campo Um campo social desempenha dois tipos de funções: discursivas ou expressivas e pragmáticas ou técnicas. Funções discursivas: enunciar seus princípios, valores, regras. Funções pragmáticas: intervir para criar, manter, sancionar e restabelecer sua ordem de valores. Singularidade do campo Cada campo é formado por especificidades e características muito particulares que o diferem dos demais, garantindo sua singularidade. As especificidades são constituídas por ações e também por marcas discursivas por meio das quais cada campo gera simbólicas. Campo: espaço interacional O conceito de campo não deve ser entendido como um espaço restrito, mas sim como uma ‘realidade de forças’. Há que compreender o sentido de campo a partir de uma energia que se cria, recria, propaga, repele e é colocada em tensão a partir de trocas e de relações que são constantemente alternadas e transformadas (Rodrigues, 2000). Domínios específicos Cada campo social detém um domínio específico da experiência Possuem uma legitimidade própria e uma simbólica particular para o constituir e assegurar sua visibilidade pública. Simbólica formal e informal Simbólicas podem ser formal ou informal; Formal: por regras constitutivas e normativas, possuindo rigor e exclusividade de uso pelos seus especialistas. Simbólica informal é caracterizada por um apagamento das marcas distintivas, visando garantir permeabilidade na sociedade. Conceito de campo para Bourdieu Espaço estruturado e estruturante que é caracterizado por disputas porque estão em jogo delimitação das competências, domínio das regras e, conseqüentemente, do próprio jogo. Nas relações entre os campos, há dominantes e dominados, há “relações constantes, permanentes, de desigualdade, que se exercem no interior desse espaço – que é também um campo de lutas para transformar ou conservar este campo de forças” (1997, p.57). Conceito de campo para Esteves O diálogo é uma característica essencial na constituição do campo midiático e também para seu funcionamento. É a partir dos processos de mediação que os sujeitos estabelecem entre si e com seus campos de conhecimento relações múltiplas de produção de sentidos. Conceito de campo para Esteves É através de operações discursivas que os demais campos sociais relacionam-se, já que as conexões e os vínculos entre eles são gerenciados e regulados pela mídia. São os mecanismos de mediação que garantem o diálogo entre os campos sociais, possibilitando trocas e relações. Campos: relações tensionais Nas relações entre os campos há codeterminações, movimentos, negociações, agenciamentos, disputas e tensões fazendo com que se relativize essa autonomia de regular um determinado domínio da experiência (Rodrigues, 2000). Emergência do midiático A formação do campo midiático decorre da necessidade de os campos sociais manterem-se unidos e ligados para fugir do isolamento e alcançar os domínios da experiência moderna, não mais marcada pela solidez, mas pela permeabilidade e pela fluidez. Emergência do midiático A emergência do campo das mídias se efetiva a partir da segunda metade do século XX e se consuma na década de 80. Modernidade tardia Anos 90, a presença da mídia se acentua. Sociedade - indivíduos, famílias, Estado e empresas - passam a depender do funcionamento dos dispositivos midiáticos Emergência do midiático O avanço da tecnologia e o desenvolvimento acelerado de novos dispositivos técnicos de comunicação e de informação são fatores codeterminantes na formação do campo midiático. Midiático surge num contexto de secularização da sociedade, em que a religião não é mais a matriz unificadora e homogeneizante da totalidade da experiência (Rodrigues, 1999). Emergência do midiático Midiático surge para gerenciar a natureza conflituosa da experiência moderna, em que se dá o “fenômeno da autonomização dos diferentes domínios” (Rodrigues, 2000, p.203). Passa-se da sociedade dos meios para a sociedade midiatizada Funções do midiático As funções discursivas predominam sobre as pragmáticas. Sua natureza é a gestão dos discursos. Os demais campos delegam ao midiático parte de sua função discursiva ou expressiva. Privação de visibilidade pública. Campo midiático Natureza informal da sua simbólica. Apagamento sistemático de suas marcas. Modernização e secularização. Apagamento das marcas aponta para uma perda do reconhecimento e legitimidade por parte do público. Campo midiático Através de uma perspectiva mais voltada à questão das práticas sociais, o campo midiático é problematizado como uma matriz de “desorganização e reorganização da experiência social e de nova trama de atores e estratégias de poder” (MARTÍN-BARBERO, 2002, p.244). Processo de enunciação É através de mecanismos de enunciação que a mídia pode transformar, mascarar e mesmo apagar as marcas simbólicas dos outros campos. Os profissionais do campo midiático não respeitam, de acordo com Rodrigues (2000, p.209), “o rigor dos seus discursos especializados”. Não há ‘real’ sem enunciação O campo midiático realiza as suas mediações específicas, garantindo visibilidade e legitimidade aos campos sociais (Rodrigues, 2000). Não há visibilidade e nem trocas de temas entre os campos sem que haja um trabalho enunciativo, pois é a atividade de enunciação que garante essas relações e também a legitimidade social. A centralidade da mídia A mídia é um dispositivo complexo que opera conexões entre si e os outros campos, promovendo a construção de temas através de processos enunciativos. O campo midiático adquire um papel central na constituição das relações sociais e dos processos de produção de sentidos, cumprindo uma função significativa e estratégica na experiência moderna. A centralidade da mídia Os campos necessitam do discurso midiático não só por questões de visibilidade junto aos seus públicos, mas também como uma forma de legitimação social. Porém, eles lidam com essa forma tensional de representação do campo, pois, através de operações enunciativas, o campo midiático mescla, corta, condensa ou apaga as marcas simbólicas dos outros campos. Discurso midiático É um discurso de natureza exotérico, isto é, é “compreensível independentemente da situação interlocutiva particular” (RODRIGUES, 1999, p.30). Com o uso de metáforas, o seu discurso se relaciona com os diferentes domínios da experiência. Midiático e jornalismo Capital do jornalismo é a credibilidade. Poder é simbólico e superior aos demais – natureza enunciativa. Fazer crer, tendo o poder de incluir/excluir, selecionar, hierarquizar, omitir, mostrar (BERGER, 1998). Referências Bibliográficas BERGER, Peter Ludwig. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulus, 1985. BERGER, Christa. Campos em confronto: a terra e o texto. Porto Alegre: editora da UFRGS, 1998. P. 17-33. Também disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/berger-christa-campos-1.html . Consulta em 24 de julho de 2009. BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão – a influência do jornalismo e os Jogos Olímpicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Secularizacion, desencanto y reencanmiento massmediatico. In Diálogos de la Cominicación, Número 41. Lima: FELAFACS, 1995. Referências Bibliográficas RODRIGUES, Adriano Duarte. A emergência dos campos sociais. In Reflexões sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Piauí. Editora Revan, 2000. ___. Experiência, modernidade e campo dos media. Biblioteca On Line de de Ciências da Comunicação. Portugal, 1999. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/rodriguesadriano-expcampmedia.pdf . Consulta em 25 de julho de 2009.