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Grandes inflexões da política externa
Fernando Amorim *
Janus 2002
Longe do desajustado empolamento messiânico e bandarrista que vira no “Império”
sustentáculo da Portugalidade como comunidade de vida, com força autónoma,
desligada, em absoluto, das outras comunidades e com virtualidades bastantes para
dissuadir as cobiças alheias, serviu a política externa portuguesa, assente,
secularmente, numa tendência dupla hispânica e ultramarina, uma estratégia de
consolidação da nossa individualidade no contexto peninsular e da Europa. Naquela
se enquadrou a independência (1143) querida pelos portugueses, mas consentida
pelos outros, à luz de um equilíbrio internacional de forças. A inflexão introduzida
nesta tendência longa, traduzida no desfecho das guerras fernandinas (Salvaterra
de Magos e integração no bloco franco-castelhano da Guerra dos 100 Anos,
02.04.1383) conduziu a uma crise política e de sentimento nacional que culminou na
aclamação de João I (1385-1433), no advento de uma nova dinastia (Avis, 13851580) e na reafirmação da aliança luso-britânica (Windsor, 09.05.1386).
A debilidade geográfica da independência portuguesa e a sua emergência como
plataforma mercantil atlântica entre o norte e o sul da Europa ajudaram a cimentar a
aliança inglesa e o arranque para a “aumentação” do reino, pós-conquista de Ceuta
(1415), com a exploração da costa ocidental africana (Bojador, 1434) e conquista
marroquina (Afonso V). A tentativa de hegemonia peninsular –– questão da
“Beltraneja”––sobre Castela e Aragão e o seu fracasso (Batalha de Toro, 1476),
conduziria à recentragem da vertente hispânica da política externa nacional, pela
regulação dos interesses continentais e ultramarinos portugueses e “espanhóis”
(Alcáçovas-Toledo, 1479-80; Tordesilhas, 1494; Saragoça, 1529).
Este quadro de equilíbrio peninsular e de neutralidade mantido por Portugal face às
lutas que oporiam os Habsburgos (Espanha e Sacro Império) à França caracterizaria
a vida portuguesa até Alcácer Quibir (1578) e à quebra da individualidade
portuguesa no plano internacional (Filipes, 1580-1640), época em que a falta de uma
política externa própria arrastaria o Portugal Católico para as querelas europeias e o
enfraquecimento das posições ultramarinas.
A acção diplomática da dinastia de Bragança buscou o reconhecimento internacional
da Restauração (01.12.1640) contra os interesses e as acções das potências
europeias, Inglaterra incluída (guerra anglo-portuguesa no Oriente até 1635), que,
apesar das rivalidades imperiais, só lentamente foram reconhecendo as
virtualidades de uma independência portuguesa. A Paz de Vestfália-Münster (1648)
e a Paz dos Pirenéus (1659 – Espanha e França) agravaram o isolamento de
Portugal, em guerra com a Espanha e com a Holanda, que não contava com o
auxílio de uma Inglaterra republicana (Cromwell, Lorde Protector de Inglaterra) que
olhava com desconfiança (até à restauração monárquica e a aliança entre Afonso VI
e Carlos II, 1661) um reino onde “dominava” a “idolatria papista”.
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Neste contexto, Portugal revelava grandes hesitações entre a força de atracção do
poder francês e o alinhamento com Londres, acabando por inflectir para a
aproximação à França, através do casamento do rei Afonso VI com a princesa Maria
Francisca de Nemours e Sabóia. O prolongamento indefinido da guerra provocou o
golpe palaciano do partido anglófilo (representado por D. Pedro), a queda de Castelo
Melhor (1667), a renúncia de Afonso VI, a anulação do casamento e a regência e
futura realeza de Pedro II, o qual, com a mediação inglesa, obteve a paz com
Espanha (13.02.1668) e o reconhecimento da independência.
A retoma da opção inglesa resultava do seu poderio naval na defesa das rotas
marítimas, particularmente para o Brasil, numa Europa profundamente dividida e
ameaçada pelo poderio turco. No entanto, a hesitação entre a influência francesa e a
inglesa prosseguiria durante mais um século. D. João V cultivará o afastamento da
Inglaterra, mas também da França, a neutralidade nas contendas da Europa e uma
aparente recentragem no equilíbrio hispânico –– pós-Guerra de Sucessão de
Espanha (1702-1714) e Paz de Utreque (1713-1715) –– resultante no Tratado de
Limites do Brasil (1750). Com D. José I, a política de equilíbrio e neutralidade foi
abandonada, expondo-se o país, na aliança clara com a Inglaterra, à Guerra dos
Sete Anos (1756-1763) e à invasão franco-espanhola (Pacto de Família, 1761).
Maria I e o regente João (VI) inflectiram, de novo, para uma diplomacia dúbia de
compromisso com a Inglaterra, a França revolucionária e imperial e a Espanha.
Hostilizado sistematicamente pela França e pressionado pela Inglaterra, Portugal ou
alinhava com o bloco franco-espanhol, e os ingleses apoderavam-se do Império, ou
prosseguia na aliança com Inglaterra e era conquistado pelos franceses, como
acabou por acontecer (invasões francesas e Guerra Peninsular: Junot, 1807-1808;
Soult, 1809; Massena, 1810-1811).
Estado-Nação restaurado na sua independência pelo congresso de Viena (18141815), o país passou a ser um protectorado inglês, subalternizado no Reino Unido
de Portugal e Brasil (1808-1821), e profundamente dependente, com a secessão do
Brasil (1822) e a guerra civil internacionalizada (1820-1834), que culminou na
intervenção anglo-franco-espanhola da Quádrupla Aliança (22.04.1834).
Subsequentemente, as ambições inglesas no ultramar português (Ambriz, Bolama,
Lourenço Marques) e a emergência dos projectos de partilha de África fomentaram
em Pedro V (1853-1861) a dúvida sobre as vantagens da aliança luso-britânica, e a
admissão de uma nova inflexão na política externa, assente na neutralidade, no
entendimento com a Espanha, e na aproximação à Prússia.
O advento do Império Alemão (1870) permitiu a Portugal, com a consagração, na
Conferência de Berlim (1884), do princípio da ocupação efectiva como pressuposto
de soberania em África, ensaiar nova inflexão política externa no sentido de reduzir
o domínio inglês. Contudo, o Ultimatum de 1890 e o esboroar do mapa cor-de-rosa
revelaram que a pax britannica prosseguia e a Alemanha não se revelava o aliado
adequado dos interesses portugueses. Poucos anos volvidos, a aliança inglesa
ressurgia como estratégia de base da política externa portuguesa. A declaração
secreta luso-britânica de 1899 protegia a monarquia portuguesa do imperialismo
alemão e assegurava a manutenção do património colonial, conquanto Portugal
acatasse um “protectorado” político e económico inglês. Não obstante, as relações
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com Espanha, França, Itália, Alemanha e Brasil, principais parceiros políticos e
económicos de Portugal, seriam cordiais até 1910.
A proclamação da República, numa Europa de monarquias mais ou menos
conservadoras, gerou frieza e expectativa, traduzidas num quase completo
isolamento de Portugal até aos alvores da Iª Guerra Mundial (1914-1918). A
invocação inglesa da aliança e a reacção alemã colocou Portugal no conflito (1916).
Contudo, o regime sidonista (Sidónio Pais, 1917) não escaparia a infundadas
acusações de germanofilia. A paz trouxe a Portugal apenas o reconhecimento de um
estatuto de potência de pequena grandeza, muito abaixo da Espanha, não logrando
alcançar um lugar privilegiado na Sociedade das Nações. Apenas o objectivo de
preservação do império colonial fora atingido.
Com o Estado Novo (1933-1974), Salazar tentou uma via mais independente e
nacional, conjugando a forte aliança anglo-portuguesa com outra forte aliança entre
Portugal e a Espanha franquista, (Tratado de Amizade e Não-Agressão, 17.03.1939)
incentivando laços com outros países, estreitando dependências com o ultramar e
logrando a manutenção da Espanha fora da guerra.
Nos 20 anos seguintes esta política frutificou na participação de Portugal como país
fundador da NATO, e na admissão na EFTA. Novos sinais de inflexão despontariam
com a crise da aliança subsequente à posição inglesa na questão de Goa (a Índia
pertencia à Commonwealth). A guerra no Ultramar, a hostilidade dos governos
ingleses e a sua atitude com Portugal a propósito da UDI (Declaração Unilateral de
Independência da Rodésia), feriu a aliança –– até 25 de Abril de 1974 –– que,
estando formalmente em vigor, na prática, foi suplantada pela colaboração militar e
política com os EUA (Açores, base das Lajes), pela adesão de Portugal e Espanha à
CEE (1986) e pela nova contextualização dos interesses que esta realidade
introduziu na política externa portuguesa.
*Fernando Amorim
Mestre em História – História Moderna pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Docente
na UAL
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