A controvérsia sobre a completude da mecânica quântica. EPR e seus desdobramentos. Silvio Seno Chibeni www.unicamp.br/~chibeni Trabalho apresentado no Simpósio Comemorativo do Centenário da Constante de Planck, IFGW, Unicamp, 19/10/2000 Principais argumentos para a incompletude da MQ: – Einstein, Podolsky e Rosen (1935) – “Gato” de Schrödinger (1935) Einstein, Podolsky e Rosen (EPR) (Phys. Rev. 1935) “Can quantum-mechanical description of physical reality be considered complete?” TEORIA 1 FENÔMENOS 1. dimensão preditiva TEORIA 1 FENÔMENOS 2 REALIDADE 1. dimensão preditiva 2. dimensão explicativa FÍSICA CLÁSSICA • OBJETOS / propriedades objetivas • LEIS (interações entre os objetos) • CORRESPONDÊNCIA com o que se observa (fenômenos) resultados de medida ESTADO: Conjunto de PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS a partir das quais é possível deduzir as demais propriedades EX.: MECÂNICA CLÁSSICA: (x, p) En. cinética, Momento angular, etc. Estados quânticos: vetores em espaços de Hilbert (). Fato novo: Nenhum permite deduzir os valores de todas as propriedades mecânicas classicamente atribuídas aos objetos: p1, ... , p3, ... , p6, ... No entanto, as propriedades não contidas em podem ser medidas a qualquer momento. Aparentemente, a descrição por é incompleta. Objeção: O raciocínio pressupõe que os resultados de medida sejam entendidos como a mera revelação de propriedades pré-existentes. Interpretação de “Copenhague”: O processo de medida não é meramente passivo: 1. Propriedades antes inexistentes são criadas pela medida; ou 2. Há um distúrbio ineliminável e incontrolável das propriedades pré-existentes EPR: procuram invalidar essa interpretação “criativa” ou “perturbativa” do processo de medida, exibindo uma situação de medida na qual, aparentemente, não há nenhuma interação física. sistemas correlacionados fonte detector 1 detector 2 Versão de Bohm 1951 grandeza bivalente (n): n = +1, n = -1 Estado quântico “embaralhado” (singleto) : 1,2 = (1/2) {|n+> |n-> - |n-> |n+>} (n |n > = |n >) correlações absolutas: n1 1 1 -1 1 -1 -1 1 -1 1 n2 -1 -1 1 -1 1 1 -1 1 -1 Versão simplificada do argumento: 1. MQ: é possível prever com certeza o resultado de medida de n2 medindose n1. 2. LOCALIDADE: a situação real de 2 não pode ser alterada instantaneamente por ações sobre 1. 3. CRITÉRIO DE REALIDADE: se uma propriedade puder ser prevista sem que se interaja com o objeto, ela é inerente a ele (“real”). Conclusões: O resultado previsto para n2 deve ser entendido como uma propriedade real de 2, que não foi “criada” pela medida em 1. Como essa propriedade não está prevista em , a descrição quântica da realidade de 2 é incompleta Programa: “Completar” a descrição quântica Adição de parâmetros aos estados quânticos (variáveis “ocultas”) Teorias de variáveis ocultas (TVOs) Provas formais de “impossibilidade”: (MQ + VO) inconsistências • 1932 – John von Neumann 1957 – Andrew Gleason 1966 – John S. Bell 1967 – Kochen & Specker 1990 – David Mermin Então é impossível completar a MQ? Não ... 1952 - David Bohm: TVO consistente (!) A atribuição de valores às grandezas é “contextual” No caso de sistemas correlacionados, isso implica um traço surpreendente: a não-localidade (!) Bell 1966: Toda TVO deve ser não-local? Bell 1964: Sim, se tiver de concordar com a MQ Desigualdade de Bell: Sistemas do tipo EPR, sem correlação absoluta Coeficiente de correlação: C() TVOs locais: C() < N (desig. de Bell) MQ: C() > N para certos Testes experimentais: • Violação das desigualdades de Bell • Confirmação quantitativa das previsões quânticas Teste mais importante: Aspect, Dalibard & Roger 1982 Resultados “mistos” : TVOs locais inconsistências • Heywood & Redhead 1983 • Greenberger, Horne & Zeilinger 1989 Completar a MQ: • Evita o problema do “gato de Schrödinger” • Contextualismo: propriedades inerentes ao objeto e seu “contexto” holismo • Não-localidade: conexão à distância entre objetos violação de restrições relativistas? • Resguarda o realismo Não completar a MQ: 1. Adotar alguma interpretação não-realista (e.g. instrumentalista), renunciando assim a entender a teoria como uma tentativa de descrever e explicar a realidade. 2. Procurar uma interpretação realista: – “Muitos mundos”: não requer modificação do formalismo, mas “prolifera entidades”. – Ontologias de “potências”: pode ser necessário suplementar a Eq. de Schrödinger, para solucionar o problema do “gato”. “And yet science would perish whithout a supporting transcendental faith in truth and reality” Herman Weyl “It seems to me that we do not know [...] enough, yet, to state with any conviction that [Schrödinger’s] and Einstein’s quixotic refusal to abandon classical standards of physical explanation was the act of heretics and sinners rather than of not yet canonized saints and martyrs.” John Dorling