A Literatura como Instituição

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A Literatura como
Instituição
O Que é Literatura?
• Começa por ser um saber ligado à arte de
escrever, ler, gramática, instrução e
erudição;
• O conceito surge em Portugal no séc. XVI;
• Até ao séc. XVIII, significava saber e
ciência, em geral (Filosofia, Astronomia,
Matemática, Química, História,
Eloquência, etc...);
E onde cabia o que conhecemos
hoje por “Literatura”?
• Utilizavam-se para o efeito termos
como Poesia, Eloquência, Verso e
Prosa
Evolução histórica do
conceito
• Na segunda metade do séc. XVIII há
uma evolução profunda do termo
ligada à revolução cultural que se
vive na Europa;
• O termo passa a designar algo de
mais específico;
• Teve muitas acepções ao longo
deste período (séc. XIX e XX);
Mas que mudança foi esta no séc. XVIII?
• Neste século, o conceito adquire
significados que ainda hoje mantém:
•
•
•
•
Arte que utiliza a linguagem verbal
Uma específica criação estética e artística
Conjunto de textos dessa actividade criadora
Instituição de índole cultural
Além disso, outras mudanças se verificam
neste período:
• Acontece uma clara distinção entre
escritores e cientistas, que leva a uma
separação das obras de valor científico e
técnico, das Belas Letras (já se prenunciava
o que Roman Jackobson viria a chamar
Literariedade). Começa a valorizar-se o
estético como elemento diferenciador.
Campo Literário
(as fronteiras da literatura)
• Vasto domínio de fronteiras fluidas, já
que nem sempre é fácil a integração de
certas obras no conceito Literatura.
• Tem que ver com uma dimensão estética,
nem sempre fácil de definir;
• Será uma especificidade da linguagem?
• É, concerteza, uma instituição.
Instituição Literária
• “Teria tendência a ver nele duas coisas: por um
lado a própria literatura, a prática da escrita, o
facto de querer inserir-se num código que
consiste em transpor preto no branco, e a partir
de um certo número de imposições, um
experiência onírica ou real; por outro lado,
entenderia por instituição literária todas as
margens da prática literária: as revistas, os júris,
eventualmente as Universidades, tudo o que
consagra a experiência literária e lhe dá uma
possibilidade mais ou menos grande de chegar ao
público; isto é, finalmente, os canais de
transmissão.” Julia Kristeva
Academias e Arcádias
• Espaços de convívio de escritores e leitores,
que permitem a criação e desenvolvimento de
estabilidade e notoriedade do escritor.
• Começa também a desenvolver-se uma certa
autonomização do escritor;
• Estas instituições acabam por funcionar
também como um forma de consagração dos
escritores como imortais e académicos.
Propriedade Literária
• A partir do séc. XIX, o estabelecimento
da propriedade literária, permite uma
ainda maior autonomização do escritor,
passando este a viver da sua produção.
Isto traz uma nova forma de ver a
literatura, já que o escritor passa a
poder escrever como quer e sobre o que
quer, mesmo afrontando o poder.
A crítica literária
• À medida que se autonomizam os
escritores, surgem à sua volta autores
que se dedicam a estudá-los: os críticos.
Publicando normalmente em jornais e
revistas especializadas, ajudam a
institucionalizar a literatura e a criar o
cânone.
Os sistemas de Ensino
• Os SE e os seus agentes, e os
instrumentos pedagógicos de que
dispõem, tendem também a
converter-se em instâncias de
validação institucional da literatura.
«Nos tempos em que Voltaire, já depois de “Cândide” (...)
se contentava com cem leitores (...) - esses cem homens que
liam e que satisfaziam Voltaire, eram tratados pelos escritores
com um cerimonial e uma adulação, que se usavam somente
para com os príncipes de sangue (...). Em verdade, o leitor de
então, “o amigo leitor”, pertencia sempre aos altos corpos do
Estado: o alfabeto ainda não se tinha democratizado; quase
apenas sabiam ler as Academias, alguns da nobreza, os
Parlamentos, e Frederico, rei da Prússia; e naturalmente, o
homem de letras, (...) ao entrar em relações com esse leitor de
grandes maneiras, emplumado, vestido talvez de arminho,
empregava todas as formas e todas as graças do respeito (...).
Mas esta cortesia, em que havia emoção, provinha
sobretudo de que o escritor, há cem anos, dirigia-se
particularmente a uma pessoa de saber e de gosto, amiga da
eloquência e da tragédia, que ocupava os seus ócios luxuosos a
ler, e que se chamava “o Leitor”; e hoje dirige-se esparsamente
a uma multidão azafamada e tosca que se chama “o público”»
Eça de Queirós, Prefácio dos Azulejos do Conde de Arnoso
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