O Estudante de Medicina e os Cuidados Bioéticos com as Informações Sigilosas Samuel Cargnin Cunha1 Francisco Rosa Neto2 Luissaulo Cunha3 ¹Acadêmico do 6º. Ano do Curso de Medicina / UNISUL, Tubarão, SC 2Doutorado em Medicina da Educação Física e do Esporte pelo Universidad de Zaragoza, Espanha(1997)Professor titular da Universidade do Estado de Santa Catarina , Brasil 3Médico Pediatra e Professor Coordenador do Sistema Saúde Materno-Infantil do Curso de Medicina / UNISUL, Tubarão, SC Apoio – Programa UNISUL de Iniciação Científica - PUIC INTRODUÇÃO A confidencialidade e a privacidade das informações, especialmente na área da saúde, é uma preocupação constante dos médicos e da sociedade, pois sem o sigilo não é possível o exercício adequado da medicina Privacidade é o estado de estar livre de intrusos, e no contexto dos cuidados de saúde diz respeito à responsabilidade de um prestador em proteger todas as informações a respeito das pessoas, que estão em bancos de dados, prontuários ou outros documentos Confidencialidade, em contraste, é a limitação das informações apenas àqueles para os quais é adequado INTRODUÇÃO Quando os pacientes tem dúvidas quanto ao cumprimento da confidencialidade pelo seu médico há possibilidade de que ocultem informações importantes para diagnóstico e tratamento, o que prejudica a atuação médica Temas bioéticos são pouco estudados e o conhecimento da situação quanto a aplicação dos princípios e preceitos imprescindíveis ao bom desempenho da medicina devem ser estimulados A curiosidade humana impulsiona uns a conversarem com os outros sobre situações vivenciadas, por isso é importante que se obtenham informações mais aprofundadas sobre o comportamento dos estudantes da área da saúde em relação aos cuidados OBJETIVOS O objetivo principal foi investigar o cumprimento dos preceitos bioéticos da confidencialidade e da privacidade pelos estudantes de medicina durante os estágios práticos Investigar os conceitos confidencialidade e privacidade Descrever situações de cuidados ou de quebra dos preceitos bioéticos bioéticos individuais sobre MATERIAIS E MÉTODOS Tipo de método: qualitativo, tipo estudo de caso Local do estudo e fonte de dados : desenvolvido com estudantes de medicina da Unisul de Tubarão, que estivessem cursando o internato médico. O número de sujeitos foi considerado suficiente quando, através da análise dos dados, os pesquisadores consideraram que as respostas procuradas foram respondidas a contento MATERIAIS E MÉTODOS Processo de coleta dos dados: Os dados foram colhidos por meio da aplicação de um questionário semi-estruturado. Foi utilizada uma sala ou local apropriado existente em ambulatórios ou no hospital, para que a privacidade fosse mantida. Para a obtenção das informações, inicialmente o entrevistador garantiu a confidencialidade das informações ao sujeito • Primeiramente dados foram coletados e classificados em diversas categorias. Posteriormente, foi realizada a análise final de forma que pudemos integrar os dados permitindo a discussão do trabalho. Utilizamos como ferramenta o processo de análisereflexão-síntese através de leitura das categorias identificadas integrando-as com a imagem do todo RESULTADOS Postura inadequada de professores: Em algumas situações os professores não levam em conta a pouca experiência do aluno fazendo comentários e citando nomes das pacientes em discussão de casos clínicos “Esta pessoa (nome do paciente) já esteve em meu plantão e sempre volta com os mesmos problemas” Como encontrado em nosso estudo, em um trabalho realizado com estudantes e professores do Curso de Medicina da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, 66% dos alunos entrevistados relataram ter observado condutas antiéticas pelos professores o que se traduziu em mau exemplo RESULTADOS • Colegas e Pacientes conhecidos: O atendimento médico de pacientes conhecidos facilita a quebra de sigilo médico, independente do motivo da consulta apresentada • “Por colegas, sobre caso de doméstica que trabalhava em residência de estudantes de medicina. Atendida em ambulatório, foi comentado, posteriormente, ser portadora de HIV e hepatite C” • Também pode ocorrer quebra de confidencialidade em quadros de doenças comuns • “Já citei nome de paciente apresentando quadro de diarréia, inclusive nome e local de trabalho” RESULTADOS • Locais de atendimento: A estrutura física em alguns locais de atendimento pode facilitar a quebra de confidencialidade • “Em atendimento ambulatorial em disciplina de gastroenterologia, por haver proximidade física entre consultório e sala de espera, pacientes ouviram atendimento e momento do toque retal em que paciente emitiu “grunhido” e riram da situação. Fato que colocou o paciente em situação constrangedora” RESULTADOS • Falta de orientação bioética: Início precoce de atividades práticas sem orientação bioética • “Acredito que o estudante de medicina inicia precocemente a ter acesso às informações sigilosas dos pacientes sem ter tido previamente matéria de bioética, podendo ocorrer erros” • Relatório da Comissão de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina em 1985 sugeriram que o ensino de ética médica deveria ter início antes de o estudante começar nos estágios práticos e deveria prolongar-se por todo o curso RESULTADOS • Situações de quebra de confidencialidade e privacidade: • Comentários com colegas e familiares: A relação próxima entre as pessoas, propiciaram situações de quebra de confidencialidade e privacidade como podemos exemplificar: • “Procuro evitar bastante, mas já aconteceu. Principalmente com colegas, namorada. Comentei, mas sem falar nomes. Comentei com namorada sobre caso de criança em que se suspeitava de a mãe estar intoxicando a criança propositadamente” RESULTADOS • • • Situações que evidenciaram cuidados bioéticos com as informações: “Considera quebra citar nome do paciente e/ou doença. Não pode revelar nome, especificando pessoa, onde vive ou referência que ligue pessoa ao caso” Também foi evidenciado cuidados bioéticos no trabalho de Luke Davis e col, na Vanderbilt University School of Medicine com estudantes de medicina do primeiro ano. Os alunos demonstraram cuidado na divulgação de informações de pacientes, restringindo-as a quem precisa delas para tratar dos pacientes CONSIDERAÇÕES FINAIS • Para o ensino de ética e bioética, é imperioso implementar modelos pedagógicos que propiciem o aprendizado, o domínio de habilidades e atitudes dos profissionais médicos que permitam reconhecer o ser humano em sua integralidade • O modelo de ensino médico baseado preponderantemente em semiologia armada em detrimento da semiotécnica subvaloriza as informações obtidas do próprio paciente que passa a ter valor secundário quando comparado com resultados de exames cada vez mais sofisticado CONSIDERAÇÕES FINAIS • Recomendamos medidas preventivas especialmente com relação ao treinamento tanto de professores • A ênfase com relação a confidencialidade e privacidade deve ser dada em cada disciplina, em especial àquelas com conteúdo prático, pois neste estudo ficou evidenciado que existem vários fatores predisponentes que propiciam a quebra destes preceitos REFERÊNCIAS 1. Cunha L. A aplicação dos princípios bioéticos da confidencialidade e da privacidade por trabalhadores de uma operadora de planos de saúde de Santa Catarina: um estudo de caso [Dissertação]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2004. 2. Cunha L, Patrício ZM. Confidencialidade e privacidade em planos de saúde. Bioética 2009;16(1):141-54. 3. Ferreira RC, da Silva RF, Zanolli MB, Varga CR. [Ethical relationship in Primary Health Care: the experience of medical students]. Cien Saude Colet 2009;14 Suppl 1:1533-40. 4. Vieira PSPG, Neves NMBC. Ética médica e bioética no curso médico sob o olhar dos docentes e discentes. O Mundo da saúde 2009;33(1):21-25. 5. GOMES J. O atual ensino da ética para profissionais de saúde. Bioética 1996;13(1):53-64. 6. Vieira PSPG, Neves NMBC. Ética médica e bioética no curso médico sob o olhar dos docentes e discentes. O Mundo da saúde 2009;33(1):21-25.