Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva MODELO DE GESTÃO DE PROCESSOS DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) BASEADO NO CICLO PDCA Dissertação de Mestrado SILVIO LUIS MARCON RIBEIRO São Paulo, SP, Brasil 2013 2 SILVIO LUIS MARCON RIBEIRO MODELO DE GESTÃO DE PROCESSOS DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) BASEADO NO CICLO PDCA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para conclusão do Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI, para obtenção do grau de Mestre em Terapia Intensiva. Prof. Orientador: Dr. Sérgio de Vasconcellos Baldisserotto São Paulo, SP, Brasil 2013 3 Dados de direitos autorais © 2013 Todos os direitos autorais reservados a Silvio Luis Marcon Ribeiro. A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte. Endereço: Estrada Padre Gabriel Bolzan, 1777 – Casa 21 – Bairro Cerrito, Santa Maria, RS. CEP: 97095-500 Tel. (0xx) 55 32210446; Cel. (0xx) 55 99712930; e-mail: [email protected] 4 A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado MODELO DE GESTÃO DE PROCESSOS DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) BASEADO NO CICLO PDCA elaborada por Silvio Luis Marcon Ribeiro como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Terapia Intensiva COMISSÃO EXAMINADORA: _____________________________________________________ Sérgio de Vasconcellos Baldisserotto, Dr. (Presidente/Orientador) Douglas Ferrari, Dr. (Presidente da SOBRATI) Ceres Helena Buss, Drª (UFSM) São Paulo, SP, 23 de março de 2013. 5 Dedicatória Dedico à minha esposa Ceres Helena Buss, companheira e amiga inseparável. 6 Agradecimentos Agradeço especialmente aos meus pais, Nery e Irene, que me deram educação e me proporcionaram o estudo como princípio de desenvolvimento humano. À minha esposa, Ceres, pela paciência e pelo incentivo à pesquisa. Ao meu filho, Felipe, pelo apoio incondicional. Ao meu professor e orientador Sérgio, por sua dedicação e confiança. E à Maria Cecília e ao Joaquim, pelo carinho e por sua presença inspiradora. 7 “O homem não teria alcançado o possível se, repetidas vezes, não tivesse tentado o impossível.” Max Weber “Modelos não resolvem problemas, mas ajudam a organizar o pensamento, atuam como referenciais, sugerem comportamentos, dão diretrizes e indicam caminhos em caso de dúvidas.” Dr. Haino Burmester, Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo, 2005 8 RESUMO O objetivo do trabalho foi analisar a aplicação do Ciclo PDCA em uma Unidade de Terapia Intensiva, como estratégia gerencial para a melhoria da qualidade da assistência. A preocupação com a qualidade de bens e serviços não é recente. As empresas voltadas para a prestação de serviços na área da saúde também sofreram esta mudança de conceito; o profissional de saúde, além de realizar o tratamento de uma doença, deve se preocupar com a satisfação do seu cliente na prestação e execução desse serviço. O que motivou a realização deste trabalho foi a necessidade de melhorar a qualidade da assistência nas UTIs, objetivando levantar, através de revisão bibliográfica, material sobre gerenciamento da qualidade por meio da ferramenta Ciclo PDCA. Palavras-chave: Gerenciamento de qualidade, UTI, Ciclo PDCA. ABSTRACT The objective was to analyze the application of PDCA Cycle in Intensive Care Units as a management strategy to improve the quality of care. Concern about the quality of goods and services is not new. Companies focused on the provision of services in health also suffered this change in concept; health professionals besides doing the treatment of a disease should worry about your customer satisfaction in the delivery and execution of service. What motivated this work was the need to improve the quality of care in ICUs, aiming to raise, through literature review, material on quality management through PDCA Cycle tool. Keywords: Quality Management, ICU, PDCA Cycle. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1 MODELO DE GESTÃO ESTRATÉGICA E PROCESSOS ..................................... 15 1.1 Gestão por Processos ..................................................................................... 17 2 PDCA – Plan-Do-Check-Action .............................................................................. 25 3 A QUALIDADE NA ASSISTÊNCIA A SAÚDE ........................................................ 30 3.1 Eventos adversos ............................................................................................ 36 4 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ..................................................................... 38 4.1 Utilização da Ferramenta de Qualidade PDCA em UTI ................................... 40 CONCLUSÃO............................................................................................................ 47 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 10 INTRODUÇÃO Quando se enxerga uma UTI pode-se e deve-se vê-la com os olhos de quem é seu cliente-objeto e razão de sua existência, o paciente crítico, ou paciente criticamente enfermo, que suplica indistintamente por uma atenção especial, cuidados redobrados e tratamento complexamente especializado e dinâmico, considerando-se a necessidade de ação rápida e planos de ação para períodos de tempo determinados e análises de dados frequentes e cíclicas.. Coloquemo-nos no lugar do paciente, vivenciando uma situação clínicopatológica que coloca em risco iminente a existência física. Desejaríamos que o atendimento que viéssemos a receber fosse o melhor possível, ou seja, que todo o arsenal de conhecimentos e todos os recursos diagnósticos e terapêuticos fossem utilizados no nosso atendimento, não apenas para que continuássemos vivos, mas que o menor dano e o mínimo de sequelas comprometessem nossa qualidade de vida, a vida que nos restaria, que tanto poderia ser curta, mas que também poderia nos proporcionar uma vida de martírio, longa e cruel, nos proporcionando dores que provavelmente não seriam apenas físicas, mas também psicológicas e morais. Antes de pensarmos nas doenças, pensemos nos doentes, que são os portadores dessa procuração que nos é passada, como responsáveis tanto por seu presente, como por seu futuro. Uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma unidade complexa dentro de um ambiente hospitalar, fechada quanto ao limite de acesso de novos pacientes, limitada ao número de leitos disponíveis, quando comparada a uma unidade de emergência, que quanto a este aspecto pode ser considerada aberta, porque o limite de atendimentos e internações é relativo, considerando-se que a capacidade de atendimento não obedece necessariamente à nominal, com o volume de 11 atendimentos realizados frequentemente superando em muito o número de leitos e de atendimentos máximos previstos, realidade vista em praticamente todos os serviços de pronto atendimento, principalmente os públicos, mas também muitos dos que prestam atendimento a pacientes conveniados e/ou privados. A demanda por leitos de UTI tem se tornado crescente, à medida que novos recursos diagnósticos e terapêuticos são adicionados ao arsenal dos que já tradicionalmente estão disponíveis e de acordo com o aumento da indicação de cuidados intensivos a pacientes que até a bem pouco tempo, eram tratados em unidades não intensivas. Portanto, a internação de pacientes em UTI não se dá somente por pacientes criticamente enfermos, mas também por pacientes que necessitam de assistência de enfermagem intensiva, pacientes que precisam de monitorização contínua e com um potencial elevado de desenvolver complicações que precisam ser rapidamente identificadas e corrigidas, evitando sequelas e/ou êxito letal, como os que são submetidos a grandes procedimentos que interferem com a homeostase do organismo, ou que interferem na função de órgãos vitais, principalmente sistema nervoso central, coração, pulmões e rins; e outros não menos importantes como fígado e intestinos. A análise de riscos desses pacientes tem sido interpretada através de índices prognósticos, obtidos por métodos como APACHE, SOFA e SAPS, métodos que têm sido constantemente avaliados e revisados, com o objetivo de se ter melhores resultados e mais fácil aplicação na rotina diária de UTI. Isso tem aumentado a necessidade de qualificação dos profissionais que trabalham nessas unidades, deixando de ser uma atividade secundária de profissionais de diversas especialidades médicas, para se tornar uma especialidade reconhecida, exigindo dedicação e conhecimento amplo de quase todas as áreas da Medicina. 12 Da mesma forma todos os profissionais de saúde têm se especializado na prática de terapia intensiva. Assim enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas, odontólogos e outros, têm aumentado a integração de esforços para melhor atender pacientes internados em UTIs, dedicando-se praticamente em tempo integral à especialidade. Mais, maiores e melhores pesquisas têm se desenvolvido na área de terapia intensiva. Investimentos têm aumentado na qualificação das equipes e das UTIs. Menos se tem confiado à sorte a recuperação de pacientes críticos, mais se tem acreditado na ciência como o caminho ideal na busca de qualidade no atendimento. Por isso tantos hospitais têm buscado a acreditação como forma de organizar-se e melhorar seus resultados. Não mais se busca apenas dar atendimento especializado, mas se dar o melhor atendimento, usando-se abertamente e de forma transparente e organizada conceitos como o de medicina baseada em evidências. Unidades de terapia intensiva se fechadas quanto ao seu aspecto de internação de novos pacientes, tornam-se abertas quanto à difusão de conhecimentos e controle de seus processos, elaborando projetos de gestão que atendam a exigências de qualidade e melhores resultados, que são comparados aos de outras instituições, buscando resultados que se equiparem aos que são considerados como referência, respeitando-se o perfil da unidade, no que diz respeito a aspectos como localização geográfica, recursos disponíveis, perfil da população atendida, especialização da unidade. Lembramos que as UTIs também têm se especializado e hoje encontramos não só unidades de atendimento adulto e pediátrico, mas também unidades de atendimento neonatal, unidades cardiológicas, unidades neurológicas, unidades cirúrgicas (extensões de salas de recuperação), 13 subespecialidades dentro da terapia intensiva, com profissionais também mais especializados nessas áreas de atuação, com suas peculiaridades. Assim temos visto crescer o número de UTIs em todo o universo hospitalar, mas não só em unidades genéricas, mas também subdivididas em unidades especializadas. Essa evolução tem aumentado a demanda por equipes especializadas e se tem observado que o mercado formador tem demorado a colocar novos profissionais a disposição das instituições, criando uma barreira ao crescimento mais ostensivo do número de leitos de UTIs. Há necessidade de mais investimento em tecnologia e áreas físicas, mas também de incentivo à especialização e valorização dos profissionais envolvidos no processo de desenvolvimento da terapia intensiva. A mudança de paradigmas em terapia intensiva deve ser equilibrada pela difusão de conhecimentos, aplicação de recursos financeiros e garantia da qualidade. Este tripé é a base da construção de uma UTI. A boa gestão desses recursos garantirá seus melhores resultados, pois contempla as necessidades vitais da unidade. A difusão de conhecimentos deve aperfeiçoar o uso de ferramentas diagnósticas e terapêuticas, determinando a aplicação correta dos mesmos, garantindo a qualidade padrão pretendida e exigida. A aplicação de recursos financeiros é o investimento que é feito tanto em material e medicamentos, como em recursos humanos, inserindo uma equipe especializada e completa nas unidades, capacitadas a fazer uso do arsenal disponível, também interferindo na qualidade do serviço e nos resultados obtidos. 14 A garantia de qualidade em UTI equivale a uma gestão organizada e com foco nos resultados esperados, avaliados através dos resultados obtidos e medidos por ferramentas de controle. Um modelo aplicado a uma unidade de tratamento intensivo (UTI) aqui definido é um trabalho que pode ser reproduzido em igual, menor ou maior escala em qualquer outra unidade. Um modelo de gestão corresponde em uma UTI à forma como se vê a unidade e a forma como se trabalha com o complexo da unidade. Processos dentro de uma UTI correspondem às ações desenvolvidas na unidade. A qualidade das ações corresponde à análise da execução e o resultado obtido, medindo-se o resultado esperado e o obtido, baseando-se em critérios previamente estabelecidos e normatização. O Ciclo PDCA é um sistema ou ferramenta de avaliação e de execução dos processos, de forma planejada e sistemática, que pode ser aplicado a todos os processos de uma UTI, podendo ser, de acordo com a complexidade do processo, mais simplificado ou estendido. O Ciclo PDCA, ou Ciclo de Deming, foi idealizado por Shewart, na década de 20 do século passado, mas foi Deming que o desenvolveu e o aplicou no Japão, depois da 2ª grande guerra mundial. O Ciclo PDCA é dividido em 4 partes ou etapas, como se segue: P (Plan) = Planejar; D (Do) = Executar; C (Check) = Checar e; A (Act) = Agir. Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi analisar a aplicação do Ciclo PDCA em Unidades de Terapia Intensiva como estratégia gerencial para a melhoria da qualidade da assistência. 15 1 MODELO DE GESTÃO ESTRATÉGICA E PROCESSOS O modelo industrial de Adam Smith (1723-1790) e Henry Ford (1863-1947) foi apropriado para um ambiente onde havia mais demanda que oferta e se fazia necessária a criação de condições para elaboração e aperfeiçoamento da produção em massa. A saturação da demanda por bens de consumo padronizados, resultante da produção em massa, por volta de 1930, fez com que o consumidor começasse a exigir mais que desempenho básico. Com essa nova exigência, as empresas passaram, então, a ter uma orientação para o marketing, possibilitando a criação de novas tecnologias e produtos. Até a década de 1950, a evolução industrial foi “sequencial”. Constituída por uma sucessão de períodos: de orientação para a empresa, de orientação para produção, de orientação para o marketing. À medida que os períodos se sucediam, a atenção e as prioridades de administração se deslocavam, correspondentemente, de uma preocupação central para outra. Porém, na década de 1970, as prioridades não mais se substituíam, ao contrário, prioridades novas se sobrepunham às anteriores1. O antigo ambiente seguro, no qual as empresas operavam, passou a ser um ambiente cada vez mais mutável e complexo, em uma civilização em contínua e acelerada mudança. Dessa forma, ao longo da história econômica dos últimos cem anos, percebese a evolução do centro da administração, que passa da eficiência para a eficácia. Essa eficácia traduzida como o “fazer as coisas certas” com eficiência, ou seja, “da melhor forma possível”. Aliado a esses dois indicadores (eficiência/eficácia), há ainda um terceiro indicador, não menos importante, talvez até o principal – a efetividade, que avaliará, 16 além “do fazer as coisas certas” e “da melhor forma possível”, se o objetivo proposto foi atingido, ou seja, se os clientes estão satisfeitos com a utilização dos produtos ou serviços resultantes do processo. Para fazer as coisas certas, ou seja, acertar as ações da empresa em relação às necessidades atuais e futuras, a administração estratégica exerce papel fundamental. Kaplan e Norton2 destacam a importância da estratégia para uma organização, não como um processo isolado, mas uma das etapas de um processo contínuo lógico que movimenta toda a organização desde o alto nível gerencial até o trabalho executado pelos empregados da linha de frente e de suporte. Para Porter3, o planejamento estratégico envolve uma sequência de atividades vitais para o sucesso de uma organização como um todo e incluem: • uma avaliação cuidadosa do ambiente em que a organização está inserida; • uma análise das mudanças nesse ambiente, com uma projeção para o futuro; • uma avaliação da própria organização em relação à missão, recursos e suas competências administrativas; • a definição dos objetivos que a empresa gostaria de alcançar a longo prazo; • uma avaliação das mudanças prováveis no ambiente externo e as oportunidades à mudança para se chegar aos objetivos; • implementação do plano estratégico; • medidas de progressos e revisão de planos. 17 1.1 Gestão por Processos Todo trabalho importante realizado nas empresas faz parte de algum processo4. Não existe um produto ou um serviço oferecido por uma empresa sem um processo. Em termos gerais, Garvin5 define processo “como uma coleção de tarefas e atividades que juntas – e somente juntas – transforma entradas em saídas”. Segundo Hammer e Champy6, “processo é um conjunto de atividades com uma ou mais espécies de entrada e que cria uma saída de valor para o cliente”. “Processo é o conjunto de atividades que tem por objetivo transformar insumos (entradas), adicionando-lhes valor por meio de procedimentos, em bens ou serviços (saídas) que serão entregues e devem atender aos clientes”7. Para Harrington8, processo é qualquer atividade que recebe uma entrada (input), agrega-lhe valor e gera uma saída (output) para um cliente interno ou externo. Verifica-se, portanto, nas definições que, para organizar as empresas por processos, é necessário colocar o foco no cliente, seja interno ou externo, já que os processos nele começam e terminam. Os clientes são pessoas cujo comportamento a empresa deseja influenciar proporcionando-lhes valor [...] Aparentemente, o relacionamento fundamental entre empresas e clientes tem por base a troca de produtos ou serviços por dinheiro, mas na verdade é muito mais abrangente do que isso. O relacionamento baseia-se em oferecer valor para influenciar e moldar o comportamento9. Para o autor, no contexto de negócios, valor é uma solução para o problema do cliente no atendimento de suas necessidades. Hammer10 destaca, ainda, a importância dos clientes para organizar uma empresa por processos uma vez que, para eles os processos constituem a essência de uma empresa. O cliente não está interessado na estrutura organizacional e nas 18 filosofias gerenciais da empresa, mas sim nos produtos e serviços produzidos por seus processos. Isso demonstra a importância dos processos para uma organização, pois eles permitem enxergar uma linha de atividades que começa com o entendimento exato do que o cliente deseja e que termina com o cliente adquirindo aquilo que precisa e deseja de um negócio11. Manganelli e Klein12 dividem essas atividades do processo em três: atividades que agregam valor (importantes para o cliente); atividades de transferência (fazem o fluxo do trabalho atravessar as fronteiras, principalmente funcionais, departamentais ou organizacionais) e atividades de controle (em grande parte, são criadas para controlar as atividades de transferência que atravessam as fronteiras previamente estabelecidas). Hammer13 destaca que as empresas que adotam o foco nos processos não criam nem inventam seus processos. Eles sempre existiram, mas em um estado fragmentado, invisível, sem nome e sem gerência, pois os funcionários e supervisores envolvidos nos processos, não tinham consciência de seus processos pelo fato de estarem concentrados em suas próprias tarefas. Com a mudança de foco para processos das organizações, eles simplesmente passam a receber a atenção e o respeito que merecem. Para analisar e modelar um processo é necessário que se tenham algumas informações sobre o mesmo. Cruz14 apresenta uma sequência de 15 (quinze) elementos que compõem um processo de negócio, à qual denomina Macrofluxo do processo. São elas: objetivo do processo; clientes do processo; entradas físicas; entradas lógicas; saídas físicas; saídas lógicas; diretrizes; programa de melhoria 19 contínua; benchmarking; metas; alocação de recursos; mão-de-obra; medição de desempenho; tecnologia da informação; gerente do processo. A Figura 1 apresenta um diagrama que permite conhecer qualquer processo resumidamente, por meio dos principais elementos contidos (ou não) nele. Figura 1 – Macrofluxo do processo de negócio Fonte: Cruz (2003, p.68). Segundo Cruz15, um processo de negócio possui três fases ao longo de seu ciclo (Figura 2). No entanto, essas fases nem sempre são encontradas em todas as empresas que, de alguma forma, se preocupam com processos e muito menos nas que ignoram sua importância. Ressalta, também, a importância das ações de gerenciar e melhorar para uma empresa, pois, sem gerenciamento, não pode haver melhoria por absoluta ignorância sobre o que está ocorrendo com o processo e sem melhoria não se consegue obter ganhos consistentes de desempenho e produtividade. 20 Figura 2 – As três fases na vida de um processo de negócio Fonte: Cruz (2003, p.57). Para Almeida16, definir um processo é importante, mas não é suficiente, sendo necessário gerenciá-lo. Para isso apresenta algumas fases para seu gerenciamento: escolha do processo, seleção das equipes de melhoria, preparação do processo e operação do processo. A fase de escolha do processo deverá ser coordenada por alguém, designado pela alta gerência, que tenha um treinamento sobre a metodologia de gerenciamento de processos. Outra opção é a contratação de consultoria externa para treinar as pessoas envolvidas no processo. Uma vez designado o coordenador, a fase seguinte é relacionar os processos que apresentem potencial de geração de benefícios para a empresa, podendo ser feito por meio de entrevistas com a alta gerência ou através de reuniões da alta gerência. Para a escolha dos processos, o item gerenciabilidade dever ser considerado, de modo a ser escolhido um processo que tenha limites perfeitamente definidos e conhecidos. Sugere-se que seja escolhido apenas um processo piloto para a aplicação da metodologia. 21 Uma vez escolhido o processo piloto, o próximo passo é a seleção das equipes de melhoria que irão trabalhar em sua melhoria contínua, a começar pelo “dono” do processo. Sugere-se que seja um dos diretores da organização. Para a escolha das pessoas que irão compor a equipe de melhoria, a palavra de ordem é participação, ou seja, envolvimento daqueles que lidam com o processo em seu diaa-dia. Nenhuma organização pode se dar ao luxo de excluir seus gerentes, supervisores, funcionários, seus peões, das atividades de melhoria, de negar-lhes a oportunidade de participar da análise e solução dos problemas que eles enfrentam a cada dia. É inadmissível fazer com que milhares de colegas, ao baterem o ponto de entrada, pendurem seus cérebros junto com os cartões de ponto. Entrem para o trabalho apenas com seus braços e pernas, fiquem oito horas fazendo só que o “seu” mestre mandou, sem ao menos saberem por que estão fazendo aquilo daquela forma, e sem terem a menor noção dos problemas que advirão, caso façam algo errado17. É fundamental, também, a participação de pessoas com capacitação e dedicação, competentes, abertas a inovações, que saibam ouvir, que não sejam autoritárias, que sejam cooperativas, dinâmicas, boas comunicadoras e formadoras de opinião. Após o treinamento da equipe de melhoria, o dono do processo executará algumas etapas na preparação do processo: a) Elaboração da missão da equipe de melhoria, com orientação geral das ações que serão tomadas em todos os setores envolvidos; b) Revisão do macrofluxo operacional do processo¸ que deverá ser desenvolvido por aqueles que estão mais pertos da ação; que melhor conhecem a 22 realidade do processo. Mostra a visão global do processo que está sendo executado; c) Sumário do processo, constando detalhamento do macrofluxo do processo em um fluxograma, apresentando as atividades envolvidas; d) Análise das atividades, detalhando cada atividade apresentada, com entradas, processamento e saídas; e) Definição dos indicadores de desempenho, utilizados para medir a efetividade do processo, podendo ser agrupados em operacionais, qualidade, produtividade e satisfação de clientes ou funcionários; f) Acordos entre todos os pares de fornecedores/clientes do processo, com reuniões entre clientes e fornecedores das atividades analisadas de forma a buscar a sintonia do processo; g) Preparo do manual do processo¸ com disponibilização a toda a organização. Somente o dono do processo poderá alterar o manual, devendo ser documentadas quaisquer alterações introduzidas. A fase de operação do processo consiste na implementação das propostas apresentadas pela equipe de melhoria. Cabe ao dono do processo, implementar e liderar um sistema gerencial que garanta o acompanhamento sistemático de todos os seus aspectos importantes. Para garantir a qualidade da implementação dessas propostas e seu gerenciamento é necessário o envolvimento de todos os níveis hierárquicos, tanto dos superiores quanto daqueles que participam diretamente do processo. Todos os envolvidos nos processos devem comprometer-se com o mesmo; devem saber de sua importância dentro do processo como um todo. Para isso a participação do dono do processo é importantíssima, devendo montar e liderar 23 o processo gerencial com ações que incentivem o envolvimento e comprometimento de todos para com o processo. A mudança de uma organização tradicional (funcional) para processos é muito difícil18, pois as pessoas têm que aprender a pensar de novas formas, compreendendo melhor o negócio, assumindo mais responsabilidades e trabalhando em equipe. Em síntese, é necessário que haja comprometimento de todos para com os objetivos da organização na busca da satisfação do cliente e no consequente aumento da competitividade sustentável em um mercado cada vez mais globalizado e dinâmico. Na adoção da gestão por processos, cada integrante da equipe deve entender claramente seu papel na distribuição de suas responsabilidades de forma a garantir o sucesso do modelo. Os membros da equipe devem estar aptos a cumprir as funções de: • entender a empresa e seu negócio; • coletar informações direcionadas ao alcance dos objetivos visados pela gestão por processos; • identificar as oportunidades de melhorias; • influenciar mudanças de procedimentos e comportamentos; • compromissar planos e implantar mudanças para melhorias no processo; • acompanhar as mudanças para ajustes e garantia do sucesso. Dos executivos que assumem novas funções de liderança aos gerentes de nível médio que precisam abrir mão da supervisão e começar a orientar os executivos que assumem a nova responsabilidade pela satisfação do cliente, todos enfrentam uma nova situação. Todos têm um novo papel e esses novos papéis exigem novas atitudes e habilidades, uma vez que o foco nos processos não ocorre 24 somente na diretoria da empresa, mas principalmente nas linhas de frente, onde as pessoas que executam o verdadeiro trabalho na empresa redirecionam seu pensamento e mudam de comportamento19. Para Hammer e Stanton20, uma mudança para processos não ocorre rapidamente. Nem tudo necessita ser feito de uma vez. Para esses autores a maior resistência está nos executivos seniores funcionais, nos chefes de divisão e em outros membros da alta gerência. Eles veem a mudança como uma perda da autonomia e poder e se sentem desconfortáveis com o novo estilo gerencial colaborativo. Os trabalhadores da linha de frente, por sua vez, raramente se opõem à mudança para processos, pois se sentem ansiosos com a ampliação de seus trabalhos, aumentando seu interesse por esse novo tipo de estrutura. 25 2 PDCA – Plan-Do-Check-Action O processo contínuo de melhoria, segundo os padrões da qualidade, é obtido por meio do modelo clássico de planejamento, execução, controle/avaliação e reorientação (o PDCA). A metodologia do PDCA foi desenvolvida por Walter A. Shewhart na década de 1930 e popularizada por W. Edwards Deming21. É uma metodologia que visa controlar e conseguir resultados eficazes e confiáveis no desenvolvimento de atividades. Tem como função básica o auxílio no diagnóstico, análise e prognóstico de problemas organizacionais, sendo de importância fundamental para a solução de problemas. Pode ser utilizado para manter e melhorar as diretrizes de controle de processos e de qualidade e pode ser aplicado em todos os níveis de uma organização. Se for aplicado continuamente levará ao aprimoramento das tarefas, dos processos e das pessoas. Este método de melhoria contínua é um dos poucos que se mostram tão efetivos para a busca do aperfeiçoamento, tendo em vista que ele conduz a ações sistemáticas que agilizam a obtenção de melhores resultados, com a finalidade de garantir a sobrevivência e o crescimento das organizações22. O Ciclo PDCA tem como essência a ideia de que as saídas de um processo geralmente serão parte das entradas do processo subsequente, formando um circuito de realimentação de informações para a tomada de decisões sobre o controle da qualidade do processo23. Este ciclo é composto de quatro passos básicos realizados na seguinte sequência: Plan (planejar), Do (executar), Check (verificar) e Act (atuar corretivamente). Ao girar o PDCA deve-se coletar dados, medir resultados, compará-los com a meta prevista e adotar as medidas corretivas mais adequadas. Para isso, será 26 necessária a utilização de ferramentas para a coleta, o processamento e a disposição de dados a fim de que sejam tomadas as devidas ações corretivas. Sendo baseado nos dados fornecidos e nos resultados obtidos é fácil perceber a importância que tem as medições realizadas para que os dados coletados sejam confiáveis, para que se possa garantir que as ações tomadas a partir da análise dos dados coletados sejam realmente adequadas. Desta forma, podemos garantir uma previsibilidade nos processos, pois quando a melhoria é bem sucedida, adota-se o método planejado, padronizando-o; caso contrário, volta-se ao padrão anterior e recomeça-se a girar24. Neste contexto o ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões que visa garantir o alcance das metas necessárias e pode auxiliar na transição para uma administração voltada para a melhoria contínua. O ciclo PDCA, ciclo de Deming ou ciclo Shewhart, foi introduzido no Japão após a guerra, idealizado por Shewhart, na década de 20, e divulgado por Deming, em 1950, quem efetivamente o aplicou. O ciclo de Deming tem por principio tornar mais claros e ágeis os processos envolvidos na execução da gestão, como, por exemplo, na gestão da qualidade, dividindo-a em quatro principais passos25. O Total Quality Control - TQC – introduziu o ciclo PDCA como a melhor ferramenta que representa o ciclo de gerenciamento de uma atividade. O conceito do ciclo PDCA evoluiu ao longo dos anos, vinculando-se também com a ideia de que, uma organização qualquer, encarregada de atingir um determinado objetivo, necessita planejar e controlar as atividades a ela relacionadas. O ciclo PDCA compõe o conjunto de ações em sequência dada pela ordem estabelecida pelas letras que compõem a sigla: P (Plan: planejar), D (Do: fazer, executar), C (Check: verificar, controlar), e A (Act: agir, atuar corretivamente). 27 P (Plan): Planejar Esta é a fase de planejamento da atividade ou tarefa, levando em conta os recursos disponíveis. Deve basear-se na missão, visão, metas, diretrizes, normas, procedimentos, orçamento, projetos/atividade e processos (metodologias) necessários para atingir os resultados. D (Do): Fazer Esta é a fase de realizar, de executar as tarefas exatamente como previstas no planejamento, o que compreendem projetos, melhorias das atividades e rotinas, educação e treinamento do pessoal, para que a equipe saiba por que e como deve ser executado. No decorrer da execução, deve-se coletar dados referentes à meta almejada para uma análise posterior. C (Check): Controlar – Verificar Esta é a fase de monitorar e avaliar periodicamente os resultados, controlando-os com as metas previamente estabelecidas. É necessário verificar se a meta está sendo atingida ou não a partir dos dados coletados. As seguintes dimensões devem ser ajustadas: - indicadores, - relatórios de controle, - sistemas de informação, - informações de desempenho, - informações de satisfação, - análise de processos, - auditoria/avaliação. Caso tudo estiver de acordo, prossegue-se na execução das tarefas conforme o sistema de padrões. 28 Figura 3 – Representação gráfica do ciclo PDCA Fonte: Guia de Boas Práticas em Farmácia Hospitalar. A (Act): Agir Agir de acordo com o avaliado e de acordo com os relatórios, eventualmente determinar e confeccionar novos planos de ação, de forma a melhorar a qualidade, eficiência e eficácia, aprimorando a execução e corrigindo eventuais falhas. É atuação em relação a todo o processo. Sempre que os resultados não forem os esperados, devem-se corrigir os desvios a fim de que não se repitam. Existem duas possibilidades: 1- Padronizar: caso a meta estabelecida tenha sido alcançada, para garantir sempre o mesmo resultado toda vez que o processo for executado. 29 2- Implantar ações corretivas: sempre que forem observados desvios. Caso os resultados obtidos não sejam os esperados, verificar, em primeiro lugar, se o padrão foi estabelecido. Caso não tenha sido observado o padrão, deve-se providenciar treinamento para sanar falhas. Quando houve observação do padrão, revisa-se o método, pois é nele que deve estar o problema. As ações corretivas são realizadas em dois estágios: - primeiro remove-se o sintoma para que o processo volte a funcionar, - posteriormente elimina-se a causa fundamental para evitar reincidência do problema. Portanto cada fase deve ser planejada, desenvolvida de acordo com o planejamento, verificada e devem ser tomadas ações para corrigir o rumo, quando necessário. Quanto mais “rodado” for o ciclo mais aperfeiçoado se torna o processo de planejamento, fato já demonstrado na prática. É a melhoria continua da Gestão da Qualidade Total. 30 3 A QUALIDADE NA ASSISTÊNCIA A SAÚDE Nas décadas de 1980 e 1990 com a preocupação das organizações de se tornarem competitivas, e tendo como fator estratégico a qualidade, surgiu a necessidade de definição do conceito qualidade. Para tanto, alguns estudiosos definiram qualidade. Dentre esses estudiosos alguns merecem destaque. Inicialmente, Mishikawa26 definiu qualidade como um sistema de produção onde se produz, economicamente, coisas ou serviços que atendem às exigências dos consumidores; Deming acreditava que a qualidade é algo que só pode ser definida em termos do agente, ou seja, o trabalhador só produz qualidade se possuir orgulho de seu trabalho27; segundo Juran e Gryna28 qualidade é a satisfação (do cliente) e ausência de deficiências e, finalmente, a qualidade em saúde para Donabedian 29, consiste na obtenção dos maiores benefícios, com os menores riscos (para o paciente) e ao menor custo. A área de saúde acompanhou o movimento da qualidade que surgiu nas indústrias. Portanto, na década de 90 surgiram nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul algumas iniciativas isoladas relacionadas a acreditação de serviços de saúde, embora em países como Estados Unidos, em 1910, já houvesse propostas para a estandardização de serviços e instituições de ensino, propostas pelo informe Flexner a respeito do ensino médico nas diferentes universidades dos EUA30. Para Quinto Neto e Gastal31 o modelo de acreditação insere-se no contexto do sistema de saúde norte-americano que precisa assegurar excelência (eficácia) dos procedimentos médicos e segurança, já que a sociedade civil está cada vez mais organizada e ciente de seus direitos. 31 No Brasil, com a criação do Sistema Único de Saúde, em 1988, foi assegurada a garantia da saúde como direito do cidadão. Com a descentralização das ações de saúde, fez-se necessário o desenvolvimento de instrumentos gerenciais capazes de avaliar os serviços de saúde prestados a população, uma vez que o próprio Ministério da Saúde reconhece que o SUS tem muitas dificuldades na sua operacionalização, tais como: dificuldade de acesso para consultas especializadas, exames e cirurgias, vagas insuficientes para internação, falta de medicamentos, pouco investimento na educação continuada dos profissionais de saúde32. Neste contexto, o Ministério da Saúde considera, então, a gestão da qualidade uma possibilidade de minimizar, ou até mesmo solucionar os problemas apresentados pelo sistema de saúde e seus prestadores de serviço, pois, através da gestão da qualidade poder-se-ia resolver os problemas pertinentes à estrutura e aos processos do Sistema Único de Saúde, aumentando a qualidade da assistência através da otimização dos gastos de recursos financeiros. Em 1992, a Federação Latino-Americana de Hospitais, preocupada com a qualidade da Assistência Médico Hospitalar, escreveu um Manual incentivando a Criação de um Sistema de Acreditação Hospitalar33. Neste manual foram citadas experiências bem sucedidas de alguns países pioneiros em processos de acreditação, dentre os quais se destacam os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália. Em 1995 o Ministério da Saúde criou o Programa de Garantia e Aprimoramento da Qualidade em Saúde (PGAQS) que envolveu a criação da Comissão Nacional de Qualidade e Produtividade. Participaram representantes de provedores de serviços, da classe médica, órgãos técnicos relacionados ao controle 32 de qualidade e representantes dos usuários dos serviços de saúde. Essa comissão iniciou o levantamento de Manuais de Acreditação utilizados no exterior - Estados Unidos, Canadá, Catalunha/Espanha, Inglaterra e outros, além de manuais que começavam a ser utilizados no Brasil. Foi elaborado o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), com o objetivo de definir as diretrizes para a implantação de um processo de certificação de hospitais identificado como Acreditação Hospitalar. Em 1998 foi divulgado o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar, criado a partir de uma edição da OPAS e de experiências estaduais. Devido à necessidade da existência de regras, normas e procedimentos relacionados a um sistema de avaliação para a certificação foi criada, em 1999, a Organização Nacional de Acreditação (ONA), dando início à implantação das normas técnicas, o credenciamento de instituições acreditadoras, código de ética e qualificação e capacitação de avaliadores. No ano de 2000 foi realizada a primeira avaliação de instituição prestadora de serviços de saúde e em 2001 a primeira instituição é Acreditada. O movimento de Acreditação de Serviços de Saúde se justifica pelo fato de que o programa de garantia da qualidade demonstra o interesse em investir na qualidade dos seus serviços. É essencial que um programa de acreditação inclua o país como um todo e que seja institucionalizado como parte do processo de avaliação, que se implante um mecanismo de garantia da qualidade 34. Estes programas, além de incluir todos os hospitais do país no processo de melhoria da qualidade dos serviços de saúde, também aumentam o nível dos debates sobre políticas dos sistemas dentro dos hospitais, causando uma acumulação de informações que podem ser utilizadas no campo da pesquisa dos 33 serviços de saúde. Destacam-se, ainda, os benefícios epistemológicos e a contribuição na difusão de conhecimentos no país a respeito de ideias positivas sobre a prática clínica e sua administração35. É importante salientar que as principais vantagens dos programas de acreditação de Serviços de Saúde não são aqueles advindos da acreditação propriamente dita, mas, sobretudo dos períodos preparatório e posterior à avaliação. Durante este processo os profissionais envolvidos na instituição são mobilizados, criando a possibilidade de desenvolvimento de uma auto avaliação e rigorosa revisão interna36. Outro benefício da Acreditação Hospitalar é a obrigatoriedade da existência de comissões em exercício para o controle de atividades do grupo de profissionais dentro do hospital, criando uma responsabilidade organizacional nas instituições de saúde e renovando o interesse acadêmico no hospital e na qualidade da assistência. Além disso, tais programas de acreditação contribuem para a melhoria do clima organizacional estimulando o companheirismo entre os colaboradores dos serviços, visto que, trabalhar em um hospital acreditado e participar das atividades relacionadas à avaliação cria motivação no pessoal. Os programas de acreditação hospitalar avaliam a estrutura, os processos e melhorias dos serviços. No Brasil a Organização Nacional de Acreditação (ONA) dividiu os Hospitais Acreditados em três níveis que são: Nível 1, onde se avalia a estrutura, Nível 2, avaliação de processos e Nível 3 avaliação de melhorias. Para que uma organização alcance o Nível 3 precisa ter conseguido atender a todos os requisitos previstos no Nível 1 e 2 e assim por diante. A ideia do programa de acreditação é incentivar a melhoria da qualidade da assistência dos serviços de saúde através de visitas educativas que ofereçam apoio 34 a estes serviços, sem caráter de realização de inspeções e sansões. Somente a Austrália tem a experiência de possuir representação do governo no órgão acreditador. Porém, esta representação é mínima, não tendo poder de decisão. Outro ponto importante é a indicação de experts nas profissões de saúde, o que confere a Comissão legitimidade em âmbito Nacional. Donabedian37 propôs alguns atributos da qualidade, quais sejam: eficácia, a capacidade do cuidado, na sua forma mais perfeita, de contribuir para a melhoria das condições de saúde; efetividade, o quanto de melhorias possíveis nas condições de saúde é obtido; eficiência, a capacidade de obter a maior melhoria possível nas condições de saúde, ao menor custo possível; otimização, a mais favorável relação entre custos e benefícios; aceitabilidade, conformidade com as preferências do paciente no que concerne à acessibilidade, relação médico-paciente, às "amenidades", os efeitos e o custo do cuidado prestado; legitimidade, conformidade com as preferências sociais em relação a tudo mencionado anteriormente e equidade, igualdade na distribuição do cuidado e de seus efeitos sobre a saúde. Atualmente a qualidade de saúde tem sido o objetivo dos órgãos públicos que fiscalizam e avaliam serviços de saúde. O modelo atualmente aceito para avaliação pela Vigilância Sanitária e pela Organização Nacional de Acreditação é baseado na tríade de Donabedian, abrangendo os seguintes aspectos: a) estrutura, se refere às características relativamente estáveis, como condições físicas, organizacionais, equipamentos, recursos humanos; b) processo, é o conjunto de atividade desenvolvidas nas relações de produção em geral e, no caso de serviços de saúde, entre profissionais e pacientes e resultado. 35 Obtenção das características desejáveis dos produtos ou serviços, sem erros, imperfeições ou nocividade; c) melhoria do meio ambiente e trabalho, ou mudanças obtidas no estado dos pacientes ou quadro sanitário, que podem ser atribuídas ao cuidado consumido ou tecnologias introduzidas. Para cada componente da tríade deve haver um conjunto de indicadores que descreva a realidade. Tais indicadores, do ponto de vista estatístico, devem possuir características como: exatidão (apresentar as mínimas possibilidades de erro, sempre que registrado); confiabilidade (referente ao fato de diversos pesquisadores obterem as mesmas medidas quando frente ao mesmo evento, não variando entre observadores; quanto mais quantitativa a definição operacional do indicador, maior o grau de reprodutibilidade); simplicidade (seus registros e medidas devem apresentar poucas dificuldades); pertinência (estar efetivamente correlacionado ao problema que examina); validade (medir efetivamente o fenômeno ou critério que está sendo examinado); sensibilidade (detectar as variações no comportamento do fenômeno que examina)38. Destaca-se ainda que, a fim de alcançar a qualidade em saúde e a melhoria contínua, tem sido utilizado atualmente, o ciclo PDCA, já citado no capítulo anterior. Uma das maneiras de colocar em prática os ciclos de PDCA é a mensuração dos eventos adversos. Além de medir tais eventos é importante conhecer suas causas e assim criar estratégias para diminuí-los. O desenvolvimento deste trabalho compreende a primeira parte do ciclo (PLAN), ou seja, conhecer e analisar os eventos, a fim de planejar ações para que a ocorrência destes seja reduzida. 36 3.1 Eventos adversos Em 1992 foi realizado na Austrália o The Australian Quality Health Care Study (QAHCS), que definiu evento adverso como “lesão não intencional que resultou em incapacidade temporária ou permanente e/ou prolongamento do tempo de permanência ou morte como consequência do cuidado prestado”39. Atualmente, nos Estados Unidos, estima-se que 100 mil pessoas morrem em hospitais a cada ano vitimas de eventos adversos (EAs). Desde o século XVIII vêm sendo divulgados estudos a respeito dos agravos à saúde causados pelo cuidado prestado pelos profissionais de saúde. Pode ser citado como exemplo o estudo de Ignaz Semmelweiss que estabeleceu a ligação entre infecção puerperal e higiene das mãos. Outro exemplo pode ser extraído dos escritos de Florence Nightingale que revolucionou os cuidados hospitalares a partir da observação dos riscos para os pacientes decorrentes das más condições de higiene dos hospitais40. O aumento da frequência de eventos adversos em pacientes tem provocado debates em âmbito internacional, juntamente com a busca pela qualidade da assistência à saúde e também à crescente escassez de recursos financeiros. Os erros em técnicas e procedimentos na área da saúde podem resultar em tragédias para os pacientes e/ou familiares, prolongando o tempo de internação e aumentando os custos da assistência em saúde41. Mendes et al.42 lembram que no Reino Unido e na Irlanda do Norte, o prolongamento do tempo de internação devido aos EAs consome cerca de 2 bilhões de libras ao ano. 37 Nos Estados Unidos estima-se que tais gastos fiquem entre 17 e 29 bilhões de dólares anuais. No Brasil, segundo Galloti43, a epidemiologia dos eventos adversos ainda necessita de uma abordagem sistemática. 38 4 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) A ideia de agrupar pacientes graves para proporcionar uma melhor assistência surgiu com a enfermeira Florence Nightingale, na Guerra da Criméia, em 1854, buscando a qualidade e a melhora do processo de enfermagem. O aperfeiçoamento das intervenções terapêuticas e o desenvolvimento de unidades especiais para abrigar pacientes e recursos tecnológicos de alta complexidade transformaram o exercício profissional dos enfermeiros e os custos dos internamentos47. Hoje, identificam-se três categorias de pacientes que podem se beneficiar do cuidado e do tratamento intensivo: pacientes com doença aguda reversível, para os quais a possibilidade de sobrevida sem a internação em UTI é baixa; pacientes com probabilidade de se tornarem agudamente enfermos, necessitando de monitorização/observação; e pacientes com baixa probabilidade de sobrevida sem UTI, mas que podem se beneficiar do cuidado intensivo com sobrevida maior 48. Ainda neste sentido Miranda49 descreve que os critérios de internação em UTI incluem doenças cardiovasculares, neurológicas, respiratórias, gastrintestinais, intoxicações, endocrinológicas, cirúrgicas (trauma e queimaduras graves) e infecciosas ameaçadoras à vida, bem como sinais vitais indicativos de gravidade (pulso < 40 ou > 150 batimentos por minuto, pressão arterial sistólica < 80 mmHg ou 20 mmHg abaixo do nível habitual, pressão arterial média < 60 mmHg, pressão arterial diastólica > 120 mmHg, frequência respiratória > 35 bpm); exames laboratoriais (níveis séricos de sódio < 110 mEq/L ou > 170 mEq/L, níveis séricos de potássio < 2 mEq/L ou > 7 mEq/L, PaO2 < 50 mmHg, pH < 7,1 ou > 7,7, glicose > 800 mg/dL, cálcio sérico > 15 mg/dL, níveis tóxicos de drogas ou substâncias químicas em paciente hemodinâmica ou neurologicamente comprometido); exames 39 de imagem constatando hemorragia no sistema nervoso central ou contusão em pacientes com alteração do nível de consciência, sinais de rupturas de vísceras e vasos com instabilidade hemodinâmica. Em defesa da aplicação desse conceito, Viana 50 frisa que pacientes de UTI possuem uma demanda de cuidados específicos voltados para uma população em estado de gravidade que tem como característica principal a necessidade de vigilância constante de seu estado de saúde, por parte de toda a equipe multiprofissional. Para a mesma autora, a UTI é uma área do hospital na qual os riscos de mortalidade são maiores e em que os tratamentos e cuidados prestados irão influenciar diretamente os resultados obtidos. Miranda51 ressalta que a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um recurso caro, que utiliza tecnologia de ponta e acolhe pacientes nos limites de suas capacidades fisiológicas, mas que ainda têm um prognóstico favorável para viver, embora necessitem de recursos técnicos e humanos especializados em grande escala para sua recuperação. É um ambiente onde são utilizados materiais, técnicas e procedimentos sofisticados e de alto custo, para tratar doenças ou quadro clinico com risco potencial à vida. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Dias52 descreve que a UTI é uma unidade que demanda elevado investimento tecnológico, e que apresenta grande impacto emocional, de modo que é necessário garantir a qualidade da utilização dos recursos humanos e materiais, este, por meio de manutenção preventiva dos materiais e bom acondicionamento, implantando estratégias administrativas eficientes. Avelino53 cita que as UTI foram implantadas no Brasil a partir da década de 70 e com seu surgimento melhorou o atendimento a pacientes graves, que antes era 40 realizado na enfermaria, com área física inadequada e escassez de recursos tecnológicos e humanos. As próprias UTIs sofreram grandes modificações com relação ao espaço físico, materiais e condutas, além da adequação de mão de obra qualificada e estruturada psicologicamente. Em UTI, a monitorização dos órgãos e sistemas, que não são a causa direta do problema que levou o paciente a essa condição, não deve ser esquecido. Esta atenção evita a deterioração de outro órgão ou sistema que pode contribuir para um prognóstico desfavorável do caso54. É mais importante investir na prevenção do que preocuparmo-nos com a correção. Um único paciente de UTI chega a utilizar vários aparelhos e sistemas ao mesmo tempo, além de medicamentos de última geração, o que justifica seu alto custo de internamento nestas unidades. Com o intuito de diminuir iatrogenias e eventos adversos, é imprescindível a utilização dos indicadores de qualidade como ferramenta. 4.1 Utilização da Ferramenta de Qualidade PDCA em UTI A UTI com sua natureza multidisciplinar, a partir da organização, preferencialmente com um modelo de gestão matricial, que integra as equipes das diversas áreas, sob a coordenação de um gestor, liderando e ordenando as diversas ações, vai determinar a prioridade dos processos que serão implementados e gerenciados através da ferramenta, priorizando sempre os que atendem ao objetivo principal da unidade, melhor qualidade de atendimento e melhores resultados, objetivo comum aos programas de melhoria contínua. Santos44, diz que uma vez identificados os processos críticos, precisa-se selecionar o que será trabalhado. Observando alguns aspectos: definir bem o processo e não muito grande: o processo contemplar um problema notável e visível na organização, facilitando a implementação de melhorias em outros processos; ter 41 apoio da direção; trazer benefício para o cliente; conhecer os benefícios que podem ser trazidos para o cliente; conhecer os benefícios para a organização e os meios adequados para avaliar os resultados alcançados; os recursos e insumos necessários à melhoria só dependem da própria unidade, porque dependências externas aumentam os riscos de falhas devido às causas fora do controle de quem está implementando o projeto. Segundo o autor, ao delimitar e escolher o processo a ser trabalhado, deve-se aplicar uma metodologia. A escolha da metodologia a ser aplicada é importante para conduzir todo processo estabelecido, testado e confiável, apoiado por instrumentos eficazes, que possibilitará alcançar os objetivos previamente definidos. Um dos métodos é o ciclo PDCA. O ciclo PDCA é uma ferramenta fácil, porém poderosa e eficiente para a melhoria contínua de qualidade de uma UTI. Dentro de um sistema de gestão, é aplicado para atingir os resultados esperados45. Tem como objetivos: Definir o processo; Medir o processo; Estabilizar o processo (eliminar as causas especiais de variação); Controlar o processo (reduzir as causas comuns de variação) e; Melhorar continuamente o processo. Segundo Santos46, existem vários instrumentos que podem ser utilizados de formas isoladas em conjunto, para se “conhecer melhor um processo”. Assim, uma das formas de exercício inicial de uma UTI que planeja e executa ações em prol da qualidade, utilizando-se do ciclo PDCA como ferramenta, é o esforço de toda a equipe multidisciplinar na implementação de um programa 5S, que também tem a vantagem de ser relativamente simples na sua compreensão e aplicação. 42 Quando colocado no ciclo PDCA, torna-se um processo inicial na qualificação da UTI, preparando o terreno para semear novas ideias e novos ideais, avançando para outros processos, como o de Acreditação, que pode ou não integrar-se a um esforço conjunto de um Hospital ou Grupo Hospitalar. Pode a UTI, no entanto, por suas características físicas e complexidade funcional, desenvolver um projeto de acreditação independente da instituição. Uma UTI, hoje, integra equipes que podemos dividir-se em: internas, que exercem seu trabalho internamente na unidade, principalmente em contato com o paciente, como Médicos, Enfermeiros (incluindo-se técnicos de enfermagem), Fisioterapeutas, Nutricionistas, Fonoaudiólogos, Psicólogos e também, mais recentemente incluídos nas UTI, Odontólogos (e técnicos em saúde bucal); e externas, que geralmente são serviços de diagnóstico ou de terapias complementares às que são realizados na UTI, tais como: exames de imagem, laboratório clínico, laboratório de patologia, radioterapia, hemocentros e serviços de transporte de pacientes. Serviços de emergência (pronto atendimentos e pronto socorros) e centros cirúrgicos contribuem e muito com os resultados de uma UTI, considerando-se que o atendimento inicial aos pacientes que internam na unidade vão se refletir diretamente nesses resultados, tornando-se uma verdadeira extensão da mesma. Assim sendo, atenção especial e esforço em integrar essas equipes de emergência e de salas de recuperação, no esforço de aplicar ferramentas gerenciais de processos e de qualidade, buscando o melhor tratamento dos clientes em potencial de uma UTI, vai garantir também a qualidade do atendimento e melhores resultados. Numa visão sistêmica, vamos observar que a UTI, como unidade, depende, para obter seus melhores resultados, do todo, dos serviços que prestam 43 atendimento logístico à UTI, criando uma rede de interdependência. O reflexo da qualidade da ação e dos processos envolvidos se faz sentir em todos os pontos da rede. Assim sendo, podemos instalar alarmes na rede, identificando os pontos críticos que estão interferindo no funcionamento e nos resultados. É o conceito de monitoramento das ações, mas não com o objetivo de punir responsáveis, mas de utilizar-se de uma ação proativa, de implementar um projeto de melhoria do processo que se identifique como uma não conformidade dentro dos padrões de qualidade estabelecidos. Usamos, geralmente, modelos de referência como padrão de qualidade mínima exigida, procurando-se sempre manter o padrão mínimo, mas não deixando de querer exceder as especificações mínimas, ultrapassando barreiras e procurando a projeção desses bons resultados, através de melhores práticas. Sobre isso, encontramos em conceitos como o de medicina baseada em evidências uma “consciência” que precisa ser introduzida em todos os processos que buscamos melhorar, respeitadas as limitações de cada unidade, sua realidade institucional, social e econômica, mas sempre lembrando que devemos procurar instituir o melhor atendimento ao paciente e, quando possível, o atendimento ideal. Como exemplos de práticas que podemos implementar, reduzindo danos e sequelas, podemos citar protocolos de dor torácica e de atendimento de acidentes vasculares isquêmicos. Sabemos que o diagnóstico precoce e medidas terapêuticas rápidas e bem indicadas, reduzem significativamente a morbidade e a mortalidade dos pacientes vítimas de síndromes coronarianas e de AVC isquêmicos. Terapêuticas como angioplastia e tromboembolismo podem ser determinantes em reduzir o número de sequelados. Um paciente reabilitado precocemente pode voltar a ser um indivíduo saudável. Um paciente com IAM c/ supradesnivelamento de 44 segmento ST que é tratado com fibrinolítico ou que faz angioplastia primária, pode ter seu miocárdio preservado e levar, no futuro, uma vida normal. Um paciente vítima de AVC que consegue ser trombolisado precocemente, seguindo os protocolos de atendimento, pode vir a ter uma vida normal, com todas as suas funções cognitivas, sensitivas e motoras do SNC preservadas. De outra forma, vítimas de emergências vasculares, sejam coronárias, sejam encefálicas, não recebendo o atendimento ideal, precoce e dentro do preconizado pelas diretrizes e/ou protocolos de atendimento, pode se tornar um paciente com insuficiência cardíaca limitante permanente, bem como um que não tenha o atendimento ideal de AVC isquêmico, vai se tornar um hemiplégico, disártrico, disfágico e dependente de várias formas, tornando-se uma vítima da carência de um sistema de saúde, que até se prove o contrário, é o responsável por fornecer o melhor atendimento possível. Sabemos que a escolha não é sempre nossa, mas devemos trabalhar para melhorar sempre e beneficiarmos o maior número de indivíduos possível, para não criarmos fardos para a sociedade da qual fazemos parte e para a qual contribuímos com nosso trabalho e nossos impostos. E não sabemos nunca quando faremos parte do circulo das vítimas, seja como paciente, seja como familiar de um paciente. Dessa forma devemos aplicar nossos esforços na melhoria contínua de tudo e de todos os envolvidos no atendimento intensivo, como membros da equipe. Uma das formas que podemos incluir a todos obtendo bons resultados é através do fomento ao ensino e à pesquisa clínica. Utilizarmos do conhecimento e da educação como ferramentas valiosas na implantação de sistemas de qualidade. O desenvolvimento de projetos envolvendo educação continuada e pesquisa através de dados coletados na unidade ou de revisões bibliográficas sistemáticas deve fazer parte da cultura da Terapia Intensiva. Devemos procurar quebrar com as 45 barreiras que nos impedem de compilar informações e analisar dados e resultados. Nesse aspecto podemos inserir o ciclo PDCA como uma ferramenta muito importante e precisa no desenvolvimento científico da equipe. Um departamento de ensino e pesquisa deve estar instituído e ser permanente, influenciando decisões e ações construtivas. É um princípio evolutivo, que de uma célula inicial podemos criar um órgão, que pode se tornar até mesmo independente, como o que modela uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, que exerce sua atividade através de dados coletados em várias unidades e retorna suas conclusões através de medidas corretivas à unidade. Assim, devemos reunir todas as equipes, nomear seus coordenadores e estabelecer metas gerenciais, enumerando diversas ações que podem ser implementadas e desenvolvidas através de um ciclo PDCA, com o objetivo de melhorar os processos e obter mais qualidade e melhores resultados. Dentre os processos enumerados, selecionamos os 3 que sejam mais urgentes, ou mais graves, ou que estejam influenciando negativamente os resultados. Por exemplo, dentro da área de enfermagem, a incidência de úlcera de pressão; se está alta e a resolutividade das mesmas está baixa, aumenta a incidência de infecção, tornando-as foco de sepse, em consequência, maior tempo de permanência na UTI e gasto maior com uso de antibióticos, aumentando a incidência de cepas MR, aumentando o impacto sobre o custo de tratamento do paciente, seja sobre um plano de saúde, seja sobre um sistema público de saúde. Aplicação do ciclo PDCA sobre o processo: P – planejar métodos preventivos básicos, com mudança de decúbito e uso de colchão piramidal. D – treinar a equipe na aplicação de novos métodos preventivos, introduzir as novas medidas e registrar os dados e resultados de sua aplicação. C – coletadas as informações, analisar os 46 dados obtidos e analisá-los, comparando-os com referenciais e com resultados esperados no planejamento das ações. A – Apurados os resultados das ações, agir de acordo com os resultados: ou manter as novas rotinas por bons resultados obtidos, ou corrigir não conformidades na execução dos processos, ou mudar as rotinas. E aí repetir o ciclo, num processo de melhoria contínua. Nesse sentido, a amplitude de aplicação em todas as áreas da saúde envolvidas em uma UTI, a facilidade de compreensão pelas equipes, de organização dos processos enfocados e de aplicação dessa ferramenta, tornam o PDCA essencial no desenvolvimento da gestão focada na qualidade e nos resultados do trabalho. 47 CONCLUSÃO Este trabalho buscou explorar um tema que já é experimentado e vivenciado por grande parte das empresas privadas e parte das empresas públicas no Brasil, sendo que as organizações privadas de vários setores produtivos e de prestadores de serviços compraram essa ideia desde a década de noventa e obtiveram e continuam obtendo resultados positivos. A gestão pelo controle da qualidade total e o uso de indicadores, nesse trabalho tem um particular, aqui estes instrumentos gerenciais estão direcionados à utilização na Unidade de Terapia Intensiva para acompanhar e sistematizar as suas atividades. Base imprescindível para melhoria contínua dos serviços prestados ao usuário. A qualidade é o principal foco para todas as atividades, é um dos pontos mais fortes que as empresas prestadoras de serviços têm que seguir com rigor e excelência. Oferecer serviços com qualidade é condição de permanência para as empresas dentro do mercado. A implementação da qualidade em saúde gera maiores benefícios aos pacientes, à equipe de trabalho e ao próprio hospital, com a redução de custos. Por este motivo, o incentivo para o seu alcance deveria vir de cadeias mais elevadas. Um dos lugares onde existe um grande número de indicadores de qualidade – ou sua deficiência ou ausência - são as UTIs, por esse motivo, não se justifica hoje não se desenvolver um modelo de gestão para uma unidade de tratamento intensivo, considerando-se que está muito bem estabelecido o impacto de uma boa gestão nos seus resultados. 48 Também não se pode falar em gestão sem discorrer sobre conceitos de qualidade e programas de gestão de qualidade, nos quais todos os processos inerentes à atividade de terapia intensiva estão inseridos, bem como produtividade. Conceitos de qualidade na assistência à saúde são bem conhecidos e processos envolvidos na terapia intensiva que interferem na qualidade do atendimento prestado aos pacientes críticos são bem estudados e devem ser constantemente analisados e avaliados, utilizando-se de ferramentas de gestão. Do mesmo modo, hoje, não se pode pensar em gestão de uma UTI sem saber que esta gestão, num ambiente hospitalar, tem que ser integrada e compartilhada, porque interessa ao todo a questão relacionada ao custo do atendimento de um paciente numa UTI e as receitas geradas pelo mesmo atendimento. O entendimento dessa questão precisa ser gerido conscientemente, racionalmente e satisfatoriamente. O fundamento disso é a receita do sucesso. Identificar falhas nesses processos e corrigi-los é uma das principais diretrizes de qualquer sistema de gestão em terapia intensiva, porque isso compromete os resultados tanto sob o ponto de vista gerencial quanto assistencial. Na essência desse complexo, estão os clientes de uma UTI, que podemos identificar como todos os indivíduos envolvidos nos processos da Unidade, sejam eles pacientes e seus familiares, sejam eles as equipes de profissionais de saúde, sejam os profissionais de atividades auxiliares e logísticas. Vamos utilizar uma ferramenta de gestão da qualidade, o ciclo PDCA, ou ciclo de Deming, para propor uma gestão dinâmica de uma UTI, organizada, planejada e focada na qualidade e na melhoria contínua, que são conceitos muito presentes em todas as áreas de administração contemporânea e essenciais para as empresas no 49 século 21. Essenciais para sua sobrevivência e para seus resultados. Aqui, especificamente, Unidades de Terapia Intensiva. A essência desse modelo de gestão está na aplicação do ciclo PDCA não apenas nos processos gerenciais, mas também na sua aplicação em projetos de educação e pesquisas clínicas, bem como em desenvolvimento de protocolos assistenciais, envolvendo todas as pessoas nos processos, tornando esta ferramenta não apenas teórica, mas essencialmente prática e aplicada diariamente nas atividades rotineiras, tornando-a parte essencial de todos os processos. Um modelo e uma ferramenta conhecida e usada por todos, num trabalho e num esforço comum, de equipe. 50 REFERÊNCIAS 1 – ANSOFF, I. Administração estratégica. Tradução de Mário Ribeiro da Cruz. São Paulo: Atlas,1988. 2 – KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. Mapas estratégicos: convertendo ativos intangíveis em resultados tangíveis. Rio de Janeiro: Campus, 2004. 3 - PORTER, M.W. What is strategy? Harvard Business Review, p.61-78, nov./dec. 1996. 4 - GRAHAM, M.; LeBARON, M. The horizontal revolution. San Francisco: JosseyBass, 1994. 5 - GARVIN, D.A. The processes of organization and management. Sloan Management Review, p.33-50, Summer,1998, p. 33. 6 - HAMMER, M.; CHAMPY, J. Reengenharia: revolucionando a empresa em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência. Tradução de Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Campus, 1994. 7 – CRUZ, T. Sistemas, Métodos & Processos: administrando organizações por meio de processos de negócios. 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