VARICELA Vitória Albuquerque Residente pediatria HRAS/SES/SES/DF www.paulomargotto.com.br 17/7/2009 Considerações gerais • • • • • Doença infecto-contagiosa Vírus varicela-zoster, da família Herpesviridae Exantema maculopapulovesicular disseminado Doença geralmente leve, com complicações ocasionais. Produz resposta humoral e celular, o que induz à imunidade de longa duração, sendo extremamente raro a recorrência em pessoas imunocompetentes. • A transmissão ocorre através de contato domiciliar e vias respiratórias • Raramente, a doença pode ser transmitida através de contato com adulto com Herpes zoster Epidemiologia • Período de incubação • Contágio • Freqüência • Mortalidade • Raça e Sexo • Idade Epidemiologia • Período de incubação - 10 a 14 dias, podendo se estender até 21 dias -No imunodeprimido, pode ser menor; -Pode ser prolongado até 28 dias em pacientes que receberam imuglobulina. • Contágio É uma doença altamente contagiosa: - A transmissão se dá através do contato direto; também através do contato com secreções do trato respiratório; - Pápulas e vesículas têm alta concentração de vírus; as crostas, não; - O período de transmissão começa 2 dias antes do aparecimento das lesões cutâneas e termina com o surgimento de crostas(5 a 6 dias após o início da doença); - Varicela materna com viremia transmite-se ao feto pela placenta, causando a varicela neonatal. • Freqüência -A varicela atinge praticamente todas as crianças que não têm imunidade. -A taxa diminui com o uso de vacina. • Mortalidade -2 mortes por 100 000 casos, em crianças saudáveis, causadas por encefalite,pneumonia, infecções bacterianas secundárias s síndrome de Reye. Em crianças imunocomprometidas a mortalidade é muito maior. -Em RN, dependendo do tempo em que ocorre a infecção materna, o quadro pode ser grave. • Raça e Sexo -Não há predileção por raça ou sexo. • Idade -O pico de incidência é na faixa de 1 a 6 anos, que pode ser mudado com o uso de vacina. Acima de 14 anos, a incidência é de 10%. Fatores de risco para varicela grave Período neonatal -RN no primeiro mês de vida, especialmente se a mãe é soronegativa; -Parto <28 semanas, porque a transmissão de anticorpos transplacentária ocorre após este período. Adolescentes e adultos - Corticóides – em doses equivalentes a 1 a 2mg/kg/dia de prednisolona por duas semanas; quando usado por <2 semanas, nestas doses, imediatamente precedente ou durante o período de incubação, também pode causar quadro grave, até fatal; - Câncer – o risco é aumentado para todas as crianças com câncer, sendo maior em caso de leucemia; - Imunodeficiência – congênita ou adquirida, relacionada à imunidade celular; - Gravidez – aumenta o risco, principalmente, para pneumonia. Quadro clínico Período prodrômico Em crianças este período pode não ocorrer. - Febre – baixa, surgindo um a dois dias antes das lesões; - Exantema – iniciando-se na cabeça e tronco e disseminando-se para o resto do corpo; - Prurido; - Cefaléia; - Mal estar; - Anorexia; - Tosse e coriza; - Dor de garganta; - Dor abdominal em algumas crianças Infecção: exantema Exantema Infecção • -Febre – geralmente baixa, mas pode ser elevada. Regride em quatro dias; quando prolongada, indica complicação ou imunodeficiência. • - Cefaléia • - Mal estar • - Anorexia • O vírus da varicela atinge, por via ascendente, gânglios sensitivos, aí permanecendo em estado latente. Em caso de queda de resistência, há reativação viral surgindo o quadro de Herpes zoster. Varicela congênita • Ocorre quando a mãe apresenta varicela durante o primeiro ou segundo trimestre da gravidez. - Retardo do crescimento intra-uterino; - Microcefalia; - Atrofia cortical; - Hipoplasia de membros; - Catarata; - Microftalmia; - Corioretinite; - Cicatrizes cutâneas. • O comprometimento fetal não está relacionado à severidade do quadro materno. VARICELA NEONATAL • A mãe apresenta a viremia inicial e desenvolve anticorpos. Dependendo do tempo entre o início da varicela e o parto haverá passagem transplacentária do vírus ou do vírus e anticorpos. • Em caso de doença materna com início entre 5 dias antes do parto ou 2 dias após, haverá passagem somente de vírus, nesse caso, o risco do RN apresentar varicela é grande e o quadro, geralmente, é grave. • Quando a varicela materna ocorre mais de 5 dias antes do parto, há tempo suficiente para a produção e transmissão de anticorpos maternos e o RN apresenta um quadro de varicela leve. • Quando a varicela neonatal ocorre no período de 5 a 15 dias de vida, pode ser grave. Varicela em imunodeprimidos • Febre alta e persistente; • Exantema – duração prolongada com o surto de vesículas até 15 dias; estas são mais profundas, acometendo frequentemente palmas e plantas; • Disseminação visceral – comprometimento de pulmões, fígado, SNC, baço, gânglios linfáticos, medula óssea e trato gastrintestinal. COMPLICAÇÕES • • • • • • • • • Infecções bacterianas(Streptococcus do grupo A e Staphylococcus aureus) Sistema nervoso central - SNC -Ataxia cerebelar aguda -Encefalite -Síndrome de Reye -Síndrome de Guillain-Barré -Meningite -Polirradiculite Pneumonia Herpes zoster Otite média Trombocitopenia Hepatite Glomerulonefrite Miocardite, Pericardite, Endocardite. Diagnóstico Laboratório • Hemograma - Leucopenia – nos três primeiros dias; leucocitose indica infecção bacteriana secundária. • Exame imunohistoquímico – utilizando-se raspado de lesões; confirma o diagnóstico de varicela, devendo ser usado para casos de risco que necessitem de diagnóstico rápido Sorologia • anticorpo fluorescente indireto (IFA), anticorpo fluorescente contra antígeno de membrana (FAMA), teste de neutralização (NT) e radioimunoensaio (RIA) não são utilizados rotineiramente porque são de alto custo, demorados e exigem equipamento especializado. • O teste de fixação de complemento-baixa sensibilidade. • O teste de aglutinação do látex e ELISA são rápidos e sensíveis. • Punção lombar • RX O diagnóstico da varicela deve ser realizado clinicamente, sendo desnecessário o uso de exames laboratoriais!!!! Tratamento • • • • Prurido Antitérmicos – não usar aspirina. Dieta Aciclovir – administrado em pacientes imunodeprimidos e em imunocompetentes em risco de complicações: - Portadores de doenças pulmonares ou cutâneas crônicas; -Em uso prolongado de aspirina; -Uso intermitente de corticóide, oral ou por aerossol; -Adolescentes – apresentam risco de varicela grave. -Dose 5 a 10mg/kg de 8/8 h EV, iniciando-se nos 3 primeiros dias de doença, durante 5 a 10 dias. -Via oral 200 mg de 4/4 h durante 5 dias, independente do peso e idade.. -Crianças saudáveis não necessitam de aciclovir. -Em grávidas, deve-se pesar relação risco-benefício Isolamento Crianças hospitalizadas: precauções de contato e respiratórias • • Imunocompetentes - isolamento em quarto até a fase de crostas em todas as lesões; Imunodeprimidos – isolamento durante mais tempo,apresentar quadro mais prolongado; RN de mães com varicela – isolamento até 21 dias ou 28 dias, caso tenham recebido imunoglobulina; RN com lesões de varicela congênita- não necessitam de isolamento. Prevenção • Vacina vírus vivo atenuado, alta eficácia, reduz a incidência da doença. 1ano de idade, dose única; >12 anos realiza-se 2 doses com intervalo de 4 a 8 semanas. • Academia Americana de Pediatria recomenda a utilização do esquema de 2 doses: 1ano e entre 4 a 6 anos; • Pode ocorrer varicela com a administração da vacina, 42 dias após o seu uso; forma leve, pode ser transmitido a pessoas suscetíveis. • Pacientes com leucemia, em remissão, podem receber a vacina. • Em crianças infectadas com HIV, classe 1, CD4 <25%, a vacina é segura; deve ser aplicada em 2 doses com intervalo de 3 meses. • Em caso de exposição à varicela, a administração da vacina até 72 horas após o contato previne ou atenua a doença. Prevenção Imunoglobulina anti varicela-zoster – VZIG • • Pacientes de alto risco, eficaz se usada até 96 horas após o contato Dose 125 U / cada 10 kg de peso, dose mínima de 125 U e a máxima de 625 U, IM . • Se o paciente faz uso regular de imunoglobulina IV, e a última dose foi dentro de 3 semanas, não há indicação de VZIG. • Em pacientes imunocompetentes a profilaxia indicada é a vacina. • Indicações VZIG - RN em que as mães apresentaram varicela 5 dias antes ou 2 dias após o parto; -RN prematuros – com 28 semanas ou mais, em que as mães não tenham história de varicela; - RN prematuros <28 semanas ou <1000g, independente da história materna. - Crianças com leucemia ou linfoma que não tenham tido varicela ou sido vacinadas anteriormente; - Pacientes com AIDS ou qualquer tipo de imunodeficiência; - Pessoas em uso de corticóide ou outra droga imunossupressora - Grávidas Prognóstico • Em crianças saudáveis costuma ser bom. Pacientes imunocomprometidos e RN têm alto risco de complicações e mortalidade. • A varicela confere imunidade, sendo excepcionalmente raro um segundo episódio. Internação • • • • • • • • • • • • Lesão cutânea com eritema, edema ou dor acentuados em área localizada; Febre persistindo mais de quatro dias ou retornando; Aparência tóxica; Alteração de consciência – confusão, irritabilidade, sonolência; Convulsões; Alteração da marcha – Cefaléia intensa, rigidez de nuca; Insuficiência respiratória – respiração difícil, dor torácica, sibilos, taquipnéia ou tosse intensa; Cianose; Baixa saturação de oxigênio; Desidratação – diurese diminuída, urina escura, sonolência, boca seca, sede excessiva ou letargia; RN cujas mães tiveram varicela no período de cinco dias antes ou dois dias após o parto Obrigada!! Referências: • 1) Succi RCM. Varicela-Zoster. In: Farhat CK, Carvalho LHFR, Succi RCM, editores. Infectologia pediátrica. São Paulo: Atheneu; 2007.p. 755 – 767. • 2)American Academy of Pediatrics.Varicela-zoster, Infecções por.In:Pickering LK, ed. Red Book 2003. Relatório do Comitê de Doenças Infecciosas. 26a ed. Elk Grove Village, IL: American Academy of Pediatrics; 2003; 595-607; • 3)Mehta NP, Chatterjee A. Varicella. eMedicine Specialties. Pediatrics: General Medicine>Infectious Disease. 2007; 1-10. http://www.emedicine.com. Acesso em 15/07/2009; • 4)Gershon AA, LaRussa P. Varicella-Zoster virus infections. In: Gershon AA, Hotez PJ, Katz SL, editors. Krugman's infectious disease of children, 11a edição. Philadelphia: Mosby; 2004. p. 785811.