15. Immanuel Kant

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CENTRO EDUCACIONAL MARIA AUXILIADORA
REDE SALESIANA DE ESCOLAS
2015 - Ano da Paz.
Nome:
Profº. (a): Marcos
Disciplina: Filosofia
Série:
EM
Data:
/
Turma:
/
Nota:
Ciente do Responsável:
TEXTO PARA APROFUNDAMENTO
Immanuel Kant
Vida e Obras
Immanuel Kant nasceu, estudou, lecionou e morreu em Koenigsberg. Jamais deixou essa grande
cidade da Prússia Oriental, cidade universitária e também centro comercial muito ativo para onde
afluíam homens de nacionalidade diversa: poloneses, ingleses, holandeses. A vida de Kant foi
austera (e regular como um relógio). Levantava-se às 5 horas da manhã, fosse inverno ou verão,
deitava-se todas as noites às dez horas e seguia o mesmo itinerário para ir de sua casa à
Universidade. Duas circunstâncias fizeram-no perder a hora: a publicação do Contrato Social de
Rousseau, em 1762, e a notícia da vitória francesa em Valmy, em 1792. Segundo Fichte, Kant foi "a
razão pura encarnada".
Kant sofreu duas influências contraditórias: a influência do pietismo, protestantismo luterano de
tendência mística e pessimista (que põe em relevo o poder do pecado e a necessidade de
regeneração), que foi a religião da mãe de Kant e de vários de seus mestres, e a influência do
racionalismo: o de Leibnitz, que Wolf ensinara brilhantemente, e o da Aufklärung (a Universidade de
Koenigsberg mantinha relações com a Academia Real de Berlim, tomada pelas novas ideias).
Acrescentemos a literatura de Hume que "despertou Kant de seu sono dogmático" e a literatura de
Rousseau, que o sensibilizou em relação do poder interior da consciência moral.
A primeira obra importante de Immanuel Kant - assim como uma das últimas, o Ensaio sobre o mal
radical - consagra-o ao problema do mal: o Ensaio para introduzir em filosofia a noção de grandeza
negativa (1763) opõe-se ao otimismo de Leibnitz, herdeiro do otimismo dos escolásticos, assim
como do da Aufklärung. O mal não é a simples "privatio bone", mas o objeto muito positivo de uma
liberdade malfazeja. Após uma obra em que Kant critica as ilusões de "visionário" de Swedenborg
(que pretende tudo saber sobre o além), segue-se a Dissertação de 1770, que vale a seu autor a
nomeação para o cargo de professor titular (professor "ordinário", como se diz nas universidades
alemãs).
Nela, Kant distingue o conhecimento sensível (que abrange as instituições sensíveis) e o
conhecimento inteligível (que trata das ideias metafísicas). Em seguida, surgem as grandes obras da
maturidade, onde o criticismo kantiano é exposto. Em 1781, temos a Crítica da Razão Pura, cuja
segunda edição, em 1787, explicará suas intenções "críticas" (um estudo sobre os limites do
conhecimento). Os prolegômenos a toda metafísica futura (1783) estão para a Crítica da Razão Pura
assim como a Investigação sobre o entendimento de Hume está para o Tratado da Natureza
Humana: uma simplificação brilhante para o uso de um público mais amplo. A Crítica da Razão
Pura explica essencialmente porque as metafísicas são voltadas ao fracasso e porque a razão
humana é impotente para conhecer o fundo das coisas. A moral de Kant é exposta nas obras que se
seguem: o Fundamento da Metafísica dos Costumes (1785) e a Crítica da Razão Prática (1788).
Finalmente, a Crítica do Juízo (1790) trata das noções de beleza (e da arte) e de finalidade,
buscando, desse modo, uma passagem que una o mundo da natureza, submetido à necessidade,
ao mundo moral onde reina a liberdade.
Kant encontrara proteção e admiração em Frederico II. Seu sucessor, Frederico-Guilherme II, menos
independente dos meios devotos, inquietou-se com a obra publicada por Kant em 1793 e que,
apesar do título, era profundamente espiritualista e anti-Aufklärung: A religião nos limites da simples
razão. Ele fez com que Kant se obrigasse a nunca mais escrever sobre religião, "como súdito fiel de
Sua Majestade". Kant, por mais inimigo que fosse da restrição mental, achou que essa promessa só
o obrigaria durante o reinado desse príncipe! E, após o advento de Frederico-Guilherme III, não
Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)
hesitou em tratar, no Conflito das Faculdades (1798), do problema das relações entre a religião
natural e a religião revelada! Dentre suas últimas obras citamos A doutrina do direito, A doutrina da
virtude e seu Ensaio filosófico sobre a paz perpétua (1795).
A Ciência e a Metafísica
O método de Immanuel Kant é a "crítica", isto é, a análise reflexiva. Consiste em remontar do
conhecimento às condições que o tornam eventualmente legítimo. Em nenhum momento Kant
duvida da verdade da física de Newton, assim como do valor das regras morais que sua mãe e seus
mestres lhe haviam ensinado. Não estão, todos os bons espíritos, de acordo quanto à verdade das
leis de Newton? Do mesmo modo todos concordam que é preciso ser justo, que a coragem vale
mais do que do que a covardia, que não se deve mentir, etc... As verdades da ciência newtoniana,
assim como as verdades morais, são necessárias (não podem não ser) e universais (valem para
todos os homens e em todos os tempos). Mas, sobre que se fundam tais verdades? Em que
condições são elas racionalmente justificadas? Em compensação, as verdades da metafísica são
objeto de incessantes discussões. Os maiores pensadores estão em desacordo quanto às
proposições da metafísica. Por que esse fracasso?
Os juízos rigorosamente verdadeiros, isto é, necessários e universais, são a priori, isto é
independentes dos azares da experiência, sempre particular e contigente. À primeira vista, parece
evidente que esses juízos a priori são juízos analíticos. Juízo analítico é aquele cujo predicado está
contido no sujeito. Um triângulo é uma figura de três ângulos: basta-me analisar a própria definição
desse termo para dizê-lo. Em compensação, os juízos sintéticos, aqueles cujo atributo enriquece o
sujeito (por exemplo: está régua é verde), são naturalmente a posteriori; só sei que a régua é verde
porque a vi. Eis um conhecimento sintético a posteirori que nada tem de necessário (pois sei que a
régua poderia não ser verde) nem de universal (pois todas as réguas não são verdes).
Entretanto, também existem (este enigma é o ponto de partida de Kant) juízos que são, ao mesmo
tempo, sintéticos e a priori! Por exemplo: a soma dos ângulos de um triângulo equivale a dois retos.
Eis um juízo sintético (o valor dessa soma de ângulos acrescenta algo à ideia de triângulo) que, no
entanto, é a priori. De fato eu não tenho necessidade de uma constatação experimental para
conhecer essa propriedade. Tomo conhecimento dela sem ter necessidade de medir os ângulos com
um transferidor. Faço-o por intermédio de uma demonstração rigorosa. Também em física, eu digo
que o aquecimento da água é a causa necessária de sua ebulição (se não houvesse aí senão uma
constatação empírica, como acreditou Hume, toda ciência, enquanto verdade necessária e universal,
estaria anulada). Como se explica que tais juízos sintéticos e a priori sejam possíveis?
Eu demonstro o valor da soma dos ângulos do triângulo fazendo uma construção no espaço. Mas
por que a demonstração se opera tão bem em minha folha de papel quanto no quadro negro... ou
quanto no solo em que Sócrates traçava figuras geométricas para um escravo? É porque o espaço,
assim como o tempo, é um quadro que faz parte da própria estrutura de meu espírito. O espaço e o
tempo são quadros a priori, necessários e universais de minha percepção (o que Kant mostra na
primeira parte da Crítica da Razão Pura, denominada Estética transcendental. Estética significa
teoria da percepção, enquanto transcendental significa a priori, isto é, simultaneamente anterior à
experiência e condição da experiência). O espaço e o tempo não são, para mim, aquisições da
experiência. São quadros a priori de meu espírito, nos quais a experiência vem se depositar. Eis por
que as construções espaciais do geômetra, por mais sintéticas que sejam, são a priori, necessárias
e universais. Mas o caso da física é mais complexo. Aqui, eu falo não só do quadro a priori da
experiência, mas, ainda, dos próprios fenômenos que nela ocorrem. Para dizer que o calor faz ferver
a água, é preciso que eu constate. Como, então, os juízos do físico podem ser a priori, necessários
e universais?
É porque, responde Kant, as regras, as categorias, pelas quais unificamos os fenômenos esparsos
na experiência, são exigências a priori do nosso espírito. Os fenômenos, eles próprios, são dados a
posteriori, mas o espírito possui, antes de toda experiência concreta, uma exigência de unificação
dos fenômenos entre si, uma exigência de explicação por meio de causas e efeitos. Essas
categorias são necessárias e universais. O próprio Hume, ao pretender que o hábito é a causa de
nossa crença na causalidade, não emprega necessariamente a categoria a priori de causa na crítica
que nos oferece? "Todas as intuições sensíveis estão submetidas às categorias como às únicas
condições sob as quais a diversidade da intuição pode unificar-se em uma consciência". Assim
sendo, a experiência nos fornece a matéria de nosso conhecimento, mas é nosso espírito que, por
um lado, dispõe a experiência em seu quadro espacio-temporal (o que Kant mostrará na Estética
transcendental) e, por outro, imprime-lhe ordem e coerência por intermédio de suas categorias (o
Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)
que Kant mostra na Analítica transcendental). Aquilo a que denominamos experiência não é algo
que o espírito, tal como cera mole, receberia passivamente. É o próprio espírito que, graças às suas
estruturas a priori, constrói a ordem do universo. Tudo o que nos aparece bem relacionado na
natureza, foi relacionado pelo espírito humano. É a isto que Kant chama de sua revolução
copernicana. Não é o Sol, dissera Copérnico, que gira em torno da Terra, mas é esta que gira em
torno daquele. O conhecimento, diz Kant, não é o reflexo do objeto exterior. É o próprio espírito
humano que constrói - com os dados do conhecimento sensível - o objeto do seu saber.
Na terceira parte de sua Crítica da Razão Pura, na dialética transcendental, Kant se interroga sobre
o valor do conhecimento metafísico. As análises precedentes, ao fundamentar solidamente o
conhecimento, limitam o seu alcance. O que é fundamentado é o conhecimento científico, que se
limita a pôr em ordem, graças às categorias, os materiais que lhe são fornecidos pela intuição
sensível.
No entanto, diz Immanuel Kant, é por isso que não conhecemos o fundo das coisas. Só conhecemos
o mundo refratado através dos quadros subjetivos do espaço e do tempo. Só conhecemos os
fenômenos e não as coisas em si ou noumenos. As únicas intuições de que dispomos são as
intuições sensíveis. Sem as categorias, as intuições sensíveis seriam "cegas", isto é, desordenadas
e confusas, mas sem as intuições sensíveis concretas as categorias seriam "vazias", isto é, não
teriam nada para unificar. Pretender como Platão, Descartes ou Spinoza que a razão humana tem
intuições fora e acima do mundo sensível, é passar por "visionário" e se iludir com quimeras: "A
pomba ligeira, que em seu voo livre fende os ares de cuja resistência se ressente, poderia imaginar
que voaria ainda melhor no vácuo. Foi assim que Platão se aventurou nas asas das ideias, nos
espaços vazios da razão pura. Não se apercebia que, apesar de todos os seus esforços, não abria
nenhum caminho, uma vez que não tinha ponto de apoio em que pudesse aplicar suas forças".
Entretanto, a razão não deixa de construir sistemas metafísicos porque sua vocação própria é
buscar unificar incessantemente, mesmo além de toda experiência possível. Ela inventa o mito de
uma "alma-substância" porque supõe realizada a unificação completa dos meus estados d'alma no
tempo e o mito de um Deus criador porque busca um fundamento do mundo que seja a unificação
total do que se passa neste mundo... Mas privada de qualquer ponto de apoio na experiência, a
razão, como louca, perde-se nas antinomias, demonstrando, contrária e favoravelmente, tanto a tese
quanto a antítese (por exemplo: o universo tem um começo? Sim pois o infinito para trás é
impossível, daí a necessidade de um ponto de partida. Não, pois eu sempre posso me perguntar:
que havia antes do começo do universo?). Enquanto o cientista faz um uso legítimo da causalidade,
que ele emprega para unificar fenômenos dados na experiência (aquecimento e ebulição), o
metafísico abusa da causalidade na medida em que se afasta deliberadamente da experiência
concreta (quando imagino um Deus como causa do mundo, afasto-me da experiência, pois só o
mundo é objeto de minha experiência). O princípio da causalidade, convite à descoberta, não deve
servir de permissão para inventar.
Fontes:
ARANHA Maria L. e MARTINS, Maria H., Filosofando, Editora Moderna, São Paulo, 2014.
CHAUI, Marilena, Introdução à História da Filosofia – dos Pré-Socráticos a Aristóteles, Companhia
da Letras, 2ª edição, São Paulo, 2002.
Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição, vol.I, agosto 1973.
DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Ideias dos Grandes Filósofos, São Paulo, Editora
Nacional, 1.ª edição, 1926.
FERRY, Luc, Aprender a Viver – Filosofia para os novos tempos, Editora Objetiva, 2007.
FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.
LALANDE, André, Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, Martins Fontes, São Paulo, 1999.
MONDIN, Batista, Curso de Filosofia, Volume 1, 2 e 3. Editora Paulus, 3ª edição, 1977.
PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São
Paulo, 10.ª edição, 1974.
Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)
REALE, Giovanni e ANTISERE, Dario, História da Filosofia I, II e II, Paulus, São Paulo 1997.
VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos, Freitas Bastos, Rio
de Janeiro, 4.ª edição, 1980.
Site: http://www.mundodosfilosofos.com.br
Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)
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