TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL: Conhecimentos e Práticas em Análise Ana Lúcia Suárez Maciel1 Erica Bomfim Bordin2 RESUMEN: La realidad brasileña marcada por la desigualdad social, por las disparidades regionales internas de los procesos de distribución del ingreso que se caracterizan por la acumulación de una minoría en detrimento de las necesidades de la mayoría de la población, indican cuánto, aún, tenemos que ir a formular y Instituir políticas públicas que aborden una totalidad más amplia y que la dirección de las necesidades reales de la sociedad. Por lo tanto, está dentro de la sociedad civil organizada de la década de 1980, que los movimientos sociales desarrollan una condición de presión al Estado, particularmente en el ámbito de la política pública, la materialización de los esfuerzos para construir las mismas respuestas a sus numerosas demandas social. En este ámbito se inscribe Tecnologías Sociales. En este artículo se reflexiona sobre los conceptos teóricos y analiza las prácticas de Tecnologías Sociales en el desarrollo en el estado de Rio Grande do Sul, ubicado en el extremo sur del país, en base a la investigación realizada en los años 2012 y 2013. Su concepto es reciente , polisémico y controvertido, por lo que tiene sentido para disputar su definición, a partir de su consolidación a la luz de la producción de conocimiento y, especialmente, las experiencias que se han desarrollado. Se puede decir que el Tecnologías Sociales se destacan como una estrategia prometedora para superar los límites del modelo actual y el nivel de la ciencia y la tecnología que prevalece en el país y constituye una de las respuestas más en sintonía con las demandas de la sociedad para un modelo de desarrollo social y sostenible que tiene carácter central en el proceso de inclusión social y los actores principales la propia sociedad. Actualmente, el Tecnologías Sociales han logrado avances significativos en el país, o por organizaciones que han instituido en la última década, con el fin de difundir los conceptos y prácticas, ya sea mediante la creación de la misma capacidad, a través de iniciativas populares y su nueva aplicación en todo el territorio nacional . Palabras-clave: Tecnologías Sociales - Producción de Conocimiento - Ciencia, Tecnología e Innovación ABSTRACT: The Brazilian reality marked by social inequality, by internal regional disparities by income distribution processes which are characterized by the accumulation of a minority to the detriment of the needs of the majority of the population, indicate how much, still, we need to go to formulate and Institute public policies addressing a broader totality and that address the real needs of society. Therefore, it is within the organized civil society from the 1980s, that social movements develop a pressure condition to the State, particularly in the field of public policy, materializing the effort to build the same answers to their numerous demands social. In 1 Assistente Social, Doutora em Serviço Social, Professora e Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]; [email protected]. 2 Assistente Social, Mestre e Doutoranda em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Assessora Técnica em Organizações da Sociedade Civil. E-mail: [email protected]. this scope is enrolling Social Technologies. This article reflects on the theoretical concepts and analyzes the Social Technologies practices in development in the state of Rio Grande do Sul, located in the extreme south of the country, based on research conducted in the years 2012 and 2013. Its concept is is recent , polysemic and also controversial, which is why it makes sense to dispute its definition, from its consolidation in the light of knowledge production and especially the experiences that have been developed. It can be said that the Social Technologies stand as a promising strategy to overcome the limits of the current model and standard of science and technology prevailing in the country and constitute one of the most attuned responses to the demands of society for a development model social and sustainable that has centrality in the process of social inclusion and main actors society itself. Currently, the Social Technologies have made significant progress in the country, or by organizations that have instituted over the past decade, with a view to disseminating the concepts and practices, either by the creation of the same capacity, through popular initiatives and their reapplication throughout the national territory. Keywords: Social Technologies - Production of Knowledge – Science, Technology and Innovation INTRODUÇÃO As Tecnologias Sociais vem sendo discutidas no Brasil, nesta segunda década do século XXI, por diferentes atores sociais, tais como instâncias governamentais, organizações da sociedade civil, universidades, cooperativas de trabalhadores, a partir da consolidação de experiências concretas de inclusão social, se constituindo como uma das respostas possíveis para o atendimento das demandas sociais. Na esteira dessa constatação e de forma contraditória constatamos que, no Brasil, o progresso científico e tecnológico tem se ampliado e, com isso, mostrado a sua eficácia em criar novos bens e serviços. Nesse processo não vem sendo atendidas as necessidades básicas de ampla camada da população e, tampouco, questionados os impactos sociais e ambientais o que, muitas vezes, resulta no aumento da degradação ambiental e da exclusão social. Assim, se pode afirmar que há um descompasso significativo entre o desenvolvimento científico-tecnológico e desenvolvimento social. Parte desse descompasso tem sua gênese no atual padrão de desenvolvimento científico e tecnológico do país que vem sendo operado sob o argumento de que a relação entre ciência e tecnologia e inclusão social se dão de maneira concomitante e automática (FONSECA, 2009). Nesse sentido, a apreensão da concepção acerca das Tecnologiais Sociais passa a se constituir um desafio crescente em função do aumento de organizações que passam a trabalhar no seu desenvolvimento, financiamento, reaplicação e/ou pesquisa, no sentido de materializarem o esforço em construir respostas para as inúmeras demandas sociais. Este artigo objetiva compartilhar os resultados de uma pesquisa que se propôs a sistematizar a produção de conhecimento brasileira sobre as Tecnologias Sociais, bem como mapear as experiências desenvolvidas num dos estados do país. A estrutura do artigo está composta por esta introdução, três itens que abordam a temática: sua interface com a política de ciência, tecnologia e inovação vigentes no Brasil; a produção de conhecimento brasileira e as práticas gaúchas; a conclusão e respectivas referências. CONCEPÇÕES E INTERFACE DAS TECNOLOGIAS SOCIAIS COM A POLÍTICA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO DO BRASIL O conceito de Tecnologia Social é recente, polissêmico e, ainda, polêmico, razão pela qual faz sentido problematizar a sua definição, a partir do seu adensamento à luz da produção do conhecimento e, especialmente, das experiências que vem sendo desenvolvidas. Algumas concepções de Tecnologia Social são consensuais, quais sejam: a transformação social, a participação direta da população, o sentido de inclusão social, a melhoria das condições de vida, a sustentabilidade socioambiental e econômica, a inovação, a capacidade de atender necessidades sociais específicas, a organização e sistematização da tecnologia, o diálogo entre diferentes saberes (acadêmicos e populares), a acessibilidade e a apropriação das tecnologias, a difusão e ação educativa, a construção da cidadania e de processos democráticos, entre outros, que são sustentados por valores de justiça social, democracia e direitos humanos. Com elas, pode-se afirmar que um dos objetivos da Tecnologia Social é justamente reverter a tendência vigente da tecnologia capitalista convencional que tem como pressuposto reforçar a dualidade desse sistema “(...) submetendo os trabalhadores aos detentores dos meios de produção e países subdesenvolvidos a países desenvolvidos, perpetuando e ampliando as assimetrias de poder dentro das relações sociais e políticas” (DAGNINO, 2009, p.18). Em contraposição a este modelo, a Tecnologia Social reúne características, tais como: ser adaptada a pequenos produtores e consumidores; não promover o tipo de controle capitalista: segmentar, hierarquizar e dominar os trabalhadores; ser orientada para satisfação das necessidades humanas; incentivar o potencial e a criatividade do produtor direto e dos usuários; ser capaz de viabilizar economicamente empreendimentos como cooperativas populares, assentamentos de reforma agrária, a agricultura familiar e pequenas empresas (NOVAES e DIAS, 2009). Tais características demonstram o quanto a Tecnologia Social está voltada para a “produção coletiva e não mercadológica” e, também, da mesma forma está “mais imbricada às realidades locais, de modo que possa gerar respostas mais adequadas aos problemas colocados em um determinado contexto” (NOVAES e DIAS, 2009, p.19). Também seguindo a linha conceitual sobre Tecnologia Social é importante frisar que estas sempre consideram as especificidades das realidades locais e estão, diretamente, relacionadas aos processos de organização coletiva e democrática e, portanto, acabam representando soluções possíveis para a superação de diferentes situações problemáticas, onde se incluem as vulnerabilidades e a exclusão social, incidindo assim na melhoria das condições de vida daqueles atores envolvidos com a Tecnologia Social. O Instituto de Tecnologia Social (ITS) propõe o conceito de Tecnologia Social a partir do Universo das ONGs, buscando legitimar e dar visibilidade as práticas desenvolvidas junto ao Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação, conceituando-a como um “conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representem soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida” (ITS, 2004, p. 130). O ITS contribui com o avanço do debate sobre o tema ao agrupar as ideias a respeito da tecnologia social em três categorias: princípios, parâmetros e implicações. Os princípios ressaltam a importância da aprendizagem e participação como processos que caminham juntos e que a transformação social requer a compreensão da realidade de maneira sistêmica e o respeito às identidades locais. Os parâmetros de tecnologia social fornecem os critérios para a análise das ações sociais decorrentes ou propostas, tais como: razão de ser da tecnologia social (atender as demandas sociais concretas vividas e identificadas pela população); processo de tomada de decisão (processo democrático e desenvolvido a partir de estratégias especialmente dirigidas à mobilização e à participação da população); papel da população (há participação, apropriação e aprendizado por parte da população e de outros atores envolvidos); sistemática (há planejamento, aplicação ou sistematização de conhecimento de forma organizada); construção do conhecimento (há produção de novos conhecimentos a partir da prática); sustentabilidade (a tecnologia social visa à sustentabilidade econômica, social e ambiental); ampliação de escala (gera aprendizagem que serve de referência para novas experiências). E, finalmente, as implicações do conceito de Tecnologia Social foram organizadas em três eixos: a relação entre produção de ciência, tecnologia e sociedade; a direção da produção de conhecimentos; e o modo de fazer específico de intervir sobre a realidade e que se relaciona tanto aos parâmetros quanto aos resultados. A Rede de Tecnologias Sociais (RTS) era uma rede que reunia, no ano de 2010, 786 organizações de todo país e do exterior, entre organizações não governamentais, centros de pesquisa, cooperativas, empresas, escolas de ensino médio, fundações e institutos, sindicatos, universidades e órgãos de governo nos níveis federal, estadual e municipal. O objetivo da RTS era ampliar a difusão e a reaplicação das Tecnologias Sociais possibilitando a inclusão social, a geração de trabalho e renda e a promoção do desenvolvimento local sustentável, ou seja, experiências que permitem a reaplicação e já são usadas em diversas localidades do Brasil e em outros países. O conceito da RTS apreendia as Tecnologias Sociais como sendo “produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social” (RTS, 2009, p.09). Para fins deste artigo, utilizaremos os conceitos que englobam essa definição da seguinte forma: Produto = Resultado de Qualquer Atividade Humana, materializado em Bens Físicos ou Serviços. Um produto é qualquer coisa que possa ser oferecida a um mercado, ou que se destina a entrar na produção de outros bens, que possa satisfazer um desejo ou uma necessidade. Contudo precisa ser muito mais do que apenas um objeto físico, um pacote completo de benefícios ou satisfação que a população percebem que eles obterão se adquirirem o produto. É a soma de todos os atributos físicos, psicológicos, simbólicos e de serviço. Técnica e/ou Metodologia = Conjunto de métodos e processos utilizados em determinada disciplina e sua aplicação. Modo por que se realiza ou executa uma coisa. É o procedimento ou o conjunto de procedimentos que têm como objetivo obter um determinado resultado, seja no campo da Ciência, da Tecnologia, das Artes ou em outra atividade. Também pactua desta concepção a Fundação Banco do Brasil (FBB), entidade que protagoniza um conjunto de iniciativas que promovem a disseminação das Tecnologias Sociais em diferentes regiões do país e o próprio Ministério da Ciência e Tecnologia, através da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, que reconhece como principal objetivo da Tecnologia Social a contribuição para a redução do quadro de pobreza, analfabetismo, fome, exclusão social, entre outras que contribuem com o desenvolvimento social. Para a Fundação Banco do Brasil (FBB), a “Tecnologia Social compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social” (Fundação Banco do Brasil, 2012). É um conceito que remete para uma proposta inovadora de desenvolvimento, considerando a participação coletiva no processo de organização, desenvolvimento e implementação. A partir destas concepções, emergiu o interesse de tomar as Tecnologias Sociais como objeto de pesquisa, buscando apreender a forma como as mesmas vêm sendo concebidas, desenvolvidas e contribuem para o desenvolvimento social e sustentável. No âmbito da política de ciência, tecnologia e inovação, identificamos na realização da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, ocorrida em maio de 2010, a inserção do debate sobre as Tecnologias Sociais, evidenciando a potencialidade da inserção das mesmas na agenda científica e política do país, pois somente nesta Conferência é que se inseriu, de forma tímida, o tema do desenvolvimento social e sustentável (nele inclusa a pauta das Tecnologias Sociais). No lastro histórico brasileiro, a inserção da prioridade do desenvolvimento social e sustentável, contida no Plano Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (as outras três prioridades são: infraestrutura de pesquisa; áreas estratégicas e inovação empresarial) são um indicador de que essa pauta passa a ser incorporada na agenda cientifica, embora, a previsão de recursos para a prioridade do desenvolvimento social seja de apenas 4% de todo o orçamento da política de ciência e tecnologia do país. Como refere o Livro Azul da 4ª CNCTI (2010, pg.89): (...) os recursos limitados e o número reduzido de políticas para a incorporação da C,T&I a ações ligadas às necessidades da população, particularmente da enorme parcela ligada à informalidade – tendo como um dos objetivos sua conversão à economia formal – são empecilhos para um desenvolvimento econômico, social e ambientalmente justo e sustentável. A entrada recente do desenvolvimento social na agenda da ciência e tecnologia foi um importante passo político, possibilitou avanços, ainda que limitados, como o crescimento das atividades de popularização da C&T, uma maior difusão de Tecnologias Sociais e da economia solidária, bem como a ampliação do uso de tecnologias assistivas (voltadas para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência). Dentre as recomendações da 4ª CNCTI, destaca-se a proposição da formulação e implantação de um Programa Nacional de Inovação e Tecnologia Social, com apoio a pesquisas e projetos, promovendo o envolvimento da sociedade civil organizada na sua elaboração, execução, monitoramento e avaliação, a partir de estratégias, que podem se resumir: (...) na criação de um Centro Nacional de Referência em Inovação e Tecnologia Social; na criação de um Fundo Setorial para atividades de inovação social e tecnologia social, com recursos do sistema financeiro; na ampliação, valorização e aprimoramento das atividades de extensão universitária; na promoção, acompanhamento e avaliação rigorosa de programas e projetos de inclusão social, com vistas à eficiência no uso dos recursos públicos, envolvendo universidades, instituições de pesquisa e entidades comunitárias, assim como a realização de pesquisas periódicas de percepção pública da C,T&I e financiar atividades de P&D em Segurança Alimentar e Nutricional (Livro Azul da 4ª CNCTI, 2010, p.93). Entre os quatro eixos de ações do MCTI, destacamos “Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social”, pois “o desenvolvimento social é uma das vertentes mais importantes das atuais políticas de Estado”. Entretanto, entendemos que a sua consolidação vem sendo reduzida a promoção, a popularização e o aperfeiçoamento do ensino de ciências nas escolas, bem como a produção e a difusão de tecnologias e inovações para a inclusão social. Neste contexto, estão a realização da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), a promoção da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a implantação de Tecnologias Assistivas, Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs), apoio aos Telecentros e Arranjos Produtivos Locais (APLs), bem como a P&D para a Segurança Alimentar e Nutricional, o que indica uma concepção restrita de desenvolvimento social. A Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2012-2015 (ENCTI) formulada pelo MCTI e aprovada pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, descreve os desafios, eixos de sustentação, programas prioritários, fontes de recursos e metas da estratégia nacional para os próximos anos. Sendo que, os programas prioritários: envolvem as cadeias mais importantes para impulsionar a economia brasileira (tecnologias da informação e comunicação, fármacos e complexo industrial da saúde, petróleo e gás, complexo industrial da defesa, aeroespacial, e áreas relacionadas com a economia verde e o desenvolvimento social) e define, ainda, estratégias de consecução, metas e estimativas de financiamento para atingimento das metas. (2013, p. 15) Entre os desafios trazidos pelo MCTI neste documento está a superação da pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais, por entenderam que apesar dos “avanços obtidos nos últimos anos, a erradicação da pobreza extrema e a redução das desigualdades sociais e regionais existentes continuam a ser alguns dos principais desafios brasileiros” (ENCIT, 2013, p. 40), sendo que a ciência e a tecnologia são ferramentas poderosas para contribuir para o desenvolvimento social. O documento traz, ainda, que as novas tecnologias e sua disseminação podem contribuir significativamente para a inclusão social e para a redução das desigualdades de oportunidade e de inserção ocupacional. A ciência e a tecnologia podem contribuir com soluções criativas para melhorar a qualidade de vida da população. Enfatizam ainda o fomento de tecnologias de pequena escala que contribuam para o fortalecimento da agricultura familiar. A ENCIT declara, ainda, que a prioridade é traduzir o: desenvolvimento científico e tecnológico em progresso material e bem estar social para o conjunto da população brasileira, o que passa pela convergência de dois macro-movimentos estruturais: a revolução do sistema educacional e a incorporação sistemática ao processo produtivo, em seu sentido amplo, da inovação como mecanismo de reprodução e ampliação do potencial social e econômico do País. Esse é o caminho para transformar a ciência, a tecnologia e a inovação em eixo estruturante do desenvolvimento brasileiro. (2013, p. 14) A pauta das Tecnologias Sociais está ligada aos processos de desenvolvimento de estratégias de enfrentamento das demandas societárias, a medida que são viabilizadas a produção de estudos, pesquisas e desenvolvimento tecnológico nas universidades em nível de pós-graduação, visando a reaplicação dessas Tecnologias Sociais e sua transformação em políticas públicas para o desenvolvimento social, nos âmbitos local e nacional. Nesse sentido, se reforça neste trabalho a necessidade do desenvolvimento de tecnologias para o atendimento das demandas sociais, a tecnologia em prol do desenvolvimento social, ou seja, garantir que os esforços de produção do conhecimento sejam iniciativas que visem à construção de soluções para os problemas da sociedade brasileira, e possam desencadear e potencializar a construção de políticas públicas como ferramenta potencial para o desenvolvimento social. Todas essas referências parecem corroborar o ideário de que a trava para o desenvolvimento social se encontra na falta de acesso da população à tecnologia, o que nos afasta do debate necessário: o fato de que o atual nível de desigualdade social é determinado pelo próprio sistema capitalista, portanto, a forma de enfrentá-lo não pode ser reduzida ao fomento às tecnologias, inclusive, as Tecnologias Sociais, mas a compreensão de que a desigualdade é uma categoria constitutiva do capitalismo. Logo, é preciso questionar o nível de desigualdade que aceitaremos, bem como o lugar que daremos ao social no atual padrão de desenvolvimento. Na esteira desta concepção, as pesquisas passam a ser fundamentais, pois nos permitem acompanhar a produção de conhecimento e as experiências concretas, contribuindo com a apreensão do fenômeno no seu movimento histórico. A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE TECNOLOGIAS SOCIAIS A pesquisa intitulada “Tecnologias Sociais: Um Estudo acerca das suas Concepções, Práticas e Impactos nas Políticas Públicas”, desenvolvida pelas autoras deste artigo, problematizou: Como as tecnologias sociais são concebidas, desenvolvidas e contribuem para o desenvolvimento social e sustentável do estado do Rio Grande do Sul, no período que abrange os anos de 2010 a 2012? E objetivou: Analisar as concepções, o desenvolvimento e as contribuições das tecnologias sociais para o desenvolvimento social e sustentável do estado do Rio Grande do Sul, especialmente, no âmbito das políticas públicas. Dentre os procedimentos metodológicos, destaca-se: o mapeamento e a análise de conteúdo da produção teórica brasileira sobre tecnologias sociais, nas seguintes fontes: Banco de Dissertações e Teses da Capes (1989 até 2011); Livros; Capítulos de livros; Cartilhas; Artigos e Anais de Eventos (Sites de Busca, Bibliotecas de Universidades); o mapeamento dos Grupos de Pesquisa que tem as Tecnologias Sociais como objeto de estudo; o mapeamento das tecnologias sociais em desenvolvimento no Rio Grande do Sul, a partir da relação constante no site da Fundação do Banco do Brasil (www.fbb.org.br) que é considerada uma referencia nacional no reconhecimento dessas iniciativas3. O mapeamento realizado nas produções elencadas buscou identificar o conceito de Tecnologias Sociais, revelando a existência de diferentes enfoques e discussões sobre o assunto, somando 191 produções, divididas em: 7 livros; 66 capítulos de livros, 32 artigos, 20 cadernos e cartilhas e 67 teses e dissertações. Os anos de 2007 a 2010 é o período com o maior número de produções sobre Tecnologias sociais, e ainda, notou-se que nos anos de 2008 e 2010 houve um número significativo de teses e dissertações sobre a temática, o que pode ser observado no quadro a seguir. Quadro 01: Produções sobre Tecnologia Social classificadas por tipo de produção e ano Ano de Referência Livros Artigos 1989 1995 1997 1 1998 1999 1 2002 1 2003 2004 1 2 2005 2 2006 1 2007 4 2008 3 2009 2 6 2010 2 3 2011 1 3 2012 6 TOTAL 7 32 Fonte: MACIEL et all (2013b, p. 12) Cadernos e Cartilhas 1 1 1 6 5 2 2 1 1 20 Teses e Dissertações Total de Produções 1 1 1 2 1 1 2 2 1 5 1 6 6 7 14 23 16 29 5 7 126 3 1 2 3 6 4 15 6 22 67 Com vistas a identificar sobre que aspectos a tecnologia social vem sendo debatida nessas produções teóricas, elencaram-se categorias, representadas nos quadros a seguir: 3 Na ocasião foi pesquisado também a Rede de Tecnologias Sociais, retirada nesse artigo, por ter sido extinta. Quadro 02: Mapeamento das categorias teóricas que emergiram nas produções de conhecimento por tipo de produção Categorias 1) 2) 3) 4) 5) Tecnologia social como estratégia para o desenvolvimento social; Estudo e construção de conceitos e marco analítico da Tecnologia Social; Desenvolvimento de novas tecnologias (experiências); Análise da produção de conhecimento científico; Análise da produção de conhecimento científico – CT&I; Capítulo de Livros Artigos Cadernos e cartilhas Teses e Dissertações 7 3 4 2 11 6 - 3 10 9 20 11 17 7 37 4 12 3 - - 6) Universidade e Tecnologia social; 2 2 4 - 7) Política pública e Tecnologia social; 7 2 2 - 66 32 20 67 TOTAL Fonte: MACIEL et all (2013b, p. 13) Dentre as produções do conhecimento, mapeadas no Banco de Teses e Dissertações da CAPES (http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses), destacamse as produções na área das engenharias com 13 teses. Esses estudos contemplam as áreas de engenharia de energia, ambiental, civil, produção, agrícola, elétrica e materiais. Na segunda posição fica a área de Desenvolvimento e Meio Ambiente com 12 teses e, então, a área da Educação com 6 produções. Para além das áreas que concentraram o maior número de produções relacionadas com Tecnologia Social, mapearam-se também produções na área da Enfermagem, Comunicação, Sistemas de Gestão, Administração, Economia, Serviço Social, Desenvolvimento Regional, Ciência da Informação, entre outras, o que aponta para as diversas áreas do conhecimento que vem trabalhando e estudando a temática no Brasil. Já o mapeamento dos grupos de pesquisas foi feito a partir do Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPQ (http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/), cujo critério era conter, nos dados de identificação ou nas Linhas de Pesquisa, o termo “tecnologia social”, sendo encontrados 18 grupos. Não é possível categorizar os grupos da mesma forma que as produções, tendo em vista que os grupos trabalham com linhas de estudo diversas, mas, pode-se observar que o maior número de grupos de estudo estão concentrados nas áreas das ciências sociais aplicadas com um total de 9 grupos de estudo. As ciências humanas ficam em segundo lugar com um total de 4 grupos de estudo, como se pode constatar no quadro a seguir. Quadro 03: Mapeamento de Grupos de Pesquisa sobre Tecnologias Sociais por Área de Conhecimento Categorias Áreas do conhecimento Grupos de Pesquisa Química Ciências Exatas Ciências da computação 2 Administração Ciências Sociais Aplicadas Desenho industrial Arquitetura e urbanismo 10 Economia Psicologia Ciências Humanas Educação 4 Sociologia Ciências da Saúde Odontologia 1 Engenharias Engenharia da produção 1 Total 18 Fonte: MACIEL et all (2013b, p. 14) No quadro 04 é possível localizar a forma como a concepção de Tecnologia Social vem se efetivando, a partir de múltiplos processos, conteúdos e finalidades. Vale destacar que essa sistematização decorre das produções mapeadas, num esforço de sistematização das mesmas. A partir das concepções mapeadas e das sistematizações empreendidas pelos pesquisadores envolvidos no projeto, emergiu o seguinte conceito: Tecnologias Sociais são processos inovadores de produção e/ou sistematização de conhecimentos, bem como práticas sociais que, a partir de um conjunto de técnicas, produtos e/ou metodologias, tem a finalidade de contribuir com o desenvolvimento social, seja no âmbito local, seja no âmbito das políticas públicas (Maciel et all, 2012). O conceito proposto emerge da constatação que as produções acerca das Tecnologias Sociais requerem uma nova forma de produzir e/ou sistematizar o conhecimento, bem como apontam para práticas sociais com características relacionadas à participação social que tem em comum o interesse em contribuir com o desenvolvimento social. Tal afirmação supõe a apreensão dos seguintes elementos: Quadro 04: Sistematização das Concepções de Tecnologias Sociais, no que se refere aos seus processos, conteúdos e finalidades PROCESSOS No campo dos: CONTEÚDO Conjunto de: - direitos humanos - necessidades humanas - demandas das populações carentes - movimento / mobilização da sociedade civil - articulação de conexões de atores que se organizam - construção de soluções inovadores para os problemas sociais - construção coletivas de soluções - processos educativos - diálogo entre saberes popular e científico - práticas de intervenção social - realidade Local onde são aplicadas - processo de produção de Tecnologias Sociais - manifestação de conhecimento - Meio Acadêmico ou do Estado ou do Saber Popular - Economia Solidária e Capital Social - Desenvolvimento Sustentável - Comunidade local superando seus próprios problemas - processo de construção social e político - processo de produção / processo produtivo Técnicas Fonte: MACIEL et all (2013b, p. 16) Metodologias Produtos Dispositivos Equipamentos Processos Procedimentos Serviços Ferramentas Artefato FINALIDADE - Transformadoras - desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela - sustentáveis ambientalmente - organizados e sistematizados - inovadores - replicáveis x reaplicáveis - efetiva - eficaz - com desenvolvimento em escala - com impacto social - que transcende sua dimensão local - adequada ética, social, econômica e politicamente - de acordo com as condições locais - adaptada a pequenos produtores - acessível a consumidores de baixo poder econômico - que se opõe ao sistema de produção capitalista - que desenvolve o potencial e a criatividade - viável economicamente - empreendedor melhoria das condições de vida melhoria de qualidade de vida promove a democracia promove a cidadania promove a participação promove a autonomia provoca a transformação social soluções de problemas soluções participativas soluções para a inclusão social erradicação da pobreza satisfaz as necessidades humanas 1) são processos inovadores de produção e/ou sistematização de conhecimentos. Partimos da concepção hegemônica de inovação, contida no Manual de Oslo que conceitua a inovação do seguinte modo: Inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização local de trabalho ou nas relações externas (Manual de Oslo, 2005, p. 55). A inovação, ainda segundo o referido Manual, pode ser dividida em 4 áreas: produto, processo, marketing e organização. No âmbito do conhecimento, as Tecnologias Sociais tem apontado para um novo processo de produção e/ou sistematização do conhecimento, uma vez que esse conhecimento indica um compromisso com o desenvolvimento da sociedade, abarcando temas que se relacionam com as demandas da sociedade e que traduzem as múltiplas expressões da Questão Social. Igualmente esse conhecimento vem questionando o padrão de ciência e tecnologia vigente no país que, historicamente, está centrado no interesse dos pesquisadores e do capital, indica a insuficiência de recursos para a ciência, a tecnologia e a inovação no âmbito do Desenvolvimento Social e não dispõe de mecanismos de controle social, tal qual se configuram as demais políticas. 2) são práticas sociais” que possuem características, tais como: * participação coletiva (organização, planejamento e aplicação) * busca de soluções para problemas voltados à inúmeras demandas sociais; (alimentação, educação, energia, habitação, renda, recursos hídricos, saúde, meio ambiente, etc); * articulação entre o saber popular, a organização social e o conhecimento técnicocientífico; * são reaplicáveis o que potencializa o desenvolvimento social e sustentável em escala (podendo se constituir em políticas públicas). 3) tem a finalidade de contribuir com o desenvolvimento social, seja no âmbito local, seja no âmbito das políticas públicas. Isso significa afirmar que elas se constituem em uma das possíveis respostas sintonizadas com as demandas da sociedade por um modelo de desenvolvimento social e sustentável que tenha centralidade no processo de inclusão social e como atores principais a própria sociedade. Partem do reconhecimento dos limites do atual modelo de desenvolvimento social (que apregoa que o desenvolvimento social é decorrente do econômico), da noção restrita de política pública (historicamente apropriada pela soberania dos que governam e não pela soberania popular) e dos limites do modelo de desenvolvimento insustentável do capitalismo, posto que é gerador de desigualdades, injustiças e exclusões de toda a ordem. O grande desafio para os pesquisadores das Tecnologias Sociais se encontra na necessidade de produzir conhecimentos, tecnologias e inovações que respondam aos interesses da coletividade, de forma participativa e democrática. E, igualmente, acompanhar as práticas que vem se desenvolvendo em diferentes territórios, a fim de relacionar as suas concepções com a realidade concreta. É o que passaremos a sistematizar no item a seguir. AS TECNOLOGIAS SOCIAIS EM DESENVOLVIMENTO NO RIO GRANDE DO SUL A pesquisa que apresentamos neste artigo se propôs, igualmente, a identificar as tecnologias sociais que vem sendo desenvolvidas no Rio Grande do Sul com o intuito de relacioná-las com as possíveis contribuições para o fortalecimento do espaço local e da inclusão social. Lançamos mão das informações que estão disponíveis no site da Fundação Banco do Brasil, a partir do Banco de Tecnologias Sociais (www.fbb.org.br), tendo em vista que a inclusão das mesmas no referido Banco supõe uma análise e reconhecimento prévio de que as mesmas se constituem como Tecnologia Social. A pesquisa foi realizada no mês de abril de 2012 e apontou para 37 Tecnologias Sociais. No que diz respeito às temáticas desenvolvidas pelas Tecnologias Sociais, salientando-se que uma mesma experiência pode ter elencada mais de um tema, podemos ensaiar uma classificação da seguinte forma: Alimentação (10), Educação (13), Meio Ambiente (9), Renda (13), Recursos Hídricos (3), Energia (1), Habitação (1) e Saúde (1). Destas experiências, 13 são consideradas produtos – sendo 5 bens e 8 produtos e 27 são metodologias. Três dessas experiências se enquadraram em Produtos e Metodologias. No que se refere ao lócus de execução dessas experiências, temos 33 organizações, classificadas da seguinte forma: 17 associações, 3 Fundações, 1 vinculadas a Instituições de Ensino Superior, 2 escolas de educação básica, 6 vinculadas ao Governo, 3 cooperativas, e 1 projeto interinstitucional. Verifica-se, com isso, que a maioria das organizações que vem desenvolvendo Tecnologia Social no Rio Grande do Sul se encontra vinculada ao Terceiro Setor (associações e fundações), seguida da iniciativa do poder público, notadamente no campo da educação (básica e superior). Foi realizado contato com todas as organizações listadas, que foram unânimes em dizer que a referida tecnologia social ainda está em desenvolvimento. Solicitamos as mesmas que nos enviassem a sistematização da experiência, sendo que recebemos material de 15 experiências. Somamos 37 experiências reconhecidas pela Fundação Banco do Brasil, destas 2 estão localizadas na Região Centro Ocidental; 4 na Região Centro Oriental; 15 na Capital e mais 5 cidades da região Metropolitana, 1 na Região Nordeste; 8 na região Noroeste; 2 na Região Sudeste, conforme figura abaixo: Figura 1: Mapa localizador das Tecnologias Sociais por região do Rio Grande do Sul 1) Centro Ocidental (2) 2) Centro Oriental (4) 3) Capital e Metropolitana (20) 4) Nordeste (1) 5) Noroeste (8) 6) Sudeste (2) 7) Sudoeste (0) Fonte: MACIEL et all (2013b, p. 21) Com base na análise do mapa se constata a concentração de Tecnologias Sociais na capital e região metropolitana, seguida da região noroeste. De modo geral, essas organizações vêm atuando com a mediação de novas metodologias de trabalho para abordar demandas sociais latentes. Neste sentido, é possível afirmar que há uma relação direta entre o desenvolvimento de Tecnologias Sociais e as políticas públicas, sendo que no caso da realidade gaúcha se destacam as iniciativas voltadas para a educação, alimentação e renda. Poderíamos citar ainda outras Tecnologias Sociais que são desenvolvidas e já foram reaplicadas, mas a intenção aqui é ilustrar com esses exemplos, o quanto é possível por meio das mesmas contribuir com a inclusão social de trabalhadores, de zonas rurais ou urbanas, de atores sociais de diferentes ciclos de vida, de famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco social, à medida que vivenciam experiências que podem incidir nas suas condições de vida. CONCLUSÃO No momento histórico atual se desenha, no cenário brasileiro, uma importante luta social em que diferentes segmentos e atores sociais, sobretudo aqueles comprometidos com projetos societários que se contrapõem ao modelo excludente vigente, não tem poupado esforços para instituir a Tecnologia Social como uma política pública. O futuro do desenvolvimento das Tecnologias Sociais, em grande parte, se encontra relacionado à capacidade de alterar a atual política de ciência e tecnologia no país, assim como da capacidade em torná-la uma política pública, tendo em vista que as experiências existentes no território nacional apontam para a sua efetividade, no que se refere à sua capacidade de gerar respostas inovadoras para a resolução de velhas demandas sociais e, com isso, impacto social nas comunidades que se beneficiam com tais tecnologias. Nesse sentido, se reforça neste trabalho a necessidade do desenvolvimento de tecnologias para o atendimento das demandas sociais, a tecnologia em prol do desenvolvimento social, ou seja, garantir que os esforços de produção do conhecimento sejam iniciativas que visem à construção de soluções para os problemas da sociedade brasileira, e possam desencadear e potencializar a construção de políticas públicas como ferramenta potencial para o desenvolvimento social. Acreditamos que, com base na sistematização das tecnologias sociais em desenvolvimento no Rio Grande do Sul, é possível afirmar que estas são potencialmente uma oportunidade de fortalecimento do espaço local, tendo em vista o grau de desenvolvimento local em que as mesmas vêm incidindo nos territórios onde são aplicadas. Igualmente vem impactando na realidade, a partir de inúmeras experiências que culminam com a inclusão de comunidades e cidadãos em face das suas demandas. É diante deste cenário, de desenvolvimento local e inclusão social, que as Tecnologias Sociais se apresentam como uma estratégia sintonizada com as demandas da sociedade, a partir de um modelo de desenvolvimento social e sustentável que tem centralidade no processo e como atores principais a própria sociedade. Todas essas referências parecem corroborar o ideário de que a trava para o desenvolvimento social se encontra na falta de acesso da população à tecnologia, o que nos afasta do debate necessário: o fato de que o atual nível de desigualdade social é determinado pelo próprio sistema capitalista, portanto, a forma de enfrentá-lo não pode ser reduzida ao fomento às tecnologias, inclusive, as Tecnologias Sociais, mas a compreensão de que a desigualdade é uma categoria constitutiva do capitalismo. Logo, é preciso questionar o nível de desigualdade que aceitaremos, bem como o lugar que daremos ao social no atual padrão de desenvolvimento. Entretanto, é preciso ter clareza de que as mesmas não tem a capacidade de alterar estruturalmente o sistema econômico que faz gerar a desigualdade social na qual se propõe a incidir. São iniciativas meritórias, no contexto das conjunturas em que emergem, que tem indicado caminhos possíveis para o atendimento de inúmeras demandas sociais; apresentam atores que disputam de múltiplos lugares (cidadãos, sociedade civil e instituições de ensino superior) um novo modelo societário, mas precisam associar-se ao movimento mais amplo que supõe a ampliação dos espaços de participação e um conhecimento socialmente referenciado que permita disputar a hegemonia por um novo modelo de desenvolvimento social. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. Trabalho e precarização numa ordem neoliberal. In: GENTILI, Pablo; FRIGOTTO,Gaudêncio (orgs). A Cidadania Negada. 3ª ed. São Paulo: Cortez; [Buenos Aires, Argentina]: CLACSO, 2002, p. 35-48. CAPES. Banco de Teses. 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