Mais de onze milhões de camisinhas no Carnaval

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Vista-se: use camisinha
Campanha contra a Aids para o Carnaval traz de volta obra-prima de Noel Rosa
na voz de Daniela Mercury. Ações de prevenção serão contínuas e intensas
Personalidade para lá de bem-humorada, o compositor carioca Noel Rosa
(1910-1937) provavelmente ia gostar da idéia. Um de seus maiores sucessos, a
canção Com que roupa, agora volta ao Carnaval, e com uma missão nobre:
conscientizar a população sobre a importância do uso do preservativo e sobre a
prevenção à aids. “Vista-se, use sempre camisinha” é o tema da campanha contra
aids em 2005, promovida pelo Ministério da Saúde. A nova versão de Com que
roupa, que estimula o uso do preservativo, tem voz da cantora baiana Daniela
Mercury, uma das musas da folia brasileira.
A estratégia da campanha – que tem custo de R$ 5 milhões – foi
desenvolvida por um comitê que contou com a participação de representantes do
poder público e de organizações da sociedade civil. Ao todo, 1.884 organizações
não governamentais (ONGs) que atuam no combate à aids participaram
da
elaboração da campanha.
Segundo o ministro interino da Saúde, Antônio Alves, outro ponto
importante do esforço concentrado no Carnaval, além da distribuição dos
preservativos, é o caráter educacional da campanha. “Distribuiremos as
camisinhas nos principais centros onde há carnaval no Brasil, mas também
estamos investindo em materiais informativos que incentivem a autoproteção”,
explica.
Trinta e seis artistas participaram gratuitamente do vídeo educacional da
campanha. Ele será veiculado em emissoras de rádio e TV de todo o Brasil, e nos
principais cinemas e aeroportos do país. A campanha é direcionada à população
sexualmente ativa das classes C, D e E , independente da orientação sexual.
Preta Gil, Davi Moraes, Ellen Roche, Lucinha Araújo, Babi, Ana di Biasi (a SalvaVidas do programa Caldeirão do Huck), Karina Bacchi, Luigi Barricelli, Gabriel O
Pensador, Sérgio Marone e Taumaturgo Ferreira são alguns dos artistas que
cederam suas imagens à campanha.
Junto com os filmes e spots, a campanha terá como peças de apoio
cartazes, folhetos, bandanas, camisetas e porta-preservativos. “O Vista-se, use
sempre camisinha vai ser a marca da ação do Ministério da Saúde e será
referência permanente”, assegura o diretor do Programa Nacional de DST/Aids,
Pedro Chequer. Com o fim do Carnaval, o samba de Noel Rosa vai ganhar
versões em outros ritmos, para valorizar as diferenças regionais e para ser usado
em outras ocasiões. Com isso, explica Pedro Chequer, “a campanha adquire
outros enfoques e ganha caráter contínuo”.
O objetivo do Ministério da Saúde com a campanha é estimular cada vez
mais o uso do preservativo. O governo estima que, em curto espaço de tempo, a
população brasileira sexualmente ativa esteja consumindo, anualmente, três
bilhões de preservativos.
Nunca é demais falar que em uma relação sexual o preservativo é a forma
mais segura para evitar a transmissão do vírus HIV, causador da aids. Nesse
sentido, há um dado bastante positivo: noventa e seis por cento dos brasileiros
sabem como a aids é transmitida, de acordo com a Pesquisa de Conhecimento,
Atitudes e Práticas Sexuais da População Brasileira, realizada em 2004 pelo
Ministério da Saúde.
Além da relação sexual sem proteção, o uso compartilhado de seringas,
prática comum entre usuários de drogas injetáveis, é uma importante forma de
transmissão do HIV. É fundamental a utilização de materiais descartáveis para
impedir o contágio, já que o vírus é transmitido por meio do sangue contaminado.
Números – Os últimos estudos epidemiológicos mostram que a aids ainda
cresce no Brasil. Com exceção do Sudeste, onde o registro de casos diminui
desde 1998, nas outras regiões ainda há alguma tendência de crescimento,
principalmente no Sul, no Centro-Oeste e no Norte. Em 24 anos, mais de 160 mil
brasileiros morreram vítimas da doença. Nesse período, foram registrados
362.364 casos de aids no País. Estima-se que 400 mil pessoas têm o vírus e não
sabem.
A proporção de pessoas infectadas no Brasil é de 18,2 duas doentes para
cada grupo de 100 mil habitantes. Nos infectados mais recentes, a incidência da
doença caiu entre os homens. Em 2003, foram 22,6 casos por 100 mil e em 1998
a taxa era de 26,3 por 100 mil. O contágio ainda cresce entre as mulheres, tendo
sido observada a maior taxa de incidência em 2003: 14 casos por 100 mil
mulheres. Nos casos masculinos, a transmissão pelo uso de drogas injetáveis
continua a decrescer. Os casos por transmissão homossexual mantiveram-se
estabilizados em cerca de 26% e a transmissão heterossexual continua com
tendência crescente. A doença vem atingindo de maneira importante os indivíduos
com menor escolaridade, principalmente as mulheres, infectadas geralmente por
seus parceiros sexuais fixos, maridos ou namorados.
País terá fábrica de camisinhas
O Brasil está construindo no Acre uma fábrica para produção de
preservativos. A primeira indústria nacional de camisinhas será no município de
Xapuri e utilizará látex da reserva extrativista Chico Mendes.
Com recursos de R$ 29,7 milhões do Governo Federal, o empreendimento,
além de reduzir a importação do látex da Ásia, irá gerar cerca de 500 novos
empregos para a população extrativista da região e poupará divisas para o Brasil.
A fábrica de Xapuri prevê a produção anual, a partir de 2006, de 100
milhões de camisinhas por ano, dez vezes mais do que o Ministério da Saúde
distribui durante os carnavais nas principais cidades brasileiras.
Preservativos populares – Outra novidade importante é a utilização das
farmácias populares na campanha pelo uso da camisinha. Mais de 10 mil
preservativos já estão disponíveis a R$ 0,30 em todas as farmácias populares.
O programa Farmácia Popular tem 27 unidades em sete cidades: São
Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Caxias do Sul (RS), Salvador, Vitória da Conquista
(BA) e Itabuna (BA). Nesses locais os medicamentos podem ser adquiridos por
um valor até 85% menor do que o praticado na rede privada.
Conheça a letra da música que, 75 anos depois de seu lançamento, está
ajudando a mudar o comportamento do brasileiro:
Com Que Roupa
(Noel Rosa)
Eu hoje vou mudar minha conduta
Eu vou à luta, pois eu quero me aprumar
Vou tratar você na força bruta
Que é pra poder me reabilitar
Pois esta vida não está sopa
E eu pergunto, com que roupa, com que roupa eu vou
Ao samba que você me convidou?
Eu hoje estou pulando feito sapo
Pra ver se escapo dessa praga de urubu
Já estou coberto de farrapos, eu vou acabar ficando nu
Meu paletó virou estopa, e eu não sei mais com que roupa
...
Seu português agora deu o fora, já foi-se embora
E levou seu capital
Esqueceu quem tanto amou outrora
Foi no Adamastor pra Portugal
Pra se casar com uma cachopa, e agora, com que roupa?
...
Agora eu não ando mais fagueiro,
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar
Eu já corri de vento em popa, mas agora com que roupa.
Na campanha do Ministério da Saúde, a cantora Daniela Mercury canta uma
nova versão para a composição de Noel Rosa. Conheça a letra da campanha:
Agora eu vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta sem pensar em me arriscar
Vou de camisinha e vou sem culpa
Vou seguro que é pra não me incomodar
Pois minha vida não está sopa
Eu me pergunto com que roupa
Com que roupa que eu vou
Eu vou de camisinha
Sempre vou
É seguro
Que eu vou
Eu vou
Pra festa que você me convidou
É seguro
Eu vou
Eu vou
Pra festa que você me convidou
Vou pro samba
Vou de camisinha
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