Fisiopatogenia da Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana A diversidade genética e sua relação com os mecanismos de doença Ricardo Sobhie Diaz Professor Associado e Livre Docente Chefe do Laboratório de Retrovirologia Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo HIV “Patógeno infeccioso emergente mais relevante deste século” Infecção Primária Infecção Crônica Assintomática Síndrome da Imunodeficiência Adquirida Infecção Primária Infecção Crônica Assintomática Síndrome da Imunodeficiência Adquirida Marcadores Imunológicos s e Virológicos do HIV-1 na Infecção aguda HIV RNA plasma Anticorpos Anti-HIV HIV DNA PBMC viremia (infectividade) exposição 0 10 20 Ag p24 30 Dias 40 50 60 70 80 Fonte: Busch et al, Am. J. Med, 1997 CD4 CXCR4 CCR5 6 HIV-1 gp41 gp120 CD4 CCR5 7 gp41 gp120 CD4 CCR5 8 gp41 gp120 CD4 CCR5 9 gp41 gp120 CD4 CCR5 10 gp41 gp120 CD4 CCR5 11 RNA do HIV-1 nucleocapsídeo do HIV-1 12 Infecção Primária Infecção Crônica Assintomática Síndrome da Imunodeficiência Adquirida INFECÇÃO PRIMÁRIA Restrição da diversidade Doador (“Bottleneck”) • Genótipo R5 (NSI) • Fenótipo X4 (SI) Diversidade crescente “quasispecie” (1% ao ano no envelope) Receptor Porque ocorre a restrição Na diversidade do HIV? Porque ocorre a restrição Na diversidade do HIV? A célula dendrítica tem somente CCR5 Relação entre fenótipo e receptores celulares • R5 (NSI, slow low, M-tropic) • X4 (SI, rapid high, T-tropic) CCR5 CxCR4 Genética do CCR5 D32 CCR5 vírus do tipo selvagem CCR5 D32 Normal Heterozigotos Homozigotos wt/wt wt/D32 D32/D32 2 alelos normais 1 alelo D32 2 alelo D32 Fitness genético 18 Normal wt/wt CCR5 CXCR4 19 Homozigotos D32/D32 2 alelo D32 CXCR4 20 Heterozigotos wt/D32 1 alelo D32 CCR5 CXCR4 21 Relação entre fenótipo e receptores celulares • R5 (NSI, slow low, M-tropic) • X4 (SI, rapid high, T-tropic) População Europa Ocidental * HIV + HIV Venezuelanos* Africanos* Japoneses* Brasileiros ** HIV+ HIV- No CCR5 CxCR4 CCR5/CCR5 CCR5/ -32 -32/ -32 926 723 46 124 248 89% 82% 100%* 100%* 100%* 11% 17% 0%* 1%* 183 115 88.5% 87.5% 11.5% 12.5% 0% 0% *Bradbury, Lancet, 348:463, 1996. ** Munerato et al, BJID, 2003 Aug;7(4):236-40 Genética do CCR5 D32 CCR5 vírus do tipo selvagem CCR5 D32 Normal Heterozigotos Homozigotos wt/wt wt/D32 D32/D32 2 alelos normais 1 alelo D32 2 alelo D32 23 Pacientes Heterozigotos para CCR5 D 32 Têm uma Progressão Mais Lenta da Doença H 100 P < .001 P < .001 75 75 Sobrevida (%) Pacientes Livres de AIDS (%) 100 50 25 50 25 wt/D32 wt/wt wt/D32 wt/wt 0 0 0 N = 68 N = 275 3 9 12 6 Tempo para soroconversão (anos) 58 228 45 130 35 72 17 25 0 N = 68 N = 275 3 9 12 6 Tempo para soroconversão (anos) 59 239 49 165 36 90 19 28 Adapted from de Roda Husman A-M, et al. Ann Intern Med. 1997;127:882-890. Porque a infecção pela variante R5? Porque a infecção pela variante R5? Impacto do vírus X4 no CD4 Contagem de células CD4 800 NSI para SI Conversão 600 NSI 400 200 NSI ~ R5 SI ~ D/M ou X4 0 -48 -36 -24 -12 SI 0 12 24 36 Tempo (meses) Adaptado de Koot M, et al. Ann Intern Med 1993;118:681-688 27 Evolução do Tropismo Viral: Sempre Predominância de R5 100% 15% Presença de X4 40% 85% R5 trópico 60% 0% Virgens de Tratamento Experientes Brumme ZL, et al. J Infect Dis. 2005;192:466-474. O preço da ausência da expressão do CCR5! Doença do Nilo ocidental (WNV) -CCR5 é um determinante chave para o tráfego de leucócitos para o cérebro - camundongos com deleção de CCR5 sempre morrem de WNV cerebral - apresentam redução de NK, leucócitos e cels T no cérebro. - mortalidade maior em D32 homozigotos Infecção Primária Infecção Crônica Assintomática Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 7 309 6 404 302 5 4 10 0 Dias 10 20 Fonte: DD Ho et al, Nature, 373:123-126, 1995 30 Modelo Simplificado da Dinâmica Viral P dV/dT = P -cV dV/dT = índice de mudança P = produção cV = eliminação dV/dT cV “sistema imune” Fonte: Perelson et al, Science 1996, 271:1582 403 409 RNA cópias/ml (x103) 303 Dias Dias Dias Fonte: DD Ho et al, Nature, 373:123-126, 1995 Linfócitos CD4+ latentemente infectad Linfócitos CD4+ produtivamante infectados Š1% 99% 2.6 d por geração Linfócitos CD4+ não infectados t1/2 ~ 1.6 d t1/2 ~ 5.7 h HIV-1 Linfócitos CD4+ não infectados, ativados Š1% Linfócitos CD4+ infectados com vírus defectivo População celular de vida longa Infecção Primária Infecção Crônica Assintomática Síndrome da Imunodeficiência Adquirida Quais os fatores associados à progressão ? (danos imunológicos irreversíveis) • Incapacidade de controlar adequadamente a replicação viral. • Aparecimento de cepas citopáticas (SI ou X4) • Acúmulo da diversidade genética viral • Tipo da diversidade genética viral • Hospedeiro Quais os fatores associados à progressão ? (danos imunológicos irreversíveis) • Incapacidade de controlar adequadamente a replicação viral. • Aparecimento de cepas citopáticas (S ou X4I) • Acúmulo da diversidade genética viral • Tipo da diversidade genética viral • Hospedeiro Sobrevida sem AIDS Sobrevida e Categorias de HIV-1 Anos após HIV-1 RNA Anos após HIV-1 RNA Fonte: Estudos de carga viral do MACS (Mellors et al.) HIV-RNA (cópias/ml) <500 5013000 300110000 1000130000 >30000 Média e IC 95% da queda anual dos níveis de CD4 0 -10 -20 -30 -40 -50 -36,1 -44,9 -55,2 -60 -70 -80 -65,1 -76,8 -90 Fonte: Estudos de carga viral do MACS (Mellors et al.) Sobrevida sem AIDS Sobrevida e Categorias de HIV-1 Anos após HIV-1 RNA Anos após HIV-1 RNA Fonte: Estudos de carga viral do MACS (Mellors et al.) RELAÇÃO ENTRE PROGRESSÃO CLÍNICA E MARCADORES LABORATORIAIS V = Carga Viral Dd =CD4 Quais os fatores associados à progressão ? (danos imunológicos irreversíveis) • Incapacidade de controlar adequadamente a replicação viral. • Aparecimento de cepas citopáticas (SI ou X4) • Acúmulo da diversidade genética viral • Tipo da diversidade genética viral • Hospedeiro Progressão para Aids em indivíduos com cepas SI x NSI (X4 vs R5) meses de seguimento meses de seguimento Goudsmit, J AIDS; 10:15-19, 1995 Evolução da infecção pelo HIV de acordo com o fenotipo biológico Não progressores: NSI Progressores: NSI SI (50%) Maioria dos portadores de SI AIDS Minoria dos portadores de NSI Monitorização do fenotipo usando marcadores da região V3 (Koot 1993, Connor 1993, Tersmette 1989, Sheppard 1993, Tersmette 1990, Koot 1992) Quais os fatores associados à progressão ? (danos imunológicos irreversíveis) • Incapacidade de controlar adequadamente a replicação viral. • Aparecimento de cepas citopáticas (SI) • Acúmulo da diversidade genética viral • Tipo da diversidade genética viral • Hospedeiro Limiar de Diversidade Genética (Antigênica) do HIV • Controle da replicação é perdido quando a diversidade antigênica do HIV-1 em um hospedeiro infectado excede a capacidade do sistema imune do indivíduo responder eficazmente. • Quando o limiar da diversidade é ultrapassado, a viremia aumenta, TCD4 diminui e a doença progride. Nowak et al, Science 1991;254:985 Quais os fatores associados à progressão ? (danos imunológicos irreversíveis) • Incapacidade de controlar adequadamente a replicação viral. • Aparecimento de cepas citopáticas (SI) • Acúmulo da diversidade genética viral • Tipo da diversidade genética viral • Hospedeiro CLASSIFICAÇÃO DO HIV TIPO 1 TIPO 2 De onde surgiu? Aids é uma Zoonose: doença transmitida de animais a seres humanos em condições naturais. Evidências corroborando transmissão entre espécies. • • • • • Semelhança na organização genômica Relação filogenética Prevalência no hospedeiro natural Coincidência geográfica Vias de transmissão plausíveis HIV-2 Originário de SIV que infecta sooty mangabey HIV-1 Originário de SIV que infecta chimpanzés (SIVcpz) Como? Marylin : CPZ importada da África em 1959, HIV +. O Pan Troglodytes troglodytes (chimpanzé) é o hospedeiro natural e reservatório do HIV-1 Hann B, 1999, Science SUBTIPOS DO GRUPO M Global HIV-1 clade distribution A/B North America B Europe B East Asia Africa Latin America B, C, F, B/F A/G O, N A, C, D, F, G, H, J, K C C C B, C Southeast Asia A/E Australia & New Zealand B F B / Bbz F F C C Estrutura dos CRFs 1984 Doador 1 D1 tx Receptor 1 1986 R1 hemáceas Doador 2 D2 tx Receptor duplo Receptor 2 DR R2 DR, R1 e R2 = recém nascidos prematuros DR com infecção dupla e recombinação Fonte: Diaz et al, Journal Virology 68:6340-6346, 1995. Proporção de subtipos do HIV-1 em membros de grupo epidemiologicamente relacionado, com infecção dupla pelos subtipos B e C Pai Mãe 120 120 100 100 80 C 60 B 40 80 20 0 0 1995 1997 1998 B 40 20 1992 C 60 1992 1995 1997 1998 Filha 120 100 80 C 60 Análise do C2V3C3 do env gp120 B 40 20 0 1992 1995 1997 1998 Fonte: Costa et al, não publicado Estabelecimento do HIV-1 recombinante depende da estrutura do recombinante Z6 400 Z6Btm p24 (ng/ml) 300 Z6Benv Z6Bgp 200 Z6Bgp(vpuZ6) BR48 100 0 0 6 10 15 20 25 30 Days after infection 35 40 Quando? Gilbert et al, PNAS 2007, 104:18566 Spread of HIV-1 BF and CB recombinants in South America Élcio Leal 1, Leonardo O. Martins2, L. Mario Janini1, Ricardo S. Diaz1* 1Federal University of São Paulo, São Paulo, Brazil,, 2Graduate School of Agriculture and Life Sciences, University of Tokyo Clade B F BF B B C CB Fragment full-length full-length full-length env (488bp) pol (948bp) RT– (579bp) RT– (579bp) Data set B – South America (L=9853, 1989-2002) F – Brazil (L=9853, 1989-2001) BF – Clade F (L=1258, 1994-1999) BF –Clade B (L=1210, 1999-2002) C – Brazil (n=43, 2000) CB – Brazil (n=32, 2000) # of sequenses 9 5 45 19 274 43 32 *Corresponding author: [email protected] Bayesian Markov chain Monte Carlo (BMCMC) method Reversible-jump MCMC method Demographic model Logistic Mean substituions/site year (m) 0.0054 Origin of the three 1971 Logistic (0.001-0.009) 0.004 (1950-1982) 1981 Exponential (0.001-0.006) 0.009 (1968-1988) 1984 Exponential (0.005-0.015) 0.07 (1974-1990) 1989 Exponential (0.002-0.085) 0.0033 (1984-1991) 1987 Exponential (0.003-0.0034) 0.0031 (1984-1989) 1992 (0.003-0.0033) (1990-1992) Evolutionary parameters of HIV-1 in South America Basic reproductive number of secondary infection* Data set Growth rate R R0 with D=5 years (interval) R0 with D=10 years (interval) B – South America (95% HPV interval) 0.281 2.405 3.81 (L=9853, 1989-2002) F – Brazil (0.106-0.43) 0.259 (1.53-3.15) 2.295 (2.06-5.3) 3.59 (L=9853, 1989-2001) BF – Clade F (0.001-0.5) 0.357 (1.05-3.5) 2.785 (1.1-6.0) 4.57 (L=1258, 1994-1999) BF –Clade B (0.272-0.48) 0.670 (2.36-3.4) 4.35 (3.72-5.8) 7.7 (L=1210, 1999-2002) C – Brazil (0.468-0.81) 0.72 (3.34-5.05) 4.6 (5.68-9.1) 8.2 (n=43, 2000) CB – Brazil (0.49-0.971) 1.56 (3.45-5.855) 8.8 (5.9-10.71) 16.6 (n=32, 2000) (0.91-2.35) (5.55-12.75) (10.1-24.5) * The basic reproductive number of secondary infections was calculated with the following formula: R = rD + 1, where D is the average duration of infectiousness (between 5-10 years) and r is the exponential growth rate. CONCLUSIONS Recombinants emerged rapidly after the introduction of subtypes. Distinct patterns of HIV non-B behavior in South America. -Prevalence of pure clade F completed obscured into the epidemics. -High growth rate and consequent high R of BF, C, and CB. CRF12 has extremely high grows rates, but expanded in Argentina and not in Brazil. Expansion probably influenced by the capacity of the newly arriving strain to establish a critical number of infections before it recombines with the previous circulating subtype. • HIV-2 – Carga viral menor – Progressão mais lenta – Transmissão menor • Marlink R et al. Science 1994;265:1587-90 • Subtipos – C e D versus A e G • Kanki P et al. JID 1999;79(1):68-73 Fusuma et al. Aids Research and Human Retroviruses, 2005 Fusuma et al. Aids Research and Human Retroviruses, 2005 • HIV-2 – Carga viral menor – Progressão mais lenta – Transmissão menor • Marlink R et al. Science 1994;265:1587-90 • Subtipos – C e D versus A e G • Kanki P et al. JID 1999;79(1):68-73 Disease Progression Does subtype affect disease progression? J Infect Dis. 1999 Jan;179(1):68-73. The Journal of Infectious Diseases 2007;195:1177 HIV‐1 Subtype D Infection Is Associated with Faster Disease Progression than Subtype A in Spite of Similar Plasma HIV‐1 Loads Jared M. Baeten,,Bhavna Chohan,Ludo Lavreys,Vrasha Chohan,R. Scott McClella nd,Laura Certain,Kishorchandra Mandaliya,Walter Jaoko, and Julie Overbaugh Quais os fatores associados à progressão ? (danos imunológicos irreversíveis) • Incapacidade de controlar adequadamente a replicação viral. • Aparecimento de cepas citopáticas (SI) • Aumento da diversidade genética viral • Tipo/Subtipo HIV • Hospedeiro • Co receptores – CCR5D32 (Dean M et al Science 1996;273:1856-62 – CCR5 m303 (Quillent C et al Lancet 1998;351:14-8) – CCR2-64I (Smith MW et al. Science 1997;277:959-65. • HLA – Homozigose HLA-B (BW4). • O’Brien SJ et al. Trends Mol Med 2001, 7(9):379-81 – HLA-A32 2 A25 • Geczy AF et al, Human Immunol 2000, 61(2):172-6 • Apoptose • Meyaard L etal. Science 1992;257:217-9. • Ativação imune Interação vírus hospedeiro determina a evolução da doença (não é somente o vírus!) Sooty Mangabey Macaco Rhesus •Hospedeiro natural do SIV •Não é o hospedeiro natural do SIV •SIV infecta e destrói cél. T CD4 T em altos níveis •Sem aumento de ativação celular •SIV infecta e destrói cél. T CD4 T em altos níveis •Altos níveis de viremia •Grande aumento na ativação das células T •Perda de CD4 mínima •Enorme perda de CD4 •Altos níveis de viremia Infecção Primária ? Erradicação Infecção Crônica Assintomática Síndrome da Imunodeficiência Adquirida