COQUELUCHE Apresentação para Reunião Clínica de Pediatria do Hospital Materno Infantil de Brasília/SES/DF Orientador: Dr. Filipe Vasconcelos e Dra Lisliê Capoulade e Dr Bruno Vaz www.paulomargotto.com.br Brasília, 25 de março de 2017 Coqueluche - Introdução • Conhecida como tosse comprida ou tosse de cem dias • Microbiologia: • • • • Cocobacilo gram-negativo: Bordetella pertussis Não possui reservatório animal Sobrevive apenas horas em secreções respiratórias Outras espécies clinicamente importantes: • B. parapertussis – IVAS até coqueluche clássica • B. bronchiseptica – imunosuprimidos com contato com animais • B. holmesii – septicemia Epidemiologia • Altamente contagiosa com grande morbidade • Transmissão: gotículas aerolizadas durante tosse até 5 dias do início de antibioticoterapia • Período de incubação é de 1 – 3 semanas • Contactuantes: até 1/3 desenvolvem coqueluche • Incidência: pré-vacinação e pós-vacinação • Crianças <10 anos (>90%) / Adultos (50%) • 20% de tosses > 3 semanas Desafios • Causas de aumento de incidência: • • • • • • Aumento de diagnóstico Aumento de notificação Mais disponibilidade de teste sensíveis (PCR) Falta de vacinação de reforço em adolescentes e adultos Aumento do patógeno circulante com deficiência de pertactina Aumento de incidência de doença causada por B. parapertussis Desafios Em Análise • Duração de proteção vacinal com DTPa em 3 anos (85%) e em 8.5 anos (33%) • Duração de proteção pós-infecção é pequena • Atuais estratégias de vacinação, com foco em crianças, parecem insuficientes para evitar as mortes em lactentes jovens Patogênese • Após inalação, o organismo se adere na células epiteliais de trato respiratório superior e nasofaringe • Liberação de citotoxina traqueal (dermonecrotica e adenilato ciclase) causando perda de células protetores • Microaspiração frequente leva a tosse e invasão de macrófagos alveolares • Pode levar a hiperinsulinismo em lactentes (hipoglicemia) e linfocitose Patogênese Clínica • Apresentação clássica em geral em <10 anos • A tosse de 100 (60-120 dias em média) é dividida em: • Fase catarral • Fase de paroxismos de tosse • Fase de convalescença Fase Catarral • IVAS com coriza hialina abundante e tosse discreta • Febre baixa ou ausente • Tosse piora progressivamente em 1 – 2 semanas Fase de paroxismos de tosse Fase de paroxismos de tosse • • • • • • • Acessos de tosse de longa duração e sem esforço respiratório Pode apresentar engasgos, cianose e desconforto respiratório Acessos podem piorar com estímulo Guincho/Sibilo inspiratório 10-44% em <1 ano Tosse emetizante 30-50% Complicações Duração de 2-8 semanas (pior período entre 2-3 semanas) Fase de convalescença • Tosse melhora ao longo de semanas a meses • Períodos de piora por estímulo externo Apresentações atípicas • Lactentes: • Fase catarral menor • Fase de paroxismos: hemorragia subconjuntival, cianose, bradicardia, apnéia e engasgos • Vacinados: • Duração menor de tosse (~30 dias) • Menos episódios de apnéia Complicações • Principais: apnéia (em <6 meses sem tosse), pneumonia e perda de peso (6% dos casos) • Infrequentes: hipertensão pulmonar, insônia, pneumotórax, epistaxe, hemorragia subconjuntival, hematoma subdural, prolapso retal, incontinência urinária e fratura de costela • Raras: convulsões (1%) e encefalopatia (<1%) Risco à vida • Pertussis com apnéia / bradicardia • Pertussis com Pneumonia com hipercapnia apesar de uso de oxigênio • Pertussis Maligna (SDRA, Hipertensão Pulmonar, Insuficiência Cardíaca e Falência de Múltiplos Órgãos) Suspeita • Crianças ≤3 meses: tosse com febre baixa que não melhora, rinorréia abundante, baixo ganho de peso, leucocitose com predomínio de linfócitos • Crianças >3 meses: tosse não produtiva > 7 dias com hemorragia subconjuntival, cianose, insônia e episódios de sudorese durante acesso de tosse Diagnóstico • Confirmado se contato com caso confirmado de coqueluche e provável se não teve contato. • Laboratorial: • Não deve atrasar tratamento. • Patógeno é mais difícil de identificar durante fase de paroxismos e após início de antibióticos. • Os estudos microbiológicos são cultura, PCR e sorologia. • Imunofluorescência pode dar falso-negativos e falso-positivos • PCR pode dar resultados acurados em até 1-4 semanas após início de tosse com baixa sensibilidade em vacinados. Diagnóstico Achados inespecíficos: • Laboratoriais: leucocitose com linfocitose com frequência >10000 (72%). Leucocitose >30000 em menores de 3 meses e >60000 em maiores de 3 meses é associada a gravidade (pneumonia e hipertensão pulmonar). • Radiográficos: congestão perihilar, infiltrado perihilar e atelectasias Sugestão de análise laboratorial • Tosse <3 semanas: • Se <= 3 meses: PCR e cultura de secreção nasofaríngea. • Se >3 meses: PCR e sorologia (IgG para toxina pertussis) • Tosse >= 3 semanas: • Se =< 3 meses: PCR e cultura de secreção nasofaríngea • Se > 3 meses: Sorologia Diagnóstico diferencial - Síndrome Pertussóide • Processos de vias aéreas com quadro clínico similar à coqueluche, porém Bordetella pertussis-negativos • Causas: Bordetella parapertussis; Bordetella bronchiseptica; vírus sincicial respiratório; Adenovírus tipos 1,2,3,5 e 12; vírus Parainfluenzae tipo 2; Haemophilus influenzae, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia trachomatis • Outras causas não infecciosas: fibrose cística, traqueíte, traqueobronquite, broncopneumonia, pneumonia intersticial, tuberculose ganglionar, rinosinusopatia, corpo estranho na laringe • A duração da doença é geralmente menor • História e diagnóstico direcionados para cada causa específica Manejo – Cuidados de suporte • Hospitalização: • Desconforto respiratório, pneumonia, convulsões, cianose, apnéia, inabilidade de se alimentar e idade ≤3 meses • Isolamento: respiratório de gotículas (não requer de contato) • Nutrição: avaliar necessidade de alimentação por sonda (risco de piora de tosse) – evitar ao máximo aspirações Manejo - antibioticoterapia • Quanto mais precoce, menor é duração de sintomas e transmissão • Indicações: • • • • <3 semanas de tosse e diagnóstico clínico PCR positivo com <3 semanas de tosse em >1 ano PCR positivo com <6 semanas de tosse em <1 ano Indivíduos de risco com tosse >3 semanas Antibióticos • Macrolídeos (eritromicina, azitromicina e claritromicina), rara resistência. • <1 mês: azitromicina > eritromicina (risco de estenose hipertrófica de piloro). • <6 meses: não utilizar claritromicina • Alternativas: SMX-TMP se >2 meses e não toleram macrolídeos (risco de kernicterus se <2 meses). • Não utilizar: beta-lactâmicos (ampicilina ou amoxicilina); doxiciclina ou fluoroquinolona. • Duração: Azitromicina 3 dias, claritromicina 7 dias e eritromicina 14 dias (ambos com efetividade semelhante). Coqueluche maligna • Instaura-se quando a leucocitose extrema, associada a insuficiencia respiratória e hipertensão pulmonar levam ao colalpso cardiovascular • Uma vez instaurada, o tratamento é de suporte • A hipertensão pulmonar refratária pode requerer óxido nítrico e oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) • A ventilação mecánica deve ser precoce Baixo débito cardíaco Exsanguineotransfusão • Leucoaferese se insuficiência respiratória, hipertensão pulmonar e ICC, antes de DMOS • A exsanguineotransfusão está recomendada quando o número total de leucócitos ultrapassa os 50.000. Quanto mais cedo for realizada, maiores os benefícios Donoso AF. Exchange transfusion to reverse severe pertussis-induced cardiogenic shock. Pediatr Infect Dis J. 2006 Nicholson CE. Early exchange and pheresis therapies in critical pertussis. Pediatr Crit Care Med 2011 Nieves D. Exchange blood transfusion in the management of severe pertussis in young infants. Pediatr Infect Dis J 2013 Prevenção – profilaxia pós-exposição • Indicação: antibiótico para todos os contactuantes próximos e para indivíduos de alto risco para doença grave ou complicada, mesmo se vacinada. • Início: até 21 dias do início da tosse do paciente inicial • contactuante próximo: mesma habitação, exposição a 1 metro de distância, contato com secreção, compartilhamento de mesmo recinto por 1 hora. (Normalmente não se recomenda profilaxia em escolas) • Alto risco:<1 ano, gestantes, imunodeficientes, doença pulmonar crônica, fibrose cística, pessoas com contato com crianças • 20% podem apresentar sintomas mesmo com profilaxia • Profilaxia = tratamento Prevenção - Imunização Estratégia de Imunização em Casulo • Vacinação em casulo significa recomendar a vacinação de gestantes entre as semanas 28 e 38 de gestação. • O objetivo é que a mãe produza anticorpos que protegerão o bebê nos primeiros meses até que ele possa receber a primeira dose da vacina. • O Ministério da saúde passou a recomendar essa estratégia a partir de 2013 no Brasil devido ao aumento do número de notificações. • Para as mães que não receberam a vacina durante a gestação, uma alternativa é realizá-la após o parto, esperando que anticorpos possam ser transmitidos através da amamentação. Referências Bibliográficas • Mooi, F. R., Zeddeman, A., & Van Gent, M. (2015). The pertussis problem: Classical epidemiology and strain characterization should go hand in hand. Jornal de Pediatria, 91(4), 315–317. http://doi.org/10.1016/j.jped.2015.02.001 • Brasileira, S., Berezin, E. N., & Nacional, S. (2013). 12 de março de 2013- n° 751. • Unido, N. R., Unidos, N. E., & Brasil, N. (1987). Coqueluche e Síndrome Pertussóide. • Pacini, V., Fernandes, I., Lima, A., & Nogueira, R. (2013). Residência pediátrica, 3(3), 67–75. • Paksu, M. Ş., Akgün, M., Karadaǧ, A., Aşilioǧlu, N., Belet, N., & Şensoy, G. (2013). Fulminant pertussis in very young infants: Two cases and review of the literature. Turkish Journal of Pediatrics, 55(4), 426–429. • Centers for Disease Control and Prevention. Pertussis (whooping cough). Specimen collection. www.cdc.gov/pertussis/clinical/diagnostic-testing/specimen-collection.html (Accessed on October 02, 2016) • Pertussis infection in infants and children: Clinical features and diagnosis http://www.uptodate.com/contents/pertussis-infection-in-infants-and-children-clinicalfeatures-and-diagnosis?source=search_result&search=coqueluche&selectedTitle=2%7E133 (Accessed on October 13,2016) • Taffarel, P., Jorro Barón, F., & Bonetto, G. (2015). Actualización en terapias de leucorreducción como alternativas para el tratamiento de coqueluche grave. Archivos Argentinos de Pediatría, 113(5), 456–464. http://doi.org/10.5546/aap.2015.456 Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto. Consultem também! Aqui e Agora! Coqueluche: a visão do Intensivista Pediátrico Alexandre Peixoto Serafim Coqueluche-Recomendações atuais do Ministério da Saúde Caso Clínico: Coqueluche (link para profilaxia perinatal) Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria Mariana Alves, Lisliê Capoulade Coqueluche grave e cuidados intensivos Alexandre Serafim Sessão de Anatomia Clínica: Coqueluche Sessão de Anatomia Clínica: Coqueluche em um recémnascido Monografia (HRAS/HMIBPediatria-2014): Exsanguineotransfusão no tratamento de coqueluche grave: Relato de caso e revisão bibliográfica Rodrigo Coelho Moreira, Ana Paula, Alexandre Serafim, W aldete Cabral (Patologista) Paula Abdo, Sabrina Cardoso, Marcos EA Segura, Ana Paula Plácido, Telma Carvalho, Martha David Rocha de Moura Bruno Oliveira e Lima Obrigado!