Um projecto piloto educativo inovador em escolas profissionais Portuguesas ‘Material Didáctico Multimédia de Genética e Biotecnologia Vegetal’: alguns aspectos ambientais. Lima*, M. Alexandra; Abreu**, M. Filipa e Silva**, Márcio; *Departamento Protecção de Plantas/ Estação Agronómica Nacional INIA, 2784-505 Oeiras, Portugal ; **Instituto Virtual/ISQ 2781-951 Oeiras, Portugal ([email protected]) ; ([email protected]) INTRODUÇÃO E OBJECTIVOS A situação do Sistema Educativo nacional caracterizada por uma ausência ou não adequação dos conteúdos pedagógicos respeitantes a tópicos de genética e biotecnologia vegetais, desafiou a equipa do Projecto e os Professores das Escolas a avançar com este trabalho, integrado no «Programa de Apoio a Projectos de Pesquisa no Domínio Educativo 2001» do Serviço de Educação e Bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa). Os objectivos do Projecto são, de modo sucinto: 1) identificar e ultrapassar dificuldades encontradas pelos alunos na sua compreensão de assuntos sobre genética e biotecnologia; 2) desenvolver novos materiais de ensino nestes assuntos, abarcando áreas de aplicação de conhecimentos em vários sectores de actividades (ex.: agro-alimentar, ambiental, saúde, indústrias de matérias-primas). Pretende-se que surjam mais-valias a ambos os níveis: pedagógico e de cidadania. MÉTODO A equipa do Projecto inclui cinco Escolas do ensino secundário profissional (na maioria escolas agrícolas e de desenvolvimento rural), situadas por todo o continente Português e englobando uma gama de áreas rurais, sub- urbanas e urbanas (Figura 1). Estas são designadas por ‘Escolas envolvidas’ (EE- círculos a verde, figura 1) que receberam e exploraram material didáctico, em formato digital e não-digital, não disponibilizado às outras cinco Escolas do ensino secundário profissional (com curricula similares) que aceitaram colaborar, sempre que necessário, como ’grupo de controle’, e que foram designadas Escolas colaboradoras’ (EC- círculos a vermelho, figura 1). Os professores seleccionaram uma turma por escola (no total estão envolvidos neste projecto piloto 189 alunos- adolescentes), sendo 94 das ‘Escolas envolvidas’ e 95 das ‘Escolas colaboradoras’. P. Coura O Pós-teste foi realizado (Março- Abril 2003) por 162 alunos (82 das EE e 80 das EC; relação aproximada de 1:1) de modo a investigar, não só a compreensãodos alunos sobre genética e engenharia genética, mas também para avaliar as suas percepções sobre biotecnologia vegetal, nomeadamente sobre: Ritmo de desenvolvimento (rápido vs. lento); Necessidade de legislaçãoespecífica (está sujeita/necessita vs. não está sujeita/não necessita); Relação com o ambiente (há uma relação vs. não há relação) e Utilidade (útil vs. inútil). O seu interesse ou motivação nestes assuntos também foi avaliada. O pós-teste tem 6 grupos de questões v(ersão incompleta – foram omitidas as questões 1.1. A & B; 1.2.; 2.; uma dada sequência de aminoácidos---- P. Régua Vagos Anadia Alcobaça 4.e 5) 1.1. Completa as frases colocando em cada espaço vazio o termo correcto, que deves escolher entre os que existem nas 4 ‘peças de puzzle’ representadas Frase C «Um gene é definido, de modo simples, como ______________________ , sabendo-se que nalguns protocolos de modificação genética se usam enzimas que clivam o ácido desoxirribonúcleico, enzimas essas designadas como ______________________. enzimas de restrição--------- S. Tirso T. Vedras Abrantes Paiã -------uma dada sequência de ADN Serpa ----- reductases 3. Em termos ambientais que aspectos da biotecnologia vegetal o preocupam? Enumere-os nos «balões de pensamentos» e justifique. ☺ 6. Neste grupo não há respostas certas nem erradas. Interessa-nos apenas a tua opinião. 6.1. Das expressões abaixo escritas indica 4 que escolherias para uma descrição que te fosse pedida sobre o tema da “biotecnologia vegetal” (faz um círculo à volta delas). Desenvolvimento acelerado Não necessita de legislação própria É útil É inútil Está sujeita a legislação própria Está relacionada com o ambiente 6.2. Estes temas interessam-te? (sublinha a tua escolha) - Muito; - Razoavelmente Nunca se relaciona com o ambiente Figura 1- Localização em Portugal continental das escolas do projecto. Desenvolvimento lento •Verde- cinco escolas envolvidas •Vermelho- cinco escolas colaboradoras - Pouco. Os materiais didácticos do projecto focaram os seguintes tópicos: 1. ABC da genética; 2. ABC da transformação genética e biotecnologia vegetal; 3. Protecção de plantas; 4. Novos Produtos e substâncias; 5. Fitorremediação; 6. Qualidade da Planta; 7 & 8. Patentes e Leis. Sobre cada uma destas temáticas são realizadas diferentes actividades de ensino-aprendizagem, quer dentro da escola como fora da escola (ex.: visitas de estudo; web- portfolios) e, no site do Projecto existirá uma “Galeria de opiniões” (:www.institutovirtual.pt/edu-agri-biotec). RESULTADOS Conhecimento sobre genética e engenharia genética – Um grupo de três frases para preenchimento, com estrutura semelhante à da questão 1.C (ver acima) foi resolvido. Dados relevantes: (questão 1.C) entre todas as categorias de respostas ‘correcta, semi- correcta, incorrecta, não respondeu’ apenas esta última -’não respondeu’não existe entre os resultados do conjunto das 5 EE. De facto, apenas entre os estudantes das Escolas colaboradoras –EC- surge a ‘não-resposta’. Este resultado ocorreu para as questões similares 1.A e 1.B (dados não mostrados), sugerindo que um acréscimo no acesso a informação e/ou conhecimento (caso das E. Envolvidas –EEcomparativamente às E. Colaboradoras –EC-) encoraja uma maior taxa de resposta dos alunos (Gráfico 1). Percepções dos alunos A- sobre Biotecnologia vegetal e sua relação com o ambiente Dados relevantes: a maioria dos alunos (de ambas EE e EC) consideraram existir esta relação. (Tabela I.1). B- sobre o Ritmo de desenvolvimento da biotecnologia vegetal Dados relevantes: a maioria dos alunos (de ambas EE e EC) percepciona este ritmo de desnvolvimento como rápido. ‘Desenvolvimento lento’ foi uma opção para poucos alunos (7 das EE vs. 14 das EC; razão de 1:2).(Tabela I.2). C- sobre Existência de/Sujeição da biotecnologia vegetal a legislação específica Dados relevantes: a maioria dos alunos (de ambas EE e EC) referiram ocorrer esta existência/sujeição a legislação específica. Cerca de 40% dos alunos das EC foram incapazes de responder a esta questão, sendo este valor duplo do obtido para o conjunto de alunos que ‘não-responderam’ das EE( 19,5%).(Tabela I.3). D- sobre Utilidade da biotecnologia vegetal Dados relevantes: a maioria dos alunos (de ambas EE e EC) percepciona a a biotecnologia vegetal como útil. ‘Inútil’ foi a opção escolhida por poucos alunos (7 das EE vs. 14 das EC; razão de 1:2).(Tabela I.4). Preocupações ambientais dos alunos Alguns alunos foram incapazes de expressar as suas preocupações. Outros expressaram-nas razoavelmente bem. As preocupações expressas puderam ser incluídas nestas três categorias de impactos ambientais (Williamson et al., 1990, cit. Tommeras, B.A., 1998): «(1) efeitos causados pelo próprio organismo geneticamente modificado, (2) efeitos resultantes da dispersão dos genes dos organismos geneticamente modificados para outros organismos (intra- e interespécie) do ambiente, e (3) práticas alteradas no uso de um organismo devido à modificação genética. Estas categorias foram intituladas, por estes autores como: «(1) ‘potencial de invasão’, (2) ‘fluxo de genes’ e (3) ‘uso alterado’». Interesse dos alunos F- com focus no nível de motivação/interesse dos alunos na genética e biotecnologia vegetal, foi formulada a questão 6.2. Dados relevantes : Interesse/motivação foram Médio e Alto (Gráfico 2), com poucos alunos a declarar pouco interesse. Estes resultados são encorajadores e, tal como referido por John Krumboltz: “Learning is an exciting adventure –unless, of course, we go out of our way to make it unpleasant.” (cit. Covington, 1998). (trad.: “A aprendizagem é uma aventura entusiasmante - a menos que, claro está, nos desviemos do nosso caminho para a tornar desagradável.” 5EC cat. respostas Tabela I.3. Frequência de items usados na descrição pedida sobre biotecnologia vegetal referente à sua sujeição a/necessidade de legislação específica 5 EE cat. respostas 10 E cat. respostas 0 correcta 10 E 5 EE 5 EC items número de respostas está sujeita/necessita 95 50 45 não sujeita/não necess. 19 16 3 3 10 20 semi-correcta 30 40 50 60 70 incorrecta 80 90 não responde nº alunos questionados: 162 nº alunos respondentes: 114 % alunos respondente: 70,3 Gráfico 1- Distribuição relativa das respostas (em categorias de respostas) à questão 1.1 C., pelo conjunto de alunos (10 Escolas: total de 162; 5 EE: sub-total de 82; 5 EC: sub-total de 80 alunos). 82 78 95,1 80 56 70 Tabela I.2. Frequência de items usados na descrição pedida sobre biotecnologia vegetal referente ao seu ritmo de desenvolvimento. 10 E 5 EE 5 EC items número de respostas rápido 113 66 47 lento 21 7 14 80 48 60,0 Tabela I.4. Frequência de items usados na descrição pedida sobre biotecnologia vegetal referente à sua utilidade. 10 E 5 EE 5 EC items número de respostas é útil 113 66 47 é inútil 21 7 14 Tabela I.1. Frequência de items usados na descrição pedida sobre biotecnologia vegetal referente à sua relação com o ambiente. 10 E 5 EE 5 EC items número de respostas existe relação 124 72 52 não há relação 10 6 4 nº alunos questionados: 162 nº alunos respondentes:134 % alunos respondente: 82,7 82 66 80,5 nº alunos questionados: 162 nº alunos respondentes: 134 % alunos respondente: 82,7 82 73 89,0 100 80 61 76,3 m uito 90 m édio 80 70 pouco 60 não responde 50 40 30 20 nº alunos questionados: 162 nº alunos respondentes: 134 % alunos respondente: 82,7 82 73 89,0 80 61 76,3 10 0 nível de interesse Gráfico 2- Nível de interesse declarado nas respostas à questão 6.2., pelo conjunto de alunos (total de 162 alunos) UMA CONSIDERAÇÃO FINAL- Consideramos, tal como Styles (2002) que: «Há uma só via a seguir. É essencial desmistificar a biotecnologia(…) É importante que os jovens sejam expostos a informação balanceada sobre as vantagens e desvantagens dos avanços biotecnológicos». REFERÊNCIAS Covington, M.V. (1998). The Will to Learn. A guide for motivating young people. Cambridge University Press, 322pp. Styles, M.L.B. (2002). Using education as a public relations tool for biotechnology. PCTOC 70: 23-26. Tommeras, B.A. (1998). Assessing environmental impacts, transgenic Norway spruce as a timescale case. Proc. of workshop Past, Present and Future Considerations in Risk Assessment when using GMO’s, pp: 113-118, Gert E. de Vries (Ed.), 155 pp. Financiado por Agradecimentos- Os autores expressam os seus agradecimentos a todas as comunidades escolares que aceitaram o nosso convite para participar neste projecto piloto e que estão a realizar actividades de ensino-aprendizagem muito interessantes e importantes com os seus alunos. Os nossos agradecimentos dirigem-se também a todos os outros colegas do projecto e técnicos que elaboram o nosso Cdrom e site do projecto. Finalmente, mas de igual modo importantes, são os nossos agradecimentos à Fundação Calouste Gulbenkian, pelo seu apoio financeiro ao projecto, bem como pela confiança depositada na equipa para desenvolvimento deste projecto que constitui para todos os envolvidos um desafio.