Macroeconomia Contabilidade Nacional Referência: Capítulo 2 (Contabilidade nacional e agregados macroeconômicos). Livro: Economia Brasileira Contemporânea. CONTABILIDADE NACIONAL • Macroeconomia: estuda os mercados em conjunto; em termos agregados. Ou seja, o total produzido e vendido. • Problema: sociedade produz milhões de mercadorias. Deve-se buscar instrumentos que mostrem o quanto a economia produziu como um todo → que consiga simplificar a diversidade de bens existentes. • Esse instrumento é a Contabilidade Nacional CONTABILIDADE NACIONAL • Explica como as variáveis macroeconômicas são medidas (sem se preocupar com relações de causa e efeito – essa é a preocupação das teorias) • Objetivo: Mensurar a totalidade das atividades econômicas do país. • Medição dos agregados: sistemas contábeis (como as empresas) • Conseqüência: contribuição para o desenvolvimento das análises e teorias macroeconômicas. CONTABILIDADE NACIONAL • Conceitos básicos (para medir o desempenho econômico): – Produto Agregado, Renda Agregada e Despesa Agregada. • Identidade Macroeconômica Básica: PRODUTO = RENDA = DESPESA Ou seja, para medir o desempenho econômico de um país, os três conceitos são equivalentes. PRODUTO AGREGADO • O que é? → Produção é a criação de bens e serviços para satisfazer as necessidades humanas. Deve-se à combinação de uma série de elementos chamados de fatores de produção (mão-de-obra; matérias-primas; máquinas; terra; etc.) • Indicará o padrão de vida de um país e avaliará seu crescimento econômico (elevação na produção de bens e serviços) • Definição: soma de todos os bens e serviços finais produzidos na economia durante um período de tempo. PRODUTO AGREGADO • “Todos”: • O produto agregado considera todo e qualquer tipo de bem ou serviço produzido no país, mas... • Como somar bens completamente distintos, como canetas, maçãs e aviões? Deve-se ter uma unidade de medida em comum. • Para somar os diferentes bens e serviços utiliza-se os valores monetários. PRODUTO AGREGADO • “Tempo”: • A produção é um ato ininterrupto (fluxo contínuo). A única forma de medí-la é definir um período de tempo. • Normalmente um ano. Mas também é comum encontrar informações mensais, trimestrais e semestrais. PRODUTO AGREGADO • “Bens e serviços finais”: • Lembre-se: certos produtos são utilizados como insumos na produção de outros. Eles são mercadorias intermediárias que irão compor o valor do bem final. • Portanto, no cálculo do produto agregado, só considerase os bens finais para não ocorrer dupla contagem, já que o bem final incorpora o valor do intermediário. • Ex.: o valor do aço está contido no valor do automóvel o valor do trigo está contido no valor do pão o valor do couro está contido no valor do sapato PRODUTO AGREGADO • Obs.: Para a contabilidade nacional não é a natureza do bem que determina se ele é final ou não. • O que importa é sua situação quando se apura o valor do produto. • Ex: Trigo em estoque: bem final Pão p/ torrada: bem intermediário PRODUTO AGREGADO • Cálculo do Produto Agregado: n Pr oduto Pi Qi i 1 Pi preço do produto i Qi bem ou serviço i Pi Qi valor da produção i bens e serviços finais (i=1, ..., n) PRODUTO AGREGADO • Valor adicionado: outra forma de se contabilizar o produto (em vez da soma dos “bens finais”). • Definição: valor acrescido ao valor dos bens intermediários em cada etapa do processo produtivo. • Vantagem:mostra o quanto cada ramo de atividade ou cada setor contribui para a geração do produto. PRODUTO AGREGADO • Exemplo: país que produz pão (bem final) 2 insumos: trigo e farinha Trigo Farinha Pão Insumo 10 15 Valor do Produto 10 15 20 Valor Adicionado 10 5 5 Total = 20 • Valor adicionado → 10 + 5 + 5 = 20 • Ótica dos bens finais (valor do pão) = 20 PRODUTO AGREGADO • Seja qual a forma escolhida, chega-se ao conceito final de produto: • PIB pm = Produto Interno Bruto a preços de mercado • Definição: valor monetário da venda dos produtos finais produzidos dentro do país em determinado período de tempo (é o principal indicador para se avaliar o desempenho de uma economia) PRODUTO AGREGADO • Dificuldades que se colocam à medição do PIB: – O mesmo bem pode ser intermediário e final. – Nem tudo que é produzido se direciona ao mercado. – Serviços feitos em casa, etc. – Estoques, etc. RENDA AGREGADA • Definição: refere-se à soma das remunerações dos fatores de produção envolvidos no processo produtivo. – Salários: remuneração do fator trabalho – Juros: remuneração do capital monetário (de empréstimo) – Lucros: remuneração do capital de risco (incorrido pelo empresário) – Aluguéis: remuneração do proprietário do capital físico (edifícios, máquinas, etc.) RENDA AGREGADA = Salários + Juros + Lucros + Aluguéis RENDA AGREGADA • Por que PRODUTO = RENDA? Porque o valor adicionado em cada etapa produtiva corresponde à remuneração dos fatores envolvidos naquela etapa. Obs.: Por que existe uma elevação no valor do produto em relação ao valor do insumo? Porque novos fatores de produção são utilizados. E o valor adicionado é exatamente o valor que irá remunerá-los. DESPESA AGREGADA • Definição: representa as possíveis destinações do produto (ou, como a renda é gasta) • Considerando uma economia simplificada (fechada e sem governo), as despesas dos agentes econômicos podem ser com consumo e investimento: DA = C + I • Consumo: bens e serviços para satisfazer nossos desejos. • Investimento: mercadorias que ampliam a produção futura. DESPESA AGREGADA • Por que PRODUTO = DESPESA? • A igualdade produto/despesa vem do próprio conceito de dispêndio que engloba todos os destinos possíveis do produto. Ou seja, as despesas ocorrem exatamente com aquilo que é produzido. • Obs.: a Despesa também é medida pelos bens e serviços finais produzidos, que são aqueles aos quais o público tem acesso para consumir. IDENTIDADE MACROECONÔMICA PRODUTO = RENDA = DESPESA • Para medir o desempenho econômico de um país, os três conceitos são equivalentes. INVESTIMENTO E POUPANÇA • Outra identidade macroeconômica muito importante é a igualdade entre investimento e poupança. INVESTIMENTO E POUPANÇA • Investimento (I): é aquisição de bens de produção, bens de capital ou intermediários que visam aumentar a capacidade produtiva da economia. I = FBKF + ΔE • FBKF: Formação Bruta de Capital Fixo → é tudo aquilo que contribui para formar capital fixo. Ex: máquinas, equipamentos e edifícios. • ΔE: Variação de Estoques (aumentará a oferta/ consumo no período posterior) INVESTIMENTO E POUPANÇA • Para ocorrer investimento, nem toda renda pode ir para o consumo, pois, não haveria recursos para realizar os investimentos. Assim, uma parcela da renda das famílias deve ser poupada. • Poupança (S): parcela da renda não consumida em um dado período • São os recursos utilizados para financiar os investimentos. • Como? Sistema financeiro: capta os recursos dos poupadores para transferi-los aos investidores. INVESTIMENTO E POUPANÇA • Assim: Y = C + S → destinos para a renda DA = C + I → tipos de gastos (despesas) • Como: Y = DA, então: C+S=C+I S=I DEPRECIAÇÃO • Com a inclusão do investimento, abre-se espaço para o conceito de depreciação: • Definição: é a parcela dos bens de capital (máquinas, equipamentos, etc.) consumida (desgastada) a cada período. • Máquinas e equipamentos vão perdendo seu valor, se desgastando pois possuem uma vida útil. • Conseqüência: parte do investimento apenas repõe o que foi desgastado. DEPRECIAÇÃO • Com a ideia de depreciação, pode-se diferenciar dois conceitos de Produto: • PIB pm = Produto Interno Bruto a preços de mercado (inclui a depreciação) • PIL pm = Produto Interno Líquido a preços de mercado (desconta-se a depreciação) • PILpm = PIBpm - Depreciação GOVERNO • Até agora: economia simplificada (famílias e empresas), não incluía setor externo e o governo, que são outros importantes agentes da economia. • Por enquanto: Y=C+I Sendo: Y = produto/renda agregada C + I é a despesa agregada (DA) GOVERNO • Governo: também oferta bens e serviços; arrecada impostos; concede subsídios → ou seja: é um participante ativo da economia. – Impostos diretos: incidem sobre a renda. – Impostos indiretos: incidem sobre a venda de bens e serviços. – Subsídios: pagamento pelo governo de parte dos custos de produção. – Transferências: transferências do governo para a sociedade; como o pagamento de aposentadorias e pensões. Obs.: Empresas estatais que oferecem bens e serviços no mercado são classificadas como empresas privadas. GOVERNO • Alterações com a presença do governo: – Há um novo destino para renda: impostos (menos o pagamento de transferências e subsídios) – Há um novo elemento de despesas: gastos públicos. T = Renda Líquida do Setor Público T = (Td - R) + (Ti – Q) ou seja, o que se recebe menos o que se paga. Td = impostos diretos Ti = impostos indiretos R = transferências Q = Subsídios GOVERNO • Renda: Y = C + S + T • Despesa: DA = C + I + G Como Y = DA, tem-se que: C+S+T=C+I+G S+T=I+G Interpretação: excluindo o consumo, a origem dos recursos está na poupança privada ou nos impostos. E esses recursos são usados para investimento privado ou para financiar os gastos do governo. GOVERNO • Ou então: pode-se rearranjar os termos de modo a permanecer válida a identidade poupança/investimento: S+T=I+G I–S=T–G I – S = Sg I = Sp + Sg Sp = poupança privada Sg = poupança pública GOVERNO • Com a inclusão do governo pode-se diferenciar mais dois conceitos de produto: • PIB cf = (Produto Interno Bruto a custo de fatores): não considera impostos indiretos e subsídios (os preços não sofrem distorções) • PIB pm = (Produto Interno Bruto a preços de mercado): considera a ação do governo sobre os preços por meio de impostos e subsídios. GOVERNO • PIB pm = PIB cf + Imp.Ind. – Sub. • Impostos Indiretos → faz o preço de mercado de um bem ser maior que seu custo de produção. • Subsídios → como é um pagamento pelo governo de parte dos custos de produção, pode ser considerado um imposto indireto negativo. • Obs.: impostos diretos e transferências não são considerados pois eles não alteram o valor dos produtos. SETOR EXTERNO • Agentes de outros países (chamados de não residentes) que transacionam com os residentes do país. • Obs.: Residentes são aqueles que têm esse país como centro de interesse, o que inclui, por exemplo, as multinacionais e os estrangeiros que moram aqui. SETOR EXTERNO • Os residentes de um país transacionam com os agentes de outros países: Bens: exportações e importações Fatores de Produção: ex: capital, trabalho, etc. • Esses fatores devem ser remunerados (juros, lucros, royalties, etc.) Daí vem o conceito de renda líquida enviada ao exterior (RLEE). SETOR EXTERNO RLEE = REE – RRE REE = Renda enviada ao exterior (deve-se à utilização de fatores de produção estrangeiros. A renda é gerada aqui, porém é remetida ao seu país de origem) RRE = Renda recebida do exterior (deve-se à utilização no exterior de fatores de produção nacionais) SETOR EXTERNO • Os países recebem e enviam renda ao exterior como forma de remuneração dos fatores de produção. • RLEE > 0 : o país envia mais renda do que recebe (o país tem débitos com o resto do mundo) • RLEE < 0: o país recebe mais renda do que envia (o país tem créditos com o resto do mundo) SETOR EXTERNO • A introdução do resto do mundo também altera as identidades macroeconômicas: • A oferta de produtos inclui a produção interna (Y) mais as importações (M). E as despesas (o destino do produto) passa a ser composto também pelas exportações. SETOR EXTERNO • Antes: Y=C+I+G • Agora: Y+M=C+I+G+X Y = C + I + G + (X – M) • Importações entram subtraindo, pois é despesa com a produção ocorrida em outros países. SETOR EXTERNO • Com o setor externo também permanece válida a identidade poupança/investimento: Renda: Y = C + S + T (destinos da renda) Despesa: DA = C + I + G + (X - M) (destinos do produto) • Como Y=DA, tem-se que: C + S + T = C + I + G + (X-M) I = Sp + (T - G) + (M - X) I = Sp + Sg + Se Obs.: Se = poupança externa em termos reais • Importante: As importações representam entrada de recursos reais; representam aumento da capacidade de produção (eleva-se a disponibilidade de bens de produção/consumo do país). SETOR EXTERNO • Com a inclusão do setor externo pode-se diferenciar mais duas medidas de produto Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm): “Interno”→ produção cuja renda é gerada dentro dos limites do território do país (ainda que seja utilizando fatores de produção de propriedade de estrangeiros) (Problema: há renda gerada internamente, mas que não permanece no país) Produto Nacional Bruto a preços de mercado (PNBpm): “Nacional” → produção cuja renda é de propriedade dos residentes do país, independente de ter sido gerada em outra nação. Exclui, portanto, a renda gerada internamente, que não é nossa e será enviada ao país de origem. SETOR EXTERNO • Portanto: PNBpm = PIBpm + (RRE – REE) Ou PNBpm = PIBpm – RLEE SETOR EXTERNO • Brasil: país que depende de investimentos estrangeiros e, por consequencia, tem que remeter lucros, pagar juros, etc. Portanto: REE > RRE → RLEE > 0 Logo: PIB pm > PNB pm (pois o PIB inclui a renda de propriedade de estrangeiros) RESUMO • PIB pm = Produto Interno Bruto a preços de mercado (É a principal medida do desempenho econômico de um país). • “Interno”: considera a RLEE • Bruto: inclui a produção que repõe a depreciação • pm: inclui impostos e subsídios. SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS • Mostra as contas que medem o desempenho macroeconômico de um país num determinado período. • Há muitas variações em relação ao sistema de medições: o ideal é entender a mecânica como um todo sem se prender a detalhes. SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS • Baseia-se em quatro contas básicas: – Produção – Apropriação (da renda) – Capital (acumulação) – Resto do Mundo (+ conta complementar: Governo) • Os lançamentos das transações são feitos de acordo com o método das partidas dobradas (crédito/débito), usual na contabilidade das empresas. CONTA DE PRODUÇÃO • Primeiramente: “deve-se analisar sob a ótica das empresas”. • Crédito: o que as empresas receberam dos agentes que adquiririram os bens e serviços finais. • Débito: pagamento das empresas aos fatores de produção, incluindo os impostos menos os subsídios. CONTA DE PRODUÇÃO 7.1 7.2 7.3 7.4 9 10 DÉBITO Salários Lucros Juros Aluguéis Impostos Indiretos (-) Subsídios Produto 1 2 3 4 5 6 CRÉDITO Consumo das Famílias Consumo do Governo Investimentos FBKF ΔE Exportações (-) Importações Despesa CONTA DE APROPRIAÇÃO DA RENDA • Mostram como os agentes alocam as rendas recebidas pela cessão de seus fatores de produção às empresas. • Crédito: as rendas recebidas pelas famílias e pelo governo, mais o resultado líquido das transferências e envios ao exterior. • Débito: como as famílias e o governo utilizam a renda recebida. CONTA DE APROPRIAÇÃO DA RENDA DÉBITO 1 Consumo das famílias 2 Consumo do governo 14 Poupança Interna (Privada + Pública) Utilização da Renda CRÉDITO 7.1 Salários 7.2 Lucros 7.3 Juros 7.4 Aluguéis 9 Impostos 10 (-) Subsídios 13 RRE 12 (-) REE 11 (-) Depreciação Apropriação da Renda CONTA RESTO DO MUNDO • Mostra as transações com o exterior. Obs.: Deve-se pensar como sendo parte do resto do mundo, assim, nossas importações são um crédito para eles. • Crédito: compras realizadas por residentes de bens e serviços produzidos no exterior e os pagamentos feitos aos não residentes. • Débito: gastos dos não residentes com bens e serviços produzidos internamente, os rendimentos que nós recebemos e a poupança externa. CONTA RESTO DO MUNDO DÉBITO 5 Exportações 13 RRE 15 Poupança externa Total do Débito CRÉDITO 6 Importações 12 REE Total do Crédito CONTA DE CAPITAL • Mostra a identidade poupança/ investimento • Crédito: a fonte de recursos para os investimentos, ou seja, a poupança dos agentes (famílias, governo e setor externo). • Débito: gastos com investimento, descontados da depreciação. CONTA DE CAPITAL DÉBITO 3 FBKF 4 ΔE 11 (-) Depreciação Investimento Total CRÉDITO 14 Poupança Interna (Privada + Pública) 15 Poupança externa Poupança Total SISTEMAS DE CONTAS NACIONAIS • Ao analisar as contas em seu conjunto, nota-se que cada um dos lançamentos em uma conta tem como contrapartida lançamento em outra conta. • Essa característica representa o equilíbrio do sistema de contas nacionais. (crédito/débito) • Com o sistema equilibrado, pode-se usar as contas para medir o desempenho econômico do país.