HISTÓRIA DO BRASIL COLONIAL Prof. Ronaldo B. Colvero URCAMP – Campus de São Borja A conjuntura do Ocidente Mundo em crise: a Europa no Século XIV Nos ricos mercados levantinos, a Europa encontrou as riquezas que ela fora impotente para acumular. O resultado mais imediatamente colhido pelo cruzadismo foi o renascimento do comércio cristão na orla mediterrânea. A rápida infiltração do comerciante transformou as formas de produção e, bem assim, as relações sociais até aí existentes. O esperto mercador trazia consigo o trabalho livre, a circulação de riquezas e o renascimento dos centros urbanos, com todas as conhecidas resultantes sociais e econômicas. O renascimento mercantil criou novas formas de acumulação social de riqueza, que se fazia pela exploração do pequeno produtor e pela ruína do senhorio rural. Com as enormes fortunas privadas acentuou-se cada vez mais claramente o domínio dos fortes comerciantes e banqueiros sobre o artesanato e pequeno e médio mercador. A concorrência no mercado dos têxteis criou novas questões econômicas que abrirem profundos abismos sociais. O drama era europeu. As reivindicações dos trabalhadores urbanos, em matérias de salários, não tinha ressonância. [possibilidade de crescimento] Inúmeras famílias, particularmente na Flandres (atual Bélgica), na Inglaterra e na França, se encontraram subitamente em enormes dificuldades de vida com a queda do poder aquisitivo, mercê da carestia gerada pelas novas formas de exploração econômica que a Guerra dos Cem Anos (1337-1453) agravou. [início do capitalismo – mudança nas relações sociais] [...] a tranqüilidade social era a regra. A instabilidade econômico-social acarretava, no campo e na cidade, assustadoras perspectivas. O inflacionismo desorganizava a produção e as trocas, gerando crises de crédito e inseguranças monetárias. A Guerra dos Cem Anos, que impôs à Inglaterra a solução do problema do poderio marítimo, trouxe, com as pestes que a acompanharam medonhas crises de pão. As revoltas que partiam das cidades flamengas, onde as grandes comunas tomaram a direção do movimento político, achavam-se paralelas na França, na Itália, na Inglaterra, em Portugal, em toda a parte. As rebeliões populares destronaram a oligarquia burguesa dos postos de comando, sem, contudo, conseguirem estabelecer uma ordem durável. A Europa do século XIV apresentava o triste espetáculo de uma civilização em crise. Essas revoluções democráticas são demonstrativas das profundas transformações da vida econômica e da estrutura social do Ocidente cristão no decorrer da Baixa Idade Média. À medida que minguavam os réditos do senhor rural, comprimindo-se a aristocracia da terra entre o fantasma da centralização do poder real e as novas forças econômicas emergidas da reconquista cristã do Mediterrâneo, desagregava-se o prestígio da tradicional sociedade campesina, para dar lugar a uma nova classe cosmopolita de comerciantes, marinheiros, armadores e prestamistas, amparada pelo trono. Nela via-se, cada vez mais nitidamente, a base em que se erguia o edifício da nova Europa. As novas estruturas econômico-sociais sentiam, então, a urgente necessidade de se libertarem da tradicionais sujeições impostas pelos “consórcios” ítalo-muçulmanos da orla mediterrânea. Investindo contra a absorção desse monopólio conservador, o incipiente capitalismo comercial do continente europeu poderia sobreviver e desenvolver-se. Para isso necessitava, antes de tudo, quebrar as amarras que o prendiam, desprezando os problemas ligados ao Mediterrâneo e alargando a sua expansão econômica de força e de vitalidade ascendentes até aos ricos mercados do ouro, dos escravos e das especiarias afro-asiáticas, grandemente comerciáveis. Foi quando se colocou à Europa Ocidental a questão da conquista do Atlântico ignoto. Solução arriscada e dispendiosa, mas única. Portugal na crise: as revoluções de 1383-1385 Portugal, mercê das suas condições geográficas e, bem assim, da sagacidade do seu povo, encontrou em si mesmo a força inicial necessária à sua transformação orgânica. Uma nova classe se definiu no enredo internacional: a burguesia comercial e marítima. À semelhança das suas congêneres da Europa cristã, a burguesia portuguesa surgiu como elemento ativo das novas tendências sociais. Nela se encontravam os novos fundamentos da sociedade. Após 16 anos de governo (1367-1383) castigados de amarguras, D. Fernando legava ao Reino a regência de Leonor Teles. João Fernandes Andeiro apaixonou-se por Leonor Teles quando Fernando estava doente. Para salvar Portugal, o Andeiro precisava ser eliminado. À morte do amante da rainha, seguiu-se a esperada sublevação popular, que acabaria por destronar Leonor Teles da regência. A rainha, vendo-se perdida, fugiu para Santarém, de onde marcou encontro com o seu genro castelhano, que aguardava pretexto para invadir Portugal. A Nação dividiu-se. A morte do Andeiro significava, com efeito, a proclamação de uma desordem interna. A adesão das classes populares era espontânea e entusiástica. Disposto a lutar, o povo aclamou o Mestre de Avis “Regedor e Defensor do Reino”. O que se procurava era a segurança da independência nacional. A fragmentação e a discórdia da sociedade portuguesa correspondiam à profunda luta de classes que os acontecimentos da segunda metade do século XIV suscitaram por toda a Europa. Do tremendo impacto de interesse e ideais surgiu a guerra civil, revolução nacional e patriótica, encarnando uma nova consciência. As classes populares iam tomando parte cada vez maior na administração pública. com efeito, foi nas arcas dos mercadores do reino que o “Mestre” encontrou o indispensável amparo financeiro. A adesão da classe apatacada do país deu novo colorido à revolução, cujo caráter social deixou, a datar daí, de ser nitidamente popular para ser burguês. A chefia deslizou, portanto, para a burguesia econômica, financiadora da resistência, que se decidiu pela causa nacional só depois da mobilização castelhana contra Portugal. O interesse das classes econômicas revelou-se. A burguesia comercial e marítima, desencadeando a insurreição e dirigindo agora a resistência, tinha um intento: assumir a chefia dos negócios do reino. Finalmente, no dia 6 de abril de 1385, o “Mestre” foi aclamado Rei de Portugal. Com o novo monarca, uma nova dinastia – a de Avis – conduziu a Nação ao seu mais alto esplendor. Depois de Aljubarrota e Valverde – capítulos da Guerra dos Cem Anos, em que os ingleses lutaram ao lado dos portugueses, enquanto os franceses pelejavam por Castela – a sorte da guerra não ofereceu mais dúvidas. Com a subida de D. João I ao poder, dois elementos sociais conquistaram posições junto do rei: a burguesia dos portos, financiadora da guerra civil, e os legistas.* ___________________ * Durante os últimos tempos da Idade Média tomou vulto em Portugal uma nova classe, a dos legistas, dentro da qual passam a recrutar-se o pessoal da chancelaria régia, que redigia os documentos reais, os funcionários da magistratura, os embaixadores e os conselheiros do rei. Constituem elemento relevante na direção da política nacional. As teorias desenvolvidas pelos legistas despertaram no espírito do soberano as idéias da centralização monárquica. O estudo e aplicação do direito romano eram mais condicentes com a nova hegemonia burguesa do que o direito senhorial medievo. O absolutismo iria, assim, desenvolver-se “pela graça de Deus”. A burguesia comercial e marítima, sobretudo, não estava disposta a abdicar do importante papel político assumido durante a revolução. Na verdade, a revolução não guindou apenas um rei ao poder, mas também a burguesia, credora da Coroa. Portugal voltava ao trabalho. A revolução era apenas uma lembrança gloriosa. Com o ascenso dos Avis ao trono, a Nação atingiu a sua maioridade política. Superação da crise: a conquista do mar alto Só a conquista do Atlântico largo poderia realizar as transformações econômicas e sociais necessárias ao seu livre crescimento. A navegação cristã no mar alto ir-se-ia desenvolver, assim, pela angustiosa necessidade que tinha a Europa do Norte de quebrar as amarras que a prendiam ao bloco monopolista ítalo-árabe da orla mediterrânea. A retração dos estoques de metais preciosos gerava inseguranças em todos os setores da vida. o empobrecimento progressivo do Ocidente em ouro acarretava constrangimento do crédito, paralisação das trocas e congelamento dos capitais. [...] a Europa entrou, com efeito, numa fase descendente da sua curva econômica. A situação era insustentável. A massa metálica reduzia-se ameaçadoramente. Portugal padecia dos males europeus. A Guerra dos Cem Anos fez-se presente nos Atoleiros (1384), no cerco de Lisboa (1384), em Trancoso (1385), em Aljubarrota (1386) e em Valverde (1385). O mesmo âmbito tiveram as fomes e as demais pragas que assolaram todo o continente. Esse o desfiladeiro que a Europa resvalava, mercê da má sorte, pródiga nos últimos anos da Idade Média. Os contratempos fustigavam com o mesmo furor a agricultura e o comércio. A burguesia via, assim, agravar os tropeços que se opunham à sua expansão. Ela, mais que nenhuma outra classe, sofria prejuízos reais de efeitos duradouros. A burguesia dos portos e, bem assim, a Coroa, interessadas na centralização do poder real, não podiam assistir de braços cruzados ao drama econômico-social que assolava a sua obra. A superação da crise interessava a toda a sociedade. A realeza, para fazer face às enormes despesas de uma administração cada vez mais centralizada, via nos interesses da burguesia as suas próprias aspirações. A aliança com os detentores do capital multiplicador de riqueza era para a Coroa a solução mais conveniente, talvez a única. A Europa Ocidental recusou-se, pois, a cruzar os braços, e atirou-se decidida para o Atlântico, desprezando, de certa maneira, os problemas ligados ao Mediterrâneo. Portugal foi o pioneiro. A ele se deve a solução da angustiosa pendência. Portugal era, o mais fiel intérprete dos anseios da Europa Ocidental. Pelo seu domínio sobre o mar, cabia-lhe tentar a solução do drama, iniciando o movimento da libertação da Europa do Norte das tradicionais sujeições impostas pelo Mediterrâneo. Quando os Avis subiram ao trono, toda a área continental portuguesa já havia sido demarcada, se não inteiramente ocupada e valorizada. Mas o sucesso do empreendimento dependia em alto grau das permutas a realizar. O ouro era o principal artigo de troca. Dele dependiam as compras que os portugueses tinham de efetuar no norte. A solução do problema consistia, portanto, em alcançar os mercados do ouro novo. O resto viria por si. O rei foi o árbitro supremo, o principal empresário colonial. Todo um mundo heterogêneo seria, porém, empenhado no audacioso acometimento de feição capitalista e de repercussiva modernidade. HISTÓRIA DO BRASIL COLONIAL Prof. Ronaldo B. Colvero URCAMP – Campus de São Borja A COLÔNIA BRASILEIRA Introdução O objeto principal da obra A Colônia brasileira: economia e diversidade, da autora Sheila de Castro Faria é analisar a economia do período colonial brasileiro, que vai do descobrimento, em 1500, à independência do Brasil, em 1822. Para analisar o período, entretanto, se faz necessário compreender que o termo “economia” é bastante amplo, e nem todos os estudiosos o definem da mesma forma, assim como seus conceitos não nasceram de uma hora para outra. Aliás, a separação entre as áreas do conhecimento como a política, a economia, a cultura, o social, etc. se deu há bem pouco tempo. Outros estudiosos dividem a história humana em períodos, porém, isso ocorre pela necessidade de haver um corte temporal e também de organizar e explicar de forma mais simplificada certos procedimentos e idéias próprias de cada período. Como o que Sheila Faria utiliza como base, que é a Idade Moderna, quando o Brasil foi Colônia de Portugal. A ampliação do mundo econômico A economia do Brasil colonial era composta por um conjunto de dados que vão além do território americano e que já existia antes da chegada dos europeus. Portanto, é necessário estabelecer os motivos que levaram tantos homens, portugueses em sua maioria, abandonar seus lares para se aventurar nas terras “d’além mar”. Também é preciso considerar os índios que aqui estavam, sem falar nas condições da África, do qual foi possível retirar milhares de homens e mulheres, transformados em escravos. Iniciando a análise, remetemo-nos ao sistema feudal europeu, pois segundo alguns autores, os tempos modernos foram caracterizados pela transição do feudalismo para o capitalismo. No modo de produção feudal, predominava a servidão, na qual o camponês, que trabalhava com a família, era obrigado a pagar ao proprietário a utilização da terra com dias de trabalho, em produtos ou moeda. A característica do período feudal, segundo alguns historiadores, era a economia “natural”, agrária e não monetária, que servia apenas à subsistência, diferente do período moderno que teria uma economia de mercado, baseada no comércio. Porém, o comércio, desde a Antigüidade nunca deixou de existir, assim como sempre houve circulação de moeda. O que aconteceu, na verdade, foi um aumento considerável das atividades comerciais e manufatureiras a partir das grandes navegações do século XV. A sociedade feudal poderia ser dividida em três estados básicos: o Clero (que oravam), os Nobres (que guerreavam) e o campesinato, os artesãos, os profissionais de diversos ofícios, etc. (que trabalhavam). Em termos políticos, houve uma fragmentação muito grande do poder, existindo o Rei como figura principal. Este mantinha relações de fidelidade com os nobres, os quais recebiam terras para, em troca, apoiar militarmente o rei. A religiosidade cristã também foi uma característica marcante do período. Do século XI ao XIII, a Europa viu um grande crescimento populacional e aumento da vida urbana. Mas era o trabalho camponês que sustentava a aristocracia e proporcionou a formação dos exércitos. Também a cristandade ocidental se expandiu, em alguns pelo crescimento demográfico, em outros pela reconquista de regiões tomadas por muçulmanos na Europa e na Ásia. No início do século XIV, a Europa sofreria alterações climáticas importantes, como as pesadas chuvas que ocorreram entre 1315 e 1317 no norte do continente, que acabaram devastando as plantações. Isso, além de outros problemas relativos à terra, fizeram com que o preço dos alimentos aumentasse muito, fazendo com que os camponeses migrassem para as cidades em busca de comida. Em 1348 a Peste Negra (peste bubônica), assolou a Europa, chegando a dizimar 33% a 40% da população. Inúmeras aldeias e aglomerações rurais sumiram completamente. Em relação à economia, os salários nas cidades aumentaram devido à falta de mão-de-obra, o preço dos alimentos diminuiu, mas a aristocracia rural, prejudicada pelas novas condições, tabelou os salários e aumentou os tributos. Em 1378 e 1381, ocorreram várias insurreições de camponeses pobres e ricos. Houve, portanto, a necessidade de pedir auxílio às Coroas para barrar a crise. Com isso, deu-se início ao processo de consolidação dos Estados monárquicos absolutistas. Nesses Estados, com a aristocracia rural debilitada, surgiram novas elementos, como os burgueses que passaram a arrendar terras dos nobres falidos. Portugal na conjuntura européia A formação de Portugal e Espanha está ligada diretamente à presença dos mouros (muçulmanos) na Península Ibérica por praticamente oito séculos, do VIII ao XVI. Por esse motivo, modelo feudal clássico (francês) não pode ser totalmente aplicado. Com a retomada pelos cristãos, dos territórios ocupados por muçulmanos, o poder da Coroa ficou fortalecido e o rei tornou-se o maior proprietário rural. Por isso, doava terras à aristocracia que ficava subordinada a seu mando (relações de vassalagem). Portugal também possuía um exército que, diferentemente de outros Estados, era remunerado, aumentando ainda mais a relação de vassalagem. No século XIV é que se pode considerar efetivamente formado o Estado Nacional Português. Já em Espanha, o processo de consolidação foi mais demorado, até mesmo porque haviam reinos subjugados a reis diferentes que não desejavam, num primeiro momento, a união. A crise agrária do século XIV também afetou Portugal, que respondeu com a expansão marítima e contratos comerciais importantes com Flandres, Espanha e Magreb (África do Norte). Internamente, criaram-se leis que obrigavam o trabalho aos pobres e limitavam os salários. Aos ricos iniciaram-se as doações de Sesmarias, que deveriam ser cultivadas após algum período e foi estipulado o pagamento de uma taxa sobre circulação de mercadorias, a sisa. Entretanto, a consolidação do império se deu primordialmente pela revolução de 1383-1385, onde o ‘povo miúdo’ se revoltou e, junto com os mercadores enriquecidos, instaurou o reinado de Avis, através do rei D. João, filho bastardo de D. Pedro I e irmão por parte de pai do antigo regente, D. Fernando. A distribuição de títulos de nobreza foi largamente utilizada como agradecimento, assim como o custeio das expedições marítimas. Apesar das relações mantidas com cidades distantes através das expedições, a base da economia continuou sendo basicamente agrícola. A expansão Ultramarina Ibérica Em 1552, Francisco López de Gómara, cronista espanhol, dizia ser os descobrimentos ibéricos “o maior acontecimento desde a criação do mundo, depois da encarnação e da morte d’Aquele que o criou”. (FARIA, p.17) Adam Smith, em relação ao ‘descobrimento’ do continente americano, dizia ser um dos acontecimentos mais importantes da história da humanidade.(Idem, p.17) E foram portugueses e espanhóis os responsáveis por esse feito. Faria afirma que pela primeira vez, pode se falar em uma economia mundial. Para o povo, se antevia uma possibilidade de mudança de vida, para o clero e a nobreza, representava a cristianização e conquista, já para os mercadores significava os lucros, por último, para a Coroa, a sobrevivências através da cobrança de impostos em todos os setores. A expansão marítima iníciou-se pelo reconhecimento da costa africana, que durou 54 anos. Esse período foi bastante o suficiente para se conhecer as correntes marítimas, ventos, acidentes geográficos, etc. além de modernizar os instrumentos de navegação. Além disso, em 1441, já se dava grande importância econômica aos escravos aprisionados nas costas da África, passando a ser o comércio negreiro um negócio muito rentável. Na Europa, circulavam idéias das mais diversas sobre terras desconhecidas, onde existiria muita riqueza e animais exóticos. História interessante a de São Brandão, monge irlandês que saiu para o alto-mar em 565, com 105 anos, teria fundado um terra de felicidade e riqueza, conhecida como Ilha de São Brandão ou “Ilha do Brazil”. “Brazil” provém do celta bress, “bênção”. Entretanto, a origem do nome do país tem as mais variadas hipóteses como, por exemplo, a palavra de origem hebraica brezail, que era relacionada a uma tintura vermelha, como a extraída do pau-brasil, que teria recebido o nome justamente por esse motivo. Cabe ressaltar que foi o ímpeto dos homens daquela época em encontrar outros caminhos para solucionar seus problemas, e contando com o auxílio da mitologia, que as grandes expedições se iniciaram. Em 1474, quando o infante D. João (depois D. João II entre 1481-1495) passou a ser responsável pelas navegações que se percebeu o interesse de encontrar uma passagem atlântica para o “Golfo Arábico” (atual Oceano Índico). Essas viagens eram muito complicadas, principalmente pelas condições de higiene em que viajavam, acarretando várias doenças que vitimavam a maior parte das tripulações, principalmente o escorbuto. Por isso, os nomes que foram perpetuados são os que conseguiram atingir seus objetivos, os demais foram esquecidos. Segundo alguns especialistas, entre 1497 e 1499, Vasco da Gama teria se aproximado da costa do Brasil para cruzar o Cabo da Boa Esperança, entretanto, não se tem nenhum documento que comprove tal feito. Interessante constatar que a partir dessa expedição as frotas começaram a serem chefiadas por navegadores inexperientes, mas que tivessem a frente algum nobre. O próprio Pedro Álvares Cabral não tinha qualquer experiência náutica. Depois da estada das naus comandadas por Cabral em solo tupiniquim, a viagem seguiu para Calicute, na Índia, no percurso da viagem os desastres foram sensíveis, incluindo a morte por afogamento de Bartolomeu Dias. Na Índia Cabral bombardeou a cidade de Calicute, se uniu a um rajá do reino Cochim, fundou uma feitoria e carregou os navios de especiarias. Na volta foi muito festejado em Portugal, mas acabou morrendo esquecido, em 1520, no interior do país. Em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas, onde Portugal garantia a posse de tudo que fosse encontrado a 370 léguas para Leste de um meridiano imaginário. Chegando ao Brasil, anos mais tarde um elemento que chamou atenção dos portugueses foi o índio, até então desconhecido. Com isso, a “demonização” do índio foi constante na literatura que tratava do Brasil nos dois primeiros séculos de colonização. Durante o processo de expansão ultramarina, Portugal foi adquirindo experiência, principalmente em fundar feitorias, com a finalidade de recolher a produção do interior da colônia, e a colonização efetiva, onde o rei fazia doações a particulares para instaurar a atividade agrária. Com a ocupação e produção de gêneros em outras regiões do globo, Portugal passou a comercializar “seus produtos” para toda Europa, ofuscando, inclusive, cidades como Gênova e Veneza, principais entrepostos comerciais do Mediterrâneo. No século XVI, 65% da renda do governo português provinha do comércio ultramarino, alterando profundamente o modo de produção português, transformando o Estado num empresário agraciando nobres e mercadores com o monopólio de rotas e terras. BIBLIOGRAFIA: FARIA, Scheila de Castro. A colônia brasileira: economia e diversidade. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2004. As rendas, entretanto, não foram reinvestidas no comércio ou na agricultura, mas em instâncias fúteis: ornamentos, burocracia, títulos nobiliárquicos. Isso traria conseqüências graves à economia. Os burgueses aos poucos queriam passar a viver como aristocratas, adquirindo terras, casas suntuosas, ricas roupas e uma apresentação social de festas e dotes de filhos que engolia grande parte dos lucros. Com isso, é visível o quanto Portugal teve papel fundamental na propagação do mercantilismo. Durante os séculos XV e XVI, foram os portugueses que conquistaram e mantiveram sob seu controle as rotas mercantis do Oceano Índico, trazendo imensas naus carregadas de produtos, principalmente de origem asiática. Nesse momento, o rei de Portugal, D. Manuel I, o Venturoso (que reinou de 1495-1521), adotou o título “Rei de Portugal e dos Algarves, de Aquém e Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia”, representando tudo o que havia sido conquistado. Nesse império se insere o Brasil, timidamente a princípio, e muito fundamentalmente, depois.