O lugar do biológico na psicologia Psicologia do desenvolvimento I 2009.2 O lugar do biológico na Psicologia A oposição inato-adquirido Impossibilidade de opor biologia e cultura como fatores determinantes da especificidade humana O ser humano como espécie biologicamente social O lugar do biológico na Psicologia Em psicologia a dicotomia persiste em diferentes áreas e recebe diferentes nomes – nativismo x empirismo, nas áreas de sensação e percepção; – maturação x aprendizagem, na psicologia do desenvolvimento; – aprendizagem geral x aprendizagem preparada, nas áreas de aprendizagem e cognição; – hereditariedade x ambiente na psicologia das diferenças individuais O lugar do biológico na Psicologia Em vez de quanto cada fator influencia o desenvolvimento, como fatores hereditários e experiências ambientais medeiam o desenvolvimento Evitar o reducionismo genético ou ambiental O lugar do biológico na Psicologia Etologia: disciplina voltada para os estudos do comportamento animal – influência da teoria da evolução das espécies – estudo de padrões de comportamento específicos das espécies – preferência pelo ambiente natural O lugar do biológico na Psicologia Qual é o lugar do biológico em uma Psicologia orientada por um enfoque etológico? – O biológico tem um lugar central? – Considera-se o papel da experiência e do ambiente; da cultura? Recuperação da unidade bio-psico-social O lugar do biológico na Psicologia Para a Etologia o psicológico é constituído das pressões de seleção do ambiente natural em decorrência da função adaptativa da espécie A descrição do comportamento no ambiente natural permite a avaliação da relevância ecológica do comportamento – como o comportamento evolui na história da espécie e na história do indivíduo O fenômeno psicológico é essencialmente um fenômeno biológico O lugar do biológico na Psicologia Quando afirma-se que fenômenos psicológicos são resultantes da evolução, afirma-se que eles são fixos, imutáveis ou geneticamente determinados? – A psicologia se reduz ao nível biológico? O lugar do biológico na Psicologia Biológico x Genético – o genético é apenas um dos instrumentos ou componentes que os sistemas biológicos dispõe – o enfoque etológico não é um enfoque inatista, mas interacionista – considera-se o conceito de ambiente específico de cada espécie – a cultura em relação estreita e necessária com a natureza O lugar do biológico na Psicologia A evolução cultural é um fator da nossa evolução biológica A cultura está presente desde os primórdios da nossa evolução na direção da espécie que somos atualmente Na espécie humana o modo de vida cultural torna-se um fator seletivo essencial O lugar do biológico na Psicologia A cultura, ao aumentar as chances de sobrevivência do grupo humano, também aumenta a sua dependência da cultura para sobreviver A medida que os primeiros seres humanos desenvolveram uma dependência da cultura para sobreviver, a seleção natural começou a favorecer genes para o comportamento cultural O lugar do biológico na Psicologia Contexto especial de seleção natural – A medida em que a sobrevivência fica afetada pela cultura, começa a ser exercida uma pressão seletiva que seleciona o comportamento cultural Dentro desta lógica todas as características favoráveis ao desenvolvimento e à transmissão de cultura passam a ser selecionadas O lugar do biológico na Psicologia Indicadores de seleção de comportamento cultural – o crescimento do cérebro dentro da cultura: na evolução humana houve uma expansão cerebral superior à que seria determinada pelo mero crescimento geral do corpo. – estrutura social e vínculos afetivos: em contraste com o padrão primata ancestral, identificam-se alterações globais na organização social e nas ligações afetivas; tendência a ligações duradouras. O lugar do biológico na Psicologia Indicadores de seleção de comportamento cultural – a linguagem como uma característica biológica sinais associados ao desenvolvimento de uma linguagem extensiva aparecem especialmente com o homo sapiens destaca-se a presença de um aparelho fonador especializado que permite gerar sons contrastantes com facilidade analogamente outras capacidades são requeridas: perceptuais, cognitivas e interacionais a vantagem do falar O lugar do biológico na Psicologia A cultura criou o ser que a cria Há uma elaboração cultural ligada a uma evolução biológica O homem é uma espécie biologicamente cultural A organização biológica humana é fruto de um processo de evolução do qual a cultura é parte inseparável O lugar do biológico na Psicologia A organização biológica-cultural do ser humano define a psicologia que envolve – uma organização cerebral própria para aquisição da linguagem verbal que será concretizada pelas experiências; – uma organização para relações sócio-afetivas; – o pertencimento a um meio sócio-cultural em decorrência das características próprias da sua evolução O meio cultural como produto e instrumento O lugar do biológico na Psicologia A criança como ser biológico que se tornará humano à medida em que for “culturalizado” A criança é biologicamente dotada não de uma espécie de “animalidade”, mas de humanidade – uma organização que lhe permite interagir com o ambiente humano: "o que ocorreu no processo de hominização foi uma aptidão natural para a cultura e a aptidão cultural para desenvolver a natureza humana". Morin (1973, p.92) O lugar do biológico na Psicologia A predisposição dos bebês para a iniciação cultural – os bebês nascem com uma forte tendência para a vinculação afetiva; – capacidade de responder preferencialmente a sinais do contato afetuoso do adulto; – nas primeiras semanas de vida os bebês discriminam e preferem a voz e o odor de suas mães; – com 45 horas de vida discriminam a face da mãe e com 3 semanas, preferem-na em relação à de um estranho; – entre 8 e 16 semanas as crianças já reagem a estranhos e usam a mãe como base de segurança. O lugar do biológico na Psicologia As emoções – Darwin influenciou o modo como se pensa hoje a respeito de emoções The expression of the emotions in man and animals (1872) – Para Darwin há uma natureza inata de grande parte da expressão emocional; suas conclusões partem de evidências que ainda podem ser consideradas atuais: o aparecimento precoce em bebês, antes de haver oportunidade suficiente de aprendizagem a similaridade de forma, contexto e função entre indivíduos O lugar do biológico na Psicologia As emoções – Uma emoção envolve alterações fisiológicas inclinações comportamentais avaliações cognitivas – As alterações fisiológicas como mudanças circulatórias, respiratórias, endócrinas, dependem da especificidade da emoção em jogo O lugar do biológico na Psicologia Fatores do ambiente – meio físico: condição de iluminação, espaço, estímulos disponíveis; como o ambiente se estrutura e quais os seus componentes – meio sociocultural: renda familiar, hábitos, normas sociais, valores – meio familiar: experiência e história de vida dos atores familiares O lugar do biológico na Psicologia Características do organismo – conteúdo genético e interação com o ambiente Fatores de risco – fatores de risco do contexto: distais; ex.: status sócio econômico e outros índices demográficos – fatores de risco do organismo: proximais; ex.: experiências específicas encontradas por uma criança em uma dada categoria sócio-demográfica O lugar do biológico na Psicologia O efeito dos genes sobre comportamentos e características psicológicas – estudos genético-moleculares: como genes específicos contribuem para uma variância genética estudos de ligação: quais fatores genéticos e que genes são importantes para as dimensões comportamentais estudos de associação: avalia efeitos de interação geneambiente; no caso de correlação passiva, o modelo de comportamento do sujeito é transmitido por carga genética, já no caso de correlação ativa, a interação com o ambiente determina alterações no repertório de comportamento selecionado geneticamente – estudos genético-quantitativos: como a genética e as variações ambientais influenciam as diferenças individuais O lugar do biológico na Psicologia Os estudos de gêmeos e a dicotomia inato-aprendido – os nascimentos de gêmeos idênticos nos colocam diante de um arranjo natural especial para o estudo dos efeitos dos genes sobre os comportamentos e sobre as características psicológicas de um modo geral – a natureza produz nascimento de gêmeos idênticos a cada 250 partos e um de gêmeos fraternos a cada 125 partos O lugar do biológico na Psicologia Os estudos de gêmeos e a dicotomia inato-aprendido – década de 70: os irmãos Jim [Bouchard] semelhanças entre irmãos gêmeos que ficaram 40 anos separados inversão do raciocínio vigente gêmeos separados mais cedo são mais semelhantes entre si que aqueles separados mais tarde na mesma família as diferenças poderiam ser exageradas O lugar do biológico na Psicologia Os estudos de gêmeos e a dicotomia inato-aprendido – As pessoas diferem mais em personalidade se tiverem genes diferentes do que se tiverem sido criadas em famílias diferentes – Para praticamente todas as medidas de personalidade consideradas, os gêmeos monozigóticos criados separados mostraram-se mais semelhantes que os dizigóticos criados separados O lugar do biológico na Psicologia Os estudos de gêmeos e a dicotomia inato-aprendido – Há características psicológicas nas quais os gêmeos monozigóticos são significativamente mais semelhantes choro irritabilidade medo impulsividade sorriso sociabilidade O lugar do biológico na Psicologia A herança de psicopatologias – Estudos sobre a incidência de transtorno bipolar e de autismo a concordância entre gêmeos para transtorno bipolar é de 67% para monozigóticos versus 16% para dizigóticos para autismo a correlação é da ordem de 96% para monozigóticos, enquanto para os dizigóticos é de 23% O lugar do biológico na Psicologia Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental – A família como o primeiro ambiente social em que uma pessoa é inserida – Através da família a criança entra em contato com diferentes grupos e instituições sociais – O ser humano necessita de cuidados e da presença de adultos que forneçam condições de sobrevivência O lugar do biológico na Psicologia Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental – As modificações na organização familiar no século XXI os membros da família passaram a assumir diferentes atribuições e responsabilidades que antes eram compreendidas como normativas do comportamento de um dos progenitores apenas no novo código civil brasileiro a mulher não tem prioridade para ficar com a guarda dos filhos em caso de separação ou divórcio; a custódia dos filhos deve ser atribuída ao membro do casal que revelar melhores condições de exercê-la O lugar do biológico na Psicologia Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental – Identidade de gênero: o ser humano, de modo geral, adquire um firme senso de si mesmo como sendo homem ou mulher – Na maioria das culturas existe um conceito sobre a diferença biológica entre masculino e feminino, que é expandido por uma série de crenças e práticas de como devem se comportar homens e mulheres, que papéis devem assumir ou características de personalidade que devem possuir apropriadamente O lugar do biológico na Psicologia Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental – A figura paterna patriarca que exerce enorme poder sobre a família suporte econômico da família, mesmo onde os dois progenitores contribuem financeiramente para o sustento da família modelo do papel sexual menor envolvimento com suas crianças O lugar do biológico na Psicologia Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental – O ser humano leva mais tempo sendo dependente dos adultos do que qualquer outro animal – A espécie humana continua a cuidar da alimentação de seus descendentes até mesmo após o período de imaturidade, como por exemplo, durante a adolescência – À medida que a duração e a quantidade dos cuidados parentais aumentam, o comportamento pode ser cada vez mais desenvolvido por meio da aprendizagem O lugar do biológico na Psicologia Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental – Os bebês humanos, possuem uma necessidade inata de apegar-se a uma figura primária nos três primeiros anos de vida – O apego dependerá da responsividade (ou sensibilidade) dos pais em relação ao bebê: capacidade do adulto em cuidar e mostrar-se sensível aos sinais e gestos do bebê O lugar do biológico na Psicologia Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental – Os cuidados parentais podem estar diretamente relacionados com a ação da criança resposta ao choro – Os cuidados parentais podem promover o bemestar da criança atentar para o ambiente físico em que ela se encontra colocando um anteparo para protegê-la do sol O lugar do biológico na Psicologia Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental – A sensibilidade e a responsividade para os sinais da criança se apresentam de forma distinta entre homens e mulheres; esta diferença, não se explica exclusivamente com base nas diferenças biológicas, mas emerge das pressões e expectativas sociais – O estudo de como pais e mães avaliam o cuidado paterno pode auxiliar na compreensão do que homens e mulheres atribuem ser característico do papel do pai e de onde se apresentam mais evidentes as divergências destes cuidados O lugar do biológico na Psicologia A integração entre as predisposições filogenéticas e as experiências individuais é o caminho que deve ser percorrido para que tenhamos uma compreensão mais ampla sobre por que e como o comportamento se manifesta Referências BUSSAB, V. S. R. ; RIBEIRO, F. J. L. ; OTTA, Emma. Inatoadquirido e a persistência de uma dicotomia. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 34, p. 283-311, 2004. BUSSAB, V. S. H.; RIBEIRO, F. J. L. Biologicamente cultural. In RODRIGUES, M. M. P.; SOUZA, L.; FREITAS, M. F. Q. (Orgs.). Psicologia: Reflexões (in)pertinentes. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998. CARVALHO, A. M. A. . O lugar do biológico na Psicologia: o ponto de vista da Etologia. Biotemas (UFSC), Florianópolis, v. 2, n. 2, p. 81-92, 1989. MORIN, Edgar. O Enigma do Homem. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1973. PRADO, Alessandra Bonassoli; VIEIRA, Mauro Luís. Bases biológicas e influências culturais relacionadas ao comportamento parental. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 34, p. 283-311, 2004.