FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO CENTRO-SUL (FUNDASUL) FACULDADE CAMAQUENSE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRATIVAS – (FACCCA) DISCIPLINA ECONOMIA II 2º SEMESTRE DE 2011 Versão 022011 Professor: Júlio César Vieira da Silva Aluno:____________________________ Bibliografia Básica - GREMAUD, Amaury Patrick. Et al Diva Benevides Pinho, Marco Antônio Sandoval de Vasconcellos Manual de Economia. 4. Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. - WESSELS, Walter J. Economia. 2. Ed. –São Paulo: Saraiva, 2003 - MCCONNELL BRUE. Microeconomia. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos Científicos Editora S. A. , 2001. - PINDYCK, robert S.;RUBINFELD. Microeconomia. São Paulo; Makron Books do Brasil, 1999. - VASCONCELLOS, Marco Antônio. Sandoval de, Economia Básica. São Paulo: Atlas, 1998 - MONTORO FILHO, ª F. et al . l. Manual de Economia. São Paulo,1998. - MOCHÓN MORCILLO, Francisco. Introdução à Economia. São Paulo: Makron Books, 1994. - GALBRAITH, John K. A Economia ao Alcance de Quase Todos, 4 Ed. São Paulo: Pioneira, 1992. - ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. São Paulo: Atlas, 1990. - SAMUELSON, Paul ª , Introdução à Análise Econômica. Rio de Janeiro: Agir, 1990. - WONNACOTT/WONNACOTT & CRUSIUS/CRUSSIUS. Economia. São Paulo: MCGraw-Hill, 1982. 2 CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS 1 1.1 2.1 2.2 2.3 TEORIA DA DEMANDA DO CONSUMIDOR A escolha do Consumidor e a Procura Abordagem pela Utilidade Abordagem pelas Curvas de Indiferenças Definição de Bens Normais, Substitutos e Complementares 2 TEORIA ELEMENTAR DO FUNCIONAMENTO DO MERCADO 2.1 Demanda Oferta e Equilíbrio 2.2 Lei da Demanda 3 Demanda por um indivíduo 2.3 Demanda de Mercado por uma Mercadoria 2.3.1 Oferta de uma Mercadoria por um produto Individual; Lei da Oferta 2.3.2 Oferta de Mercado para uma Mercadoria 2.3.3 Equilíbrio de Mercado 2.3.4 Representação gráfica das curvas de Demanda e de Oferta 2.3.5 Receita Total e Receita Marginal 2.3.6 Aplicação Básica da Teoria de Mercado – Política de Preços Mínimos, Controle de Preços, Racionamento e Tributação sobre as Vendas 3 TEORIA DA FIRMA 3.1 A Produção e a Firma 3.2 A Importância da Teoria da Produção 3.3 Conceitos Básicos de Produção 3.4 Combinação de Recursos 3.5 Custos de Produção de Longo Prazo e Curto Prazo 3.6 Os Rendimentos da Firma 3.7 Condições de Otimização dos Resultados: O Equilíbrio da Firma 4 ESTRUTURA BÁSICA DE MERCADO 4.1 Concorrência Perfeita e Monopólio 4.2 Importância dos Modelos 4.3 Hipóteses dos Modelos 4.4 Equilíbrio das Firmas, Curto Prazo e Longo Prazo 4.5 Efeitos das Estruturas de Mercados sobre os preços da Produção 4.6 Estrutura de Mercado mais complexa: Oligopólio, Monopsônio, Monopólio Bilateral 3 ECONOMIA I ou ANÁLISE MICROECONOMICA São o ramo da ciência econômica voltado ao estudo do comportamento das unidades de consumo (indivíduos/famílias) ao estudo das empresas, suas respectivas produções e custos, e ao estudo da geração de preços dos diversos bens, serviços e fatores de produção. A Análise Microeconômica, ou simplesmente microeconomia ou ainda Teoria dos Preços analisa a formação de preços no mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preço e a quantidade de um determinado bem ou serviço em mercados específicos. Mercado: é, pois um grupo de compradores e vendedores que por meio de suas reais ou potenciais interações, determinam o preço de um produto ou de um conjunto de produtos. Assim, enquanto a análise macroeconômica enfoca o comportamento da Economia como um todo, considerando variáveis globais como consumo agregado, renda nacional e investimentos globais, a análise microeconômica preocupa-se com a formação de preços de bens e serviços (soja, automóveis) e de fatores de produção (salários, aluguéis, lucros) em mercador específicos. A Teoria Microeconômica não deve ser confundida com economia de empresas, pois tem enfoque distinto. A Microeconomia estuda o funcionamento da oferta e da demanda na formação do preço no mercado, isto é, o preço sendo obtido pela interação do conjunto de consumidores com o conjunto de empresas que fabricam um dado bem ou serviço. Do ponto de vista da economia de empresas, onde se estuda uma empresa específica, prevalece a visão contábil-financeira na formação do preço de venda de seu produto, baseada principalmente nos custos de produção, enquanto na Microeconomia prevalece a visão do mercado. A abordagem econômica se diferencia da contábil mesmo quando são abordados os custos de produção, pois o economista analisa não só os custos efetivamente incorridos, mas também aqueles decorrentes das oportunidades sacrificadas, ou seja, dos custos de oportunidades ou implícitos. Como detalharemos mais tarde, os custos de produção do ponto de vista econômico não são apenas os gastos ou desembolsos financeiros incorridos pela empresa (custos explícitos), mas também quanto às empresas gastariam se tivessem de alugar ou comprar no mercado os insumos que são de sua propriedade (custos implícitos). Os agentes da demanda – os consumidores – são aqueles que se dirigem ao mercado com o intuito de adquirir um conjunto de bens e serviços que lhes maximizem sua função 4 utilidade. No direito utilizou-se a conceituação econômica para se definir consumidor: pessoa natural ou jurídica que no mercado adquire bens ou contrata serviços como destinatário final, visando atender a uma necessidade própria. Deve-se salientar que o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor considera o consumidor como hiposuficiente, uma vez que entre fornecedor e consumidor a um desequilíbrio que favorece o primeiro. A conceituação de empresa, entretanto, possui duas visões: a econômica e a jurídica. Do ponto de vista econômico, empresa ou estabelecimento comercial é a combinação, pelo empresário, dos fatores de produção: capital, trabalho, terra e tecnologia, de tal modo organizado para se obter o maior volume possível de produção ou de serviços ao menor custo. Na doutrina jurídica reconhece-se o estabelecimento como uma universalidade de direito, incluindo-se na atividade econômica um complexo de relações jurídicas entre o empresário e a empresa. O empresário é, assim, o sujeito da atividade econômica, e o objeto é constituído pelo estabelecimento, que é o complexo de bens corpóreos e incorpóreos utilizados para o processo de produção. A empresa, nesse contexto, é o complexo de relações jurídicas que unem o sujeito ao objeto da atividade econômica. 2 PRESSUPOSTOS BÁSICOS DA ANÁLISE MICROECONÔMICA 2.1 A Hipótese “Coeteris Paribus” Para analisar um mercado específico, a Microeconomia se vale da hipótese de que “TUDO O MAIS PERMANECE CONSTANTE” (em latim, coeteris paribus). O foco de estudo é dirigido apenas àquele mercado, analisando-se o papel que a oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito pouco, ou que não interfiram de maneira absoluta. Adotando-se essa hipótese, torna-se possível o estudo de um determinado mercado selecionando-se apenas as variáveis que influenciam os agentes econômicos – consumidores e produtores – nesse particular mercado, independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, poderem influenciá-los. Sabemos, por exemplo, que a procura de uma mercadoria é normalmente mais afetada por seu preço e pela renda dos consumidores. Para analisar o feito do preço sobre a procura, supomos que a renda permaneça constante (coeteris paribus); da mesma forma, para avaliar a relação entre a procura e a renda dos consumidores, supomos que o preço da mercadoria não varie. Temos, assim, o efeito “puro” ou “líquido” de cada uma dessas variáveis sobre a procura. 5 2.2 Papéis dos Preços Relativos Na análise microeconômica, são mais relevantes os preços relativos, isto é, os preços de um bem em relação aos demais, do que os preços absolutos (isolados) das mercadorias. Por exemplo, se o preço do guaraná cair em 10%, mas também o preço da soda cair em 10%, nada deve acontecer com a demanda (procura) dos dois bens (supondo que as demais variáveis permaneceram constantes). Agora, tudo o mais permanecendo constante, se apenas cair o preço do guaraná, permanecendo inalterado o preço da soda, deve-se esperar um aumento na quantidade procurada de guaraná, e uma queda na de soda. Embora não tenha havido alteração no preço absoluto da soda, seu preço relativo aumentou, quando comparado como do guaraná. 2.3 Objetivos da Empresa A grande questão na Microeconomia, que inclusive é a origem das diferentes correntes de abordagem, reside na hipótese adotada quanto aos objetivos da empresa produtora de bens e serviços. A análise tradicional supõe o Princípio da Racionalidade, segundo o qual o empresário sempre busca a maximização do lucro total, otimizando a utilização dos recursos de que dispõe. Essa corrente enfatiza conceitos como receita marginal, custo marginal e produtividade marginal em lugar de conceitos de média (receita média, custo médio e produtividade média), daí ser chamada de marginalista. Como veremos, a maximização do lucro da empresa ocorre quando a receita marginal iguala-se ao custo marginal. As correntes alternativas consideram que o móvel do empresário não seria a maximização do lucro, mas fatores como aumento da participação nas vendas do mercado, ou maximização da margem sobre os custos de produção, independem da demanda de mercado. Geralmente, nos cursos de Economia, a abordagem marginalista compõe a Teoria Microeconômica propriamente dita, pelo que é chamada de Teoria Tradicionalista, enquanto as demais abordagens são usualmente analisadas nas disciplinas denominadas Teoria da Organização Industrial ou Economia Industrial. 6 3 APLICAÇÃO DA ANÁLISE MICROECONÔMICA A análise microeconômica, ou Teoria dos Preços, como parte da Ciência Econômica, preocupa-se em explicar como se determina o preço dos bens e serviços, bem como dos fatores de produção. O instrumental microeconômico procura responder, também, a questões aparentemente triviais; por exemplo, por que, quando o preço de um bem se eleva, a quantidade demandada desse bem deve cair, coeteris paribus. Entretanto, deve-se salientar que, se a Teoria Microeconômica não é um manual de técnicas para a tomada de decisões do dia-a-dia, mesmo assim ela representa uma ferramenta útil para estabelecer políticas e estratégias, dentro de um horizonte de planejamento, tanto ao nível das empresas quanto ao nível de política econômica. Em nível de empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes decisões: Política de preços da empresa Previsões de demanda e de faturamento Previsões de custos de produção Decisões ótimas de produção (escolha da melhor alternativa de produção, isto é, da melhor combinação de fatores de produção) Avaliação e elaboração de projetos de investimentos (análise custo-benefício da compra de equipamentos, ampliação da empresa, etc) Política de propaganda e publicidade (como as preferências dos consumidores podem afetar a procura do produto) Localização da empresa (se a empresa deve situar-se próxima aos centros consumidores ou aos centros fornecedores de insumos) Diferenciação de mercados (possibilidades de preços diferenciados, em diferentes mercado consumidores do mesmo produto) Em nível de política econômica, a Teoria Microeconômica pode contribuir na análise e tomada de decisões das seguintes questões: Efeitos de impostos sobre mercados específicos Políticas de subsídios (nos preços de produtos como trigo e leite, ou na compra de insumos como máquinas, fertilizantes, etc) Fixação de preços mínimos na agricultura Controle de preços Política salarial 7 Política de tarifas públicas (água, luz, etc) Políticas de preços públicos (petróleo, aço, etc) Leis antitrustes (controle de lucros de monopólios e oligopólios) Como se observa, são decisões necessárias ao planejamento estratégico das empresas e à política e programação econômica do setor público. Evidentemente, a contribuição da Microeconomia está associada à utilização de outras disciplinas, como a Estatística, a Matemática Financeira, a Contabilidade e mesmo a Engenharia, de forma a dar conteúdo empírico a suas formulações e conceitos teóricos. 8 DIVISÃO DOS TÓPICOS DE MICROECONOMIA Os grandes tópicos abordados na análise microeconômica são os seguintes: I – Teoria da Demanda (procura) Teoria da Produção II – Teoria da Oferta Teoria dos Custos de Produção Concorrência Perfeita Mercado de Bens Concorrência Monopolista Serviços Monopólio III – Análise das Estruturas Oligopólio Mercado de Fatores Concorrência Perfeita de Produção Monopsônio Oligopsônio IV – Teoria do Equilíbrio Geral e do Bem-estar A Teoria da Demanda ou Teoria da Procura estuda as diferentes formas que a demanda pode assumir e os fatores que a influenciam. A Teoria da Oferta abrange a Teoria da Produção, que estuda o processo de produção numa perspectiva econômica, e a Teoria dos Custos de Produção, que classifica e analisa os custos. A Teoria da Produção envolve apenas relações físicas entre o produto e fatores de produção, enquanto a Teoria dos Custos já envolve preços dos insumos de produção A Análise das estruturas de Mercado aborda a maneira como estão organizados os mercados, e como é determinados o preço e quantidade de equilíbrio nesses mercados. É dividida na análise da estrutura dos mercados e serviços e dos mercados de fatores de produção (também chamada “Demanda Derivada”, dado que os mercados de insumos derivam, em última análise, do mercado de bens e serviços). A Teoria do Equilíbrio Geral e do Bem-estar estuda a interação de todos os mercados simultaneamente e seu impacto em todos os agentes. 9 1 – TEORIA DA DEMNADA DO CONSUMIDOR COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Problema A Pillsbury Co., adquiriu uma empresa em Woodbridge, Nova Jesey, que produzia um novo sorvete de alta qualidade e que era comercializado sob a marca HaagenDazs. A inclusão na receita de mais creme e mais ovos tornou-o melhor e mais saboroso que a maioria dos demais, e seu nome escandinavo sugeriam que era um produto de qualidade, merecedor de um preço moais elevado. Porém, antes que o Haaangen-Dazs pudesse ser comercializado em larga escala, a empresa teve de resolver um importante problema. Qual deveria ser o preço a ser cobrado? Independente de quão bom fosse o sorvete, sua lucratividade seria consideravelmente influenciada pela decisão da empresa em relação ao preço a ser cobrado pelo sorvete. Não era o suficiente saber que os consumidores pagariam mais por um sorvete de alta qualidade; a questão era determinar. Quanto mais pagariam Portanto, a empresa teve de elaborar uma cuidadosa análise das preferências do consumidor para poder determinar a demanda de sorvete e como ela estaria ligada ao preço e à qualidade. Este problema – envolvendo política de empresas – exemplifica a importância da Teoria econômica referente ao comportamento do consumidor, bem como os tipos de problemas que ela pode ajudar a resolver. No presente capítulo, abordaremos a teoria do consumidor seguindo uma ordem histórica, começaremos estudando essa teoria tal como ela apareceu nos trabalhos dos primeiros economistas que trataram dela e, posteriormente, trataremos da mesma na forma como ela aparece na moderna teoria econômica. 10 ____PSI_____________________________________________________________ A TEORIA DA UTILIDADE Utilidade Total e Utilidade Marginal Por que as pessoas demandam mercadorias? A resposta parece óbvia: as pessoas demandam mercadorias porque eu consumo lhes traz algum tipo de prazer ou satisfação. Essa é uma condição necessária para que uma mercadoria seja procurada pelos consumidores. Não há demanda para mercadorias indesejáveis tais como injeção no olho ou coco de galinha para fazer crescer o bigode. Imaginemos agora que o prazer ou a satisfação percebido por um consumidor pelo consumo de uma mercadoria possa ser medido, e chamemos essa medida de utilidade dessa mercadoria para esse consumidor. Mesmo que não saibamos nada acerca da medida exata da utilidade, podemos, empregando um pouco de bom senso, predizer que ela deve ter um comportamento característico. Apenas para que possamos ver de uma forma mais concreta qual deve ser esse comportamento, suponhamos que a mercadoria em questão seja chocolate em barra. Se passarmos a dar uma barra de chocolate por semana a uma criança que até então não consumia nada de chocolate, essa barra de chocolate provavelmente trará uma satisfação muito grande a essa criança, gerando assim uma utilidade relativamente alta. Se, depois disso, passarmos a dar uma segunda barra semanal de chocolate, essa barra será bem recebida pela criança, mas provavelmente não com o mesmo entusiasmo com que foi recebida a primeira barra. Uma terceira barra será recebida com um entusiasmo ainda menor. Se formos aumentando o número de barras de chocolate, chegaremos a um ponto em que uma barra adicional de chocolate representará para a nossa criança um benefício tão pequeno que para ela será quase indiferente receber ou não essa barra adicional. Isso porque o chocolate sendo consumido praticamente até a sociedade deixou de ser para ela um produto escasso. Com isso, queremos dizer que a utilidade total derivada do consumo de chocolate cresce na medida em que aumentamos o número de barras por semana. Todavia, o valor acrescentado à utilidade total pela última barra de chocolate consumida é tão menor quanto maior for o total consumido de barras de chocolate. 11 O parágrafo da Fig. 4.1. ilustra essa idéia. No eixo horizontal de tal gráfico, medimos a quantidade consumida de chocolate. A altura de cada coluna indica a utilidade total do consumo de chocolate. A altura do trecho em cinza escuro da coluna indica quanto for acrescentado à utilidade total pela última barra consumida. Observe que, na medida em que aumenta a quantidade consumida, isto é, na medida em que vamos para as colunas mais à direita, o trecho da coluna em cinza escuro é cada vez menor o que indica que a última consumida acrescenta cada vez menos à utilidade total. A utilidade que a última unidade consumida (no nosso exemplo, a última barra de chocolate) acrescenta à utilidade total é chamada utilidade marginal. Assim, no gráfico a fig. 4.1., a utilidade marginal é representada pela área em cinza escura em cada coluna. Podemos definir o termo utilidade marginal de uma maneira mais geral da seguinte forma: A utilidade marginal do consumo de uma mercadoria é o crescimento à utilidade total decorrente do consumo de uma unidade adicional dessa mercadoria. No nosso exemplo, a utilidade marginal do chocolate diminui na medida em que aumenta o seu consumo. Comportamento semelhante deve ser esperado para a utilidade marginal de outra mercadoria qualquer. Em outras palavras, na medida em que o consumo de uma mercadoria por parte de uma pessoa aumenta o prazer decorrente de uma unidade adicional, isto é, a utilidade marginal dessa mercadoria, diminui. Assim, podemos enunciar a seguinte lei, que descreve o comportamento da utilidade marginal com relação à quantidade consumida de uma mercadoria: 12 Lei da utilidade marginal decrescente: na medida em que aumenta o consumo de uma mercadoria, a utilidade marginal dessa mercadoria diminui. Voltando agora ao nosso exemplo, é fácil notar que a utilidade total do consumo de uma barra de chocolate é igual à utilidade marginal da primeira barra de chocolate, que a utilidade total do consumo de duas barras de chocolate é igual à soma da utilidade marginal da primeira barra de chocolate mais a utilidade marginal da segunda barra, que a utilidade total do consumo de três barras de chocolate é igual a soma das utilidades marginais das três primeiras barras consumidas, por diante. De uma maneira geral, podemos descrever a relação entre a utilidade marginal e a utilidade total pela expressão. Onde U(n) é a utilidade total do consumo de n unidades e Umg(i) é a utilidade marginal da i-ésima unidade consumida. Essa expressão matemática quer dizer simplesmente que a utilidade total do consumo de n unidades é igual a soma das utilidades marginais da primeira até a n-ésima mercadoria. Essa relação também pode ser vista no gráfico da Fig. 4.2. O eixo horizontal desse gráfico indica o número de unidades (barras de chocolate) consumidas. No eixo vertical mede-se a utilidade marginal do consumo. Note que as colunas mais à direita são menores que as colunas mais à esquerda. Isso indica que a utilidade marginal diminui na medida em que aumenta o número de barras de chocolate consumidas. Se quisermos saber qual será a utilidade total do consumo de três barras de chocolate por semana, por exemplo, basta que somemos o valor das três primeiras barras do gráfico da Fig. 4.2. Uma vez que as colunas 13 desse gráfico são retângulos com base igual a 1, essa soma é igual à área dessas três primeiras colunas marcadas em cinza escuro. Até aqui, no nosso exemplo, o consumo semanal de chocolate por parte de uma criança varia de barra de chocolate. Todavia, poderíamos ser mais precisos. Em vez de aumentar o consumo da criança de barra em barra de chocolate, poderíamos aumentá-lo digamos, de quarto de barra em quarto de barra, ou ainda de grama em grama de chocolate. Quando fazemos isto, isto é, quando tornamos a variação no consumo de chocolate cada vez menor, as colunas dos gráficos das Fig. 4.1. e 4.2. ficam cada vez mais estreitas. Se concebermos variação no consumo de chocolate suficientemente pequena, as colunas desses gráficos tornar-se-ão tão estreitas que poderemos substituir os gráficos de barra das Fig. 4.1. e 4.2. por gráficos de linha como os das Fig. 4.3. e 4.4. Quando representamos a relação entre a utilidade marginal e o consumo de chocolate em um gráfico de barras, a utilidade total do consumo de três barras de chocolate era dada pela área das primeiras três barras do gráfico. Agora que passamos a representar a utilidade marginal em função da quantidade consumida em um gráfico de linha, a utilidade total do consumo de uma quantidade q () que será dada área sob a curva de utilidade marginal até a quantidade q() conforme podemos ver no gráfico da fig. 4.4. 1.2. A curva de demanda individual e o equilíbrio do consumidor 14 Até agora falamos de utilidade marginal sem nos preocuparmos em definir uma medida para essas grandezas. Para acharmos uma medida, podemos pensar que uma pessoa valoriza mais aquilo que lhe traz mais utilidade, ou, em outras palavras, ela está disposta a pagar ,mais por algo que tenha uma utilidade maior para ela. Assim, podemos definir nossa medida de utilidade do consumo de uma mercadoria como sendo o máximo que uma pessoa está disposta a pagar por esse consumo. Para compreender melhor esse ponto, retornemos o exemplo da criança que consome chocolate. O gráfico da Fig. 4.2. descreve, conforme já vimos, como varia a utilidade marginal conforme varia o consumo de chocolate. Em outras palavras, esse gráfico descreve quanto é acrescentado à utilidade total pela última barra de chocolate consumida pela criança. Pois bem, nesse gráfico podemos ver que a utilidade acrescentada pela primeira barra de chocolate é maior que a utilidade acrescentada pela segunda barra, que por sua vez é maior que a utilidade acrescentada pela terceira barra, e assim por diante. Isso reflete apenas a lei da utilidade marginal decrescente que acabamos de ver. Agora, se a primeira barra de chocolate acrescenta mais utilidade que todas as outras barras consideradas individualmente, então a criança está disposta a pagar um preço maior por essa barra, digamos, R$ 4,00. Como a segunda barra deve ser menor que o preço máximo que a criança está disposta a pagar pela segunda barra deve ser menor que o preço máximo que a criança está disposta a pagar pela primeira, e maior que o máximo está disposta a pagar pela terceira barra, suponhamos que esse preço seja R$ 3,00. Do mesmo modo, o preço máximo que a criança está disposta a pagar pela terceira barra é menor que o preço máximo que está disposta a pagar pela segunda barra e maior que o preço máximo que está disposta a pagar pela quarta barra, e assim por diante. Vamos chamar o preço máximo que um consumidor está disposto a pagar por uma unidade adicional de uma mercadoria de preço marginal de reserva. Como o preço marginal de reserva é tanto maior quanto maior for a utilidade acrescentada por uma unidade adicional da mercadoria, ou seja, quanto maior for a utilidade marginal, podemos dizer que o preço marginal de reserva é uma medida da utilidade marginal. 15 O gráfico da Fig. 4.5. ilustra o comportamento do preço marginal de reserva conforme varia a quantidade de barras de chocolate consumidas. O fato de o preço marginal de reserva ser decrescente decorre da lei da utilidade marginal decrescente. Imaginemos agora que a barra de chocolate seja vendida ao preço de R$ 1,50. Chamemos esse preço de preço efetivo ou de preço de mercado. Se esse for o preço, a nossa criança com certeza comprará a primeira barra, pois o preço máximo que está disposta a pagar por essa barra (R$4,00) é superior ao seu preço efetivo. Por uma segunda e por uma terceira barra, a criança pagaria até R$ 3,00 e R$ 2,00, respectivamente. Por isso, ela compraria também essas duas barras. Por uma quarta barra, entretanto, nossa criança só estaria disposta a pagar R$ 1,00. Como esse preço é inferior ao preço efetivo da barra de chocolate (R$1,50), a criança não comprará uma quarta barra. Assim, ela comprará apenas três barras de chocolate se o preço for igual a R$ 1,50. Generalizando, ela comprará todas as barras de chocolate que tiverem seu preço marginal de reserva superior ou igual ao preço efetivo da barra de chocolate. Podemos agora, novamente, supor que a quantidade consumida de chocolate ou de qualquer outra mercadoria possa sofrer variações muito pequenas, de modo que o preço marginal de reserva possa ser representado em um gráfico de linha como o da Fig. 4.6. Nesse caso, a quantidade adquirida pelo consumidor será aquela que iguala o preço marginal de reserva ao preço efetivamente praticado no mercado. Por exemplo, se o preço for P o, a quantidade consumida será qo , pois preço marginal de reserva, isto é, o preço máximo que o consumidor está disposto a pagar pela última unidade consumida é maior que Po para todas as unidades consumidas antes de o consumidor atingir o consumo Po . Assim, a curva representada no gráfico da Fig. 4.6 nada mais é do que a curva de demanda do consumidor, em outras palavras, essa curva relaciona preço e quantidade adquirida pelo consumidor. Se o preço marginal de reserva for superior ao preço praticado no mercado, isso indica que o consumidor pode comprar unidades adicionais da mercadoria por um preço menor do que o máximo que ele 16 estaria disposto a pagar por elas. Portanto, um preço marginal de reserva superior ao preço de mercado serve de estímulo para que o consumidor aumente a quantidade comprada da mercadoria. Por isso, sempre que o consumidor estiver consumido uma quantidade inferior a q () ele estará sendo estimulado a aumentar o seu consumo, pois para qualquer consumo inferior a conforme podemos observar no gráfico da Fig. 4.6., o preço marginal de reserva é superior ao preço de mercado. Por outro lado, se o preço marginal de reserva for inferior ao preço de mercado, então isso indica que o consumidor está pagando por algumas unidades consumidas mais do que o máximo que ele estaria disposto a pagar por elas, e portanto, que o consumidor está sendo estimulado a reduzir o consumo da mercadoria. Assim, se o consumidor estiver consumindo uma quantidade superior ele deverá reduzir o seu consumo, pois, para quantidades superiores o preço marginal de reserva é inferior ao preço de mercado P() , conforme podemos observar novamente no gráfico da Fig. 4.6. Quando o preço marginal de reserva é exatamente igual ao preço de mercado, então o consumidor não terá incentivo nem para aumentar, nem para diminuir seu consumo, pois ele já estará comprando todas as unidades pelas quais estaria disposto a pagar um preço maior ou igual ao preço praticado no mercado e não estará comprando nenhuma unidade com preço superior àquele que ele estaria disposta a pagar. Assim, no gráfico da fig. 4.6., consumindo uma quantidade q () o consumidor não teria a aumentar nem a diminuir o seu consumo. Por isso dizemos que, nesse ponto, o consumidor atingiu o seu equilíbrio. Nossa conclusão pode ser expressa em termos mais gerais da seguinte maneira: O equilíbrio do consumidor é atingido quando a quantidade consumida é aquela para qual o preço marginal de reserva é igual ao preço efetivo de mercado. 1.3 O excedente do Consumidor Retornemos agora à fig. 4.5. Já vimos que se o preço de mercado da barra de chocolate fosse igual a R$ 1,50, a nossa criança consumirá apenas três barras de chocolate por semana. Pela primeira barra estaria disposta a pagar R$ 4,00. Mas ela só paga R$ 1,50. A diferença entre esses dois valores representa o ganho ou a vantagem que essa criança leva ao consumir a primeira barra de chocolate. Chamamos esse ganho de excedente do consumidor decorrente do consumo da primeira barra de chocolate. O excedente do consumidor é a diferença entre o que o consumidor está disposto a pagar e o que ele efetivamente paga por uma mercadoria. 17 Na Tabela 4.1. abaixo, calculamos o excedente do consumidor decorrente do consumo da segunda e da terceira barra de chocolate, assim como a soma dos excedentes decorrentes de cada barra consumida. Nessa Tabela percebemos que o consumo da primeira barra gera um excedente do consumidor de R$ 2,50, que o consumo da segunda barra gera um excedente de R$ 1,50 e que o consumo da terceira barra gera um excedente de R$ 0,50, sendo que o excedente do consumidor total, isto é, a soma dos excedentes gerados individualmente por cada barra é igual a R$ 4,50. Esse valor mede o benefício ou a vantagem líquida que a criança obtém ao consumir as três barras de chocolate ao preço de R$ 1,50 a barra. Os resultados que acabamos de obter também podem ser representados graficamente. No gráfico da fig. 4.5., a área da parte da coluna acima da linha de preço (em cinza) representa o excedente do consumidor gerado por cada barra de chocolate consumida. A medida da área de cinza escuro do gráfico representa o excedente total do consumidor. Quando estivermos supondo que a quantidade consumida para sofrer variações muito pequenas, isto é quando estivermos representando a relação entre quantidade e preço marginal de reserva em um gráfico de linha como o da Fig. 4.6., e excedente do consumidor será dado pela área do gráfico abaixo da curva de demanda e acima da linha de preço, isto é, no caso do gráfico da fig. 4.6., pela área em cinza escura. __________________________________________________________psi______________ 2 A Teoria da Escolha A idéia inerente à teoria da utilidade de que podemos de alguma maneira medir o nível de satisfação ou prazer decorrente do consumo de uma mercadoria pode parecer para muito bastante irreal. Não pretendemos aqui entrar em uma discussão filosófica sobre o realismo ou 18 irrealismo da teoria da utilidade. Todavia, podemos nos perguntar: é possível uma teoria do consumidor que, sem lançar mão de tal idéia, consiga explicar a relação de demanda? A resposta a essa pergunta é afirmativa. Ao tentar explicar decisões de consumo envolvendo a compra de diversas mercadorias, os economistas acabaram desenvolvendo um instrumental que tornou a noção de utilidade supérflua. Chamaremos aqui, na ausência de melhor nome, essa nova teoria de teoria da escolha. Antes de começarmos, vale a pena chamar atenção para uma simplificação que fizemos ao tratar da teoria utilidade. Quando utilizamos do exemplo de uma criança que consome chocolate, negligenciamos o fato de que o prazer que essa criança obtém ao consumir o chocolate não depende apenas da quantidade consumida de chocolate. Por exemplo, se a nossa criança não tem acesso ao consumo de nenhum outro tipo de doce que não seja o chocolate, então, nesse caso, o consumo de uma barra de chocolate vai trazer para essa criança uma utilidade adicional muito maior do que traria caso ela já consumisse diversos tipos de doce. Podemos dizer que a nossa análise adotou uma hipótese coeteris paribus, pois estudamos como varia a utilidade do consumo de chocolate desde que o consumo de todos os outros bens permaneça constante. Para compreender a teoria da escolha, precisaremos a hipótese coeteris paribus. Isso porque essa teoria pretende explicar como o consumidor decide quanto vai consumir de cada uma das diversas mercadorias. Todavia, para que uma apresentação gráfica da teoria seja possível, lançaremos mão de uma hipótese simplificadora: vamos supor que existem apenas duas mercadorias – alimentação e vestuário. 2.2. Cestas de Mercadorias Um conceito fundamental para a exposição da teoria da escolha é o conceito de cesta de mercadorias. Uma cesta de mercadorias nada mais é do que um conjunto de uma ou mais mercadorias associado às quantidades consumidas de cada uma dessas mercadorias. A tabela 4.2. nos dá alguns exemplos de cesta de mercadorias. Assim, por exemplo, a cesta de mercadorias I é composta de 10 unidades de alimentação e de 15 unidades de 19 vestuário, a cesta II é composta de 5 unidades de alimentação e 25 unidades de vestuário, e assim por diante. As cestas de mercadorias descritas na Tabela 4.2. também podem ser representadas em um gráfico como o da Fig. 4.7. O eixo horizontal representa o consumo de alimento e o eixo vertical representa o consumo de vestuário. Cada ponto no gráfico corresponde a uma cesta de mercadorias da Tabela 4.2. 2.2. Curvas de Indiferença Vamos agora tentar descrever como um consumidor deveria classificar as diferentes opções de consumo, representadas por diferentes cestas de mercadorias, segundo suas preferências. Para tal, notemos, em primeiro lugar, que é bastante razoável supor que, seja qual for a forma pela qual o consumidor escolhe entre diferentes cestas de mercadorias de consumo, três condições devem ser verdadeiras. A primeira dessas condições diz que, sempre que pegarmos quaisquer cestas de consumo possíveis, o consumidor será capaz de dizer se prefere a primeira cesta à segunda, se prefere a segunda cesta à primeira ou se estas duas cestas lhe são indiferentes. 20 A segunda condição estabelece que, se o consumidor prefere uma cesta A a uma cesta B, e se ele prefere essa cesta B a outra cesta C, então se o consumidor prefere uma cesta A a uma cesta B, e se ele prefere essa cesta B a outra cesta C, então esse consumidor preferirá a cesta A à cesta C. Essa condição um tanto quanto óbvia confere um aspecto de racionalidade lógica às preferências do consumidor. Por fim, a terceira condição estabelece que, sendo todas as mercadorias desejáveis, o consumidor prefere sempre consumir uma quantidade maior de cada uma dessas mercadorias. Assim, o consumidor preferirá, por exemplo, entre as cestas de consumo V e VI da Tabela 4.2 e do gráfico da Fig. 4.7., a cesta de mercadorias VI, pois esta, embora possua o mesmo número de unidades de alimentação, possui mais unidades de vestuário que a cesta V. Dadas essas premissas, podemos agora tratar de um instrumento de representação das preferências do consumidor que nos será extremamente útil: a curva de indiferença. Em termos técnicos, uma curva de indiferença é lugar geométrico dos pontos que representam cestas de consumo indiferentes entre si. Embora essa definição técnica possa parecer um tanto quanto difícil, compreender o que realmente sgnifica uma curva de indiferença é bem mais fácil. Para isso, suponhamos, por exemplo, que Maria consome mensalmente uma cesta de mercadorias composta de quatro unidades de alimentação e três unidades de vestuário. Se pedirmos a Maria para nos dizer quais outras opções de consumo seriam tão desejáveis quanto essa cesta de mercadorias inicial, ou, em outras palavras, quais cestas de consumo seriam indiferentes à cesta de mercadorias inicial, ela poderia nos responder de, pelo menos, três maneiras alternativas. Primeiramente, ela poderia nos fornecer uma tabela com as cestas de consumo indiferentes (ou, se preferirmos, igualmente desejáveis) à cesta de mercadorias composta por duas unidades de vestuário, e cinco unidades de alimentação. Suponha, portanto, que ela nos tenha fornecido a Tabela 4.3 a seguir: 21 Tabela 4.3. Cestas de consumo indiferentes entre si ou igualmente desejáveis segundo Maria: Cesta de mercadorias Unidades de alimentação Unidades de vestuário A 1.0 12.0 B 2.0 6.0 C 3.0 4.0 D 4.0 3.0 E 5.0 2.4 Se perguntarmos agora a Maria se não apenas as cestas de consumo que são indiferentes à cesta de mercadorias original, ela nos responderá que certamente não. Existem, diria Maria, infinitas outras cestas, porém, sendo essas cestas infinitas, elas não poderia representá-las em uma tabela. Desse modo, Maria, que é uma excelente matemática, nos oferece mais duas opções: ela pode nos dizer quais são todas as cestas de consumo indiferentes às cestas A, B, C, D e E da Tabela 4.3 através de uma equação matemática ou através de um gráfico. Maria nos diria também que a equação matemática é uma resposta mais elegante e rigorosa que um simples gráfico. Entretanto, como nós não temos conhecimentos de matemática tão profundos quanto o de Maria resolveu nos contentar com a resposta fornecida por um gráfico como o da Fig. 4.8., pois ele será suficientemente bom para os nossos propósitos. A curva representada nesse gráfico descreve um conjunto de cestas de consumo que são igualmente desejáveis para Maria. Por esse motivo, esta curva é conhecida como curva de indiferença. Uma curva de indiferença nada mais é do que a representação gráfica de um conjunto de cestas de consumo indiferentes para o consumidor, ou seja, cestas que trazem a mesma satisfação. Observe que, descrevendo as cestas que lhe são indiferentes através de uma curva de indiferença, Maria pode nos informar de todas as cestas contidas na Tabela 4.3. e ele mais uma infinidade de cestas intermediárias, como, por exemplo, a cesta Z. Assim, ficamos 22 sabendo que também o consumo de dez unidades de vestuário e de 1,2 unidade de alimentação correspondente à cesta Z também é indiferente ao consumo das cestas A, B, C, D e E. A apresentação de um conjunto de cestas de mercadorias que são indiferentes ou igualmente desejáveis para Maria também nos permite verificar com facilidade como Maria compararia as cestas de mercadorias que não pertencem a ela. Com efeito, todas as cestas de mercadorias localizadas acima e a direita da curva de indiferença da Fig. 4.8, como, por exemplo, a cesta de mercadorias X, é preferível às cestas de mercadorias sobre a curva de indiferença. Para ver isso, note que a cesta X está situada acima e a direita da cesta B, que pertence a curva de indiferença da Fig. 4.8. Isso significa que a cesta X contém mais unidades de alimentos e mais unidades de vestuário que a cesta B. Desse modo, podemos afirmar que a cesta X é preferida á cesta B. Como a cesta B é indiferente a todas as outras cestas sobre a curva de indiferença representada no gráfico e como a cesta X é referida à cesta B, então a cesta X é preferida a todas as outras cestas sobre essa curva de indiferença. Da mesma maneira, podemos ver que as cestas de mercadorias representadas à esquerda e abaixo da curva de indiferença. Por exemplo, a cesta Y contém menos utilidades de alimentos e de vestuário que a cesta C. Assim, Maria prefere a cesta C à cesta Y. Do mesmo modo, ela preferirá qualquer uma das cestas de mercadorias sobre a curva de indiferença da Fig. 4.8. à cesta Y O gráfico da Fig. 4.9 ilustra esse resultado. A área em cinza do gráfico representa o conjunto de cestas de mercadorias que são melhores que as cestas de mercadorias sobre a curva de indiferença. A área em branco representa aquelas cestas de mercadorias que são consideradas piores que as cestas de mercadorias sobre a curva de indiferença. 23 Evidentemente, poderíamos pedir para Maria que nos desse o conjunto de cestas de mercadorias que são indiferentes à cesta X e o conjunto de cestas de mercadorias que são indiferentes à cesta Y. Assim, Maria nos fornecia mais duas curvas de indiferença de um consumidor é chamado de mapa de indiferença. Evidentemente, como são infinitas as curvas de indiferença, não pode representar graficamente um mapa de indiferença com precisão. Assim, para representar um mapa de indiferença, escolheremos sempre apenas algumas de suas curvas de indiferença. A nossa representação gráfica de um mapa de indiferença será algo semelhante a Fig. 4.10. 2.3. Propriedades das Curvas de Indiferença Passemos agora a estudar quais devem ser as principais propriedades das curvas de indiferença. A primeira pode ser enunciada da seguinte maneira: curvas de indiferenças mais distantes da origem representam cestas de mercadorias mais desejadas e curvas de indiferença mais próximas da origem representam cestas de mercadorias menos desejadas. Assim, por exemplo, a curva de indiferença da Fig. 4.10. que passa sobre a cesta de mercadoria X representa cestas de mercadorias preferidas às cestas de mercadorias representadas pela curva de indiferença que passa sobre a cesta B. De modo semelhante, podemos concluir que a curva de indiferença que passa sobre a cesta de mercadorias y representa cestas de consumo preferíveis às cestas de consumo representadas pela curva de indiferença que passa sobre cesta de mercadorias Y representa cestas de consumo preferíveis 24 às cestas de consumo representadas pela curva de indiferença que passa sobre a cesta de mercadorias B. A segunda propriedade importante é a seguinte: uma curva de indiferença tem sempre inclinação negativa, ou seja, ela inclina-se para baixo à direita. Para ver que o contrário não pode acontecer, imagine por um momento que fosse possível a existência de uma curva de indiferença positivamente inclinada, isto é, uma curva de indiferença que se inclinasse para cima à direita, como a da fig. 4.11 Tomemos duas cestas de mercadorias A e B quaisquer sobre essa suposta curva de indiferença. A cesta de mercadorias B contém mais unidades de alimentação e mais unidades de vestuário que a cesta de mercadorias A. Então, se as duas mercadorias (alimentação e vestuário) são desejáveis, a cesta de mercadorias B, é preferida à cesta de mercadorias A e, portanto, as duas cestas não podem estar sobre a mesma curva de indiferença. Assim é impossível a existência de uma curva de indiferença positivamente inclinada se as mercadorias forem todas desejáveis, conforme estamos supondo. Devemos ainda salientar uma última propriedade das curvas de indiferença. Duas curvas de indiferença não se cruzam jamais. Para mostrar essa propriedade, basta ver que, caso duas curvas de indiferença se cruzassem, chegaríamos a um resultado absurdo. Suponhamos, assim, que as duas curvas de indiferença se cruzem como no caso da Fig. 4.12. Tomemos três cestas de mercadorias: a cesta A no ponto de cruzamento entre as duas curvas de indiferença, a cesta B sobre a curva 10 e a cesta C sobre a curva 1. A cesta C está na mesma curva de indiferença que a cesta A. Assim, a cesta C é indiferente à cesta A. Então a 25 cesta A é indiferente a cesta B. Como a cesta C é indiferente (1) que a cesta B. Então, se as curvas de indiferença 1 e 1 se cruzam, a cesta C deve ser ao mesmo tempo preferida e indiferente a cesta B. Como isso não é possível, também não pode ser possível que as duas curvas de indiferença se cruzem. 2.4. Taxa Marginal de Substituição Voltemos agora à Tabela 4.3. Comparemos às cestas de consumo A e B. A cesta B possui uma unidade de alimentação a mais e seis unidades de vestuário a menos que a cesta A. Segundo Maria, essas cestas de consumo lhe são indiferentes. Então, quando Maria estiver consumida a cesta A uma troca de seis unidades de vestuário por uma unidade de alimentação não lhe trará nenhum benefício e nenhuma perda, pois, com essa troca, ela passaria a consumir a cesta B que é indiferente a cesta A. Troca mais do que seis unidades de vestuário por uma unidade de alimentação seria desvantajoso para Maria. Trocar menos do que seis unidades de vestuário por uma unidade de alimentação seria vantajoso. Assim, concluímos que a quantidade máxima de vestuário de que Maria, ao consumir a cesta A, estaria disposta a abrir mão em troca de uma unidade adicional de alimento é de seis unidades. Chamamos essa quantidade máxima de taxa marginal de substituição de vestuário por alimento. A taxa marginal de substituição de vestuário por alimento pode ter duas interpretações, ela representa o máximo de vestuário de que o consumidor está disposto a abrir mão em troca de uma unidade adicional de alimento, e ele representa de quanto devemos reduzir o consumo de vestuário se o consumo de alimentação é aumentado de uma unidade e se desejamos manter o consumidor sobre a mesma indiferença. Uma definição mais geral da taxa marginal de substituição diria o seguinte: A taxa marginal de substituição de uma mercadoria I por uma mercadoria II é a redução na quantidade da mercadoria I necessária para repor o consumidor na mesma curva de indiferença quando há um aumento de uma unidade no consumo de mercadoria II. Ela indica o máximo que o consumidor estaria disposto a ceder da mercadoria I em troca da mercadoria II. A Tabela 4.4 indica a taxa marginal de substituição (TMS) calculada a partir da Tabela 4.3. 26 Chama atenção o fato de que a taxa marginal de substituição de vestuário por alimento é cada vez menor na medida em que nos deslocamos para as linhas inferiores da tabela. Ao passar da cesta de mercadorias A para a cesta de mercadorias B, Maria estava disposta a trocar 6 unidades de vestuário por uma unidade adicional de alimentação. Porém ao passar da cesta de mercadorias D para a cesta de mercadorias E, ela só estava disposta a abrir mão de 0,6 unidades de vestuário em troca de uma unidade adicional de alimentos. Graficamente, isso faz com que a curva de indiferença seja convexa, isto é, que ela seja mais inclinada (menos deitada) à esquerda e menos inclinada (mais deitada) à direita. Perguntamos a Maria o porquê desse comportamento e ela ns respondeu da seguinte maneira: “Quando eu consumo a cesta A, tenho uma grande quantidade de vestuário e uma pequena quantidade de alimento. Assim, minha carência de alimento é relativamente grande. Isso faz com que eu tenda a valorizar mais a alimentação e a valorizar menos o vestuário. Desse modo, estou disposta a trocar uma quantidade relativamente grande daquilo que me faz pouca falta (o vestuário) por uma quantidade relativamente pequena daquilo que me faz muita falta (a alimentação). Todavia, na medida em que eu passo a consumir as cestas de consumo indicadas pelas linhas mais baixas da Tabela 4.4, a quantidade consumida de alimentação aumenta e a quantidade consumida de vestuário diminui. Isso faz com que, pouco a pouco, eu sinta menos falta de alimentação e mais falta de vestuário. Na medida em que isso me acontece fico disposta a trocar quantidades cada vez menores de vestuário por uma unidade adicional de alimentação”. Além de bastante convincente, a explicação de Maria parece ser adequada para a maioria dos casos, quer dizer, para outros pares de mercadorias que não vestuário e 27 alimentação, e para outros consumidores. Assim, vamos supor daqui para frente que as curvas de indiferença são convexas. 2.5. A linha de Restrição Orçamentária João, assim, como Maria, também tem as suas curvas de indiferença e, se pudesse escolher livremente quando comprar de cada mercadoria escolheria consumir uma quantidade infinita de cada uma. Infelizmente, isso não é possível nem para João, nem para Maria nem para nenhum de nós. Isso porque a mercadoria tem seus preços e João tem uma renda limitada. Essa renda limitada impossibilita João de consumir as quantidades que ele se desejaria de cada mercadoria. Vamos estudar um pouco mais detalhado as restrições que a renda de João impõe ao seu consumo. Se q é a quantidade de alimentação consumida por João, q, é a quantidade de vestuário e P e P, são, respeitosamente, os preços de uma unidade de alimentação e de uma unidade de vestuário, então o gasto total de João em consumo será igual a Ora, João não pode gastar mais do que ganha. Esse fato pode ser representado pela seguinte expressão matemática: onde R é a renda de João. Por exemplo, suponhamos que a renda mensal (R) de João seja de R$ 500,00. Suponhamos também que o preço de uma unidade de alimentação (P) seja igual a R$ 5,00 e que o preço de uma unidade de vestuário (P), seja igual a R$ 10,00. Se João gastasse toda a sua renda comprando alimento, ele compraria R/P = 500/5 = 100 unidades de alimentação. Se, por outro lado, ele despendesse toda sua renda na aquisição de vestuário, ele poderia comprar R/P = 500/10 = 50 unidades de vestuário. Se ele decidisse comprar 20 unidades de alimentação, gastaria com essa 5 x 20 = 100, de modo que lhe restariam 400 para comprar 28 vestuário, o que daria um máximo de 400/10 = 40 unidades. A tabela 4.5. mostra outras combinações possíveis entre o consumo de alimento e o consumo de vestuário. Se João escolher qualquer uma dessas combinações, ele gastará toda a sua renda para adquira-la. As cestas de mercadorias dessa tabela estão representadas no gráfico da Fig. 4.13. Elas aparecem como pontos particulares da reta cuja equação é Pa qa + Pv qv = R. Essa reta é chamada linha de restrição orçamentária e representa o limite de consumo de João. Ele pode comprar todas as cestas de mercadorias que estão sobre a linha de restrição orçamentária e todas as cestas de mercadorias que estão sobre a linha de restrição orçamentária e todas as cestas que estão abaixo e à esquerda dessa linha (na área sombreada). Se João quiser, pode consumir, por exemplo, a cesta A ou a cesta X. Mas ele não pode consumir a cesta Y composta por 80 unidades de alimentação e 40 unidades de vestuário, pois ela lhe custaria 5 x 80 + 10 x 40 = 800 reais, ou seja, mais do que a sua renda. Observamos também que a linha de restrição orçamentária cruza o eixo horizontal quando o consumo de alimentação é dado pela expressão R/P, que indica o consumo de alimento que se obtém quando toda a renda é destinada à compra de alimentação. De maneira semelhante, o consumo de vestuário, quando a linha de restrição orçamentária cruza o eixo 29 vertical, é dado pela expressão, R/P, que indica quanto é possível consumir de vestuário se toda a renda for gasta com a sua aquisição. 2.6. Deslocamento da Linha de Restrição Orçamentária A posição da linha orçamentária depende de dois fatores: os preços das mercadorias e a renda do consumidor. Vejamos o que acontece se um desses fatores varia. Comecemos supondo que haja uma redução no preço da alimentação de R$ 5,00 para, digamos, R$ 4,17. Nesse caso, se João destinar toda a sua renda a aquisição de alimentação, ele poderá comprar R/Pa =500/4,17 = 120 unidades de alimentação. Esse valor a interseção da linha de restrição orçamentária com o eixo horizontal. Como antes da redução no preço da alimentação esse valor era igual a 100, a interseção da linha de restrição orçamentária com o eixo horizontal deve-se deslocar para a direita, conforme o gráfico (a) da Fig. 4.14. 30 Uma elevação no preço da alimentação provocará um efeito inverso, ou seja, levará a um deslocamento da interseção da linha de restrição orçamentária com o eixo horizontal para a esquerda, conforme ilustra o gráfico (b) da Fig. 4.14. Esse gráfico foi construído na hipótese de que o preço da alimentação subiu de R$ 5,00 para R$ 6,25. De modo semelhante, para R$ 8,333 provocará um aumento na quantidade de vestuário suponhamos, R$ 10,00 para R$ 8,33 provocará um aumento na quantidade de vestuário que se pode adquirir coma a renda de R$ 500,00 de 50 para 60 unidades., o que é representado graficamente por um deslocamento para cima da interseção da linha de restrição orçamentária com o eixo vertical conforme ilustra o gráfico (c) da Fig. 4.14. Uma elevação no preço do vestuário provocará, por sua vez, um deslocamento para baixo da interseção da linha de restrição orçamentária. O gráfico (d) da Fig. 4.14. indica esse deslocamento no caso de uma variação no preço do vestuário de R$ 10,00 para R$ 12,50. Nesse caso, a quantidade de vestuário que se obtém ao despender toda a renda nessa mercadoria é de R = 500 = 40 unidades P 12,50 Resta agora ver como variações na renda deslocam a linha de restrição orçamentária. Suponhamos, de início, uma elevação na renda de João de, por exemplo, R$ 500,00 para R$ 600,00. Quando isso ocorre, aumenta a quantidade que João poderia consumir de alimentação caso gastasse toda a sua renda com esse produto e aumenta também a quantidade que ele poderia consumir de vestuário caso dedicasse toda a sua renda à sua compra. Por exemplo, se a renda de João crescesse de R$ 500,00 para R$ 600,00, essa nova renda possibilitar-lhe-ia comprar 600 = 120 unidades de alimentação ou, se quisesse comprar apenas vestuário, 5 600 = 60 unidades 10 Graficamente, isso implicaria um deslocamento para cima da interseção da linha de restrição orçamentária com o eixo vertical e um deslocamento para a direita da linha de restrição orçamentária com o eixo horizontal. Além disso, a linha de restrição orçamentária se desloca paralelamente à linha de restrição orçamentária inicial para cima e para a direita, conforme podemos notar no gráfico (e) da Fig. 4.14. 31 Uma redução na renda de João faria com que sua linha de restrição orçamentária se deslocasse paralelamente para baixo e para a esquerda. O gráfico (f) da Fig. 4.14 ilustra esse deslocamento para o caso de uma redução na renda de R$ 500,00 para R$ 400,00. O leitor deve notar que tanto uma elevação na renda quanto uma redução no preço de qualquer uma das mercadorias leva a um crescimento do conjunto de cestas de mercadorias acessíveis ao consumidor, conjunto esse que é representado graficamente pela área abaixo e à esquerda da linha de restrição orçamentária. Assim, por exemplo, a redução no preço do vestuário representada no gráfico (c) da Fig. 4.14 tornou acessível a cesta de mercadorias L. Do mesmo modo, a elevação na renda do gráfico (e) tornou acessível a cesta de mercadorias M. De outro lado, uma elevação no preço assim como uma redução na renda reduz o conjunto de cestas de mercadorias acessíveis. Por exemplo, a elevação do preço do vestuário representada no gráfico (d) da Fig. 4.14 fez com que a cesta de mercadorias N se tornasse inacessível. Também a redução na renda do gráfico (d) da Fig. 4.14 tornou impossível a compra da cesta de mercadorias O. O Equilíbrio do Consumidor Vejamos agora como um consumidor deve escolher entre as diversas cestas de mercadorias que sua restrição orçamentária lhe permite consumirem. O gráfico da Fig.4.15, mostra a linha de restrição orçamentária de João, juntamente com o seu mapa de indiferença. Vestuário 0 20 40 60 80 100 Alimentação Fig. 4.15. Linha de restrição orçamentária e mapa de indiferença sobreposto. O consumidor escolhe a cesta correspondente ao ponto E. Das quatro curvas de indiferença mostradas no gráfico, João certamente preferiria escolher uma cesta de mercadorias sobre a curva de indiferença I3, como, por exemplo, à cesta 32 de mercadorias C. Todavia, sua restrição orçamentária não permite que nenhuma cesta de mercadorias sobre essa curva de indiferença seja acessível (lembre-se que as cestas de mercadorias acessíveis encontram-se ou na área em cinza ou sobre a linha de restrição orçamentária). Como João terá de escolher apenas entre as cestas de mercadorias que sua renda permite comprar, ele procurará a cesta de mercadorias acessível que pertença à curva de indiferença mais alta possível. Podemos ver na Fig. 4.15 que ele pode escolher uma cesta de mercadorias sobre a curva de indiferença I0, como, por exemplo, a cesta A, ou sobre a curva I1, digamos, a cesta B ou outra cesta de mercadorias qualquer sobre alguma curva de indiferença que passe pelo conjunto de cestas que podem ser compradas por João, isto é, que passe pela área em cinza ou pela linha de restrição orçamentária. A curva de indiferença mais elevada que ainda tem uma cesta de mercadorias acessível é aquela que tangencia (toca em um único ponto, sem cruzar) a linha de restrição orçamentária. No caso da Fig. 4.15., a linha de restrição orçamentária é tangenciada pela curva de indiferença 12 no ponto E. Esse ponto corresponde à cesta de mercadorias preferida por João entre todas aquelas que ele pode comprar, pois qualquer outra cesta de mercadorias que lhe seja acessível pertencerá a uma curva de indiferença menos elevada e, por isso mesmo, pior. Assim João deve escolher, entre as cestas de mercadorias que ele pode comprar a cesta de mercadorias E. A escolha do ponto “E” caracteriza aquilo que chamamos equilíbrio do consumidor. Esse equilíbrio é caracterizado pelo fato de João ter escolhido a melhor cesta de mercadorias que ele poderia comprar, não tendo, por isso, nenhum motivo para refazer a sua escolha. O equilíbrio do consumidor é obtido na cesta de mercadorias correspondente ao, ponto de tangencia entre a linha de restrição orçamentária e a curva de indiferença mais_ elevada que toca essa linha. 2.8. Derivando a Curva de Demanda Evidentemente, sempre que houver um deslocamento da linha de restrição orçamentária, um novo equilíbrio será atingido, pois a nova linha de restrição orçamentária será tangenciada por outra curva de indiferença em um ponto diferente do antigo equilíbrio. A Fig. 4.16. ilustra uma mudança no equilíbrio do consumidor decorrente de um aumento na renda. 33 Vestuário qa0 qa1 - Alimentação Fig. 4.16. Com o aumento da renda, o equilíbrio se desloca de E 0 para E1. Com um aumento na renda do consumidor a linha de restrição orçamentária se desloca da linha contínua para a linha tracejada. O equilíbrio que antes era atingido na cesta de mercadorias E0 passa agora para a cesta de mercadorias E0, a quantidade consumida de alimentação passa de q°A para q1 V e a quantidade consumida de vestuário passa de q0A. para q1A. Uma variação no preço de uma mercadoria, na medida em que desloca a linha de restrição orçamentária, também leva à obtenção de um novo equilíbrio. A Fig. 4.17 ilustra um exemplo. Com uma redução no preço da alimentação, a linha de restrição orçamentária se desloca da linha cheia para a linha tracejada, fazendo com que o equilíbrio passe da cesta de mercadorias E0 para a cesta de mercadorias E1, 34 Vestuário Alimentação Fig. 4.17. Deslocamento da linha de restrição orçamentária e obtenção de um novo equilíbrio em decorrência da redução do preço da alimentação. Se determinarmos assim a quantidade a ser consumida de uma mercadoria para cada um de seus possíveis preços, podemos então derivar a curva de demanda do consumidor. Isso é feito na Fig. 4.18. Essa fig. é composta de dois gráficos. O gráfico superior é um gráfico que combina curvas de indiferenças e diferentes linhas de restrição orçamentária. A linha de restrição orçamentária mais à esquerda foi obtida supondo-se que o preço da unidade de alimentação era P0A linha de restrição orçamentária do meio foi obtida para um preço P1A por unidade de alimento menor que P0A. 35 Vestuário Preço Fig. 4.18. Derivação da curva de demanda a partir do mapa de indiferença. 36 A linha de restrição orçamentária mais à direita foi obtida supondo-se o preço da unidade de alimentação igual a P2A, sendo esse preço ainda menor que P1A. Para cada uma dessas linhas de restrição orçamentária, obtemos um ponto de equilíbrio. Quando o preço da unidade de alimentação é P0A, obtemos o equilíbrio E0. Quando ele é P1A obtemos o equilíbrio E1, e, para o preço da unidade de alimentação igual a P2A, obtemos o equilíbrio E2. Às cestas de mercadorias E0, E1 e E2 correspondem, respectivamente, as quantidades consumidas q0A, q1A e q2A . Assim, quando o preço de uma unidade de alimentação é P0A, a quantidade de alimentação que o consumidor deverá comprar é q0A, quando esse preço passa para P1A a quantidade consumida de alimentação passa para q0A, e quando ele é P2A a quantidade comprada de alimentação é q2A. Esse resultado é apresentado no gráfico de baixo da Fig. 4.18. O eixo horizontal desse gráfico indica a quantidade consumida de alimentação e o eixo vertical indica o preço de uma unidade de alimentação. Assim, o ponto H0, indica apenas que, custando à alimentação P0A, a quantidade consumida da mesma será q0A. Do mesmo modo, os pontos H1, e H2, indicam que, se os preços da alimentação for P1A ou P2A, a quantidade adquirida da mesma será, respectivamente, q1A ou q2A . Se repetirmos o mesmo exercício para todos os níveis possíveis de preço para a alimentação, obteremos a curva d. Essa curva descreve a relação entre preço e quantidade que o consumidor planeja adquirir, ou seja, ela é a curva de demanda do consumidor. 37 ANÁLISE DA DEMANDA DE MERCADO Demanda (ou Procura) é a quantidade de determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir, nem dado período de tempo. Assim, a demanda é um desejo, um plano. Representa o máximo que o consumidor pode aspirar dada sua renda e os preços no mercado. A escala de demanda indica quanto o consumidor pode adquirir, dadas várias alternativas de preços de um bem ou serviço. Ou seja, indica que, se o preço for R$ 2,00, ele pode consumir dada sua renda, 10 unidades; se o preço for R$ 3,00, ele pode consumir 8 unidades, e assim por diante. Nesse sentido, a demanda não representa a compra efetiva, mas a intenção de comprar. VARIÁVEIS QUE AFETAM A DEMANDA A demanda de um bem ou serviço pode ser afetada por muitos fatores, tais como: Riqueza (e sua distribuição); Renda ( e sua distribuição); Preço dos outros bens; Fatores climáticos e sazonais; Propaganda; Hábitos, gostos, preferências dos consumidores; Expectativas sobre o futuro; Facilidades de crédito. Tradicionalmente, a função demanda é colocada em função das seguintes variáveis, considerada as mais relevantes e gerais, pois costumam ser observadas na maioria dos mercados de bens e serviços: qd = f (ps, ps, pc, R, G) Função Geral da Demanda i onde: 38 qd = i quantidade procurada (demandada) do bem i / t (/ t significa num dado período de tempo). psi = preço do bem i / t ps = preço dos bens substitutos ou concorrentes / t pc = preço dos bens complementares / t R= renda do consumidor / t G= gostos, hábitos e preferências do consumidor /t São as variáveis mais freqüentes para explicar a demanda de um bem ou serviço. Agora, o mercado de cada bem tem suas particularidades, e algumas dessas varáveis podem não afetar a demanda; ou, ainda, a demanda pode ser afetada por variáveis não incluídas nessa relação (por exemplo, localização dos consumidores, a influência de fatores sazonais): Como são muitas variáveis, para estuda-las isoladamente, recorremos à hipótese de coeteris paribus (tudo o mais constante). a) Relação entre qd e o preço do próprio bem (pi) i É a função convencional da demanda: qd = f (pi) supondo ps, pc, R e G constantes i Sendo q d i 0 , que é a chamada Lei Geral da demanda: a quantidade demandada p i de um bem ou serviço varia na relação inversa de seu preço, coeteris paribus. Por que há essa relação inversa? Ela ocorre devido aos chamados efeitos substituição e renda, que agem conjuntamente. Suponhamos uma queda do preço do bem. Podemos dividir o efeito dessa queda de preço sobre a quantidade demandada (efeito preço total) assim: Efeito substituição: o bem fica barato relativamente a outros, com o que a quantidade demandada desse bem aumenta; 39 Efeito renda: com a queda de preço, o poder aquisitivo (ou “renda real”) do consumidor aumenta, e a quantidade demandada do bem i deve aumentar. Isto é, ao cair o preço de um bem, o consumidor tem mais renda para gastar. A curva convencional da demanda é, portanto, negativamente inclinada e pode assumir quaisquer dos formatos a seguir: Essa função indica qual a intenção de procura dos consumidores quando os preços variam com tudo o mais permanecendo constante. Fornece a escala de procura. Ela é obtida estatisticamente, utilizando-se dados de quantidade e preços realizados em períodos anteriores (mensais, anuais etc). b) Relação entre demanda de um bem e preço dos outros bens (ps e pc) A relação entre a quantidade demandada de um bem ou serviço, com os preços de outros bens ou serviços, dá origem a dois importantes conceitos: bens substitutos e bens complementares. b1) Bens Substitutos (ou Concorrentes): o consumo de um bem substitui o consumo do outro. qd = f (ps) supondo ps, pc, R e G constantes i q d i 0 p s ou seja, há uma relação direta entre, por exemplo, uma variação no consumo de Coca-Cola e uma variação no preço do guaraná, coeteris paribus. 40 O deslocamento da curva de demanda, supondo aumento no preço do bem substituto, pode ser ilustrado a seguir, a partir do exemplo de como a demanda de Coca-Cola é influenciada pelo preço do guaraná: Ou seja, aos mesmos preços de Coca-Cola (R$ 20,00), será consumida mais CocasCola (2.000), porque o guaraná ficou mais caro. Outros exemplos de bens substitutos entre si: carne de vaca e carne de frango, cerveja Antarctica e cerveja Brahma, viajar de trem ou de ônibus etc. b2) Bens Complementares: são bens consumidos conjuntamente qd = f (pc) com ps, ps, R e G constantes i q d i 0 p c Por exemplo, um aumento no preço dos automóveis deverá diminuir a procura de gasolina, coeteris paribus. Graficamente: 41 Outros exemplos de bens complementares: camisa social e gravata, pneu e câmara, pão e manteiga etc. c) Relação entre demanda de um bem e renda do consumidor (R) qdi = f (R) com pi, ps, pc e G constantes Se: q di 0 : o bem normal (aumentos da renda levam ao aumento da demanda do bem) R q di 0 : bem inferior (aumentos da renda levam à queda de demanda do bem: R carne de 2ª, roupas rústicas etc.) q di 0 : bem de consumo saciado (normalmente, alimentos como arroz, sal, R açúcar: se aumentar a renda do consumidor, não aumentará significativamente a demanda desses bens). Vamos verificar o que ocorre com a curva de procura, dado um aumento da renda dos consumidores, nos três casos: 42 d) Relação entre demanda de um bem e hábitos do consumidor (G) qdi = f (G) com pi, ps, pc e R constantes Os hábitos ou gostos (G) são alterados, “manipulados” por propaganda e campanhas promocionais. Podemos ter campanhas para aumentar o consumo ou para diminuir o consumo de bens, como nos exemplos a seguir: As variáveis determinantes da função demanda podem ser assim resumidas: 43 CURVA DE DEMANDA DE MERCADO DE UM BEM A demanda de mercado é igual ao somatório das demandas individuais. n D mercado = di i=1 sendo i = 1 a n consumidores, e di a demanda dos consumidores individuais. Assim, a cada preço, a demanda de mercado é a soma das demandas dos consumidores individuais. Preço qdguaraná qdguaraná qdguaraná Demanda de mercado R$ (consumidor A) (consumidor B) (consumidor C) de guaraná 200,00 14 10 22 46 150,00 24 15 32 71 100,00 34 20 42 96 50,00 44 25 52 121 Graficamente, teremos que a curva de demanda de mercado é a soma das curvas dos consumidores individuais: OBSERVAÇÕES ADICIONAIS SOBRE DEMANDA a) É importante distinguir variações da demanda e variações na quantidade demandada: Variações da demanda - deslocamento da curva da demanda, devido a alterações em ps, pc, R ou G (ou seja, mudanças na condição coeteris paribus).Por exemplo, 44 supondo um aumento da renda do consumidor, sendo um bem normal, ocorrerá um aumento da demanda (aos mesmos preços anteriores,o consumidor poderá comprar mais). Variação na quantidade demandada – movimento ao longo da própria curva de demanda, devido a variação do preço do próprio bem ps, mantendo as demais variáveis constantes (coeteris paribus) (movimento do ponto A para o ponto B, na mesma curva de demanda D0i, devido à queda de preço de p0 para p1) ANÁLISE DA OFERTA DE MERCADO Oferta é a quantidade de determinado bem ou serviço que os produtores desejam vender e determinado período de tempo. A oferta representa os planos dos produtores ou vendedores, em função dos preços de mercado. Considera-se que os produtores são racionais, no sentido de que estão produzindo com o lucro máximo, dentro da restrição de custos de produção. 45 Variáveis que afetam a Oferta As principais variáveis que afetam a oferta de um dado bem ou serviço são: sendo o sobrescrito s derivado do inglês supply (oferta). É a chamada função geral da oferta. se o preço do bem aumenta, estimula as empresas a produzirem qs >0 mais. Para produzir mais, os custos de produção serão maiores, e o pi preço do bem deve ser aumentado, coeteris paribus qs se, por exemplo, o preço da soja aumentar, e dado o preço do <0 p n feijão, os produtores diminuirão a produção de feijão para produzir mais soja, coeteris paribus 46 qs se, por exemplo, o preço do fator terra aumenta, diminui a oferta <0 m de café, coeteris paribus (desloca-se devido ao aumento de preço da terra). O mesmo vale para os demais fatores de produção, como mão-de-obra, matérias-primas, energia etc ... qs > <0 O a função oferta depende dos objetivos da empresa, isto é, ou se quer maximizar o lucro, ou aumentar sua participação no mercado. Isto é, às vezes a empresa prefere lucrar menos em curto prazo e ganhar participação no mercado (o que pode ocorrer com lucros menores, se os custos aumentarem mais que as receitas), para lucrar mais em longo prazo. Veremos mais tarde que também há situações que, dependendo da estrutura de mercado, e do grau de reação dos consumidores, é mais vantajoso para a empresa reduzir sua produção. Observações: 1. [Como na teoria da procura, devemos distinguir:] Variação da oferta - deslocamento da curva (quando altera a condição coeteris paribus, ou seja, quando se alteram pn, m ou O); Variação da quantidade ofertada - movimento ao longo da curva (quando se altera o preço do próprio bem pi, mantendo-se as demais variáveis constantes). 2. Empiricamente, as variáveis que comparecem com mais regularidade nas funções oferta são os preços do próprio bem (pi), e o custo dos fatores de produção m . A variável “Objetivos da Empresa” (O) não é quantificável. 47 3. Muitas vezes, a oferta depende mais do preço no período anterior (pt-1), do que do preço do próprio período, dado que a decisão de alterar a produção tem uma certa defasagem, pois os recursos nem sempre estão imediatamente disponíveis. CURVA DE OFERTA DE MERCADO (DE UM BEM) É a soma das curvas de oferta das firmas individuais, que produzem um dado bem ou serviço: n Qj = dj j=1 sendo j = 1, 2, ..., n produzindo um bem i, e qj as ofertas das firmas individuais. O EQUILÍBRIO DE MERCADO O preço em uma economia de mercado é determinado tanto pela oferta como pela procura. Colocando em um único gráfico as curvas de oferta e de procura de um bem ou serviço qualquer, a intersecção das curvas é o ponto de equilíbrio E, ao qual correspondem o preço p0 e a quantidade q0. Este ponto é único, onde a quantidade que os consumidores desejam comprar é exatamente igual à quantidade que os produtores desejam vender. Ou seja, não há excesso ou escassez de oferta ou de demanda. Existe coincidência de desejos. Tendência ao nível de equilíbrio: lei da oferta e da procura No gráfico a seguir, para qualquer preço superior a p0, (como p’), a quantidade que os ofertantes desejam vender é muito maior do que a que os consumidores desejam comprar. Existe um excesso de oferta (qs’ – qd’). De outra parte, com qualquer preço inferior a p0, 48 surgirá um excesso de demanda (qd” – qs”). Em qualquer dessas situações, não existe compatibilidade de desejos. Entretanto, supondo uma economia de mercado, concorrencial o mecanismo de preços leva automaticamente ao equilíbrio. Quando ocorre excesso de oferta, os vendedores com estoques não planejados terão que diminuir seus preços, concorrendo pelos escassos consumidores: no caso de excesso de demanda, os consumidores estarão dispostos a pagar mais pelos produtos escassos. Assim, há uma tendência normal ao equilíbrio: no ponto E (p0, q0) não existem pressões para alterar preços. Neste ponto, os planos dos compradores são consistentes com o plano dos vendedores. Como se vê, é como se existisse uma “mão invisível” que fizesse com que os agentes, sem qualquer interferência do governo, encontrassem sozinha uma posição de equilíbrio, via mecanismo de preços. MUDANÇAS NO PONTO DE EQUILÍBRIO DEVIDO A DESLOCAMENTOS DAS CURVAS DE OFERTA E DEMANDA Como vimos anteriormente, existem vários fatores que podem provocar deslocamento das curvas de oferta e demanda que evidentemente provocarão mudanças do ponto de equilíbrio. Suponhamos, por exemplo, que o mercado do bem x esteja em equilíbrio, e o bem x seja um bem normal (não inferior). O preço de equilíbrio inicial é p0 e quantidade q0 (ponto A no próximo gráfico). Suponhamos agora que os consumidores tenham um aumento de renda real (aumento do poder aquisitivo). Conseqüentemente, coeteris paribus, a demanda do bem x, a um mesmo preço, será maior. 49 Isso significa um deslocamento da curva de demanda para a direita, para D1. Assim, ao preço p0, teremos um excesso de demanda, que provocará gradativamente um aumento de preços. Com os preços aumentando, o excesso de demanda vai diminuindo, até acabar, no novo equilíbrio, ao preço p1, e a quantidade q1 (ponto B). Da mesma forma, um deslocamento da curva de oferta afeta a quantidade e os preços de equilíbrio. Suponhamos, para exemplificar, uma diminuição dos preços das matériasprimas usadas na produção do bem x. Conseqüentemente, a curva de oferta do bem x se desloca para a direita. Por um raciocínio análogo ao anterior, podemos perceber que o preço de equilíbrio se tornará menor e a quantidade maior. 50 ELASTICIDADES Até esta altura, sabemos apenas que, quando aumenta o preço de um bem, a quantidade demandada deve cair, coeteris paribus. Ou seja, conhecemos apenas a direção, o sentido, mas não a magnitude numérica: isto é, se o preço aumenta em 10%, quanto cairá a quantidade demandada? O conceito de elasticidade fornece essa resposta numérica. Elasticidade - em sentido genérico, é a alteração percentual em uma variável, dada uma variação percentual em outra, coeteris paribus. Assim, elasticidade é sinônimo de sensibilidade, resposta, reação de uma variável, em face de mudanças em outras variáveis. Trata-se de um conceito de ampla aplicação em Economia. Vejamos alguns exemplos: Exemplos da Microeconomia: Elasticidade-preço da demanda - é a variação percentual na quantidade demandada, dada a variação percentual no preço do bem, coeteris paribus; Elasticidade-renda da demanda - é a variação percentual na quantidade demandada, dada uma variação percentual na renda, coeteris paribus; Elasticidade-preço cruzada da demanda - é a variação percentual na quantidade demandada, dada a variação percentual no preço de outro bem, coeteris paribus; Elasticidade-preço da oferta – é a variação percentual na quantidade ofertada, dada a variação percentual no preço do bem, coeteris paribus. 51 Exemplos da Macroeconomia Elasticidade das exportações em relação à taxa de câmbio – é a variação percentual nas exportações, dada a variação percentual da taxa de câmbio, coeteris paribus; Elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros – é a variação percentual da procura de moeda, dada a variação percentual da taxa de juros, coeteris paribus. Enfim, sempre quando tivermos uma relação de causa e efeito em economia, podemos calcular uma elasticidade. ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA É a variação percentual na quantidade demandada, dada uma variação percentual no preço do bem, coeteris paribus. Mede a sensibilidade, a resposta dos consumidores, quando ocorre uma variação no preço de um bem ou serviço. qd q1 q 0 qd q0 p var iação percentual qd p qd p1 p 0 Epp = = = = . p p0 var iação percentual p qd p Como qd p é negativa (pela lei geral da demanda), e p e q são valores positivos, segue que Epp é sempre negativa. Por essa razão, seu valor é usualmente expresso em módulo (por exemplo, Epp = 1,2, que equivale a Epp = - 1,2). 52 Classificação dos bens, de acordo com a elasticidade-preço da demanda De acordo com a elasticidade-preço da demanda, a demanda pode ser classificada como elástica, inelástica ou de elasticidade-preço unitária. DEMANDA ELÁSTICA EPP > 1 Exemplo: Epp = 1,5 Epp = - 1,5 ou Dada uma variação percentual, por exemplo, de 10% no preço, a quantidade demandada varia, em sentido contrário, em 15% coeteris paribus. Isso revela que a quantidade é bastante sensível à variação de seu preço. DEMANDA INELÁSTICA EPP Exemplo: Epp = 0,5 ou < 1 Epp = - 0,5 Os consumidores são pouco sensíveis a variações de preço: uma variação de, por exemplo, 10% no preço levam a uma variação na demanda desse bem de apenas 5% (em sentido contrário). DEMANDA DE ELÁSTICIDADE UNITÁRIA Exemplo: Epp = 1 ou EPP = 1 Epp = - 1 Se o preço aumenta em 10%, a quantidade cai também em 10%, coeteris paribus. Por exemplo, dados os valores das elasticidades-preço da demanda dos bens A e B, EppA = - 2 e EppB = - 0,8, o bem A tem demandada mais elástica que o bem B, pois um aumento de 10% no preço de ambos levaria a uma queda de 20% na quantidade demandada do bem A, e de apenas 8% na do bem B, coeteris paribus. Os consumidores de bem A são relativamente mais sensíveis a variações de preços desse produto. 53 Fatores que afetam a elasticidade-preço da demanda Disponibilidade de bens substitutos Quanto mais substitutos, mais elástica a demanda, pois, dado um aumento de preços. O consumidor tem mais opções para “fugir” do consumo desse produto. Ou seja, trata-se de um produto cujos consumidores são bastante sensíveis à variação de preços. Como a elasticidade depende da quantidade de bens substitutos, observa-se que, quanto mais específico o mercado, maiôs a elasticidade. Por exemplo, a elasticidade-preço da demanda de quaraná deve ser maior que a de refrigerantes em geral, pois tem mais substitutos para o guaraná do que para refrigerantes em geral. Na mesma linha de raciocínio, temos que: Epp pasta de > Mentol Kolynos Epp pasta de > Epp mentol pasta de dente Essencialidade do bem Quanto mais essencial o bem, mais inelástica sua procura. Esse tipo de bem não traz muitas opções para o consumidor “fugir” do aumento de preços. Exemplos clássicos: sal e açúcar. Importância relativa do bem no orçamento do consumidor A importância relativa, ou peso do bem no orçamento, é dada pela proporção de quanto o consumidor gasta no bem, em relação à sua despesa total. Maior o peso no orçamento, maior a elasticidade-preço da procura. O consumidor é muito afetado, por alterações nos preços, quanto mais gasta com o produto, dentro de sua cesta de consumo. Por exemplo: Carne: Epp alta Fósforo: Epp baixa Formas de cálculo O cálculo do valor numérico da elasticidade dependerá do conhecimento ou não da função demanda, e se se deseja calcula-la num ponto específico da demanda, ou em determinado trecho da curva. Vejamos as várias alternativas. a) Elasticidade no ponto (calculada num ponto específico da demanda) 54 1. Por acréscimos finitos ( ) Epp = p q p . q Exemplo: Dados p0 = 15,00; p1 = 10,00; p0 = 100; q1 = 120, calcular a elsticidade-preço da demanda, no ponto inicial (B). Basta substituir na fórmula, assim: Epp = p0 . q q0 p = 10 . (100 – 120) = 10 . (-20) = -1 120 (15 – 10) 120 5 3 portanto, demanda inelástica no ponto inicial (p0, q0). 2. Por derivada (quando se tem uma estimativa estatística da função demandada). Epp = p . dq q dp ou Epp = p . q (com mais de duas variáveis) q p A estimação estatística de funções demanda ( e de outras funções econômicas) é feita aplicando-se métodos econométricos, a partir de séries de dados normalmente mensais de preços, quantidades, e outras variáveis que afetam a demanda. b) Elasticidade no ponto médio ( ou no arco) 55 Se quisermos a elasticidade num trecho da curva da demanda, ao invés de um ponto específico, tomamos a média dos preços e a média das quantidades. Epp AB = p 0 p1 2 q 0 q1 2 . q p que é igual a Epp AB = p0 + p1 q0 + q1 . q ou, por derivada, Epp AB = p0 + p1 . dq p q0 + q1 dq No exemplo anterior teremos: Epp AB = 10 + 15 . (-20) = - 0,45 (demanda inelástica nesse trecho da curva) 120 + 100 5 Exercício: Dada a função demanda qd = 10 - 2p, calcular: a) Elasticidade no ponto onde p0 = 2, por acréscimo finito b) Elasticidade no ponto onde p1 = 3, por acréscimo finito c) Elasticidade no ponto onde p0 = 2, por derivada d) Elasticidade no ponto onde p1 = 3, por derivada e) Elasticidade no arco, entre os pontos p0 = 2 e p1 = 3 por acréscimo). Antes de qualquer coisa, precisamos calcular os valores de q0 e q1, que não foram dados. Para tanto, basta substituir os valores dados de p0 e p1, na equação: qd = 10 - 2p q0 = 10 – 2 . (2) = 6 q1 = 10 – 2 . (3) = 4 a) Epp = p . q q p 56 q = q1 – q0 = - 2 Epp = 2 6 2 = 1 4 6 = 0,66 < 1 (demanda inelástica p = p1 – p0 = 1 b) Epp = c) no ponto p0 = 2) 3 2 3 p q = . = (demanda elástica nesse ponto) = 1,5 > 1 . 4 1 2 q p dq dq qd = 10 – 2p =-2 dp dp Epp = 2 2 (-2) = = 0,66 < 1 (demanda 6 3 elástica nesse ponto) (Observamos que q dq =-2= ; isso porque a demanda é uma reta, e, nesse caso, dp p tanto faz calcularmos por derivada ou por acréscimos finitos). d) Epp = 3 = 1,5 > 1 (demanda elástica no ponto p = 3) 2 e) Epp = 23 5 po p1 q . = . (- 2) = (-2) = - 1 46 10 p q 0 q1 Portanto, esse produto apresenta demanda de elasticidade unitária, entre os pontos p0 = 2 e p1 = 3. 57 Interpretação Geométrica da Elasticidade-Preço da Demanda Veremos que a elasticidade-preço da demanda deve variar, ao longo de uma mesma curva de demanda. Quanto o preço do bem, maior a elasticidade. Pode-se provar que: Epp = segmento de " baixo AC = segmento de " cima BA Então se: Significa, então, que quanto maior o preço de um bem, coeteris paribus, maior a elasticidade-preço da demanda (o ponto A fica mais acima, na curva de demanda). É um 58 resultado esperado, pois o consumidor torna-se mais sensível (“procura elástica”) quanto mais caro o produto. Produtos com preços já elevados, se aumentarem mais, provocarão diminuição muito acentuada e seu consumo. Essa interpretação geométrica também vale para curvas, não apenas retas. Basta traçar uma tangente ao ponto desejado. Por exemplo, no diagrama a seguir,a demanda é inelástica no ponto A, porque ele se situa na parte inferior da curva (onde o “segmento de baixo” é menor que o “segmento de cima” do ponto referido). Exercício: No diagrama abaixo, em que ponto a elasticidade é relativamente mais elevada? Resposta: no ponto A, onde a relação entre o segmento abaixo dele e o segmento acima é o maior, relativamente aos demais pontos. Relação entre receita total do vendedor (ou dispêndio total do consumidor) e elasticidade-preço da demanda 59 A receita total do vendedor (RT), que corresponde ao próprio dispêndio ou gasto total dos consumidores, é dada por: RT = preço unitário x quantidade comprada do bem RT = p . q Seria possível conhecermos a priori o que deve acontecer com a receita total RT, quando varia o preço de um bem? A RT aumenta, diminui ou permanece constante? A resposta vai depender da elasticidade-preço da demanda. a) se Epp for elástica, variação percentual da quantidade demandada > variação percentual do preço a RT segue o sentido da quantidade, isto é, prepondera a variação da quantidade sobre a variação do preço; - se p aumentar, q cairá e a RT diminuirá - se p cair, q aumentará e a RT aumentará b) se Epp for inelástica, variação percentual qd < variação percentual p prepondera o sinal do preço: - se p aumentar, q cairá e a RT aumentará - se p cair, q aumentará e a RT cairá c) se Epp for unitária, variação percentual qd = variação percentual p 60 tanto faz p aumentar ou cair, que RT = constante Podemos concluir que, com demanda inelástica, é vantajoso aumentar o preço (ou diminuir a produção), até onde Epp = - 1. Embora a quantidade caia, o aumento de preço mais que compensa a queda na quantidade e a RT aumenta. É o caso da maior parte dos produtos agrícolas, que apresentam demanda inelástica. Mas isso tem um limite, pois, se o aumento de preço for muito elevado, pode cair no ramo elástico da demanda, o que redundaria em queda da Receita Total. Observações Adicionais sobre Elasticidade-Preço da Demanda 1. Casos extremos de elasticidade-preço da procura Epp = 0 demanda totalmente inelástica Dada a variação do preço, a quantidade demandada permanece constante. Os bens essenciais aproximam-se bastante desse caso, já que, mesmo com aumento do preço, o consumidor continuará consumindo praticamente a mesma quantidade do produto. Epp = demanda infinitamente elástica Dada uma variação de preços, a quantidade demandada é indeterminada, podendo variar de zero ao infinito. Como veremos no capítulo relativo às estruturas de mercado, isso ocorre em mercados perfeitamente competitivos ou concorrenciais, onde a empresa defrontase com uma demanda infinitamente elástica, com preços dados pelo mercado. 61 2. Freqüentemente, os economistas utilizam a expressão “a demanda do bem x é elástica”. Como a elasticidade assume valores diferentes, numa mesma curva de demanda, o mais correto seria dizer que “a demanda do bem x é elástica, entre os preços, digamos, dez e vinte reais”. 3. Prova-se que apenas no caso de funções potência, tipo qd = a. p-b , a elasticidadepreço da demanda é constante ao longa da curva, e é igual ao próprio coeficiente b.Assim, se a função potência for qd = 3p-0,8 a elasticidade-preço da demanda é constante, e igual a – 0,8 (demanda inelástica). Dada uma variação de, digamos, + 10 % no preço do bem, a quantidade demandada varia em – 8%, coeteris paribus. ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA DEMANDA É a variação percentual da quantidade demandada do bem “X”, dada uma variação percentual no preço do bem “Y”, coeteris paribus. Eppxy q x qx var iação percentual qx p y qx = = py = . var iação percentual py q x py py ou, em termos de derivada, Eppxy = pY dqx py qx . (derivada simples) Eppxy = . (derivada parcial) qx dpy qx py Se Eppxy > 0 os bens x e y são substitutos ou concorrentes (o aumento do preço de y aumenta o consumo de x, coeteris paribus) Se Eppxy < 0 os bens x e y são complementares (o aumento do preço de y diminui a demanda de x, coeteris paribus) 62 ELASTICIDADE-RENDA DA DEMANDA É a variação percentual da quantidade demandada, dada uma variação percentual da renda do consumidor, coeteris paribus. var iação percentual q = var iação percentual R ERp = ou ERp = R dq . q dR ou ERp = q q R q R = . q R R R q . q R Se ERp > 1 bem superior (ou bem de luxo: dada uma variação da renda, o consumo varia mais que proporcionalmente ERp > 0 bem normal: o consumo aumenta, quando a renda aumenta ERp < 0 bem inferior: a demanda cai, quando a renda aumenta ERp = 0 bem de consumo saciado: variações na renda não alteram o consumo do bem ELASSTICIDADE-PREÇO DA OFERTA Mede a variação percentual ofertada, dada uma variação percentual no preço do bem, coeteris paribus. Eps = ou var iação percentual qs = var iação percentual p qs qs p = p . qs qs p p p dqs . qs dp 63 Eps > 0 pois qs p > 0, coeteris paribus Podemos ter as seguintes situações: Eps > 1 bem de oferta elástica Eps > 1 bem de oferta inelástica Eps = 1 elasticidade-preço da oferta unitária Como no caso da demanda, a elasticidade-preço da oferta também pode ser calculada no ponto ou no arco. Conforme o valor do intercepto da curva de oferta, prova-se que: A aplicação do conceito de elasticidade da oferta é pouco freqüente, comparativamente à elasticidade da demanda. Uma das teses da chamada corrente estruturalista da inflação era que a oferta de produtos agrícolas seria pouco elástica a estímulos de preços, devido à baixa produtividade da agricultura, provocados pela estrutura agrária. ASPECTOS DA ATUAÇÃO DO SETOR PÚBLICO NA ESFERA MICROECONÔMICA Neste capítulo, preocupamo-nos mais com os principais aspectos da atuação do setor público ao nível microeconômico; ou seja , a interferência do setor público na formação de preços no mercado, no que se refere à incidência de impostos, fixação de preços mínimos na agricultura e controle de preços. 64 2. INCIDÊNCIA DE UM IMPOSTO SOBRE VENDAS O conhecimento da incidência de um imposto (isto é, sobre quem efetivamente recai o ônus do imposto, se sobre consumidores ou vendedores) é importante para determinar os aspectos econômicos e sociais da tributação. Veremos como o instrumental simples de oferta e demanda e o conceito de elasticidade são adequados para essa análise. Antes, cabe observar que os impostos sobre vendas são impostos indiretos, pois incidem sobre o preço das mercadorias, enquanto os impostos diretos incidem diretamente sobre a renda das pessoas. Os impostos indiretos (ICMS, IPI) são regressivos em relação à renda, pois representam uma parcela maior da renda das classes manos favorecidas, relativamente aos mais ricos (por exemplo, na compra de um mesmo tipo de TV, ambos pagam, por exemplo, os mesmo R$ 50 de IPI, o que onera relativamente mais o pobre). Os impostos diretos (Imposto de Renda) são progressivos (quem ganha mais paga mais). Uma estrutura tributária é considerada proporcional ou neutra quando todos dispendem uma parcela (%) igual de sua renda no pagamento de impostos. Temos dois tipos de impostos sobre vendas: I – Imposto Específico – representa um valor R$ fixo por unidade vendida, independente do valor da mercadoria. Por exemplo, se o imposto for R$ 1.000,00, esse será o valor fixo cobrado sobre qualquer mercadoria, não importa se ela custe R$ 5.000,00 ou R$ 500.000,00. II – Imposto ad valorem – aplica-se uma alíquota (percentual) fixa sobre o valor em R$ de cada unidade vendida. Ou seja, a alíquota é fixa (como no ICMS e IPI), mas o valor em R$ do imposto aumenta, conforme aumenta o preço do bem. Assim, supondo uma alíquota de 20%, se a mercadoria custar R$ 50.000,00, o valor em R$ do imposto será R$ 10.000,00; se a mercadoria custar R$ 100.000,00, o valor em R$ do imposto será R$ 20.000,00. Efeito de um Imposto de Vendas sobre o Equilíbrio de Mercado Imposto Específico Com o estabelecimento de um imposto, podemos definir duas curvas de oferta: uma antes da existência do imposto e outra após a aplicação do imposto: 65 S = f(p) antes do imposto S’ = f(p’) após o imposto sendo p o preço de mercado, pago pelo consumidor, e p’ o preço relevante para o produtor (que é o preço de mercador menos o valor do imposto T ), isto é, p' = p – T . Evidentemente, o estabelecimento de um imposto sobre vendas funciona como um custo adicional para o produtor, o que desloca a curva de oferta para trás. Ou seja, para oferecer a mesma quantidade que oferecia anteriormente, o produtor tem que aumentar o preço ou, se quiser manter o preço, o produtor deve oferecer menor quantidade, pois encareceu a mercadoria. Vamos supor o seguinte exemplo: curva de oferta antes do imposto: S = - 20 + 2p valor do imposto específico: T = R$ 10,00 A curva de oferta com imposto então fica: S’ = - 20 + 2 (p – 10) sendo p – 10 = p’, ou seja, o produtor vende a mercadoria por $p e fica com (p - $ 10) S’ = - 20 + 2p – 20 S’ = - 40 + 2p Comparando a curva de oferta antes e após o imposto, observamos que a declividade é a mesma, alterando-se apenas o intercepto, indicando um deslocamento paralelo da curva. Graficamente 66 Imposto ad valorem Chamado ainda p = preço pago pelo consumidor (ou preço de mercado) p' = preço relevante para o produtor temos, no caso de um imposto ad valorem, que p’ = p – tp, sendo t a alíquota ou percentual do imposto Ou seja, se p = 10,00, e t = 20% ou 0,2, então: p' = 10 – 0,2.10 = 8,00 O preço de mercado é R$ 10,00, mas o preço recebido pelo produtor é R$ 8,00. Como alíquota do imposto é 20%, o valor do imposto é R$ 2,00, quando o preço é R$ 10,00. Se o preço fosse p = 30,00, então: p' = 30 – 0,2 . 30 = 24,00 a alíquota continuaria 20%, mas o valor do imposto aumentaria para R$ 6,00. Temos, portanto: * curva de oferta antes do imposto: S = f(p) * curva de oferta com imposto ad valorem: S’ = f(p’), sendo p’ = p – pt ou P’ = P (1 – T) Exemplo curva de oferta antes do imposto: S = - 20 + 2p curva de oferta com imposto ad valorem , supondo t = 0,1 67 S’ = -20 + 2p (1 – 0,1) S’ = -20 + 2p (0,9) S’ = -20 + 1,8p Notamos que, ao contrário do imposto específico, o que se altera agora é a declividade e não o intercepto. Graficamente: A distância entre S e S’, na vertical, é o valor do imposto em R$, que aumenta quando o preço aumenta, no caso do imposto ad valorem. Incidência do Imposto Vejamos, agora, a questão de quem arca efetivamente com o ônus do imposto. Para tanto, suporemos o caso de um imposto específico (a análise a seguir também vale, mutatis mutandi, para o caso de um imposto ad valorem). Chamemos: po = preço de equilíbrio, antes do imposto p1 = preço pago pelo consumidor, após T p’ = preço recebido pelo produtor, após T e q0 e q1, as quantidades de equilíbrio, antes e depois do imposto. Segue-se, então, que: I – a parcela, em R$, do imposto paga pelo consumidor é a diferença entre o que paga com o imposto (p1), menos o que pagaria sem o imposto (p0) , vezes a quantidade comprada, ou seja: 68 (p1 – p0) . q1 II – a parcela, em R$, do imposto paga pelo vendedor é a diferença entre o que receberia sem o imposto (p0),e o que recebe após o imposto (p’), vezes a quantidade vendida, ou seja: (p0 – p’) . q1 III – a arrecadação total do governo é a soma das duas parcelas anteriores, ou o valor do imposto vezes a quantidade vendida, ou seja A=T.q Graficamente: Parece claro que a incidência do imposto dependerá das elasticidades das curvas de oferta e demanda da mercadoria. Supondo uma mesma curva de oferta, podemos analisar graficamente a incidência para curvas de demanda com diferentes elasticidades: 69 Se a demanda for bastante elástica, dada a curva de oferta (gráfico a), a maior parcela do imposto incidirá sobre os vendedores ou produtores, pois os consumidores conseguem diminuir bastante o consumo do bem, dada uma elevação de preços provocada pelo imposto. Se a demanda for inelástica, dada a curva de oferta (gráfico b), quem deve arcar com a maior parcela do imposto é o consumidor, que, nesse caso, não tem muitas possibilidades de “fugir” do aumento de preços. FIXAÇÃO DE PREÇOS MÍNIMOS NA AGRICULTURA A política de preços mínimos visa dar uma garantia de renda aos agricultores. O governo anuncia, antes da época de plantio, um preço mínimo, pelo qual ele garante que compra a safra após a colheita. Se o preço de mercado for maior que o preço mínimo, o agricultor vende no mercado: se o preço de mercado for menor que o preço mínimo garantido, o agricultor vende ao governo. Supondo que o preço mínimo seja maior que o de mercado (ver gráfico a seguir), o governo pode encetar dois tipos de política: compra o excedente (diferença entre a quantidade produzida e a quantidade que os consumidores desejam comprar ao preço mínimo). No gráfico, qs – qd. Isto se chama Política de Compras; deixa os agricultores venderem toda a produção no mercado, o que fará o preço cair para pc. O governo paga ao agricultor a diferença entre o preço mínimo prometido (pm) e o que o consumidor pagou no mercado (pc). Esta é a chamada Política de Subsídios. 70 Estritamente do ponto de vista do governo, ele escolherá, entre essas duas políticas, aquela na qual ele gastará menos. Nos gráficos a seguir, as regiões hachuradas representam os gastos do governo em cada política: Certamente, a adoção de uma das duas políticas dependerá da elasticidade-preço da demanda (supondo que a curva de oferta seja fixada). Podemos mostrar isso graficamente, supondo uma mesma curva de oferta e duas demandas: uma bastante inelástica e outra elástica: Considerando que os gastos do governo, com a política de compras é dado pela área Abqdqs, e com a política de subsídios pela área PmBCpc, podemos notar que, quanto mais elástica a demanda de um produto agrícola, o governo tenderá a adotar uma política de subsídios, que sairá mais barata ao cofres públicos, que uma política de compras (quanto mais elástica e demanda, a área Abqdqs vai retornando cada vez maior do que a área PmBCpc Exemplo: Dadas as funções: demanda : qd = 19.000 – 20p oferta: qs = 10.000 + 10p 71 de um produto agrícola e supondo que o governo fixou um preço mínimo de R$ 400,00, qual política que o governo deve adotar, de forma a minimizar seus gastos? Resolução: É necessário calcular os custos de cada política. Graficamente: Antes de mais nada, precisamos achar o valor das três incógnitas: pc, qd e qs. As variáveis qd e qs são obtidas substituindo o valor de pm = 400 nas funções demanda e oferta, assim: qd = 19.000 – 20p = 19.000 – 20(400) = 11.000 qs = 10.000 + 10p = 10.000 + 10(400) = 14.000 A diferença qd – qs = 3.000 é o excesso de oferta (excedente). Para determinar pc, que é o preço que o consumidor pagará, se toda a produção for colocada no mercado (que é de 14.000), substituímos esse valor (14.000) na função demanda, assim: qd = 19.000 – 20p 14.000 = 19.000 – 20p Portanto, pc = 250,00 Assim, o subsídio que o governo banca para cada unidade vendida no mercado é a diferença entre o preço que ele pagou ao agricultor (o preço mínimo pm = 400,00) e o preço pago pelo consumidor (pc = 250,00), ou seja, R$ 150,00 por unidade. Para sabermos qual o gasto total do governo na política de subsídios, basta multiplicar R$ 150,00 pelas 14.000 unidades vendidas. Teremos o valor de R$ 2.100.000,00. Ou seja: gasto com política de subsídios = (pm – pc). qd = 150,00 x 14.000 = R$ 2.100.000,00 72 O gasto total do governo na política de compras é obtido pela multiplicação do preço mínimo que o governo pagou ao agricultor (400,00) pelo excedente que não foi comprado pelo consumidor, ficando com o governo (qs – qd = 3.000), isto é, R$ 1.200.000,00, ou seja: gasto com política de compras = pm (qs – qd) = 400,00 x 3.000 = 1.200.000,00 Dessa forma, o governo adotará a política de compras, com a qual gastará relativamente menos. Cabe observar que este tópico não pretende explorar todos os aspectos relativos a tais políticas, como custos administrativos, custo de armazenagem etc., uma vez que o objetivo aqui é apenas ilustrar um tipo de atuação do governo na formação de preços de mercado, e como o conceito de elasticidade pode ser útil nesse caso. CONTROLE DE PREÇOS E RACIONAMENTO Vejamos um tipo de política que objetiva evitar que os preços atinjam valores não desejados pelas autoridades, seja no contexto de combate à inflação, seja no sentido de defender os consumidores. Em certas ocasiões, o governo entende que o preço que vigoraria no mercado seria muito alto e intervém, fixando um preço máximo pelo qual a mercadoria poderia ser vendida. O controle de preços foi uma prática muito utilizada no Brasil. São bastante conhecidos a SUNAB – Superintendência Nacional de Abastecimento, e o CIP – Conselho Interministerial de Preços -, órgãos do Governo Federal encarregados do controle de preços. Mais recentemente, surgiu a SEAP – Secretaria Especial de Abastecimento e Preços. Quais serão as conseqüências deste controle de preços? Podemos analisa-los utilizando o instrumental já desenvolvido de oferta e procura. Supondo o preço fixado (p1) inferior ao equilíbrio )p0), surgirá um excesso de demanda. Graficamente, teremos: 73 Ao preço p1, haverá demanda insatisfeita. Nem toda a quantidade desejada pelos consumidores (qd) pode ser adquirida, pois os ofertantes só desejam vender a quantidade qs. Sem o tabelamento, surgiriam pressões para os preços aumentarem até o equilíbrio (p0), desaparecendo o excesso de demanda. Havendo o tabelamento, os preços não podem subir. Serão necessários então mecanismos para distribuir a quantidade racionada (qs) entre os consumidores. Temos duas formas de distribuição da mercadoria escassa: a) mecanismos espontâneos e b) imposição de um racionamento pelo governo. Mecanismos Espontâneos de Distribuição Vamos apresentá-lo por meio de um exemplo. Suponhamos que joguem São Paulo e Corinthians decidindo o Campeonato Paulista. Os ingressos têm seus preços tabelados. O público que deseja assistir ao jogo é maior que a capacidade do estádio, surgindo o excesso de demanda. Como este problema pode ser resolvido? Existem várias possibilidades de distribuição: I – surgem filas nas bilheterias - Os primeiros que chegarem serão contemplados; II – são feitas vendas por baixo do pano - A Federação Paulista de Futebol, em geral, reserva um aparte dos ingressos aos clubes e estes os cedem aos seus diretores e conselheiros. Estes elementos, por serem amigos dos dirigentes, adquirem ingressos sem que precisem entrar em filas. Enfim, em qualquer mercado onde existe uma produção limitada de um artigo de grande procura, o vendedor vai dar preferência a fregueses antigos, aos amigos ou parentes. Para os demais consumidores, a mercadoria está em falta. III – surge o mercado negro - Os cambistas comprar certa quantidade de ingressos e os vendem a preços maiores que os fixados, daí auferindo lucros. Isso ocorre quando a autoridade não dispõe de meios adequados para fiscalizar as vendas. Estas três são as formas mais comuns e surgem espontaneamente no mercado. 74 Racionamento O governo pode entender que as formas acima de distribuição ou alocação da quantidade oferecida entre os consumidores não são adequadas e intervir no mercado, determinando, além do tabelamento, um racionamento no consumo. Este racionamento pode ser feito de várias formas e sob diversos critérios. Pode ser por meio de cupões de consumo: cada família recebe certo número de cupões, usando-os para comprar as mercadorias discriminadas. Pode ser feito por meio do bem por mês, e assim por diante. Pode-se proceder à distribuição destes cupões ou destas cotas segundo sexo e idade, estado civil, número de filhos, etc. TEORIA DA FIRMA Explica o comportamento da Firma quando desenvolve a sua atividade produtiva. Divide-se em Teoria da Produção e Teoria dos Custos de Produção. Firma – unidade de produção que atua racionalmente, procurando maximizar seus resultados relativos a produção e lucro. TEORIA DA PRODUÇÃO Produção é o processo pelo qual uma firma transforma os fatores de produção adquiridos em produtos ou serviços para a venda no mercado. Assim, a firma é uma intermediária: compra insumos (inputs, fatores de produção), combina-os segundo um processo de produção escolhido, e vende produtos (outpus), no mercado. Fator de Produção – bens ou serviços transformáveis em produção. Função Produção - relações tecnológicas, físicas, entre a quantidade produzida e as quantidades de insumos utilizados na produção. Q = f (K, L) 75 Enquanto a Teoria dos Custos inclui os preços dos insumos. Processo de Produção – técnica por meio da qual um ou mais produtos serão obtidos pela utilização de determinadas quantidades de fatores de produção. A Escolha do Processo de Produção - O processo de produção pode ser mão-de-obra intensivo, capital-intensivo, ou terra-intensiva, dependendo do fator de produção utilizado em maior quantidade, relativamente aos demais. A escolha do processo de produção depende de sua eficiência. A eficiência pode ser avaliada sob o ponto de vista tecnológico ou sob o ponto de vista econômico. Eficiência técnica (ou tecnológica): entre dois ou mais processo de produção, é aquele que permite produzir uma mesma quantidade de produto, utilizando menor quantidade física de fatores de produção. Eficiência econômica: entre dois ou mais processos de produção, é aquele que permite produzir uma mesma quantidade de produto, com menor custo de produção. São conceitos relativos: diz-se que A é mais eficiente relativamente a B (e não que A e B são eficientes). Esses conceitos também podem ser aplicados para comparação entre firmas assemelhadas, ou ainda entre setores (por exemplo, diferenças de eficiência no setor têxtil entre os vários Estados). Observações a) Há uma diferença entre os conceitos de TECNOLOGIA e de MÉTODO DE PRODUÇÃO. Tecnologia é um inventário dos métodos de produção conhecidos. É o estado das artes. Nesta análise, supõe-se tecnologia dada. Métodos ou Processos de Produção são diferentes combinações dos fatores de produção, a um dado nível de tecnologia. 76 b) Na Teoria Microeconômica, consideramos uma dada eficiência tecnológica (que seria mais uma questão de engenharia), e preocupamo-nos mais com a questão de eficiência econômica. Função de Produção Um dos conceitos mais relevantes, dentro da Teoria da Produção, é o de função de produção. É a relação técnica entre a quantidade física de fatores de produção e a quantidade física do produto em determinado período de tempo. Quantidade produto = f (quantidade fatores) q quantidade produzida/t = f = (N, mão-de-obra utilizada/t K, Capital utilizado/t T ) área utilizada/t Ela supõe eficiência técnica: é a máxima produção possível, a dados níveis de mão-deobra, capital e tecnologia. Existe uma diferença entre os conceitos de função oferta e função de produção: função oferta – conceito “econômico”, pois depende dos preços dos fatores de produção (custos); função de produção - conceito “físico” ou “tecnológico”, pois se refere à relação entre quantidades físicas de produto e de fatores de produção. Distinção entre Fatores de Produção Fixos e Variáveis, e curto e longo prazos Em Microeconomia, a questão do prazo está ligado à existência ou não de fatores fixos. Os fatores de produção fixos permanecem inalterados, quando a produção varia, enquanto, enquanto os fatores de produção variáveis se alteram, com a variação da quantidade produzida. São exemplos de fatores fixos: o capital físico e as instalações da empresa. São exemplos de fatores variáveis: a mão-de-obra e as matérias-primas utilizadas. 77 Define-se curto prazo como período de tempo no qual existe pelo menos um fator de produção fixo: já a longo prazo, para todos os fatores variam. Dessa forma, por exemplo, o curto prazo para uma metalúrgica é maior do que o de uma fábrica de biscoitos, dado que as alterações de equipamentos ou instalações de uma metalúrgica demandam mais tempo que uma fábrica de biscoitos. PRODUÇÃO COM UM FATOR VARIÁVEL E UM FIXO (Análise a curto prazo) Suporemos, por simplificação, apenas dois fatores de produção: mão-de-obra e capital, sendo a mão-de-obra variável, e o capital (equipamentos e instalações) fixo. A função de produção fica: q = f (N) com K fixado Ou seja, o nível do produto varia apenas em função de alterações na mão-de-obra, em curto prazo, coeteris paribus. 78 Conceitos de Produto Total, produtividade Média e Produtividade Marginal Produto Total (PT) È a quantidade total produzida, num determinado período de tempo. PT = q Produtividade Média É a relação entre o nível do produto e a quantidade do fator de produção, num determinado período de tempo. Produtividade Média da Mão-de-Obra: PMen = PT (é o produto por trabalhador) N Produtividade Média do Capital: Pmek = PT K Produtividade Média da Terra: Pmet = PT (sendo T a área cultivada) T Produtividade Marginal É a variação do produto, dada uma variação de uma unidade na quantidade do fator de produção, num determinado período de tempo. Produtividade Marginal da Mão-de-Obra: PMgn = PT = q ou N Produtividade Marginal do Capital: PMgk = PT K Produtividade Marginal da Terra: PMgt = PT T N dq dN = q ou dq K dK = q ou dq T dT sendo dq , dq e dq 79 dN dK dT as derivadas do produto em relação aos insumos, aplicável quando a função de produção é contínua e diferenciável. Observamos que o capital se mantém fixo (10 unidades), o que caracteriza uma abordagem de curto prazo. As variações do produto são devidas exclusivamente às alterações no fator mão-de-obra. Colocando os dados acima em gráficos, teremos: Supondo (isto é, sem curvas contínuas e diferenciáveis “bicos” ou interrupções), podemos fazer: 80 Observamos que, no ponto máximo do produto total PT, a produtividade marginal da Mão-de-obra PMgN, é igual a zero. Antes desse ponto, a produtividade marginal da Mão-deobra é positiva, ou seja, aumentos na absorção de mão-de-obra elevam o produto total. Após o ponto máximo do PT (PMgN = 0), a produtividade é negativa: acréscimos de mão-de-obra diminuirão o produto. Isso ocorre devido à lei dos rendimentos decrescentes. Lei dos Rendimentos Decrescentes O formato da curvas PMgN e PMeN é devido à Lei dos Rendimentos Decrescentes, cujo enunciado é: “Ao aumentar-se o fator variável (N), sendo dada a quantidade de um fator fixo, a PMg do fator variável cresce até certo ponto e, a partir daí, decresce até tornar-se negativa.” Essa lei só é válida se for mantido um fator fixo (portanto, só vale em curto prazo). Ex.: Consideremos a atividade agrícola, tendo como fator fixo à área cultivada, e como fator variável a mão-de-obra. Com o aumento da produção, no início ela cresce substancialmente porque tem poucos trabalhadores. Aumentando o número de trabalhadores, e se a área permanece a mesma, chega-se a um ponto em que a produção continua crescendo, mas a taxas decrescentes, devido ao excesso de trabalhadores. Teoricamente, pode-se chegar a um ponto em que a absorção de mais um trabalhador provocará queda na produção (PMgN negativa). PRODUÇÃO A LONGO PRAZO A análise da produção em longo prazo considera que todos os fatores de produção (mão-de-obra, capital, instalações, matérias-primas) variam. Ou seja, não existem fatores fixos de produção, como em curto prazo. Supondo apenas dois fatores de produção, a mão-de-obra (N) e capital (K), temos a função produção com ambos os fatores variáveis. Essa função de produção pode ser representada por uma curva chamada Isoquanta. 81 Isoquantas de Produção Isoquanta significa igual quantidade, e pode ser definida como sendo uma linha na qual todos os pontos representam infinitas combinações de fatores, que indicam a mesma quantidade produzida. Graficamente, a Isoquanta pode ser assim representada: No gráfico, 1.000 unidades do produto podem ser obtidas por infinitas combinações de insumos: 2 de K com 150 de N- 4 de K com 80 de N, 6 de K com 50 de N etc. Evidentemente, para uma mesma quantidade produzida, se aumentar a quantidade de um fator de produção, a quantidade de outro fator tem que ser reduzida, daí a declividade negativa da Isoquanta. Um conjunto de Isoquantas, cada qual representando um dado nível de produção, representa uma família de Isoquantas, ou mapa de produção. Graficamente temos: Conceito de Rendimentos de Escala ou Economias de Escala Em longo prazo, interessa analisar as vantagens e desvantagens de a empresa aumentar sua dimensão, seu tamanho, o que implica demandar mais fatores de produção. Isto introduz o conceito de rendimentos ou economias de escala. O que acontece com a produção quando variamos igualmente todos os insumos? (portanto, estamos falando de longo prazo). Ou seja, o que acontece, quando aumentamos o tamanho ou escala da empresa? 82 Podemos definir economias de escala tanto do ponto de vista tecnológico, como dos custos (conceito mais “econômico”): Economia de Escala Técnica ou Tecnológica: quando a produtividade física varia, com a variação de todos os fatores de produção. Economia de Escala Pecuniária: quando os custos por unidade produzida variam, com a variação de todos os fatores de produção. Podemos ter rendimentos crescentes, decrescentes ou constantes de escala. Rendimentos Crescentes de Escala Se todos os fatores de produção crescer numa mesma proporção, a produção cresce numa proporção maior. Exemplo: supondo um aumento 10% na quantidade de mão-de-obra e de capital, a produção aumenta em mais de 10%. Significa que as produtividades médias dos fatores de produção aumentaram. Do ponto de vista tecnológico, as economias de escala são devidas as indivisibilidades de produção e à divisão do trabalho. As indivisibilidades na produção referem-se ao fato de que certas unidades de produção só podem ser operadas em condições econômicas a partir de uma produção mínima. Aumentando a escala de operações, a produção pode aumentar mais que proporcionalmente. Empresas siderúrgicas ou do setor automobilístico são mais produtivas, quanto maior a escala de operações. Por outro lado, à medida que a escala aumenta, surge, por exemplo, a possibilidade de operar através de linhas de produção, aproveitando-se das vantagens de especialização do trabalho, que não era possível com as dimensões anteriores da empresa (divisão do trabalho). Do ponto de vista pecuniário, certas operações de pesquisa e “marketing” só são possíveis a partir de certo nível mínimo de produção, quando então não devem implicar aumentos significativos de custos. Por outro lado, grandes empresas têm maiores facilidades de obter empréstimos em condições mais vantajosas junto aos bancos e de recorrer ao 83 mercado de capitais. Além disso, empresas maiores, comprando fatores de produção em maior quantidade, podem obtê-los a preços mais baixos. Rendimentos Decrescentes de Escala Se todos os fatores de produção crescem numa mesma proporção, a produção cresce numa proporção menor. Exemplo: Supondo um aumento de 10% na quantidade de mão-de-obra e de capital, a produção aumenta em 5%. Significa que as produtividades médias dos fatores de produção caíram. Um provável motivo para que ocorra rendimentos decrescentes de escala reside no fato de que a expansão da empresa pode provocar uma descentralização que pode acarretar problemas de comunicação entre a direção e as linhas de produção. O conceito de rendimento decrescente de escala não deve ser confundido com a lei dos rendimentos decrescentes, vista anteriormente. Esta supõe sempre algum fator de produção fixado no processo de produção, (portanto curto prazo), enquanto os rendimentos de escala representam um conceito de longo prazo, onde não há fatores de produção fixos. Rendimentos Constantes de Escala Se todos os fatores crescem numa dada proporção, a produção cresce na mesma proporção. As produtividades médias dos fatores de produção permanecem constantes. CUSTOS DE PRODUÇÃO A teoria da produção prende-se exclusivamente a questões tecnológicas, físicas, entre insumos e produtos. Vejamos agora o lado dos custos de produção, que determinarão a chamada curva de oferta da firma. Observamos como a visão doe economista difere daquela do contador, em particular no que se refere aos custos de oportunidade e custos sociais, incorporados pelos economistas em suas curvas de custos. 84 CUSTOS DE OPORTUNIDADE x CUSTOS CONTÁBEIS Custos Contábeis: envolvem dispêndio monetário. É o explícito, considerado na contabilidade privada. Custos de Oportunidade: são custos implícitos, que não envolvem desembolso. Os custos de oportunidade privados são os valores dos insumos que pertencem à empresa e são usados no processo produtivo. Esses valores são estimados a partir do que poderia ser ganho, no melhor uso alternativo (por isso também são chamados de custos alternativos). Exemplos: a) capital em caixa na empresa: o custo de oportunidade é o que a empresa poderia estar ganhando, aplicando, por exemplo, no mercado financeiro; b) quando a empresa tem prédio próprio, ela deve imputar um custo de oportunidade, correspondente ao que ela recebia se alugasse o prédio. Para o economista, as curvas de custos das firmas deveriam considerar, além dos custos contábeis, os custos de oportunidade, pois assim estariam refletindo a verdadeira escassez relativa (o custo para a sociedade) do recurso utilizado. As empresas públicas, mais que as privadas, costumam utilizar o enfoque do economista para o cálculo das tarifas e preços públicos. AVALIAÇÃO PRIVADA E AVALIAÇÃO SOCIAL – EXTERNALIDADES Avaliação Privada: avaliação financeira, específica da empresa. Avaliação Social: custos (e benefícios) para a sociedade como um todo, derivado da produção das empresas. Por exemplo, quando aumenta a produção automobilística, além dos custos financeiros dessa indústria, devemos considerar também o aumento dos custos sociais, derivados do aumento da poluição sonora e ambiental, além do desgaste das ruas e estradas. Quando aumenta a produção da indústria extrativa de madeira, há perdas ecológicas derivadas do desmatamento. A diferença entre a ótica privada e a social também pode ser chamada de externalidades (ou economias externas), que podem ser definidas como as alterações de 85 custos e benefícios para a sociedade, derivadas da produção das empresas, ou então como as alterações de custos e receitas da empresa, devidas a fatores externos à empresa. Nessa linha, por exemplo, os comerciantes de lustres têm externalidades positivas por se localizarem próximos um do outro; uma indústria química poluidora dos rios impõe externalidades negativas à indústria pesqueira etc. Essa ótica é muito utilizada em avaliação de projetos de investimento, principalmente no setor público. Tornemos como exemplo um projeto de construção de uma hidroelétrica da Companhia Elétrica de São Paulo – CESP. Pela ótica privada (da CESP), o custo a ser considerado é o seu desembolso financeiro no projeto. Isso inclui os gastos com impostos e encargos trabalhistas. Sob a ótica social, impostos e encargos trabalhistas não são custo social, e sim transferências. Deve também ser considerado o impacto negativo sobre o meio ambiente. Comparando-se o custo social com o benefício ou retorno social do projeto (geração de empregos, abastecimento de água), decidi-se se o mesmo deve ou não ser implementado. CUSTOS A CURTO PRAZO Como vimos anteriormente, a curto prazo, alguns fatores são fixos, qualquer que seja o nível de produção. Normalmente, consideramos como fator fixo a planta da empresa, ou equipamentos de capital. CF CV CT CMg CFMe CVMe CTMe 0 50 0 50 - - - - 1 50 50 100 50 50 50 100 2 50 78 128 28 25 39 64 3 50 98 148 20 16,7 32,7 49,3 4 50 112 162 14 12,5 28 40,5 5 50 130 180 18 10 26 36 6 50 150 200 20 8,3 25 33,3 7 50 175 225 25 7,1 25 32,1 8 50 204 254 29 6,3 25,5 31,8 9 50 242 292 38 5,6 26,9 32,4 10 50 300 350 58 5 30 35 11 50 385 435 85 4,5 35 39,5 86 Conceitos de Custo Total, Custo Variável e Custo Fixo Total Custo Variável Total (CVT): parcela do custo que varia, quando a produção varia (por exemplo, salários e matérias – primas). É a parcela dos custos da empresa que depende da quantidade produzida. CVT = f (q) Ou seja, são os gastos com fatores variáveis de produção, como folha de pagamentos, despesas em matérias-primas etc. Custo Fixo Total (CFT): parcela do custo que se mantém fixa, quando a produção varia. Ou seja, são os gastos com fatores fixos de produção, como aluguéis, depreciação etc. CT = CVT + CFT Graficamente: O custo total CT só varia com o custo variável total CVT, que depende da quantidade produzida. Notamos que, até certo ponto, as curvas CT e CVT crescem, mas as taxas decrescentes, para depois crescer a taxas crescentes. Significa que, dada certa instalação, no início, o aumento de produção dá-se a custos declinantes. Mas um aumento maior de produção começa a “saturar” o equipamento de capital (suposto fixo a curto prazo),e os custos começam a crescer a taxas crescentes. No fundo, é a lei dos rendimentos decrescentes do lado dos custos (aqui mais apropriadamente chamada de lei dos custos crescentes). Conceitos de Custo Médio Total, Custo Variável Médio e Custo Fixo Médio Custo Médio (CM ou CTMe) = custos totais = Quant. Produzida CT (ou custo unitário) q Custo Variável Médio (CVMe) = CVT 87 q Custo Fixo Médio (CFMe) = CFT q CTMe = CVMe + CFMe Graficamente: O formato em U das curvas de CTMe e CVMe a curto prazo também se deve à lei dos rendimentos decrescentes, ou lei dos custos crescentes. Inicialmente, os custos médios são declinantes, pois tem-se pouca mão-de-obra para um relativamente grande equipamento de capital. Até certo ponto, é vantajoso absorver mais trabalhadores e aumentar a produção, pois o custo médio cai. Mas chega-se a certo ponto que satura a utilização de capital (que está fixado), e a admissão de mais trabalhadores não trará aumentos proporcionais de produção (ou seja, os custos médios começam a elevar-se). Conceito de Custo Marginal Custo Marginal (CMg) = variação do CT = ∆ CT (ou dCT, em termos de derivada). variação em q ∆q dq é o custo de se produzir uma unidade extra do produto. É a derivada 1ª da curva de custo total. Como ∆CFT = 0, segue que CMg = ∆CVT + ∆CFT = ∆CVT ∆q ∆q ou seja, os custos marginais não são influenciados pelos custos fixos. 88 Relações Gráficas entre o Custo Marginal e os Custos Médios Totais e Variáveis No diagrama a seguir, observamos que a curva de custo marginal corta as curvas de custo total médio e custo variável médio no ponto de mínimo destas. Intuitivamente, se o custo marginal (ou seja, o custo adicional) supera o médio, é evidente que o custo médio crescerá: assim, quando o custo marginal supera o custo médio (total ou variável), significa que o custo médio estará crescendo. Analogamente, se o custo marginal for inferior ao médio, o médio só pode cair. Consequentemente, quando o custo marginal for igual ao custo médio (total ou variável), o marginal estará cortando o médio no ponto de mínimo do custo médio. CUSTO A LONGO PRAZO Como foi visto, o longo prazo é um período de tempo no qual os insumos são variáveis. Não existem custos fixos: todos os custos são variáveis. Deve ser observado que o longo prazo é um horizonte de planejamento. Na verdade, é uma seqüência de curtos prazos: os empresários têm um elenco de situações de curto prazo, com diferentes escalas de produção (tamanhos), que eles podem escolher. Por exemplo, antes de fazer um investimento, a empresa está numa situação de longo prazo: o empresário pode selecionar qualquer uma das alternativas. Depois do investimento realizado, os recursos são convertidos em equipamentos (capital fixo) e a empresa opera em condições de curto prazo. Portanto, um agente econômico opera a curto prazo e planeja a longo prazo. CURVAS DE CUSTO MÉDIO DE LONGO PRAZO (CMeL) Suponhamos três tamanhos ou escalas de produção: 10,15 ou 20 máquinas, e as seguintes curvas de custo médio de curto prazo (CmeC): 89 Se a empresa planeja produzir ao nível de produção q1, não há dúvidas: escolhe a estrutura dada pelos custos CmeC; Se planeja produzir q3, a melhor instalação é dada por CmeC2, pois gastaria menos. Ele pode, se quiser, produzir com CmeC1, mas os custos seriam maiores; Planeja-se produzir q2 ou q4, existem duas alternativas. Esses pontos ficam justamente na intersecção das plantas. Mas, em um planejamento de longo prazo, prevendo-se aumentos futuros de demanda, o empresário deve escolher a planta de instalação maior (em q2, escolheria CmeC2, em q4, CmeC3). A curva “cheia” é a curva de custo médio de longo prazo (CMeL), também chamada “curva envoltória” e mostra o menor custo unitário (CMe) para produzir, a cada tamanho da planta da empresa. Também é chamada de curva de planejamento de longo prazo. Supondo um número ilimitado de possibilidades, uma curva envoltória pode ser assim ilustrada: FORMATO DA CURVA DE CUSTO MÉDIO DE LONGO PRAZO Como vimos, as curvas de CMe de curto prazo têm a forma de U devido á lei dos rendimentos decrescentes, resultante da existência de insumos fixos a curto prazo. A longo prazo, não existem insumos fixos e a forma da curva de CMe de longo prazo (CMeL) é determinada pelas economias ou deseconomias de escala. No início, à medida que a produção se expande, a partir de níveis muito baixos, os rendimentos crescentes (economias) de escala causam o declínio da curva CMeL. Mas, à medida que a produção se torna maior, as deseconomias de escala passam a prevalecer, provocando o crescimento da curva. O ponto A representa a combinação de custo mínimo, ou escala ótima da empresa (tamanho ideal do ponto de vista dos seus custos, para a empresa). Até esse ponto, existem rendimentos crescentes de escala; após o ponto A, temos rendimentos decrescentes (deseconomias de escala). É o ponto onde o CMe de longo prazo é mínimo. 90 Assim, embora as curvas de custo médio de longo e de curto prazo tenham o mesmo formato em U, elas diferem no sentido de que o formato a curto prazo deve-se a lei dos rendimentos decrescentes (ou custos crescentes), a uma dada planta ou tamanho, enquanto o formato da curva de longo prazo deve-se aos rendimentos de escala, quando varia o tamanho da empresa. ESTRUTURAS DE MERCADO Exploramos nos tópicos anteriores os fatores determinantes da oferta e da demanda dos agentes individuais e do mercado. Agora, passaremos a examinar a determinação de preços e produção, sob diferentes condições de mercado. Fundamentalmente, as diferentes estruturas de mercado estão condicionadas por três variáveis principais: número de firmas produtoras no mercado, diferenciação do produto e existência ou não de barreiras à entrada de novas empresas. No mercado de bens e serviços, as formas de mercado são as seguintes: a) concorrência perfeita: número infinito de firmas, produto homogêneo, e não existem barreiras à entrada de firmas; b) monopólio: uma única empresa, produto sem substitutos próximos, e existem barreiras à entrada de novas firmas; c) concorrência monopolística (ou imperfeita): inúmeras empresas, produto diferenciado, livre acesso de firmas ao mercado; d) oligopólio: pequeno número de empresas que dominam o mercado, produtos homogêneos ou diferenciados, existem barreiras à entrada de novas empresas. Similarmente, o mercado de fatores de produção, as formas de mercado são concorrência perfeita, imperfeita, monopsônio e oligopsônio. Objetivo da Firma 91 Dentro da chamada teoria neoclássica ou marginalista, o objetivo da firma é sempre maximizar o lucro total. A maximização do lucro total corresponde à produção em que: Receita Marginal (RMg) = Custo Marginal (CMg) Ou ∆RT = ∆CT ∆q ∆q Afinal, se a empresa aumenta a produção, e a receita adicional (RMg) for maior que o custo adicional (CMg), o lucro estará aumentando (portanto, não estará em equilíbrio); se a receita adicional for menor que o custo adicional, o lucro estará caindo (ou o prejuízo aumentando). Parece claro que o equilíbrio então se dará apenas no ponto onde a RMg iguala CMg. Especificamente para o caso de oligopólios, tem surgido na literatura uma série de modelos alternativos. Um dos mais difundidos prevê eu a firma objetiva maximizar mark up, definido como margem sobre os custos diretos, ou seja, Mark up = Receita de Vendas – Custos Diretos Essa margem deve ser tal que cubra, além dos custos diretos (ou variáveis) os custos fixos e a parcela desejada de lucro da empresa. Na verdade, como os mercados oligopolizados não apresentam um padrão geral e uniforme, têm surgido modelos mais próximos das teorias administrativas, mais adequadas para explicar o comportamento de empresas específicas. Os oligopólios são bastante diferentes um do outro: com produtos homogêneos ou com produtos diferenciados, com poucas empresas, ou com muitas empresas, mas poucas liderando, formam cartéis ou então competem nos preços e etc. Praticamente, cada caso, razão pela qual tem-se recorrido às teorias de empresas. A teoria neoclássica ainda preserva a vantagem de ser a teoria mais geral, com razoável poder preditivo e formalmente rigoroso. Para estruturas de mercado concorrenciais, é bastante adequada. Nota-se, entretanto, grande avanço nas teorias alternativas, que são bem 92 mais recentes, e ainda não estão consolidadas. Os críticos dessas teorias alternativas consideram-nas “ad hoc”, isto é, mais descritivas do que analíticas, não fornecendo instrumentos adequados para o planejamento da empresa. Por outro lado, os críticos da teoria neoclássica consideram-na distante do mundo real, muito abstrata. MERCADO EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Hipóteses do Modelo São hipóteses bastante conhecidas na literatura econômica. Como veremos, elas refletem o funcionamento de um mercado completamente livre, sem barreiras e totalmente transparente. a) Hipótese da atomicidade (mercado atomizado). É um mercado com infinitos vendedores e compradores (como "átomos”), de forma que um agente isolado não tem condições de afetar o preço de mercado. Assim, o preço de mercado é um dado fixado para empresas e consumidores (são price-takers, isto é, tomadores de preços no mercado). b) Hipótese da homogeneidade (produto homogêneo). Todas as firmas oferecem um produto semelhante, homogêneo. Não há diferenças de embalagem, qualidade nesse mercado. c) Hipótese da mobilidade de bens (não existem custos de transporte). Existe completa mobilidade de produtos entre regiões. Ou seja, não existem custos de transporte; o consumidor de Matão paga a mesma coisa que o d Capital. Enfim, não considera a localização espacial de vendedores e consumidores. d) Hipótese da mobilidade de firmas (livre entrada e saída de firmas e compradores de mercado). Mercado sem barreiras à entrada e saída, tanto de compradores, como de vendedores. e) Hipótese da racionalidade. Os empresários sempre maximizam lucro e os consumidores maximizam satisfação ou utilidade derivada do consumo de um bem. 93 Ou seja, os agentes agem racionalmente (é chamado Princípio da Racionalidade ou do Homo Economicus). f) Transparência de mercado. Consumidores e vendedores têm acesso a toda informação relevante sem custos, isto é, conhecem os preços, a qualidade, os custos, receitas e lucros dos concorrentes. g) Inexistência de externalidades. Como vimos anteriormente, externalidades (ou economias externas) representam influências de fatores externos nos custos das firmas e na satisfação dos consumidores. No modelo de concorrência perfeita, supõe-se que não existam externalidades, ou seja, nenhuma firma influi no custo das demais e nenhum consumidor afeta o consumo dos demais. h) Hipótese de divisibilidade. É uma hipótese de trabalho, não essencial, mas que auxilia a compreensão do funcionamento do modelo. Corresponde a trabalharmos com curvas contínuas e diferenciáveis e com os conceitos marginalistas (Receita Marginal, Custo Marginal, Produtividade Marginal, Utilidade Marginal). i) Mercado de fatores de produção também em concorrência perfeita. Eqüivale a dizer que os preços dos fatores de produção são fixados, dados. Ou seja, todas as firmas se deparam com idênticas curvas de custos. Todas as hipóteses anteriores, de a a h, também valem para o mercado de fatores de produção. Como podemos observar, são hipóteses “ideais”, refletindo um mercado sem barreiras, sem interferências, enfim, pouco realistas. Mas essas hipóteses representam uma base, um referencial, para a construção de modelos mais próximos da realidade. Do ponto de vista metodológico é mais útil construir inicialmente modelos simples e depois preencher os detalhes, do que construir diretamente modelos com todos os detalhes da realidade, que é muito complexa, e pode encobrir algumas relações básicas. Funcionamento do Modelo de Concorrência Perfeita 94 Curvas de Demanda de Mercado e da Firma Individual Dada a hipótese da atomicidade, uma firma isolada não consegue alterar o preço de mercado (a sua saída, por exemplo, traria uma alteração apenas infinitesimal na curva de oferta de mercado Si, não afetando o preço P0). Como P0 é preço de venda para a firma, então a curva de demanda é dada para a firma, ou seja, é horizontal. A firma só pode vender a esse preço, pois: - se quiser vender a um preço mais alto, não venderá nada (como os produtos são homogêneos, os consumidores comprarão mais barato das outras empresas); - se venderá a um preço mais baixo. Fere o princípio da racionalidade: se ao preço Po vende quanto quer, por que vender mais barato? Assim, ao preço Po, a firma vende quanto puder, dependendo do seu tamanho e da sua estrutura de custos. Dessa forma, a curva de demanda de mercado (com a qual se defrontam todas as firmas) é negativamente inclinada, mas a curva de procura para a firma é infinitamente elástica: se ocorrer variação de preço de mercado, a firma deve ajustar a quantidade, pois não consegue fixar preços). A firma é uma tornadora de preços. Curvas de Receita da Firma Receita Total (RT): é o total de receita da firma, o faturamento total. RT = preço unitário de venda x quantidade vendida. RT = pq Receita Média (RMe): receita por unidade de produto vendida, ou receita unitária RMe = RT q Rme = p . q = p ... RMe = p q 95 Portanto, a RMe é sempre igual ao preço unitário de venda. Por outro lado, como o preço Po é a própria demanda da firma individual, a RMe é a própria curva de demanda da firma individual (afinal, a RMe mostra o que o consumidor compra, a dados preços, ou seja, a própria demanda). Em concorrência perfeita, a RMe é fixa, pois P0 é constante. Receita Marginal (RMg): é a variação da receita total, quando varia a quantidade vendida; ou seja, a receita extra, quando se vende uma unidade a mais. RMg = ∆pq = dpq = p ∆q dq dq =1 + q dp =0 = p ... RMg = p dq dq ( dp = o porque p é constante, e derivada de uma constante é zero) dq Portanto: Em concorrência perfeita, a receita marginal é o preço recebido pela unidade adicional vendida. Então, a RMg é igual ao preço, e é fixada (pois o que se ganha de receita adicional é constante). Curvas de Custos As curvas de custos são as mesmas já vistas anteriormente, na teoria dos custos de produção. 96 Equilíbrio da Firma em Concorrência Perfeita (a curto prazo) Supõe-se que o empresário racional tenha sempre por objetivo último maximizar lucros. Vejamos, então, qual a quantidade ótima para a firma, ou seja, a quantidade que maximiza o lucro da empresa. Mostraremos que a regra para a firma maximizar lucros é dada por: RMg = CMg, sendo CMg crescente Corresponde ao ponto X do gráfico a seguir, ou seja, ao nível de produção qo Sabemos que o empresário racional sempre aumentará a produção, quando isso significa maior lucro. Então, se: receita adicional > custo adicional, o lucro marginal aumenta e a quantidade deve ser aumentada, pois o lucro aumentará. receita adicional < custo adicional, a quantidade q não será aumentada, pois o lucro cairá (ou o prejuízo aumentará). Portanto, no equilíbrio: RMg = CMg temos a quantidade ótima². Entretanto, como normalmente a curva de CMg tem formato em U, existem dois pontos onde RMg = CMg (X e Y, no gráfico): 97 Falta provar que a maximização, de lucros dá-se no ponto X, com CMg crescente. Vamos mostrar isso graficamente. q1 : RMg = 60 CMg = 80 q2 : RMg = 60 CMg = 60 Nestes três pontos, com custo marginal decrescente, é vantajoso aumentar a produção, pois a RMg é constante, mas os custos são decrescentes (então os lucros marginais são q3 : RMg = 60 crescentes). CMg = 30 Por isso, o ponto q2, embora RMg + CMg, ainda não é o máximo lucros O CMg é crescente, mas ainda é possível aumentar um q4 : RMg = 60 CMg = 40 pouco mais a produção até CMg = RMg. q5 : RMg = 60 CMg = 60 Na produção q5, tem-se o máximo lucro. Não deve aumentar mais a produção, pois o CMg é q6 : RMg = 60 CMg = 100 crescente (e RMg fixa), o que significaria lucros menores, a partir de q5. 98 Portanto, a produção ótima para a firma ocorre no ponto q5 , onde RMg = CMg, com CMg crescente. No ponto q2, também RMg = CMg mas o CMg é decrescente. Mostraremos mais adiante que esse é um ponto de prejuízo máximo. Áreas de lucro total, receita total e custo total O gráfico anterior mostra as áreas LT, RT e CT em termos de curvas médias e marginais. Essas áreas também podem ser visualizadas em termos de curvas totais, como a seguir. A curva de Receita Total (RT) é uma reta que parte da origem, no modelo de concorrência perfeita. Sua declividade é constante, e é própria receita marginal (RMg) que é o próprio preço p0. 99 Curva de oferta da firma em concorrência perfeita Provemos que “a curva de oferta da firma em concorrência perfeita é o ramo crescente da curva de custo marginal, a partir do ponto em que o custo marginal é maior do que o custo variável médio mínimo”. Ou seja, a curva da oferta da firma é o CMg, a partir do ponto A, no gráfico a seguir, onde CVMe é mínimo. Mostraremos primeiro por que a curva de oferta é o próprio ramo crescente do CMg. Depois, mostraremos por que ela é definida apenas após o CVMe mínimo. Por que é a curva de CMg? A resposta é que essa curva reflete a resposta das firmas, quando o preço de mercado aumenta, ou seja, reflete o aumento de q, quando p varia (isso é oferta: variação da quantidade produzida q, quando p aumenta). quando o preço é p0 , a firma oferece q0 (que maximiza seu lucro, a p0); quando o preço é p1 , a firma oferece q1 (que maximiza seu lucro, a p1); quando o preço é p2 a firma oferece q2 (que maximiza seu lucro, a p2); Como a firma maximiza lucros apenas no ramo crescente do CMg, então a curva de oferta da firma em concorrência perfeita é o ramo crescente da curva de CMg, dado que as reações da firma, em relação a variações de preços, dão-se nesse trecho da curva. Por que apenas após o CVMe mínimo? Porque o preço mínimo para que a firma produza alguma coisa ocorre quando: p = CVMe mínimo 100 Em termos totais (multiplicando ambos os membros por q), temos: p . q = CVMe x q RT = CVT Abaixo desse ponto, a firma deve fechar as portas. Para provar isso, suponhamos três situações distintas, com três preços de mercado diferentes. a) p > CTMe (RT > CT) É a situação normal, com lucros extraordinários (região hachurada). b) p < CTMe, mas p > CVMe (RT < CT, mas RT > CVT). Nesta situação, a firma apresenta um prejuízo (área hachurada), mas ela não deve fechar as portas, pois assim teria que pagar todos os custos fixos (aluguel, parcelas de compra do equipamento e etc). Assim, se fecha, paga todo CFT. Se continuar, ela pode pagar todos os custos variáveis (salários, matérias-primas) e uma parte dos custos fixos. Como é uma situação de curto prazo, a firma deve esperar por dias melhores, com preços mais vantajosos. c) p = CVMe mínimo (RT=CVMe) 101 Neste caso, o prejuízo é o mesmo, fechando a empresa ou continuando a operar. Mas como já investiu no ramo, tem freguesia etc., deve continuar, esperando melhorar o mercado. d) p < CVMe mínimo (RT < CVT) Nesta situação, se continuar operando, a firma não conseguirá pagar nem os custos variáveis. Perderá menos parando a produção. Se a previsão é que a situação perdure, a empresa deve fechar as portas. Assim, uma firma em concorrência perfeita só opera quando o preço de mercado supera pelo menos os custos variáveis (principalmente salários). Conclui-se, então que a curva de oferta da firma em concorrência perfeita é o ramo crescente da curva de CMg, após o CVMe mínimo. Equilíbrio de Longo Prazo de uma Firma em Concorrência Perfeita Como sabemos, a longo prazo não existem custos fixos, ou seja, todos os custos são variáveis (salários, aluguéis, etc.) Portanto: CT = CVT ou CTMe = CVMe Posto isto, cabe uma diferenciação entre lucros “extraordinários” e lucros “normais”. Nas curvas de custos vistas até agora está embutida a remuneração do empresário. Essa remuneração pode ser medida pelo custo de oportunidade, ou seja, o que ele receberia se 102 tivesse empregado seus recursos em outra atividade. Isso é chamado de lucro normal, o que reflete o real custo de oportunidade da atividade empresarial. É uma espécie de taxa de rentabilidade média no mercado. O que exceder esse custo é chamado de lucro extraordinário: o empresário recebe mais do que deveria receber, de acordo com seu custo de oportunidade. Como os economistas consideram também os custos de oportunidade (custos “implícitos”), as curvas de custos vistas até agora já têm embutido o lucro normal. Nesse sentido, o lucro que vimos nos tópicos anteriores já é o lucro extraordinário (LT = RT – CT). Em concorrência perfeita, supõe-se que os lucros extraordinários a curto prazo atraem novas empresas para esse mercado (pelas hipóteses de transparência de mercado- todos sabem que o mercado apresenta lucros extraordinários – e livre acesso de firmas). Dessa forma, a longo prazo a tendência é de que os lucros extras tendem a zero, existindo apenas lucros normais. Graficamente: No gráfico, a entrada de mais firmas desloca a curva de oferta gradativamente para a direita, de S0 para S2, provocando uma queda no preço de mercado (po para p 2). Quando o preço chega a P2, cessam os lucros extraordinários, pois no ponto (p2, q2 ), RT = CT (RMe = CTMe) e LT = 0. Esse ponto corresponde ao mínimo da curva de custo médio de longo prazo (escala ou tamanho ótimo da empresa). Resumindo: a longo prazo, em concorrência perfeita, só existem lucros “normais”. É interessante apontar nesta altura outra diferença entre o enfoque econômico e o contábil - financeiro. Neste último não aparece o conceito de custo de oportunidade, e, portanto de lucro normal. Quando RT=CT, o lucro contábil é zero (embora exista lucro no 103 sentido econômico) e esse ponto é chamado de “break-even point”, a partir do qual a firma passa a operar com lucro. Trata-se de um conceito mais utilizado na área contábil e financeira de empresas, do que por economistas. MONOPÓLIO Hipótese do Modelo a) Uma única empresa produz um produto sem substitutos próximos. b) Existem barreiras à entrada de firmas concorrentes. Essas barreiras podem ocorrer de várias formas: Proteção de patentes (direito único de produzir o bem) Exemplo: xerox; Controle dobre o fornecimento de matérias-primas chaves Exemplo: A ALCOA detinha quase todas as minas de bauxita nos USA (matériaprima do alumínio); Tradição Exemplo: mercado de relógios: os japoneses precisaram investir muito dinheiro, durante muito tempo, para concorrer com a tradição dos relógios suíços. Monopólio puro ou natural, devido à eficiência da firma. A firma já existe em grandes dimensões, opera com baixos custos. Torna-se muito difícil alguma empresa conseguir oferecer o produto a um preço equivalente à firma monopolista. Uma hipótese implícita no comportamento do monopolista é que ele não acredita que os lucros elevados que obtém a curto prazo possam atrair concorrentes, ou que os preços elevados possam afugentar os consumidores (por isso precisa ser um produto sem substitutos próximos). Funcionamento do Modelo de Monopólio Curva de demanda do monopolista Como se trata de uma única firma tem-se que: Demanda para a indústria = demanda para a empresa 104 Portanto, Assim, se o monopolista resolver oferecer mais, o preço cairá, se produzir menos, o preço subirá. Nesse sentido, o monopolista tem o controle do preço de mercado, que depende de quanto ele resolve produzir. Curvas de Receita Média e Receita Marginal Receita Média (RMe) = Receita Total = RT = p x q = p Quant. Produzida q q RMe = p Ou seja, a RMe é o próprio preço de mercado: é o que o consumidor paga em cada unidade do produto. Então, é a própria demanda de mercado. Receita Marginal (RMg) = ∆ Receita Total = ∆RT ∆ Quant. Produzida ∆q RMg = ∆RT ∆q Em concorrência perfeita, vimos que RMg = RMe = p. Em monopólio, a RMg é diferente da RMe. Isso porque a quantidade adicional é vendida a um preço mais baixo que as quantidades anteriores. Exemplo: 105 Quando a quantidade vendida aumenta 10 para 11, a RMg é igual a RMg = 1.275 da décima primeira unidade – 750 que se perdeu nas dez primeiras unidades. (Só vende 11 unidades, se o preço for mais baixo do que para 10 unidades). Prova-se que a RMg corta o eixo das abcissas na metade do corte da RME (ver Apêndice Matemático). Relação entre as curvas RMe, RMg e RT em Monopólio Tínhamos visto anteriormente, quando discutimos elasticidade - preço da demanda,q eu há uma relação entre a receita total (RT) e a elasticidade –preço da demanda (Epp): * Demanda elástica: * Demanda inclástica: se p q se p q RT se p q se q p RT RT RT Sabendo-se, ainda, que: a RMg é a derivada da RT, no máximo da RT, RMg = 0, RMg corta o eixo das abcissas na metade do corte da RMe, Temos, graficamente: 106 Custos de Produção do Monopolista Podemos considerar que a estrutura de custos do monopolista não difira em essência daquela observada no modelo de concorrência perfeita. Equilíbrio de curto prazo de uma empresa monopolista Também ocorre onde RMg = CMg, como em concorrência perfeita, mas não necessariamente no ramo crescente do CMg (a receita marginal pode cortar duas vezes a curva de custo marginal em seu ramo descendente, e mesmo assim o monopolista aufere lucro). Primeiro determinamos o ponto onde RMg = CMg, que é a produção que maximiza o lucro (qo). Depois, vemos qual o custo de produção para produzir qo na curva CMe e qual a receita quando se vende qo, na curva RMe. O lucro é igual ao retângulo CMe0, RMe0. A.B. 107 Em termos de curvas totais, o diagrama fica: Como podemos observar, nunca a posição de máximo lucro do monopolista pode estar na faixa inelástica da demanda. Isso porque o ponto de máximo lucro ocorre quando RMg = CMg. Como CMg é sempre positivo, a RMg que iguala o CMg também é positiva. E a RMg é positiva apenas na faixa elástica da demanda (ver novamente o gráfico do item 4.2.3). Curva de Oferta de uma firma monopolista No penúltimo gráfico (em termos de curvas médias e marginais) notamos que não há relação biunívoca entre quantidade produzida e preço de venda do produto. Para uma dada produção, podemos Ter diferentes preços, dependendo da curva de demanda. Ou seja, determinado q0 temos apenas um ponto em cima da curva de demanda correspondente ao preço de venda p0,. Se a demanda fosse maior, o preço seria maior, para o mesmo q0 . Então, a firma monopolista não tem curva de oferta. Não tem uma curva que mostre uma relação estável entre preços de venda e quantidade produzida. A oferta é um ponto único sobre a curva de demanda. O gráfico a seguir deixa esse ponto mais claro. O CMg intercepta RMg no mesmo ponto A, supondo duas curvas de demanda diferentes. Assim, temos uma quantidade q0 igual nas duas situações, mas dois preços (p0 e p1). Então, não é possível estabelecermos uma relação bem definida entre preços e quantidades ofertadas pelo monopolista, como em concorrência perfeita (onde a demanda da firma é uma constante e RMe = RMg). 108 Equilíbrio de longo prazo de uma firma monopolista Como existem barreiras à entrada de novas firmas, dificilmente o monopólio será quebrado, o que permitirá a persistência de lucros extraordinários também a longo prazo (área hachurada). 109 EXERCÍCIOS: Trabalho I - Comportamento do Consumidor Nome:______________________________________________ 1. Suponha um estudante que está se preparando para os exames finais e tenha somente seis horas de tempo disponível para estudar. Sua meta é obter a maior média possível em três matérias: economia, matemática e estatística. Ele deve decidir como alocar seu tempo entre as matéria. Desta forma, nas melhores estimativas que ele pode fazer, sua nota em cada matéria dependerá do tempo a ela dedicado, de acordo com a seguinte tabela: Economia Matemática Estatística Hrs. Estudo Nota Hrs. Estudo Nota Hrs. Estudo Nota 0 20 0 40 0 80 1 45 1 52 1 90 2 65 2 62 2 95 3 75 3 71 3 97 4 83 4 78 4 98 5 90 5 83 5 99 6 92 6 86 6 99 Como deveria o estudante alocar seu tempo? Como você obteve a resposta? 2. A tabela abaixo nos dá uma relação individual da utilidade marginal para as mercadorias X e Y. Suponha que X e Y sejam as únicas mercadorias disponíveis (o preço de X e Y é um real) e a renda individual seja de 8 reais por período de tempo, sendo que ele gasta toda. Indicar como o indivíduo pode gastar sua renda maximizando sua utilidade total. a) ( ) Qual a quantidade total de utilidade recebida pelo indivíduo quando no equilíbrio? b) ( ) Estabeleça matematicamente a condição de equilíbrio para este consumidor? Q 1 2 3 4 5 6 7 8 Total Umgx 11 10 9 8 7 6 4 4 60 Umgy 19 17 15 13 12 10 6 6 100 110 3. A tabela abaixo nos dá uma relação individual da utilidade marginal para as mercadorias X e Y. Suponha que X e Y sejam as duas únicas mercadorias disponíveis e o preço de X = 2 e o preço de Y = 1. A renda individual igual a 12 reais e é completamente gasta. a) ( ) Indicar como o indivíduo pode gastar sua renda maximizando sua utilidade total? b) ( ) Qual a quantidade total de utilidade recebida pelo indivíduo quando no equilíbrio? Estabeleça matematicamente a condição de equilíbrio para este consumidor? Q 1 2 3 4 5 6 7 8 Total Umgx 16 14 12 10 8 6 4 2 72 Umgy 11 10 9 8 7 6 5 4 60 4. Se o consumidor está abaixo da linha orçamentária (ao invés de sobre ela), o consumidor: a) ( ) não está gastando toda a sua renda b) ( ) está gastando toda sua renda c) ( ) pode estar ou não gastando toda sua renda d) ( ) está em equilíbrio 5. No equilíbrio, a inclinação da curva de indiferença é: a) ( ) igual à inclinação da linha orçamentária b) ( ) maior do que a inclinação orçamentária c) ( ) menor do que a inclinação da linha orçamentária d) ( ) igual, maior ou menor que a inclinação da linha orçamentária. 6. A tabela abaixo dá pontos de quatro curvas de indiferenças diferentes para um consumidor. a) ( ) Fazer, no mesmo gráfico, as curvas de indiferenças I, II, III e IV b) ( ) O que as curvas de indiferenças mostram? I II III IV Qx Qy Qx Qy Qx Qy Qx Qy 2 13 3 12 5 12 7 12 3 6 4 8 5,5 9 8 9 4 4,5 5 6,3 6 8,3 9 7 5 3,5 6 5 7 7 10 6,3 6 3 7 4,4 8 6 11 5,7 7 2,7 8 4 9 5,4 12 5,3 111 7. Suponha que o preço da mercadoria Y seja = 1,00 por unidade enquanto que o preço da mercadoria X seja = 2,00 por unidade e ainda, que a renda do indivíduo, seja de 16 unidades monetárias e sempre gastas em X e Y. a) ( ) Desenhe a linha de restrição orçamentária para este consumidor b) ( ) Explique a razão da forma e as propriedades desta linha 8. Se a preferência do consumidor é dada pelas curvas de indiferença do problema 6 e sua renda e preço limitados pela linha orçamentária do problema 7. a) ( ) Calcule geometricamente o ponto no qual o consumidor está em equilíbrio b) ( ) Explique por que este é o ponto de equilíbrio; o que se conclui a respeito da inclinação da curva de indiferença e da linha orçamentária no equilíbrio? 9. O que é a taxa marginal de substituição? 10. O que é Utilidade Marginal? 11. O que é excedente do consumidor? 112 Trabalho II - Exercícios de Demanda Nome:______________________________________________ 1. Dados: Qx = 20 = 20 – 2 Px + 2 Py + 10 R pede-se: a) ( ) O bem Y é complementar ou substituto de X? Por quê? b) ( ) O bem X é normal ou inferior? Por quê? 2. Dados: Qx = 200 – 2 Px – 1 Py – 5 R, pede-se a) ( ) O bem x é normal ou inferior? Por quê? b) ( ) O bem y é complementar ou substituto a x? Por quê? 3. Assinale a alternativa correta a) ( ) A curva de procura mostra como variam as compras dos consumidores, quando variam os preços. b) ( ) Quando varia o preço de um bem, coeteris paribus, varia a demanda c) ( ) A demanda depende basicamente do preço de mercado. As outras variáveis são menos importantes e supostas constantes d) ( ) A quantidade demanda varia inversamente ao preço do bem, coeteris paribus e) ( ) Nenhuma das respostas anteriores. 4. Assinale os fatores mais importantes que afetam as quantidades procuradas: a) ( ) Preço e durabilidade do bem b) ( ) Preço do bem, renda do consumidor, custos de produção c) ( ) Preço do bem, preços dos bens substitutos e complementares, renda e preferência do consumidor. d) ( ) Renda do consumidor, custos de produção e) ( ) Preço do bem, preços dos bens substitutos e complementares, custos de produção, preferência dos consumidores 5 - Dada a função demanda de x: Dx = 30 – 0,3 Px + 0,7 Py + 1,3 R sendo Px e Py os preços dos bens X e Y, e R a renda dos consumidores, assinale a alternativa correta: a) ( ) O bem X é um bem inferior, e X e Y são bens complementares b) ( ) O bem Y é um bem normal, e X e Y são bens substitutos c) ( ) Os bens X e Y são complementares, e X é um bem normal d) ( ) Os bens X e Y são substitutos, e X é um bem normal e) ( ) Os bens X e Y são substitutos, e X é um bem inferior 113 Trabalho III - Exercícios de Oferta Nome:______________________________________________ 1. Supondo o preço do bem no eixo vertical e a quantidade ofertada no eixo horizontal, podemos afirmar que, coeteris paribus: a) ( ) A curva de oferta se desloca para a esquerda quando o preço do bem aumenta b) ( ) A curva de oferta se desloca para a esquerda quando o preço do bem cai c) ( ) A curva de oferta se desloca para a direita quando aumentam os custos de produção d) ( ) A quantidade ofertada aumenta quando o preço do bem aumenta, coeteris paribus e) ( ) Todas as alternativas estão corretas 2. Para fazer distinção entre oferta e quantidade ofertada, sabemos que: a) ( ) A oferta se refere a alterações no preço do bem: e a quantidade ofertada, as alterações nas demais variáveis que afetam a oferta. b) ( ) A oferta se refere a variações a longo prazo; e a quantidade ofertada, a mudança de curto prazo c) ( ) A quantidade ofertada só varia em função de mudanças no preço do próprio bem, enquanto a oferta varia quando ocorrer mudanças nas demais variáveis que afetam a oferta do bem. d) ( ) Não há diferença entre alterações na oferta e na quantidade ofertada e) ( ) Nenhuma das respostas anteriores é correta. 3. Assinale o fator que não provoca deslocamento da curva de oferta de um bem. a) ( ) Alteração no preço do próprio bem b) ( ) Alteração nos custos de produção c) ( ) Alteração no preço de um bem substituto na produção d) ( ) Alteração nos objetivos do empresário e) ( ) Alterações na tecnologia de produção do bem 114 4. A curva de oferta de uma industria a) ( ) É obtida das curvas de oferta das firmas individuais, que estão realizando lucros e por isso dispostas a vender seu produto b) ( ) Será a mesma a curto e longo prazo c) ( ) É independente das decisões das firmas individuais na industria d) ( ) É a soma das curvas de oferta das firmas individuais na indústria e) ( ) É provavelmente menos inclinada a curto prazo do que a longo prazo 115 Trabalho IV – Equilíbrio de Mercado Nome:______________________________________________ 1. Dados: Qx = 22 – 3 Px (função demanda) Qx = 10 + 1 Px (função oferta) a) Determinar o preço de equilíbrio e a respectiva quantidade. b) Se o preço for R$ 4,00, existe excesso de oferta ou demanda? Qual a magnitude desse excesso? 2. Dados: Qx = 2 – 0,2 Px + 0,03 R Qx = 2 + 0,1 Px e supondo a renda R = 100, pede-se: a) Preço e quantidade de equilíbrio do bem X. b) Supondo um aumento de 20% da renda, determinar o novo preço e quantidade de equilíbrio do bem X. 3. Dado o diagrama abaixo, representativo no mercado do bem X, assinale a alternativa correta. a) ( ) Tudo o mais constante, o ingresso de empresas produtoras no mercado do bem X provocaria elevação do preço de equilíbrio do bem X. b) ( ) O mercado do bem X é caracterizado por concorrência perfeita. c) ( ) Tudo o mais constante, um aumento da renda dos consumidores provocaria um aumento no preço de equilíbrio do bem X, se este for inferior. d) ( ) Tudo o mais constante, a diminuição do preço do bem Y, substituto do bem X, levará a um aumento do preço de equilíbrio de X. 4- Assinale a alternativa correta, coeteris paribus: a) ( ) Um aumento da oferta diminui o preço e aumenta a quantidade demandada do bem. b) ( ) Uma diminuição da demanda aumenta o preço e diminui a quantidade ofertada e demandada do bem. c) ( ) Um aumento da demanda aumenta o preço e diminui a oferta do bem. d) ( ) Um aumento da demanda aumenta o preço, a quantidade demandada e a oferta do bem. e) ( ) Todas as respostas anteriores estão erradas. 116 5. O que acontece com o preço e quantidade de equilíbrio quando aumentam os custos de produção de um bem qualquer. a) ( ) O preço sobe e a quantidade cai. b) ( ) O preço cai e a quantidade aumenta. c) ( ) Preço e quantidade caem. d) ( ) Preço e quantidade sobem. 6– Diga o que acontece com a Curva de Oferta, com a Curva de Demanda, com o Preço do bem X, com a Quantidade Demandada do Bem X. a) Preço do Bem Concorrente? b) Preço do Bem Complementar? c) Renda dos Consumidores Aumenta, se Bem é Normal? d) Preço do Próprio Bem? e) Preço dos |Outros Bens sobe? f) Preço da Mão de Obra diminui? g) Preço do Próprio Bem diminui? 117 Trabalho V - Elasticidade Nome:______________________________________________ 1- Se a curva de procura de um tipo em que a redução de 10% no preço provoca um aumento de 5% na quantidade de mercadoria que o público adquire, nesta região da curva, a procura, em relação ao preço será: a) ( ) Elástica b) ( ) Unitariamente elástica c) ( ) Infinitamente elástica d) ( ) Inelástica, embora não perfeitamente e) ( ) Totalmente inelástica ou anelástica 2 – Calcular o coeficiente de elasticidade cruzada entre a procura dos produtos A e B, em certa localidade, sabendo-se que toda vez que há um acréscimo de 10% no preço de um, a sua quantidade procurada diminui 8% enquanto a quantidade procurada do outro, se o preço permanece constante, aumenta 10%. O coeficiente será igual a: 3 – Uma curva de demanda retilínea possui elasticidade- preço da procura igual a 1: a) ( ) Em todos os pontos. b) ( ) Na interseção com o eixo dos preços. c) ( ) Na intersecção com o eixo das quantidades d) ( ) No ponto médio do segmento e) ( ) N.r.a. 4 – Uma curva de procura se exprime P = 10 – 0,2 Q. O mercado se encontra em equilíbrio ao preço de P = 2. O preço varia P = 2,04 e tudo o mais mantido constante, a quantidade s equilibra em Q = 39,8. Qual é a elasticidade – preço da demanda ao preço usual de mercado? 118 5 – Se uma empresa quer aumentar seu faturamento e a demanda do produto é elástica, ela deve: a) ( ) Aumentar o preço b) ( ) Diminuir i preço c) ( ) Deixar o preço inalterado d) ( ) Depende do preço do bem complementar e) ( ) Depende do preço do bem substituto 119 Trabalho VI - Atuação do Setor Público na Microeconomia Nome:______________________________________________ 1 – Quando falamos em incidência de um imposto, estamos: a) ( ) Referindo-nos no grupo que realmente paga o imposto ao governo, independentemente de o ônus ser, ou não, transferido para outro grupo qualquer. b) ( ) Medindo o ponto até o qual o imposto tende a reduzir os incentivos entre o grupo que o paga. c) ( ) Referindo-nos ao grupo que realmente paga a conta fiscal, não importando se é ele, ou não, que recolhe o dinheiro aos cofres públicos. d) ( ) Perguntando se o imposto em questão é progressivo ou regressivo. e) ( ) Perguntando se o imposto em questão é direto ou indireto. 2 – Para uma indústria em concorrência perfeita, a oferta do produto é dada por Qs = 3P – 2. Se a demanda for dada por Qd = 100 – 10P, a imposição de um tributo específico de 2,00 por unidade transacionada fará com que o preço de equilíbrio seja: 3 – Dadas as curvas de oferta e demanda Qs = P e Qd = 300 – 2P o preço de equilíbrio, após um imposto específico de 15 por unidade, é igual a: 4 – Com os dados da questão anterior, a arrecadação total do governo, após o imposto, é igual a 5 – Ainda com os dados da questão 3, a parcela da arrecadação paga pelo consumidor é igual a: 6 – Quanto maior a elasticidade – preço de demanda: a) ( ) Maior a receita total do governo, com a fixação de um imposto ad valorem. b) ( ) Menor a receita total do governo, com a fixação de um imposto específico. c) ( ) Maior a parcela do imposto paga pelos consumidores d) ( ) Os produtores transferem todo o ônus do imposto aos consumidores. e) ( ) Maior a parcela do imposto paga pelos vendedoreEXERCÍCIO 120 Trabalho VI - Concorrência Perfeita Nome:______________________________________________ 1 – Em concorrência perfeita, a curva de oferta de uma firma individual será dada: 2 – Em monopólio, a curva de oferta será dada: 3 – Em concorrência perfeita, a curto prazo, a firma não produz abaixo do ponto mínimo de qual curva? 4 – Se o custo marginal exceder a receita marginal, no intervalo em que o custo marginal é crescente, a firma deve: 5 – Em concorrência perfeita, uma firma estará em equilíbrio de curto prazo no nível de produção onde: 6 – Dados CT = 1 + 2Q + 3Q2 P = 20 pede-se: a) Qual a quantidade que maximiza o lucro; b) Qual o valor desse lucro? 7 – Dados CT = 0,04Q3 – 0,9Q2 + 10Q + 5 pede-se: a) Qual o ponto de equilíbrio da firma; b) Qual o valor do lucro ou prejuízo? c) A firma deve fechar as portas, ou continuar operando? 121 1616 1414 1212 1010 Cvme Cvme 88 Cme Cme Cmg Cmg 66 44 22 11 11 9 9 7 7 5 5 3 3 1 1 00 122