Intoxicações Prof Bruno Silva Introdução • A intoxicação é o efeito nocivo que se produz quando uma substância tóxica é ingerida ou entra em contato com: – Pele e olhos – Mucosa: Nasal, do trato gastrintestinal, dos porgãos genitais • São situações comuns na prática clínica principalmente em emergências e são a causa mais freqüente de acidentes domésticos não mortais. Introdução • As intoxicações acidentais ou intencionais, são consideradas uma importante causa de ida a emergências médicas ou internações; • A OMS estima que aproximadamente 1,5 a 3% da população é intoxicada por ano. – Isto representa para nosso país, até 4.800.000 novos casos a cada ano. – De 0,1 a 0,4 % das intoxicações culminam em óbito. Introdução • Muitas vezes estamos diante de casos em que há uma exposição evidente, porém há casos em que a exposição é apenas possível. • Portanto a hipótese de intoxicação deve ser sempre um diagnóstico diferencial em quadros obscuros e com sintomatologia não enquadrável. Introdução • Aproximadamente 70% das intoxicações são agudas • Cerca de 90% das intoxicações agudas se dá por ingestão (isto é por via oral). Produtos tóxicos comuns Diagnóstico • O diagnóstico das intoxicações agudas emprega os mesmos processos para o diagnóstico de qualquer condição clínica: – História ( anamnese ) – Exame físico – Exames laboratoriais ( Se necessário ) Diagnóstico • • Lembre-se sempre: PARA DIAGNOSTICAR UMA INTOXICAÇÃO, É PRECISO PENSAR NELA ! Diagnóstico • Na prática clínica, as eventualidades que se apresentam, podem estar enquadradas dentro de 2 possibilidades: 1.Exposição evidente 2.Exposição possível Exposição evidente • Quando há uma exposição evidente, clara, ela pode estar enquadrada em uma das seguintes condições: – O toxicante (tóxico) e a dose são conhecidos – O toxicante é conhecido porém a dose é desconhecida – O toxicante e a dose são desconhecidos Exposição evidente • Diante de uma exposição evidente, o problema principal é: – Avaliar a QUANTIDADE do toxicante e a sua toxicidade. • O tratamento dependerá da quantidade e da toxicidade do toxicante. Exposição possível • É a ausência de exposição clara (evidente) porém com: – Brusca transição do estado de saúde para um distúrbio orgânico importante e com risco de morte. – Aparecimento simultâneo de sintomas semelhantes em nº significativo de pessoas. Exposição possível • Entram nessa situação, o encontro de “pistas” como: – Vidros, – Fracos vazios, – Envelopes de fármacos vazios ou mastigados, – Partes de plantas, – Seringas recém-usadas, – Cartas de despedidas ou de tentativa clara de suicídio no local onde se encontravam o paciente, ou próximo a ele. Diagnóstico diferencial • Pensar em intoxicação para o diagnóstico de uma enfermidade com: – Quadro clínico obscuro – Com sintomatologia não enquadrável – Etiologia desconhecida – Pacientes desacordados e encontrado • Lembre-se: Envenenamento deve ser considerado sempre no diagnóstico diferencial ! Exame físico • Muitas vezes, como os pacientes chegam desacordados e sem informações importantes que podem nos nortear a um diagnóstico, o exame físico completo se torna um aliado fundamental. • Além de ser completo, para obter uma visão integral do paciente e manutenção de suas funções vitais, devemos procurar alguns sinais e sintomas que juntos podem fechar o diagnóstico. Exame físico: Hálitos • De polidor de prata (amêndoas amargas): – Intoxicação por: Cianeto • Alho: – Intoxicação por: Arsênico, fósforo, tálio e parathion • Acetona: – Intoxicação por: Acetona, álcool, isopropílico, metanol, aspirina • Gás de carvão: – Intoxicação por: Monóxido de carbono Exame físico: Hálitos • Pêra: – Intoxicação por: Hidrato de cloral • Graxa de sapato: – Intoxicação por: Nitrobenzeno • Cânfora: – Intoxicação por: Cânfora • Álcool: – Intoxicação por: Álcool Exame físico: Boca • Sialorréia: – Organofosforados (OF), – Carbamatos, – Arsênico, – Estricnina, – Chumbo, – – – – – – Mercúrio, Tálio, Cogumelos, Nicotina, Aspirina, Cáusticos Exame físico: Boca • Xerostomia (boca seca): – – – – Atropínicos, Anti-histamínicos, Efedrina, Anfetamina Exame físico: Boca • Descoloração das gengivas: – – – – Chumbo, Mercúrio, Arsênico, Bismuto Exame físico: Olhos • Miose: – Narcóticos, – OF, – Carbamatos, – Pilocarpina, – Muscarina, – Ipeca, Exame físico: Olhos • Midríase: – – – – – – Atropínicos Cocaína Anfetaminas Meperidina Éter Cânfora – – – – – – Álcool Cianeto Monóxido de carbono Nicotina Benzeno LSD Exame físico: Cardiovascular • Taquicardia: – – – – – – – – – Álcool Arsênio Atropínicos Aspirina Efedrina Nicotina Cocaína IPECA Anfetamina • Bradicardia: – – – – – – – – – Digitálicos Gasolina Nicotina Cogumelos Narcóticos Cianeto Simpaticomiméticos OF Carbamatos Exame físico: Cardiovascular • Hipertensão: – – – – Anfetaminas Chumbo Nicotina Simpaticomiméticos • Hipotensão: – Fenotiazínicos – Imipramina Exame físico: Cardiovascular • Alterações no ECG: – Arritmias ventriculares: • Arsenico, imipramina – Bloqueio atrioventricular: • Cianeto, dextropropoxifeno – QT prolongado: • Fenotiazinas – Outras: • Ipeca Exame físico: Pele • Marcas de agulhas: – Narcóticos e anfetaminas • Vesículas tensas: – Barbitúricos • Bolhas nos pés: – Monóxido de carbono • Pele seca e quente: – Atropínicos e botulismo Exame físico: Pele • Sudorese: – OF, – Carbamatos, – Nitratos, – Muscarínicos, – Nicotina, – Anfetaminas, – Barbitúricos, – LSD, – Cogumelos, – Talio, – Privação de drogas Exame físico: Pele • Coloração: – Preto: Iodo – Marrom: Brometo, metahemoglobinemia – Amarela: Ácido bórico – Rosa: Monóxido de carbono – Icterícia: Anilina, Arsênico, benzeno, fenotiazinas, fósforos, tiazídicos, quinina, cogumelos – Cianose: Dióxidos de carbono, cianeto, metano, nitratos, nitritos, Hidrato de clora, dinitrofenol, sulfonas Exame físico: Neuropsíquicos • Convulsões: – Anfetaminas, – Cânfora – Idrocarboneto, – Clorados, – OF, – Carbamatos, – Cianeto – Isoniazida, – Estricnina – Cogumelos – Cocaína – Nicotina – Cafeína – Dextropropoxifeno Exame físico: Neuropsíquicos • Coma: – Barbitúricos – Narcóticos – Álcool – Tranquilizantes – Hidrato de cloral – Paraldeído – Clorofórmio – Éter – Cianeto – Monóxidos de carbono – Nicotina – Benzeno – Xileno – Cogumelos – Dextropropoxifeno Exame físico: Neuropsíquicos • Alucinações: – Álcool, – LSD, – Mescalina, – Anfetaminas, – Atropínicos, – Cocaína, Exame físico: Neuropsíquicos • Cefaléia: – Monóxido de carbono, – Chumbo – Álcool – Antabuse, Exame físico: Neuropsíquicos • Tremores; – Fenotiazinas – OF, – Monóxido de carbono, • Hipertermia: – Atropina, – Aspirina, – Anfetamina, – LSD, Exame físico: Digestivos • Cólicas abdominais: – OF, – Carbamatos, – Arsênico, – Chumbo, – Tálio, – Privação de drogas, Exame físico: Digestivos • Diarréia: – Arsênico, – Ferro, – Ácido bórico, • Constipação: – Chumbo, – Narcóticos, – Carvão ativado Exame físico: Respiratórios • Depressão respiratória: – Narcóticos, – Dextropropoxifeno, – Álcool – Monóxido de carbono, • Taquipnéia: – Aspirina, – Querosene, – Metanol, – Nicotina, – Monóxido de carbono, Exame físico: Respiratórios • Edema agudo de pulmão: – OF, – Carbamatos, – Hidrocarbonetos, – Narcóticos, – Dextropropoxifeno, – Monóxido de carbono, Toxíndromes: Anfetaminas • • • • • Atividade excessiva, Argumentação, Tremores Cefaléia, Diarréia, • Sudorese, • Xerostomia com cheiro pútrido, • Taquicardia, • Midríase, • Arritmia Toxíndromes: Aspirina • Taquipnéia, • Vômitos, • Hipertermia, Toxíndromes: OF e Carbamatos • • • • • • • Sialorréia, Lacrimejamento, Miose, Sudorese, Relaxamento dos efíncteres, Cólicas abdominais, Broncorréia Toxíndromes: Cianetos • • • • • • Cianose, Coma, Hálito com odor de polidor de prata, Convulsões, Bradicardia, Bloqueio cardíaco Toxíndromes: Fenotiazinas • • • • • Miose, Tremores, Hipotensão postural, Ataxia, Prolongamento de QT Toxíndromes: Barbitúricos • Coma, • Pupilas levemente mióticas, • Vesículas cutâneas, Toxíndromes: Antidepressivos • Coma, • Depressão respiratória, • Alterações cardíacas, Toxíndromes: Opiáceos em geral • Coma, • Depressão respiratória, • Pupilas puntiformes, Toxíndromes: Nafazolina • Sudorese fria, • Hipertensão arterial, • Palidez cutânea, Conclusão • • • • As intoxicações agudas são uma importante causa de ida à emergência médica, principalmente na faixa pediátrica; A maior parte das intoxicações ocorrem por ingestão, porém podemos encontrar intoxicações por inalação ou absorção cutânea; Devemos sempre lembrar das intoxicações em todo paciente que chega com quadro obscuro; Reconhecer sinais ao exame físico é o maior aliado ao clínico na busca por uma etiologia.