Ética na Saúde Aula 6 Profª. Beatriz Acampora Ética e eutanásia Eutanásia consiste na conduta de abreviar a vida de um paciente em estado terminal ou que esteja sujeito a dores e intoleráveis sofrimentos físicos ou psíquicos. (www.significados.com.br) 02 Ética e eutanásia Uma série de questões éticas e morais afloram no contexto da terminalidade da vida: • direitos do paciente em relação à verdade sobre suas reais condições; • objetivos da atuação médica; • paradoxos entre a consciência e a legalidade. 03 Ética e eutanásia Pode, ou deve, o médico ajudar um paciente que sofre de modo irreversível, a morrer? Vídeo sobre médica que foi acusada de eutanásia A https://www.youtube.com/watch? v=KZsVocIpbZY eutanásia pode ser considerada uma ação médica ética? 04 Ética e eutanásia A palavra “eutanásia” tem origem grega e representa, literalmente, “boa morte”. É comumente entendida como a prática pela qual o médico abrevia a vida de um paciente incurável. 05 Ética e eutanásia Se a proteção da vida é um princípio básico do Estado, também são direitos básicos da pessoa o respeito à autonomia e à vontade própria. Contudo é importante respeitar a legislação vigente, que afirma que a eutanásia é crime. 06 Ética e eutanásia Um dos casos mais emblemáticos foi o da italiana Eluana Englaro. Eluana sofreu um acidente de carro em janeiro de 1992 e permaneceu 17 anos em estado vegetativo, só vindo a falecer em fevereiro de 2009. Durante estes 17 anos, esta moça foi foco de uma das mais intensas batalhas judiciais envolvendo o chamado “direito à morte digna”. 7 Ética e eutanásia Seu pai teve o pedido de autorização para desligamento dos aparelhos que forneciam alimento a ela aceito e negado através de recursos inúmeras vezes. Quando finalmente, em fins de 2008 as leis italianas foram alteradas em função da repercussão do caso e foi concedida a autorização, a igreja interviu e protestou veementemente pelo que considerou uma ação criminosa cometida contra o direito à vida e ameaçou excomungar todos que estivessem associados de alguma forma a este ato. 8 Ética e eutanásia Seu pai conseguiu o desligamento dos aparelhos, mas em fevereiro de 2009, o primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi emitiu um parecer forçando a continuidade da manutenção da vida de Eluana, o presidente Giorgio Napolitano, no entanto, se recusou a promulgar o decreto, gerou uma crise política intensa e poucos dias depois, Eluana morreu. 9 Ética e eutanásia A atuação médica está fundamentada em dois pilares: • A preservação da vida • O alívio do sofrimento. Este princípios podem se completar ou se tornarem antagônicos. 10 Ética e eutanásia Se considerarmos que a preservação da vida é o valor maior, podemos incorrer na chamada “distanásia”. Distanásia é o nome do ato de prorrogar a vida através de meios artificiais e, muitas vezes, desproporcionais à condição de recuperação do doente. Em outras palavras, foi o que ocorreu com Eluana. 11 Ética e eutanásia A questão ética a ser considerada é: A distanásia é mais ética do que a eutanásia? É válido estender a vida mesmo que a cura não seja possível e o sofrimento excessivamente penoso? 12 Ética e eutanásia Naturalmente que, enquanto houver a mais remota possibilidade de reversão do quadro de morte inevitável deve-se sustentar a manutenção da vida, mas, em caso contrário, o que a ética determina é a priorização do segundo pilar: o alivio do sofrimento. 13 Ética e eutanásia Poderíamos então, considerar que aliviar o sofrimento, nestes casos compreendido como permitir ou antecipar a morte, recai em uma outra grave questão: Quando desistir da vida ? 14 Ética e eutanásia O americano Terry Wallis, após um acidente de carro, ficou 20 anos em estado de coma e retornou à consciência, voltando a falar e a recuperar movimentos do corpo. Certamente não é o tempo o padrão capaz de determinar esta resposta. Vídeo distanásia, eutanásia e ortotanásia https://www.youtube.com/watch?v=dWzBF77c4vg 15 Ética e eutanásia Em uma condição de tratamento normal e possibilidade de recuperação plena, o princípio prioritário é o beneficência e o tratamento, mesmo que implique em algum sofrimento, objetiva a preservação da vida. 16 Ética e eutanásia Em condições em que a cura não é mais uma possibilidade, os objetivos precisam estar direcionados para a nãomaleficência = não causar dano ou dor desnecessários e sem justificativa. A autonomia em recusar tratamentos = também precisa ser avaliada dentro desta perspectiva hierarquizada das condições de recuperação. 17 Ética e eutanásia “EUTANÁSIA ATIVA” - onde é produzida uma ação que objetiva provocar deliberadamente a morte sem sofrimento. Consiste no ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente, por fins misericordiosos. É ativa quando o agente ministra substância capaz de provocar a morte instantânea e indolor. 18 Ética e eutanásia “EUTANÁSIA PASSIVA” ou “ortotanásia” = que se caracteriza pela interrupção de uma terapêutica que atua na sustentação da vida, deixando a doença seguir seu curso. A principal distinção entre a eutanásia ativa e passiva está na intenção da ação, quando esta ação acarretar na antecipação da morte intencionalmente, é considerada eutanásia ativa. 19 Ética e eutanásia Ortotanásia = dá-se quando a morte do paciente ocorre, dentro de uma situação de terminalidade, ou porque não se inicia uma ação médica ou pela interrupção de uma medida extraordinária. O médico deixa de prolongar, por meios artificiais e extraordinários, a vida condenada, haja vista que o tratamento para prolongar a vida traz sofrimento ao paciente terminal. 20 Ética e eutanásia Exemplos: Eutanásia ativa – injeção letal, cadeira elétrica, combinação de medicamentos que provocam a morte, desligar um aparelho que sustenta a vida. Eutanásia passiva – suspensão de um tratamento que adia a morte e prolonga a vida, como quimio ou radioterapia em pacientes com câncer terminal. 21 Ética e eutanásia “EUTANÁSIA DE DUPLO EFEITO” = quando a morte é promovida indiretamente pelas ações médicas executadas com o objetivo de aliviar o sofrimento de um paciente terminal, como, por exemplo, a morfina que administrada para a dor pode provocar depressão respiratória e morte. Nestes casos, o objetivo da ação médica não é promover o óbito, mas assume-se seu risco em prol da amenização do sofrimento. 22 Ética e eutanásia Uruguai, Holanda e Bélgica admitem a prática legal da eutanásia ativa. A Holanda foi o primeiro país do mundo a legalizar a eutanásia e o suicídio assistido, em abril de 2002, sob uma série de condições: o paciente precisa fazer o pedido em estado de “total consciência”, sofrer dores insuportáveis e ser portador de uma doença incurável. Segundo reportagem do jornal “The Guardian”, coquetéis de drogas letais foram administrados, sob supervisão médica, a 3.136 pessoas em 2010. 23 Ética e eutanásia A Bélgica seguiu os passos da Holanda no mesmo ano, e desde 2002 a eutanásia é legalizada no país. Pessoas saudáveis podem deixar registrado seu desejo de morrer caso entrem em estado de inconsciência ou coma durante uma doença terminal. Suicídio assistido = Suiça, Alemanha, Holanda, EUA Oregon, Washington e Vermont. 24 Ética e eutanásia Suicídio assistido = O suicídio assistido ocorre quando uma pessoa, que não consegue concretizar sozinha sua intenção de morrer, e solicita o auxílio de um outro indivíduo. A assistência ao suicídio de outra pessoa pode ser feita por atos (prescrição de doses altas de medicação e indicação de uso) ou, de forma mais passiva, através de persuasão ou de encorajamento. Em ambas as formas, a pessoa que contribui para a ocorrência da morte da outra, compactua com a intenção de morrer através da utilização de um agente causal. 25 Ética e eutanásia No Brasil, as duas práticas são proibidas, embora não constem especificamente no Código Penal. 26 Ética e eutanásia No Brasil - a eutanásia pode ser enquadrada no artigo 121, como homicídio simples ou qualificado, e o suicídio assistido pode configurar o crime de participação em suicídio, previsto no artigo 122. 27 Ética e eutanásia Eutanásia voluntária - quando a morte provocada ocorre em atendimento a uma vontade explícita do paciente. A eutanásia voluntária é muito assemelhada ao conceito chamado de “suicídio assistido”. A distinção está no fato de que na eutanásia a ação é sempre realizada por outra pessoa, enquanto que no suicídio assistido a própria pessoa (mesmo que com auxílio de terceiros) executa a ação que a leva ao óbito. 28 Ética e eutanásia Eutanásia involuntária - quando é provocada sem o consentimento do paciente quando este se encontra consciente e em condições de escolher; Eutanásia não-voluntária - quando é provocada sem que o paciente tenha manifestado seu desejo pelo fato de se encontrar sem condições de se expressar, normalmente em condições de coma ou no caso de recém-nascidos. 29 Ética e eutanásia Do ponto de vista legal, é importante frisar que no Brasil, o Conselho Federal de Medicina através do Código de Ética Médica (2009) em seu Artigo 41 explicita de modo claro a proibição de: “Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.” 30 Ética e eutanásia Resolução 1.805 de 2006 do CFM = regulamentava e autorizava aos médicos a prática da ortotanásia (interrupção de terapêuticas que já não surtem mais efeitos em pacientes terminais) como forma de desestimular a distanásia (sustentação artificial da vida por tratamentos desproporcionais à condição de recuperação). 31 Ética e eutanásia Em 2009 o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 6715: Que exclui a ilicitude da ortotanásia do Código Penal desde que o médico possua o consentimento explícito do paciente ou de seu representante legal. 32 Ética e eutanásia Esta postura em relação à eutanásia e à ortotanásia também é a posição assumida pela Associação Médica Mundial. Em uma declaração publicada na 39ª Assembleia Médica Mundial em 1987 na Espanha (Declaração de Madrid) e posteriormente reafirmada em 2005 na 107ª Seção do Conselho da Associação Médica Mundial na França, esta afirma que: 33 Ética e eutanásia “Eutanásia, que é o ato de deliberadamente terminar com a vida de um paciente, mesmo com a solicitação do próprio paciente ou de seus familiares próximos, é eticamente inadequada. Isto não impede o médico de respeitar o desejo do paciente em permitir o curso natural do processo de morte na fase terminal de uma doença”. (Tradução de José R. Goldim. http://www.ufrgs.br/bioetica/madrid.htm). Disponível em: 34 Ética e eutanásia O caso Terri Schiavo A americana Terri Schiavo, 41, que vivia em estado vegetativo havia 15 anos, morreu em 2005, no hospital Pinellas Park (Flórida) após longa batalha judicial entre seu marido, Michael Schiavo, e sua família. O tubo que alimentava Terri foi retirado. Ela era mantida viva artificialmente, e recebia alimentação por meio de um tubo inserido em seu estômago. Qual tipo de eutanásia ocorreu? 35 Ética e eutanásia O caso Terri Schiavo Eutanásia ativa, onde é produzida uma ação que objetiva provocar deliberadamente a morte sem sofrimento, pois a retirada da sonda que sustentava a alimentação de Terri foi retirada com a intenção de produzir o óbito. 36 Ética e eutanásia 37 Ética e eutanásia Beatriz Acampora e Silva de Oliveira Drd. Saúde Pública (UA-PY), Mestre em Cognição e Linguagem pela UENF/RJ (2006), Pós-graduada em Arteterapia em Educação e Saúde FAMESC / ISEC (2013), Pós-graduada em Hipnose Clínica, Organizacional e Hospitalar SPEI - IBHA (2010), Pós-graduada em Psicologia Humanista Existencial pela UNESA (2006), Pós-graduada em Cultura, Comunicação e Linguagem pela FAFIC (1998), Graduada em Psicologia pela UNESA (2005), Graduada em Comunicação Social - Jornalismo - FAFIC (1996). Professora da área de saúde da Universidade Estácio de Sá desde 2006. Diretora do ISEC. Autora de vários livros pela Amazon e Wak Editora. Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/8083783572894169 Obrigada!