SCID – passado, presente e futuro RELATO DE

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Secretaria de Estado de Saúde do Governo do Distrito Federal
Hospital Regional da Asa Sul (HRAS)
Programa de Residência Médica em Pediatria
Monografia de especialização em Pediatria
Ana Carolina Monteiro Cunha
Orientador: Dr. Fabrício Prado Monteiro
www.paulomargotto.com.br
22/10/2008
INTRODUÇÃO
 A Imunodeficiência Combinada Grave (SCID) é
uma síndrome rara e fatal onde ocorre a ausência
combinada das funções dos linfócitos T e B,
podendo ocorrer ainda ausência das células NK
(natural killer).
 Essa
associação de defeitos aumentam a
susceptibilidade
a
infecções
comumente
debeladas por indivíduos imunocompetentes,
tornando-se graves e fatais.
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenorypic, and functional diversity
in one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
INTRODUÇÃO


1971 – David Vetter, conhecido como “garoto da bolha
de plástico”.
1984 – transplante de medula óssea
Fig: 1 David Vetter
Fonte: google imagens
INTRODUÇÃO

Devido à evolução da biologia molecular é possível
diagnosticar um maior número de casos e oferecer
uma nova opção de tratamento além do transplante
de medula óssea que seria a terapia gênica; que em
seu termo mais amplo, significa o tratamento de
doenças ou a correção de qualquer disfunção do
organismo pela introdução de genes funcionais que
substituam ou complementem aqueles defeituosos.
OBJETIVOS

Relatar um caso de SCID, acompanhado no Hospital
Regional da Asa Sul pela equipe de imunologia e
infectologia, e apresentar uma revisão sobre o tema,
enfocando a importância do diagnóstico precoce e
perspectivas futuras em relação ao tratamento.
METODOLOGIA

Revisão bibliográfica com bases de dados no Scielo,
Medline, Capes e ProQuest

Prontuário de um paciente do HRAS
RELATO DE CASO

G.S.O., 1 ano e 4 meses, sexo masculino, branco,
natural e procedente de Cristalina – GO.

Paciente transferido da cidade de origem para o Pronto
- Socorro Infantil do Hospital Regional da Asa Sul em
27/02/08, aos 8 meses de idade para investigação
diagnóstica.
RELATO DE CASO

HMA: criança com história de quadro gripal há três
meses que evoluiu com tosse produtiva e febre
sendo diagnosticado pneumonia na cidade de
origem e realizado tratamento domiciliar com
amoxicilina com melhora dos sintomas, porém no 3°
dia voltou a apresentar febre e queda do estado
geral sendo encaminhada para o Hospital Regional
do Gama – DF para avaliação, permanecendo
internada por 9 dias
RELATO DE CASO

Após alta iniciou quadro sugestivo de varicela (lesões
de polimorfismo regional) que persistem até hoje (45
dias); sem melhora com as medidas habituais, e
episódio de pneumonia refratária à diversos
antibióticos: cefadroxila, azitromicina e por último
cefaclor que fez uso por 7dias, evoluindo após um
dia com queda importante do estado geral, vômitos
esporádicos e tosse seca sendo encaminhada a
nosso serviço para investigação
RELATO DE CASO






Ao exame de admissão encontrava - se em: regular estado
geral, hipocorado +/4, hidratado, febril, hipoativo e pouco
reativo.
Aparelho Cardiovascular: ritmo cardíaco regular em 2
tempos, bulhas normofonéticas, sem sopros. FC: 96 bpm
Aparelho Respiratório: murmúrio vesicular rude, presença de
roncos difusos, tempo expiratório prolongado. FR: 46 ipm
Abdomen: normotenso, ruídos hidroaéreos presentes, sem
visceromegalias
Extremidades: perfusão 2 - 3 segundos, sem edema.
Pele: lesões crostosas e cicatriciais sugestivas de varicela,
entremeadas por vesículas ativas, aparentemente estéreis,
sem pus, em face, tronco e membros, não pruriginosas e
indolores.
RELATO DE CASO
Figura 2: Criança com diagnóstico de SCID apresentando varicela crônica
Fonte: Scielo
RELATO DE CASO


Hipóteses Diagnósticas
Foram aventadas à admissão as hipóteses de
imunodeficiência (SIDA, SCID), pneumonia, “BCG-ite”
e varicela crônica.
Exames solicitados
 Exames laboratoriais: hemograma, dosagem de
imunoglobulinas e complemento, CD4, CD8 e
imunofenotipagem
 Exames de imagem: radiografia de tórax.

RELATO DE CASO
Evolução
 Iniciado tratamento específico para o quadro
infeccioso atual em 27/02 com Ceftriaxona
(100mg/kg/dia)
associado
à
Oxacilina
(200mg/kg/dia) e Aciclovir (10mg/kg/dose).
 Em 28/02 iniciado tratamento profilático com
Isoniazida
(10mg/kg/dia),
Sulfametoxazol
+
Trimetropim (100mg/kg/dia) e
Fluconazol
(100mg/kg/dia).
 Após
2dias
de
tratamento
foi
trocado
antibioticoterapia para Cefepime (50mg/kg/dose)
para ampliar espectro e realizado em 04/03 uma
dose de Imunoglobulina (400mg/kg).
 Recebeu alta hospitalar em 24 de abril de 2008.
RELATO DE CASO
Quadro clínico Atual
GSO, atualmente encontra-se com 16 meses de idade, em
tratamento regular de Imunoglobulina humana
400mg/kg/peso a cada 21 dias. Dessa forma está em
regime domiciliar e fazendo profilaxia antibiótica e
fúngica. Antes de alta hospitalar orientado quanto a
imunizações e não realização de vacinas com vírus e/ou
bactérias vivas atenuadas. Mantêm-se bem clinicamente,
entretanto, sem melhora das lesões de pele, de aspecto
asséptico, disseminadas em tronco e membros e face.
Após biópsia das lesões, foi identificado Mycobacterium
bovis, sendo iniciado tratamento com rifampicina,
isoniazida e pirazinamida. Nota-se coriza hialina
persistente, entretanto sem outros achados que
determine prejuízo à qualidade de vida (Rinite alérgica
persistente leve). Em ganho de peso e altura satisfatórios.
Apetite sem alterações.
RELATO DE CASO
Exames complementares



Hemograma (27/02): Hm 4,54 Hb 9,9 Htc 32 Leuc
20300 Seg 89 Bast 2 Linf 6 Mono 1 Eos 2 .
Linfócitos absolutos 1218.
Hemograma (28/02): Hm 4,3 Hb 9,5 Htc 30,2 Leuc
15600 Seg 66 Bast 3 Linf 20 Mono 1 Eos 10 .
Linfócitos absolutos 3120.
Hemograma (03/03): Hm 3,53 Hb 7,9 Htc 24,4 Leuc
10100 Seg 73 Bast 1 Linf 14 Mono 2 Eos 10
Linfócitos absolutos 1414.
Relato de caso
Tipo de célula
Porcentagem
Linfócitos
totais
13,0
T CD3
4,5
T CD4
0,1
T CD8
3,4
B
68,1
NK
5,1
Valores de
normalidade*
Células/mm3
990,0
59,1
(51,8-68,5)
37,6
(26,4-47,5)
19,6
(11,5-26,3)
25,9
(16,4-35,7)
6,3
(3,8-14,4)
44,6
0,8
33,7
674,2
50,5
Valores de
normalidade*
5510
(3720-8426)
3322,6
(2093,1-5054,5)
2065,2
(1360,9-3265,5)
1108
(559,5-1802,5)
1381,5
(888,1-2720)
415,6
(163,7-800,6)
Mediana (p10 a p90) de valores de 6 a 12 meses de
idade de crianças brasileiras sadias.
ND: não dosado.
OBS: paciente apresentou expressão de CD38 em
linfócitos totais.
Relato de caso
Imunoglobulinas (03/03):
 Ig G < 146
 Ig A < 21,8
 IgM = 18,9
 Ig E < 5,0
6 a 9m
Percentil 3
P10
P25
P50
P75
P97
IgG
338
365
428
540
693
764
IgA
4
7
14
30
42
73
IgM
30
35
47
61
73
86
IgG1
192
239
274
319
406
436
IgG2
4
9
26
43
65
82
IgG3
1
3
23
33
47
59
IgG4
2
2
3
5
7
11
EPIDEMIOLOGIA



REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Estima-se que a prevalência das IDP seja de
1:10.000, mas varia de acordo com o tipo de IDP
Na maioria das casuísticas nacionais e
internacionais, as IDP humorais (envolvendo defeitos
de linfócitos B e anticorpos) são as mais freqüentes
e as IDP do sistema complemento as mais raras.
A deficiência seletiva de IgA é a mais freqüente
(1:333 a 1:700), enquanto há outras IDP muito mais
raras, como a imunodeficiência comum variável
(1:75,000), a doença granulomatosa crônica
(1:200,000) e a imunodeficiência combinada grave
(1:100,000)
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475; VASCONCELOS, D.M, et
AL. Imunodeficiências Predominantes celulares. In Roxo Júnior, P. Alergia e Imunodeficiências em Pediatria –
ETIOPATOGENIA

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A fisiopatologia e biologia molecular podem variar, no
entanto, a deficiência de linfócitos T e B é o ponto
comum em todas as formas de SCID. São as
características celulares que ajudam a diferenciar as
várias formas de SCID.
GEHA, R.S, et al. Primary immunodeficiency deseases: Update from the Internacional Union of Immunological
Societes Primary Immunodeficiency Deseases Classification Committee. J. Allergy. Clin Immunol. October
TIPOS DE SCID
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

SCID: deficiência de RAG-1 / RAG-2 e S. de Omenn`s;

SCID: deficiência de Artemis;

SCID: deficiência de Jak-3 Kinase, deficiência da cadeia gama
comum da IL-2, deficiência da IL-7Rα;

SCID: deficiência ZAP-70 Kinase;

SCID: desordens metabólicas purínicos: Deficiência de ADA e /
ou PNP;

SCID: deficiência MHC I ou MHC II;

SCID: disgenesia Reticular e outras mais raras formas de
SCID/CID...
TIPOS DE SCID
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Quadro 1- Prevalência dos tipos de SCID encontrados
na literatura

Fonte:BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency :
genetic, phenorypic, and functional diversity in one hundred eight infants.
J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
IMUNOGENÉTICA

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Na década de 80, avanços na biologia molecular já
permitiam que os genes humanas fossem
seqüenciados e clonados. Cientistas que procuravam
por um método para facilitar a produção de proteínas
— tais como insulina — pesquisaram a introdução de
genes humanos no DNA de bactérias. As bactérias
geneticamente modificadas passaram, então, a
produzir a proteína correspondente, que podia ser
recolhida e injetada em pessoas que não a podiam
produzir naturalmente.
CUNNINGHAM-RUDES, Charlotte; PONDA, Prashant P. Molecular defects in T. and B. Cell primary
immunodeficiency diseases. Disponível em: www.nature.com/reviews/immunol. v. 5, nov. 2005. Acesso em:
10/07/2008.
IMUNOGENÉTICA

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Em 1990 pesquisadores nos Estados Unidos,
realizaram a primeira terapia genética autorizada em
uma criança com SCID, os médicos recolheram
glóbulos brancos do corpo da criança, e cultivaram
as células em laboratório. No segundo momento,
inseriram o gene que faltava nas células e
reintroduziram os glóbulos brancos geneticamente
modificados na corrente sangüínea da paciente.
Esse procedimento não a curou; os glóbulos brancos
tratados geneticamente só funcionaram por poucos
meses, e o processo teve de ser freqüentemente
repetido.
CONLEY, M.E. & STIEHM, E.R.- Immunodeficiency disorders: general considerations. In Stiehm, E.R. Immunologic
Disorders in Infants & Children. 4th ed. Philadelphia, Saunders, 1996, p.201.;
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
IMUNOGENÉTICA
Quadro 2- Imunogenética
Fonte: Candotti et al
IMUNOGENÉTICA


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O percurso até a primeira terapia genética autorizada foi
conturbado e cheio de controvérsia. A biologia da terapia genética
em humanos é muito complexa, e há ainda muitas técnicas que
precisam ser desenvolvidas e doenças que precisam ser
entendidas de maneira mais completa antes que a terapia
genética possa ser usada apropriadamente.
Na maioria dos estudos a respeito de terapia genética, um gene
"normal" é inserido no genoma para substituir um gene "anômalo"
causador de doença. Uma molécula transportadora, chamada
vetor, precisa ser usada para se enviar o gene terapêutico para as
células-alvo do paciente. Atualmente, o vetor mais comum é um
vírus que foi geneticamente alterado para transportar DNA
humano normal, conforme figura 2. Vírus evoluíram de forma a
encapsular e transportar seus genes para células humanas,
causando doenças. Cientistas tentaram aproveitar essa
capacidade e manipular o genoma dos vírus, removendo os genes
causadores de doença e inserindo genes terapêuticos.
CONLEY, M.E. & STIEHM, E.R.- Immunodeficiency disorders: general considerations. In Stiehm, E.R. Immunologic
Disorders in Infants & Children. 4th ed. Philadelphia, Saunders, 1996, p.201.; CUNNINGHAM-RUDES, Charlotte;
PONDA, Prashant P. Molecular defects in T. and B. Cell primary immunodeficiency diseases. Disponível em:
www.nature.com/reviews/immunol. v. 5, nov. 2005. Acesso em: 10/07/2008.
IMUNOGENÉTICA

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Existe uma variedade de métodos diferentes para
substituir ou reparar os genes focados na terapica
genética. Um gene normal pode ser inserido num
local não específico no genoma para substituir um
gene problemático. Essa abordagem é a mais
comum. Um gene anômalo pode ser trocado por um
gene normal por meio da recombinação. O gene
anômalo pode ser reparado por meio de mutação
reversa seletiva, que devolve ao gene suas funções
normais. A regulação (o grau em que um gene está
ativo ou inativo) de um gene em particular.
CONLEY, M.E. & STIEHM, E.R.- Immunodeficiency disorders: general considerations. In Stiehm, E.R. Immunologic
Disorders in Infants & Children. 4th ed. Philadelphia, Saunders, 1996, p.201.; CUNNINGHAM-RUDES, Charlotte;
PONDA, Prashant P. Molecular defects in T. and B. Cell primary immunodeficiency diseases. Disponível em:
www.nature.com/reviews/immunol. v. 5, nov. 2005. Acesso em: 10/07/2008.
IMUNOGENÉTICA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
QUADRO CLÍNICO
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
 O sintoma mais comum nas crianças com SCID é um
número excessivo de infecções que geralmente, não
são do mesmo tipo das infecções manifestadas pelas
crianças normais, podendo ser muito mais graves,
colocando a vida em risco. O início dos sintomas
geralmente ocorre no primeiro ano de vida, e os mais
comuns são diarréia crônica, desnutrição protéicocalórica, pneumonias, meningite e septicemia. Os
lactentes com a imunidade comprometida comumente
apresentam infecções bacterianas graves que
persistem, recorrem ou acarretam complicações.
Pneumonias graves e fatais podem ser causadas por
Pneumocystis jirovesi se não forem rapidamente
tratadas.
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
CARNEIRO-SAMPAIO, M.M.S – Introdução ao estudo das imunodeficiências. In Carneiro-Sampaio, M.M.S.&
Grumach, A.S: alergia e Imunologia em Pediatria .São Paulo: Sarvier,1992, p.127.
QUADRO CLÍNICO


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O isolamento de contato deve ser respeitado devido à condição
imunológica do paciente e também devido à facilidade de
transmissão das doenças virais principalmente, em especial
com o vírus da varicela, que leva a infecção crônica e se não for
curado pode infectar os pulmões, fígado e cérebro. Outros vírus
perigosos são citomegalovírus(CMV), vírus Epstein-Barr,
adenovírus, rotavírus, sarampo e poliovírus. Vacinas com vírus
vivos estão contra-indicadas até mesmo para contactantes.
As infecções fúngicas são difíceis de tratar. A pele e as
membranas mucosas que revestem a boca, os olhos e a
genitália são suscetíveis à infecção. A candidíase (monilíase),
juntamente com lesões bucais (úlceras) e inflamação das
gengivas, pode ser um sinal precoce de comprometimento da
imunidade. A conjuntivite, a perda de cabelo, o eczema grave e
áreas de congestão e ruptura de capilares subcutâneos
também são sinais de um possível distúrbio de
imunodeficiência.
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
CARNEIRO-SAMPAIO, M.M.S – Introdução ao estudo das imunodeficiências. In Carneiro-Sampaio, M.M.S.&
Grumach, A.S: alergia e Imunologia em Pediatria .São Paulo: Sarvier,1992, p.127.
QUADRO CLÍNICO

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A diarréia persistente resulta em atrasos no
crescimento e desenvolvimento, sendo um problema
comum entre essas crianças levando a uma perda
de peso grave e má nutrição.
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
CARNEIRO-SAMPAIO, M.M.S – Introdução ao estudo das imunodeficiências. In Carneiro-Sampaio, M.M.S.&
Grumach, A.S: alergia e Imunologia em Pediatria .São Paulo: Sarvier,1992, p.127.
DIAGNÓSTICO

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Inicialmente, pode ser difícil o estabelecimento do
diagnóstico de um problema hereditário do sistema
imune. Quando ocorrem repetidas infecções graves
ou raras, seja em crianças, jovens ou em adultos, o
médico
pode
suspeitar
de
distúrbio
de
imunodeficiência.
Como
os
distúrbios
de
imunodeficiência
em
crianças
novas
são
freqüentemente hereditários, a presença de
infecções recorrentes em outras crianças da família
é uma indicação importante. As infecções causadas
por microrganismos comuns que normalmente não
causam
doenças
(p.ex.,
Pneumocystis
ou
citomegalovírus) sugerem um problema do sistema
imune.
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
CARNEIRO-SAMPAIO, M.M.S – Introdução ao estudo das imunodeficiências. In Carneiro-Sampaio, M.M.S.&
Grumach, A.S: alergia e Imunologia em Pediatria .São Paulo: Sarvier,1992, p.127.
DIAGNÓSTICO
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Quadro 4- Sinais de alerta para Imunodeficiência Primária na criança
Os 10 Sinais de Alerta para Imunodeficiência Primária
na Criança:
1. Duas ou mais Pneumonias no último ano
2. Oito ou mais novas Otites no último ano
3. Estomatites de repetição ou Monilíase por mais de dois
meses
4. Abscessos de repetição ou ectima
5. Um episódio de infecção sistêmica grave (meningite,
osteoartrite, septicemia)
6. Infecções intestinais de repetição / diarréia crônica
7. Asma grave, Doença do colágeno ou Doença autoimune
8. Efeito adverso ao BCG e/ou infecção por Micobactéria
9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada à
Imunodeficiência
10. História familiar de imunodeficiência
Fonte: Adaptado da Fundação Jeffrey Modell e Cruz Vermelha American
DIAGNÓSTICO

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
No tocante à história familiar, é importante se
questionar sobre consangüinidade entre os pais,
antecedentes de infecções recorrentes, morte por
infecções graves, neoplasias ou auto-imunidade em
outros membros da família, e abortamento
espontâneo na mãe, sem causa conhecida.
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
CARNEIRO-SAMPAIO, M.M.S – Introdução ao estudo das imunodeficiências. In Carneiro-Sampaio, M.M.S.&
Grumach, A.S: alergia e Imunologia em Pediatria .São Paulo: Sarvier,1992, p.127.
DIAGNÓSTICO
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Inicialmente o médico deve solicitar hemograma completo
para determinar a contagem llinfocitária e a quantidade
dos tipos específicos de leucócitos, que são examinados
ao microscópio, verificando se há alterações do seu
aspecto, mensurar quantidades de eritrócitos e de
plaquetas,
realizar
dosagem
quantitativa
de
imunoglobulinas (IgG, IgA, IgM, IgE), dosagem de
complemento C3 e C4, solicitar Raio- X tórax para avaliar
o timo.
 Conforme os resultados dos exames, deve-se realizar
exames adicionais, se a contagem de linfócitos estiver
baixa, solicitar dosagem de linfócitos T CD 4+ e T CD 8+ e
marcadores de células NK , CD16, CD56,e linfócitos B
CD19 e CD20.

ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
DIAGNÓSTICO

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Se constatação de anormalidades consistentes
com SCID, realizar testes confirmatórios para
determinar o tipo de SCID que é responsável pela
imunodeficiência,
esses
em
laboratórios
específicos do Brasil e no exterior. Realizar os
estudos moleculares para identificar eventuais
defeitos genéticos específicos conhecidos.
Determinar a ADA e PNP, níveis de linfócitos,
eritrócitos e fibroblastos. Estes testes não estão
disponíveis comercialmente e são realizados em
apenas alguns laboratórios de investigação de
imunologia molecular.
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
BONILLA, F.A, et al. Practice parameters for the diagnosis and management of primary immunodeficiency. Annals of
Allergy, Asthma & Immunology. May 2005, v.94, p.541-545.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
INVESTIGAÇÃO SECUNDÁRIA
•
Investigação em centro de referência especializado para
imunologia:
•
Proliferação de células T;
•
Amostras e ensaios para estudo de citocinas;
•
Função células NK;
•
Estudo de proteínas;
•
Anticorpos específicos;
•
Estudos genéticos e bioquímicos (exclusão de deficiência de
ADA);
•
Tipagem de HLA,como parte do work-up para TMO.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Os diagnósticos diferenciais podem ser feitos com:






Infecções transmitidas no período perinatal como:
HIV, infecções congênitas (toxoplasmose, rubéola,
citomegalovírus, herpes, etc),
desordens de células B,
desordens de células T,
Síndrome DiGeorge,
Síndrome de Wiskott-Aldrich,
outras formas de hipogamaglobulinemia.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Figura 3:Síndrome de Ommem
Aldrich
Figura 4: Síndrome de
Wiskott-
TRATAMENTO
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Cuidados gerais:

O tratamento das imunodeficiências primárias
consiste em abordagem geral e nos cuidados
específicos para cada doença. Os cuidados gerais
referem-se a:
 orientação de higiene ambiental e pessoal, principalmente
higiene bucal;
 nutrição adequada para evitar deficiência protéica que
agrave o sistema imune;
 aspectos psicológicos: as restrições sociais e na rotina de
vida impostas ao paciente imunodeficiente acabam gerando
distúrbios emocionais que devem ser abordados;
 tratamento de processos infecciosos precocemente
TRATAMENTO



REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
imunização somente com vacinas de vírus ou
bactérias inativadas;
fisioterapia e avaliação pulmonar para evitar
complicações de infecções respiratórias;
precauções:
transfusões
sanguíneas
e
antibioticoterapia. A irradiação do hemoderivado
deve ser indicada para que não haja sensibilização
HLA do indivíduo. À anibioticoterapia profilática está
indicada para prevenir pneumonia por Pneumocysti
jirovesi com sulfametoxazol+trimetropim
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
BONILLA, F.A, et al. Practice parameters for the diagnosis and management of primary immunodeficiency. Annals of
Allergy, Asthma & Immunology. May 2005, v.94, p.541-545.
TRATAMENTO
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Terapêutica específica:
- Gamaglobulina intravenosa: indicada para todo
imunodeficiente com comprometimento da imunidade humoral
e celular, na dose de 400-500 mg/kg/dia a cada três ou quatro
semanas.
- Transplante de medula óssea: é o tratamento curativo da
doença e tem êxito de 96% se realizados nos primeiros três
meses de vida, por isso a importância do diagnóstico precoce.
O doador ideal é um irmão ou irmã normal, com um tipo de HLA
perfeitamente compatível, se não for possível, mas houver
doador aparentado (mãe ou pai) a chance é de 50%, os
resultados são melhores se o doador for um irmão/ã
compatível (taxa de sucesso de >85%) e se o transplante puder
ser realizado logo após o nascimento, ou antes, dos 3,5 meses
de vida (>96% de sobrevivência, mesmo se só compatível a
50%). Os transplantes oriundos de doadores, não aparentados,
de medula óssea (com HLA compatível) ou de sangue do cordão
umbilical, também têm apresentado sucesso no tratamento de
SCID. No nosso meio, a UFPR/HC possui larga experiência
neste procedimento há mais de 10 anos.)
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
BONILLA, F.A, et al. Practice parameters for the diagnosis and management of primary immunodeficiency. Annals of
Allergy, Asthma & Immunology. May 2005, v.94, p.541-545.
TERAPIA GÊNICA


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Com a identificação dos defeitos nos genes a
correção por meio da terapia gênica tem sido
desenvolvida. A terapia gênica em estudo pode ser
do tipo: correção, quando ocorre a inserção de um
gene funcional no local de um não funcional;
deleção, de um gene deletério; complementação,
quando é feita a introdução de uma cópia normal
sem modificação do original, ou adição, com o
acréscimo de um gene ausente no genoma.
Os primeiros testes da terapia genética no mundo
começaram há dez anos. Desde então, cerca de
4.000 pacientes foram submetidos ao tratamento,
sendo 75% deles nos Estados Unidos.
CAVAZZANA-CALVO, M. et al. Gene therapy of human severe combined immunodeficiency (SCID)-X1 disease.
Science, 2000. p. 288:669–672.
PROGNÓSTICO

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Se não instituído tratamento a morte ocorre nos
primeiros 2 anos de vida por infecções. Após o
transplante de medula óssea alguns pacientes
sobrevivem até a idade adulta.
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
PERSPECTIVAS FUTURAS
A terapia gênica é a esperança de tratamento para um
grande número de doenças até hoje consideradas
incuráveis por métodos convencionais, que vão das
hereditárias e degenerativas às diversas formas de
câncer e doenças infecciosas.
 As expectativas atuais indicam que a terapia gênica não
se limitará somente a substituir ou corrigir genes
defeituosos. Novas possibilidades terapêuticas dessa
recente tecnologia estão sendo desenvolvidas, para
permitir a liberação de proteínas que também controlem
os níveis hormonais ou estimulem o sistema imunológico.
A terapia gênica será um recurso natural para curar
muitas doenças, uma vez que os defeitos genéticos
respondem por cerca de 20% da mortalidade infantil,
50% dos abortos e 80% dos casos de problemas mentais.

CAVAZZANA-CALVO, M. et al. Gene therapy of human severe combined immunodeficiency (SCID)-X1 disease.
Science, 2000. p. 288:669–672.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando, é de extrema importância que o pediatra
esteja muito atento aos principais pontos de alerta
para se pensar em IDP, de tal forma que os casos
suspeitos sejam encaminhados para serviços de
referência em imunologia o mais precocemente
possível, possibilitando a adequada investigação
diagnóstica e a adoção de medidas terapêuticas
específicas, melhorando o prognóstico e a qualidade
de vida destes pacientes. Além de acompanhamento
para prevenção de possíveis complicações inerentes
à doença genética.
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
CARNEIRO-SAMPAIO, M.M.S – Introdução ao estudo das imunodeficiências. In Carneiro-Sampaio, M.M.S.&
Grumach, A.S: alergia e Imunologia em Pediatria .São Paulo: Sarvier,1992, p.127.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A síndrome da imunodeficiência combinada grave é,
geralmente, considerada como sendo a mais grave
das imunodeficiências primárias. Sem um
transplante de medula óssea bem-sucedido ou a
terapia genética, o doente está sujeito ao risco
constante de uma infecção grave ou fatal. Com um
transplante de medula óssea bem-sucedido, o
sistema imunitário defeituoso do doente é
substituído por um sistema imunitário normal e o
funcionamento dos linfócitos T é restaurado. O
primeiro transplante de óssea para SCID foi realizado
em 1968. Esse doente está hoje vivo e bem de
saúde.
ABBAS, A.K, et al. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro 2008; 20: 463-475
BUCKLEY, RH, et al. Human severe combined immunodeficiency : genetic, phenotypic, and functional diversity in
one hundred eight infants. J. Pediatr . v.130, 1997. p. 378–387.
CARNEIRO-SAMPAIO, M.M.S – Introdução ao estudo das imunodeficiências. In Carneiro-Sampaio, M.M.S.&
Grumach, A.S: alergia e Imunologia em Pediatria .São Paulo: Sarvier,1992, p.127.
Obrigada!
Nota do Editor do site www.paulomargotto.com.br
Dr. Paulo R. Margotto
Consultem:
Imunodeficiência Combinada
Grave
Caso Clínico:
Imunodeficiência
combinada grave (SCID)
Fabrício Prado
Monteiro
Danillo Hellou, Paulo R.
Margotto, Fabíola Scancetti
Tavares
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