A TECNOLOGIA COMO REDE BrunoLatour/Michel Callon. Ecole de Mines de Paris John Law. Universidade de Keele Autores propõe tratar conjuntamente atores humanos e não humanos (actants) como uma rede sociotécnica. Tecnologia envolve uma rede de atores ( actor-network) PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Não há distinção entre ciência e técnica ( tecnociência). Princípio da “simetria generalizada”: utilização do mesmo esquema referencial e conceitual para analisar elementos sociais e técnicos cadeia h-nh-h-nh... Associação h-nh é noção essencial para compreender as formas de organização social caráter híbrido da sociedade. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS “ Nós nunca estamos diante de objetos ou relações sociais, nós estamos diante de cadeias que são associações de humanos e não humanos, cadeias que parecem assim: H-NH-H-NH(...) Naturalmente um conjunto H-H-H assemelha-se a uma relação social, enquanto um conjunto NH-NH-NH assemelhase a um mecanismo ou uma máquina, mas a questão é que ambos estão sempre integrados em cadeias mais amplas. É a cadeia – o sintagma – que nós estudamos, ou suas transformações – o paradigma – mas nunca alguns dos seus agregados ou pedaços.” PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Tradução Latour acredita que o que se deve buscar apreender é como se traduz (em termos de definição e distribuição de papéis e o delineamento de um cenário) a relação entre os elementos de uma rede de atores, considerando-se que as características observadas não devem ser consideradas como pré-definidas ou pertencentes a uma realidade externa e oculta, mas “emprestadas” ( ou traduzidas) pelos demais elementos da rede de atores, num movimento mútuo e contínuo, numa NEGOCIAÇÃO. ARGUMENTOS De base materialista/determinista: “armas matam pessoas”. O sujeito se transforma. Somos o que temos nas mãos. ARGUMENTOS De base “sociológica”: “armas não matam pessoas. pessoas matam pessoas” O que importa é o que somos, não o que temos (nas mãos). Artefato técnico é ferramenta, meio, veículo neutro à vontade humana, que nada acrescenta a ação ( desconsidera o script do artefato). Técnicas são escravos flexíveis e diligentes. MAS AFINAL, QUE MEDIAÇÃO É ESSA? 1 - INTERFERÊNCIA O vínculo H-nh gera um objetivo compósito ( translação de objetivos), diferente do objetivo (ou função) original. “ os objetivos são redefinidos por associações com atuantes nh e a ação é uma propriedade da associação inteira, não apenas dos actants chamados humanos.” Proposições articuladas = proposição nova = novo ator - híbrido - arma-cidadão/cidadão 2 – COMPOSIÇÃO (DA AÇÃO) “ A ação não é uma propriedade de humanos, mas de uma associação de atuantes.” Papéis a priori podem ser atribuídos apenas provisoriamente, considerando-se que, por se relacionarem em rede, os actants encontram-se em processo de permutar competências, oferecendo um ao outro novas possibilidades, novos objetivos, novas funções. Importante apreender o que se conserva ao longo das transformações. 3 – O ENTRELAÇAMENTO DE TEMPO E ESPAÇO Avaliar o papel mediador da tecnologia exige depreender o nível de obscurecimento ou pontualização a que a relação homem-tecnologia está submetida, ou seja, o quanto se está “consciente” do entrelaçamento h-nh considerando-se o tempo e o espaço da ação. 4 -TRANSPOSIÇÃO DA FRONTEIRA ENTRE SIGNOS E COISAS - - “As técnicas modificam a substância da nossa expressão e não apenas a sua forma”. “ Nos artefatos e nas tecnologias, não encontramos a eficiência e a teimosia da matéria, que imprime cadeias de causa e efeito nos humanos maleáveis. Em última análise, o quebra-molas não é feito de matéria: está repleto de engenheiros, reitores e legisladores que misturam suas vontades e perfis históricos aos do cascalho, concreto, tinta e cálculos matemáticos.” 4.1 -TRANSPOSIÇÃO DA FRONTEIRA ENTRE SIGNOS E COISAS -Qual o significado de um quebra molas? Simbólico: vigência da lei de limite de velocidade para proteção dos pedestres ( expresso anteriormente sob a forma de discurso – lei – e de signos maleáveis – placas). Imediato: desacelerar para proteger a suspensão do carro. Ocorre o deslocamento de um significado para outro e o traslado de uma ação para outro tipo de expressão. 4.2 -TRANSPOSIÇÃO DA FRONTEIRA ENTRE SIGNOS E COISAS Para os engenheiros: o quebra molas representa uma articulação significativa entre proposições. Explorando as associações e substituições, delineiam uma trajetória única através do coletivo. Permanece o significado (manter o limite de velocidade), mas não mais o discurso. Sua ação provoca um deslocamento atorial, espacial e temporal .Entretanto, o enunciador desse ato técnico desapareceu de cena e o artefato passa a agir como legado, tomando o lugar no enunciador. Refaz-se a cadeia h-nh. “Meu pequeno conto cosmogônico revela a impossibilidade de termos um artefato que não incorpore relações sociais, bem como a impossibilidade de definir estruturas sociais sem explicar o amplo papel nelas desempenhado por não-humanos.” Faz-se importante considerar (...) o que se aprendeu de não-humanos e se transferiu para a esfera social e o que se ensaiou na esfera social e se reexportou para o não humanos. Conceber humanidade e tecnologia como pólos opostos é, com efeito, descartar a humanidade: somos animais sociotécnicos e toda interação humana é sociotécnica. Jamais estamos limitados a vínculos sociais, jamais nos defrontamos unicamente com objetos. Objetos que existem simplesmente como objetos, apartados da vida coletiva, são desconhecidos, estão sepultados.” BIBLIOGRAFIA LATOUR, B. A esperança de Pandora. Bauru, SP: Edusc, 2001. ______. Ciência em ação. Como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Ed.Unesp, 2000. ______. Jamais fomos modernos. 2a ed. São Paulo:Editora 34, 2000.