Aula 3 Bibliografia Motta (2005), Cap 3; IDEI (2003), Economics of Unilateral Effects (http://idei.fr/doc/wp/2003/economics_unilaterals.pdf) VVH (1995), cap 5; Plano da aula I. Analise do poder de mercado; II. Modelos de competição estratégica (oligopolio): produtos homogêneos e heterogêneos. I. Analise do poder de mercado: procedimento tradicional Estimação econometrica direta Analise do poder de mercado Definição de mercado relevante 1. 2. 3. 4. 5. Limites de parcela de mercado; Parcelas de mercado e forças relativas; Facilidade ou probabilidade de entrada; Poder monopsônico ou poder do comprador; Indices de concentração. 1. Limites de parcela de mercado A AC vai filtrar casos de acordo com a parcela de mercado inferida da empresa: si s0 presunção de pouco poder de mercado sob produto i si s1 presunção de poder de mercado s0 si s1 maior investigaç ão regras mais claras: maior segurança legal às partes. Em algumas ACs, há transferência do dever de provar se a empresa tem ou não poder de mercado. si s0 se a AC decide investigar , deve provar poder de mercado si s1 a AC automatica mente investiga e a empresa deve provar não ter poder de mercado Transferência reduz custo de investigações; UK: 40% não é suficiente para considerar uma empresa como dominante; 50% considerada como dominante; Comissão Européia: 25% do mercado não implica dominância; US: 30-40% do mercado não implica dominância; Brasil: Lei estipula que 20% não implica dominância, mas a criterio do CADE estipular percentual maior. 2. Parcelas de mercado e forças relativas Parcelas de mercado podem ser pouco informativas: Se oferta depende de reservas, parcela de mercado corrente não informa quão forte é restrição competitiva da empresa em questão; Se a empresa trabalha a plena capacidade, sua capadidade de reação a aumento de preços é limitada (não tem como absorver a nova demanda): Qual a capacidade distributiva de chocolates caseiros? Se demandas são intermintentes, parcelas de mercado devem cobrir periodos mais longos; Padrão de distribuição de parcelas de mercado ao longo do tempo é importante: se distribuição muda muito ao longo do tempo, mercado é dinâmico e nenhum concorrente tem posição dominante. (Painel vs foto.) 3. Facilidade ou probabilidade de entrada mercado relevante deve considerar substitutbilidade do lado da oferta: entrantes imediatos / empresas ativas poder de mercado Entrantes potenciais tem papel semelhante (teoria de mercados contestaveis). Teoria dos Mercados Contestaveis Baumol, Panzar, Willig, 1982: Um monopolista sempre vai cobrar p = Cme < PM. Modelo: tecnologia acessivel ao incumbente e ao entrante; Custo Fixo F; Custo variavel cq. Demanda comporta F. Note que: Se p > c + F/q então atrai entrada: rivais cobram p-ε Se p < c + F/q então prejuizo do incumbente. O modelo gera um equilibrio onde o monopolio cobra p = CMe. Implicação do modelo na atuação da AC? Não é preciso ter orgão de defesa da concorrência! O ponto é que a ameaça de entrada vai impedir apreçamento de monopolio. Em equilibrio, p = CMe e entrada nunca ocorreria: custos fixos não são duplicados: não ha ineficiência produtiva devido a excesso de entrada. Problemas com a teoria Assume que o monopolista mantém os preços pre-entrada por algum tempo, mesmo com a entrada de um agente. Mas… O preço do monopolista pode ser reajustado mais rapidamente que decisão de entrada da concorrente. Como o mercado somente comporta 1 empresa, é improvavel que haja entrada se reação do incumbente é rapida. Assume a seguinte sequência de ações: O entrante potencial observa que ha oportunidade de lucro na industria; entra; tem lucro e; uma vez que o monopolista reage, a empresa sai do mercado, vendendo os ativos. Ha mercado secundario para todos os ativos: custos não são afundados. Custos afundados são todos os custos irrecuperaveis de uma atividade econômica: equipamentos sem mercado de revenda; expertise no mercado se perde se atividade é terminada. Custos afundados são de dois tipos: exogenos: ligados à tecnologia, ie, equipamento e construção da planta; Endogenos: ligados a P&D e propaganda que visam aumentar a percepção de qualidade do produto vendido. Usualmente, industrias com gdes gastos em P&D e propaganda são concentradas. Logo, estudo da facilidade de entrada no mercado deve: Analisar se a industria tem historia de episodios de entrada onde o incumbente foi mais agressivo que o usual. Conduta predatoria cria uma reputação para o incumbente que desincentiva ainda a entrada de rivais no mercado. Outros fatores prevenindo entrada Vimos custos afundados; outros problemas: Custos de mudança; Custos de transação e Custos de aprendizado; Custos artificiais: programa de milhagens, pagamentos para fechar uma conta num banco ou terminar um contrato; não portabilidade do numero de telefone etc Externalidades de rede: consumidores de um serviço são beneficiados pelo numero de usuarios do serviço. Consumidores tem menor incentivo para mudar de produto. 4. Poder monopsônico ou poder do comprador Fusões podem ser aceitas se comprador é gde o suficiente: uso do poder de barganha para reduzir preços; empresas podem verticalizar produção do insumo (ameaça crivel torna-se mais crivel se a linha de prod. esta montada); Exemplo A CE autorizou uma fusão (Enso/Stora) que gerava parcela de mercado entre 50-70% numa industria de Liquid Packaging Board (papelão para caixas de leite e sucos): Argumento: o poder do comprador, a Tetrapak, era gde o suficiente, 60 – 80% das vendas. A Tetrapak poderia desenvolver capacidade com fornecedores correntes ou potenciais se Enso/Stora tentasse exercer poder de mercado. 5. Indices de concentração Uteis para o conselheiro avaliar um ato de concentração; Concentração em si não é o problema, mas o efeito da fusão no poder de mercado da nova empresa; Um bom indice deve informar sobre poder de mercado. Concentração entre empresas com pequena parcela de mercado tera um efeito pequeno nos preços; (Farrel, Shapiro 1990) Concentração entre empresas com gde parcela de mercado tem pior efeito no mercado (devido a aumento de preços) (McAfee e Williams, 1992) Indice Herfindhal-Hirshman de concentração (HHI) Indice usado frequentemente para screening de casos nos EUA e CE: n HHI si 2 1 Em casos de fusão é calculada a variação do HHI apos a fusão. Estabelece relação direta entre poder médio de mercado e concentração industrial. Se mark-ups de empresas são proporcionais a parcelas de mercado, então o mark-up médio do mercado deve ser proporcional ao HHI. (mark up )i ksi n n 1 1 si (mark up )i k si 2 k HHI Nota: HHI pode não ser apropriado a concorrência oligopolistica. II. Teorias de Oligopolio Num mercado com estrutura oligopolistica, a empresa não é tomadora de preço: Interdependência de decisões estratégicas, que são instrumentos de concorrência: curto prazo: preço, propaganda, esforço de vendas; Médio/longo prazo: qualidade , design, entrega no prazo, distribuição, P&D. comportamento de empresas segue rationale de jogos não cooperativos ( equilibrio de Nash ). Dois tipos de modelagem 1. Bens homogêneos; 2. Bens heterogêneos 1. Bens Homogêneos Competição via preços; Competição via quantidades; Competição via preços (Modelo de competição a la Bertrand) Hipoteses: 2 empresa; Bens homogêneos; One-shot game; Preço de venda escolhido simultâneamente e independente; Nenhuma restrição de capacidade; CMgs idênticos; Di pi se pi p j Demanda: D p Di pi , p j i i se pi p j 2 se pi p j 0 O equilibrio de Nash em preços é o par de preços (pi*,pj*) tal que: i pi *, p j * i ' pi , p j * , pi * pi O unico preço de equilibrio desta interação é preço = CMg, com lucro zero para ambas empresas. Resultado forte: Apenas com duas empresas ativas na industria é suficiente para gerar p = CMg. Hipoteses de competição são muito fortes. CMgs idênticos e Nenhuma restrição de capacidade. Competição via preços com custos assimétricos: CMg1 < CMg2; 2 soluções possiveis: 1. CMg1 <<<< CMg2 (empresa 1 age como monopolista por ser muito mais eficiente) e pratica preço monopolista; 2. CMg1 proximo de CMg2, mas CMg2 < apreçamento monopolista da empresa 1, o equilibrio sera: (p1*,p2*) = (c2 – ε,c2), ε tende a zero. Nesse caso, preço da empresa 1 sera acima de seu custo marginal. Competição com restrições de capacidade: Nesse caso, a empresa não consegue acomodar toda a demanda sozinha; Resultado de equilibrio gera p diferente de CMg: O preço de equilibrio sera função de como consumidores se alocam entre as empresas, uma vez que alguns consumidores não poderão comprar com as empresas de menor preço. Competição via quantidade (Modelo de competição a la Cournot) Hipoteses: i (qi , q j ) pqi cqi (1 q1 q2 )qi cqi 2 empresa; Bens homogêneos; One-shot game; Quantidade escolhida simultâneamente e independente; Nenhuma restrição de capacidade; CMgs idênticos; Demanda: Q 1 p onde Q q1 q2 O problema da empresa: Maxqi i (qi , q j ) C.P.O. Curva de reação de i i 0i qi Indice de Lerner = uma função da demanda… …HHI p ci p p p ci qi p 0 ou qi Q p Q 1 2qi q j c 0 i O equilibrio de Nash em preços é o par de quantidades (qi*,qj*) tal que: i qi *, q j * i ' qi , q j * , qi * qi O equilibrio: 1 c 1 2c q1 q2 p1 p2 c 3 3 1 c 2 9 Competição em preço vs competição em quantidade: Por que previsões tão diferentes? Competição em preço vs competição em quantidade No modelo de competição via preço, uma redução de preço implica capturar toda a demanda do mercado, para um dado preço do rival: maior incentivo de redução de preço. No modelo de competição via quantidades, a empresa escolhe quantidade, dada a quantidade escolhida pelo rival: expansão da produção implica maior parcela de mercado mas não o mercado inteiro, uma vez que toma-se como dada a oferta do rival. Competição via quantidades com custos assimétricos: CMg1 < CMg2; 2 soluções possiveis: 1. CMg1 <<<< CMg2 : a empresa 1 age como monopolista por ser muito mais eficiente e pratica preço monopolista; qi 2. CMg1 proximo de CMg2, i 1 2ci c j 3 1 2c c i 9 j 2 i Competição via quantidades com n empresas: Q 1 p Nesse caso, demanda é reescrita: N onde Q qi 1 E o problema da empresa i se torna: Maxqi i (qi , qi ) C.P.O. i (qi , q i ) 0i qi 1 2qi q j c 0 j i i O equilibrio é: 1 c 2 1 c 1 c qi * ; pi c c; 2 1 n 1 n 1 n Note que p tende a CMg com n grande o suficiente; O modelo de Cournot demonstra que qto maior o numero de firmas mais intensa é a competição no mercado. Correlação entre concentração e poder de mercado. HHI HHI e o modelo de Cournot O modelo de competição a la Cournot com bens homogêneos fornece a rationale econômica do HHI. Nesse caso o mark-up é proporcional à parcela de mercado da empresa, onde k é inversamente proporcional à elasticidadepreço. Demanda Q D( p) p ci p Preço de equilibrio: qi p Q Indice de Lerner de i Li n n 1 1 L= si Li si2 HHI mi i Note que como o bem é homogêneo, podemos reescrever L como: p ci p si ci L si p p cm p cm 1 p p Implicações: cm HHI aumenta qdo a razão p diminui; Aumento em HHI implica que p aumenta se CMg médio não diminui ! Logo, HHI é positivamente relacionado com preço e portanto (negativamente) relacionado com o nivel de bem estar, se o custo medio não cair com a concentração. Assim, qdo HHI aumenta, pode-se presumir (num modelo Cournot de concorrência) que preço aumenta se custo não cair. Uma concentração precisa reduzir muito os custos para não haver aumento de preços. Como todas as demais firmas permanecem no mercado, o preço somente pode cair nesse tipo de concentração se a empresa de maior custo participar da concentração. Problemas do uso do HHI O HHI é um bom previsor de poder de mercado antes da fusão, mas não de poder de mercado posfusão: Vimos que distribuição de parcelas de mercado varia com o numero de empresas; Se custos são simétricos, a parcela da nova empresa sera menor que a soma das parcelas individuais anteriores; Por isso, o HHI super-estima o poder de mercado da empresa concentrada. O HHI não é adequado a mercados com bens heterogêneos: Efeitos da fusão vão depender das elasticidades cruzadas dos serviços oferecidos pelas partes com os demais serviços oferecidos pelo mercado. Uma medida de substitutabilidade entre serviços seria mais apropriada que parcelas de mercado. 1. Bens Heterogêneos