1 Método de Ajuste Alternativo de Modelo Térmico de Transformadores Utilizando Inteligência Artificial L. M. Souza, W. M. Caminhas e W. C. Boaventura Resumo -- A determinação da vida útil de transformadores de distribuição com núcleo imerso em óleo é realizada a partir da sua curva de carga. Quanto maior o carregamento do transformador, maior é sua temperatura interna e, por conseqüência, menor é sua vida útil. Isto porque o papel isolante, principal elemento responsável pela isolação elétrica e parte que mais se deteriora com o tempo e a temperatura, quando submetido a altas temperaturas perde sua rigidez mecânica e permite a quebra do isolamento elétrico, ocasionando falhas. Nesse trabalho, foi apresentada uma nova forma de ajustar o modelo térmico proposto pelo IEEE, sem a necessidade de conhecer parâmetros específicos do transformador. Foi também criado um método de reduzir o erro de cálculo do modelo utilizando-se ferramentas de inteligência computacional. Palavras-Chave— Algoritmos Genéticos, Confiabilidade, Inteligência Artificial, Modelagem Térmica, Papel Kraft, Polimerização, Redes Neurais Artificiais, Sistemas Elétricos, Transformadores de Distribuição, Vida Útil. I. INTRODUÇÃO N AS últimas décadas, com aumento do consumo global de energia elétrica e aumento do número de residências urbanas e rurais a quantidade de transformadores de distribuição tem aumentado. Para gerenciar o processo de instalação, as empresas que trabalham com transformadores precisam de boas metodologias de predição de vida útil [1] para estimar a potência de um transformador a ser instalado a partir de sua curva de carga prevista. A escolha da potência pode ser realizada visando a melhor relação custo-benefício. Outro ponto importante é que algumas empresas necessitam do conhecimento da vida útil para programar a manutenção dos transformadores. As concessionárias de energia trabalham com centenas de milhares de transformadores com potências nominais que variam de 5kVA a 300kVA. Além de diferentes Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES e CNPQ pelo apoio financeiro concedido. L. M. Souza é professor adjunto do departamento das engenharias de Telecomunicações e Mecatrônica da UFSJ, Ouro Branco, MG, Brasil (e-mail: [email protected]) W. M. Caminhas é professor adjunto do Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil (e-mail: [email protected]) W. C. Boaventura é professor adjunto do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil (e-mail: [email protected]) potências, existem diferentes projetos de transformadores e diferentes tipos de isolantes, tanto líquidos quanto sólidos [1]. Este fato evidencia que os transformadores podem ter diferentes dinâmicas de envelhecimento. O papel isolante é a parte mais frágil do transformador devido ao processo de polimerização, que consiste na quebra das fibras de celulose devido à ação de temperaturas elevadas em um intervalo de tempo. Com a polimerização as fibras se tornam quebradiças e se rompem, por conseqüência, dão origem a falhas na isolação elétrica [1]. Sendo assim, quanto maior a temperatura de serviço do transformador, menor será a sua vida útil [1]. O IEC - International Electrotechnical Commission [2] e IEEE - Institute of Electrical and Electronics Engineers [1] já possuem metodologias propostas para se determinar a vida útil de transformadores. Entretanto, tais metodologias são gerais e se fundamentam no carregamento para determinar a temperatura de ponto quente por meio de um modelo térmico. Os atuais modelos são muito criticados em se tratando de transformadores de menor potência, porque foram criados fundamentando-se em características de transformadores de maior potência [3]. Como a precisão da metodologia depende dos resultados obtidos através do modelo térmico, um modelo térmico ruim compromete o cálculo da expectativa de vida útil. Já existem trabalhos que mostram que através de técnicas de inteligência computacional os modelos térmicos podem ser melhorados, garantindo assim melhor precisão aos resultados finais gerados pelas metodologias [4]-[5]. Com resultados mais precisos, pode-se garantir um melhor monitoramento de transformadores e, por conseqüência, maior confiabilidade ao sistema elétrico. II. METODOLOGIAS CONVENCIONAIS Em relação à perda de vida útil da isolação do transformador, pode-se dizer que são três os principais fatores que a influenciam. A temperatura a qual o papel está exposto, o percentual de umidade no interior do transformador e a quantidade de oxigênio. Porém, as duas últimas já não são mais tão relevantes, visto que existem técnicas atuais bastantes seguras para estocar o óleo evitando contaminação. Sendo assim, a temperatura se torna o mais importante parâmetro a ser analisado quando o envelhecimento do transformador é avaliado [1]. Segundo [6] e [7], existem evidências experimentais 2 indicando que a deterioração do isolante sólido é função do tempo e temperatura. Em [1] e [2], o envelhecimento do papel kraft é modelado segundo a curva de Arrhenius adaptada conforme a equação (1). B θ H + 273 PV = A ⋅ e (1) Sendo: PV: Vida útil por unidade (P.U.); A, B: Constantes; θH: Temperatura de ponto quente. Neste caso, o fator de envelhecimento do isolamento para um determinado período é calculado pela equação (2). Com esta equação pode-se calcular a “quantidade de vida útil” que será “consumida” para o funcionamento do transformador com uma curva de carga, por um determinado período. N ∑ FAAn ⋅ ∆t n FAeq = n = 1 N (2 ) ∑ ∆t n n =1 Sendo: FAeq: Fator de envelhecimento equivalente para um determinado período; FAAn: Fator de envelhecimento para a temperatura no intervalo n; ∆t: Tempo em minutos correspondente ao intervalo n; N: Número total de intervalos; n: índice do intervalo. O valor de FAA para um intervalo n será obtido da equação (3), onde é calculado um fator de envelhecimento para cada temperatura de ponto quente. O fator de envelhecimento corresponde à perda ou acréscimo de vida útil, comparado com uma temperatura de referência. O fator de envelhecimento é maior que “1” para temperaturas acima da temperatura de referência e menor que “1” para temperaturas abaixo. 150000 − 150000 383 θ + 273 H FAA = e (3) Conforme pode-se verificar, a temperatura de ponto quente é o principal parâmetro utilizado nas metodologias de determinação de vida útil de transformadores. Dessa forma, é de fundamental importância que esta temperatura seja calculada de forma confiável. III. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL O estudo da Inteligência Artificial iniciou através do desenvolvimento de Redes Neurais Artificiais (RNAs). Sua origem data da primeira metade do século XX, com os esforços de Warren McCulloch e Walte Pitts, na tentativa de descrever um evento do sistema nervoso [8]. Desde então, tal assunto teve uma grande evolução graças aos esforços de diversos cientistas que contribuíram com algoritmos e métodos que viabilizaram a utilização de Redes Neurais Artificiais em diversos campos da ciência [9]. Sua grande utilização deve-se à capacidade de aprendizado desses sistemas, ou seja, eles são capazes de aprender padrões e posteriormente classificá-los. Além disso, esses sistemas são capazes ainda de generalizar o que foi aprendido, apresentando respostas coerentes mesmo para entradas que não estavam no universo do conjunto de dados que ocasionou o aprendizado. Podem também ser consideradas mapeadores universais de funções multivariáveis. Unidas a isso, as RNAs apresentam capacidade de auto-organização e de processamento temporal. Dessa forma, as RNAs são ferramentas extremamente úteis e de custo computacional relativamente baixo para a solução de problemas de grande complexidade. A RNA do tipo Perceptron Multicamadas (MLP) [8] é muito utilizada para classificar padrões, realizar predições, modelagem, dentre outras aplicações. Para treiná-las, são apresentados conjuntos de entradas e suas respectivas saídas, e, por meio de um algoritmo de aprendizado, procura-se reduzir o erro entre tais saídas e as saídas desejadas. As redes do tipo Funções de Base Radiais (RBF) [9] também possuem a mesma gama de aplicações que as redes do tipo MLP. Possuem funções de base radiais nos nodos da camada escondida e são treinadas a partir da apresentação de padrões à camada de saída e posterior retro-propagação do erro. Este processo ocorre após o ajuste dos centros e variâncias das funções de base radial por meio de técnicas de clusters [9]. Como ambas as redes (MLP e RBF) realizam bem a tarefa de modelagem, elas serão utilizadas para tentar criar um modelo que corrija o erro de temperatura do modelo térmico apresentado em [1]. Além das RNAs outra ferramenta do campo da Inteligência Artificial que foi impulsionado mais recentemente (década de 80) foram os Algoritmos Genéticos (AGs). Eles são ferramentas de otimização inspiradas nas teorias evolutivas de Charles Darwin e na genética de Mendel [10]. Foram inicialmente propostos na década de 70, publicados em [10]. Mas foram impulsionados na década de 80, com a publicação de [11]. Estes algoritmos fazem com que uma população de indivíduos evolua, sujeitando-se às ações aleatórias do ambiente semelhantes às acontecidas na evolução biológica. Os indivíduos são selecionados de acordo com alguma função objetivo, que decide quem são os indivíduos cujos genes são mais adaptados ao meio, garantindo sua sobrevivência e transmitindo suas características. Dentro deste contexto, um algoritmo genético é um método de otimização baseado em probabilidades. Como o indivíduo mais adaptado não é descartado, a convergência para o ponto de ótimo global ao longo das gerações é garantida para qualquer função, considerando a avaliação por um intervalo de tempo infinito [11]. Devido à esse fato, serão utilizados algoritmos genéticos para encontrar os parâmetros “ótimos” de um modelo térmico. Tais parâmetros fazem com que o modelo calcule mais precisamente as temperaturas de ponto quente do transformador. IV. MODELAGEM TÉRMICA PROPOSTA Modelos térmicos para determinação de temperatura de 3 ponto quente em transformadores já são estudados, conforme pode ser verificado em [5]-[6]. Onde a modelagem é realizada com redes neurais, cujas entradas são constituídas pela curva de carga e as saídas com a curva de temperatura. Sua grande importância dá-se porque as metodologias de determinação de vida útil do transformador dependem de temperaturas internas. Como o acesso a essas temperaturas é restrito, faz-se necessário criar um modelo que permita, a partir de informações do carregamento, calcular a temperatura no interior do transformador. Existem diversos modelos térmicos apresentados em artigos e guias [1]-[6]. Alguns desses modelos utilizam equações provenientes de estudos térmicos empíricos ou estudos a respeito das equações de calor no interior do transformador [1]-[2]. Outros utilizam resultados do monitoramento térmico de transformadores para treinar redes neurais artificiais, realizando assim a modelagem [5]-[6]. Quando o modelo é obtido via monitoramento térmico, geralmente, faz-se necessário um transformador especial com sensores instalados em seu interior para realizar as medições. E muitas vezes os parâmetros utilizados para “alimentar” os modelo não são conhecidos pelos usuários, necessitando assim da realização de ensaios adicionais para determiná-los, como por exemplo, as constantes térmicas. Esses modelos, geralmente, apresentam um elevado erro no cálculo de temperaturas. Já os modelos que utilizam redes neurais artificiais apresentam erros menores. Entretanto, esses são realimentados com sua própria saída e propagam o erro (o erro no instante “t” é passado à rede no instante “t+∆t”, sendo ∆t um intervalo de tempo), visto que precisam de informações a respeito dos valores de temperaturas atrasadas. Nesse caso, o modelo torna-se instável e ao final de alguns instantes o valor da temperatura calculada se torna muito diferente do valor real obtido com medições. Deseja-se então, propor um modelo térmico que seja estável, como os modelos tradicionais, mas que possua um menor erro, como os modelos baseados em Redes Neurais Artificiais. O modelo deve receber apenas a curva de carga e retornar à metodologia a temperatura de ponto quente. Foi criado então um modelo que utiliza equações tradicionais (obtidas no guia IEEE [1]) e redes neurais artificiais. Esse modelo será denominado “Modelo Térmico Híbrido” e apresenta dois estágios. O primeiro utiliza as equações tradicionais ajustadas por AGs e o segundo utiliza RNAs. Sendo assim, o primeiro estágio calcula as temperaturas pelas equações e o segundo realiza um ajuste nessas temperaturas para adequá-lo ao transformador em questão. O ajuste da primeira parte é feita com Algoritmos Genéticos [11]. Como nem sempre todos os dados para alimentar o modelo térmico poderão estar disponíveis, visto que alguns modelos exigem dados muito específicos [1] (relativos à viscosidade do óleo, temperatura média de bobinas, constante de tempo térmica da região de ponto quente, etc...), o ajuste por esse método dispensa tais dados. Bastando para o ajuste as curvas de temperatura em função do carregamento. O segundo estágio, reajusta as temperaturas com as RNAs. As equações que descrevem o modelo são apresentadas em [1],[4],[5] e [12]. Através delas, o valor da temperatura de ponto quente é calculada. Esses valores são utilizados como entrada(s) da RNA para obter a temperatura de ponto quente corrigida do modelo. A função da RNA é corrigir o valor de temperatura, tornando-o mais próximo do valor real. O modelo térmico tradicional IEEE utilizado é apresentado em [1] e calcula a temperatura de ponto quente em função da curva de carga. Esse modelo foi escolhido devido à sua grande utilização em artigos e teses [1],[4],[5],[12]. A temperatura de ponto quente (θH) é inicialmente calculada através de uma soma de termos. Para considerar a influência da temperatura ambiente(θa), um desses termos é o valor dela. Além da temperatura ambiente, a elevação de temperatura de topo de óleo (∆θto) acima da temperatura ambiente também é utilizada no cálculo. Além disso, o acréscimo de temperatura de ponto quente, acima da temperatura de topo de óleo (∆θH), também é considerado. O valor da temperatura de ponto quente é dado pela equação (4). θ = ∆θ H H + ∆θ to +θ (4) a Na equação (4) a parcela correspondente à temperatura ambiente é um valor medido ou estimado para as condições locais de operação do transformador. O cálculo de ∆θto é realizado de acordo com a equação (5). A constante de tempo térmica do topo de óleo (τto) é um valor medido com sensores em ensaios térmicos. Os valores de temperatura de topo de óleo no fim do intervalo (∆θto,U) e no início do intervalo (∆θto,I) são calculados pelas equações (6) e (7), respectivamente. Essas equações levam em consideração o nível de carregamento e relações de perdas nos transformadores. Nas equações, os valore de KI e KU representa o carregamento em p.u. no início e fim do intervalo de tempo, respectivamente. −t ∆θ ∆θ ∆θ to = ( ∆θ to , I to , U to , U − ∆θ to , I ).(1 − e K 2R + 1 = ∆θ . I to , R R + 1 n K 2R + 1 = ∆θ . U to , R R + 1 n τ to ) + ∆θ to , I (5) (6) (7 ) O incremento da temperatura de ponto quente é dado pela equação (8). A constante de tempo térmica para o local de ponto quente (τH) é um valor medido com sensores em ensaios térmicos. O valor de m e n nas equações (9) e (10) são constantes ajustadas empiricamente em ensaios térmicos. O valor da temperatura de ponto quente nominal (∆θH,R) também poderá ser medido com sensores durante ensaios térmicos. Essa temperatura é utilizada para calcular os valores da temperatura de ponto quente no inicio (∆θH,I) e fim do 4 intervalo (∆θH,U). −t ∆θ ∆θ ∆θ H = ( ∆θ H, I H ,U H,U = ∆θ − ∆θ H, I 2m H, R = ∆θ .K I 2n H, R . KU ).(1 − e τH ) + ∆θ H, I (8) (9) (10) Como pode ser observado, as equação de (5) a (10) possuem diversos parâmetros para serem ajustados (m, n, R, τH, τto, θH,R e θto,R). O ajuste desses parâmetros depende de ensaios térmicos e nem sempre tais parâmetros estão otimizados, ou seja, nem sempre seus valores fornecem a melhor curva de temperatura calculada, quando comparada à curva obtida com valores medidos. Propõe-se então utilizar um Algoritmo Genético (AG) para determinar os valores ótimos desses parâmetros, minimizando o valor do erro quadrático médio entre a temperatura calculada pelo modelo e a temperatura medida com sensores para um determinado ciclo de carga. Feito isso, o modelo térmico será mais preciso, aumentando também a precisão da metodologia de predição de vida útil e a confiabilidade do sistema elétrico, visto que o momento de manutenção será mais precisamente determinado. Os resultados oferecidos pelo modelo ainda podem ter seu erro reduzido com auxílio de redes neurais artificiais (RNAs). Neste caso, a entrada da rede será a temperatura calculada pelo modelo e a saída será a temperatura medida. Então, após ser realizado o ajuste do modelo com AG e o treinamento das RNAS, o cálculo de temperatura será realizado em duas etapas. A primeira consiste em fornecer a curva de carga para o modelo térmico ajustado e a segunda consiste em fornecer as temperaturas calculadas para a RNA. Ao final desse procedimento, a temperatura de ponto quente será obtida com um erro menor que aquele gerado apenas utilizando o modelo proposto pelo IEEE. retirados de [13]. As respectivas curvas de carga estão presentes em ambas nas figuras 3 e 4. As curvas de temperatura, bem como as curvas de carga, encontram-se em p.u. em todas as figuras. Maiores informações sobre o procedimento de aquisição dos dados medidos em ensaios térmicos e sobre as características do transformador utilizado, bem como os parâmetros utilizados no modelo IEEE, podem ser obtidas em [4], [5], [12] e [13], de onde os dados foram extraídos. Fit = 1 N [θ H _ Calculado (i ) − θ H _ medido (i )]2 1+ ∑ i =1 (11) N Após a otimização dos parâmetros das equações supracitadas, a segunda parte do modelo é ajustada. A segunda parte do modelo é composta por uma rede neural do tipo RBF ou MLP. As entradas da RNA são os valores de temperaturas calculados com as equações ajustadas pelo. Foram utilizadas redes com 2 entradas e uma saída. As entradas possuem atraso de 5 e 10 minutos. As redes possuem 3 nodos na camada escondida. A determinação do número de entradas foi realizada a partir de tentativa e erro. A determinação do atraso das entradas foi feito por análise de correlação. Os dados de treinamento estão presentes na figura 3 e os dados de validação estão presentes na figura 4. As medições foram realizadas de 5 em 5 minutos. Maiores informações sobre as medições e a bancada utilizada também podem ser obtidas em [13]. As figuras 3 e 4 mostram a diferença entre o ajuste do modelo com AGs e o ajuste do modelo com os dados de placa. A figura 3 apresenta a curva utilizada para otimizar o modelo e a figura 4 a curva utilizada para validar. V. RESULTADOS Para ajustar os parâmetros do modelo térmico foi utilizado um AG simples. O procedimento para ajustar esses parâmetros consiste em gerar a curva de temperatura de ponto quente a partir da curva de carga utilizando as equações (4)-(10). A curva de temperatura gerada com essas equações é comparada com a curva de temperatura medida em ensaios térmicos. A fitness [11] do AG utilizada é apresentada na equação (11). Sendo assim, a função objetivo do algoritmo genético será dada pelo erro quadrático médio entre a curva calculada (θH_calculado) e a curva medida(θH_medido). Cada indivíduo é composto por um vetor de números reais correspondentes aos valores de parâmetros que se deseja encontrar ([m, n, R, τH, τto, θH,R, θto,R]). Os dados utilizados para otimizar os parâmetros do modelo estão presentes na figura 1 e foram obtidos em [13]. Os dados utilizados para validar o procedimento estão presentes na figura 2 e também foram Fig. 1. Procedimento de Ajuste do Modelo com AG. Comparação entre curvas de temperaturas de ponto quente no transformador durante o processo de ajuste. Valores da curva real foram obtidos em [13]. Na legenda, têm-se: Real=Valores de temperaturas medidas; Mod= Valores de temperaturas calculadas com o modelo ajustado com dados de placa; Mod+AG= Valores de temperaturas calculados com o modelo ajustado por AG. 5 Fig. 2. Procedimento de Validação. Comparação entre curvas de temperaturas de ponto quente no transformador após o processo de ajuste. Valores da curva real foram obtidos em [13]. Na legenda, têm-se: Real=Valores de temperaturas medidas; Mod= Valores de temperaturas calculadas com o modelo ajustado com dados de placa; Mod+AG= Valores de temperaturas calculados com o modelo ajustado por AG. Fig. 4. Validação das RNAs. Comparação entre curvas de temperaturas de ponto quente no transformador durante o processo de validação. Valores da curva real foram obtidos em [13]. Na legenda têm-se: Ths= Temperatura de ponto quente obtida através de medições com sensores (dados obtidos em[13]); ThsModel= Temperatura de ponto quente calculada com o modelo térmico ajustado com AG; MLP= Temperatura de ponto quente calculada com redes MLP a partir de resultados gerados com o modelo ajustado com AG; RBF= Temperatura de ponto quente calculada com redes RBF a partir de resultados gerados com o modelo ajustado com AG. TABLE I ERRO QUADRÁTICO MÉDIO OBTIDO COMPARANDO-SE AS TEMPERATURAS OBTIDAS COM OS VALORES MEDIDOS (UNIDADE P.U.2) Fig. 3. Treinamento de RNAs. Comparação entre curvas de temperaturas de ponto quente no transformador durante o processo de ajuste e treinamento. Valores da curva real foram obtidos em [13]. Na legenda têm-se: Ths= Temperatura de ponto quente obtida através de medições com sensores; ThsModel= Temperatura de ponto quente calculada com o modelo térmico ajustado com AG; MLP= Temperatura de ponto quente calculada com redes MLP a partir de resultados gerados com o modelo ajustado com AG; RBF= Temperatura de ponto quente calculada com redes RBF a partir de resultados gerados com o modelo ajustado com AG. A tabela I apresenta os valores de erro quadrático médio obtido em relação às curvas de temperaturas medidas para os seguintes casos: - Modelo: Modelo térmico ajustado com parâmetros específicos do transformador; - Modelo+AG: Modelo térmico ajustado com AG e curvas de temperatura e carga; - Modelo + AG+ MLP: Modelo térmico ajustado com AG e saídas recalculadas com rede MLP; - Modelo+AG+RBF: Modelo térmico ajustado com AG e saídas recalculadas com rede RBF. Curva Modelo Curva 0 Curva 1 0,12 0,15 Modelo +AG 0,020 0,033 Modelo + AG+MLP 0,014 0,017 Modelo+AG+ RBF 0,013 0,017 Conforme pode-se observar pelas figuras de 1 a 4 e tabela I, a utilização de AGs para ajustar os parâmetros do modelo térmico IEEE reduz o erro entre os valores medidos e calculados, pois verifica-se na coluna 3 da tabela I (Modelo+AG) que o erro é de aproximadamente 17% do valor do erro obtido na coluna 2 (Modelo). As figuras 1 e 2 tornam visíveis essas diferenças. Após obter o modelo térmico IEEE otimizado (ajustado com AGs), verifica-se que RNAs podem reduzir ainda mais o erro, conforme pode-se verificar comparando-se as colunas 4 e 5 da tabela I com a coluna 3. Nesse caso, o erro é menor que 70% do valor do erro apresentado na coluna 3 para todos os casos. A diferença entre a redução ocasionada pela rede RBF e rede MLP (colunas 4 e 5 da tabela I) não foi significativa. VI. CONCLUSÕES Este trabalho apresenta um modelo térmico que é mais estável que modelos que utilizam apenas RNAs e possui um erro inferior aos modelos que não utilizam RNAs. O modelo pode ser considerado um híbrido entre modelos tradicionais e modelos que utilizam inteligência artificial. As equações 6 tradicionais utilizam valores nominais de temperaturas de ponto quente e topo de óleo. Esse fato garante mais estabilidade ao modelo. Quando os valores dessas grandezas não são conhecidos, os algoritmos genéticos mostraram-se eficazes na tarefa de determinar os parâmetros ótimos do modelo. Inclusive, apresentando resultados melhores que os obtidos com os parâmetros do transformador indicados pelos guias (Tabela I). As RNAs foram responsáveis pela redução de parte do erro. Devido à sua capacidade de modelar funções complexas, elas corrigem algumas falhas do modelo IEEE modelando uma função que tenta reduzir o erro de temperatura. Dessa forma, a saída do modelo é utilizada como entrada da RNA e a saída da RNA fornece uma temperatura de ponto quente mais precisa, quando comparada à resultados de medições. Outros modelos térmicos podem ser utilizados, bem como outras RNAs. Entretanto, o que se deseja neste trabalho é apresentar um método de modelagem híbrido. Utilizando a estabilidade de modelos oriundos das equações de calor no interior do transformador e utilizando a capacidade das RNAs para modelar funções complexas. A grande contribuição desse modelo é a necessidade, após ajuste e treinamento, apenas do carregamento para calcular a temperatura de ponto quente, garantindo um menor erro que o obtido apenas com a utilização do modelo IEEE e estabilidade que não é conseguida com modelos baseados apenas em RNAs. Já o procedimento de ajuste do modelo térmico utilizando AGs permite a modelagem sem o conhecimento a priori de parâmetros necessários ao ajuste do modelo por métodos tradicionais. Esses parâmetros podem ser de difícil obtenção, pois necessitam de ensaios mais específicos que os ensaios para obter a curva de temperatura de ponto quente em função do carregamento. Como ponto negativo existe a necessidade de aquisição de dados de carregamento e temperatura, obtidas através de ensaios térmicos, para realizar o ajuste do modelo IEEE e treinamento das RNAs. Entretanto, a realização de tais ensaios fornece, em conjunto com o exposto nesse trabalho, uma forma alternativa de ajustar o modelo térmico IEEE, inclusive oferecendo resultados mais precisos. VII. REFERENCIAS [1] [2] [3] [4] [5] [6] Guide for Loading Mineral-Oil-Immersed Transformer, IEEE Std. C57.91-1995 IEEE, 1995. International Standard Loading Guide for Oil Immersed Power Transformer, IEC 354, 1991-09. Jardini, J. A.; Brittes, J. L. P.; Magrini, L. C.; Bini, M. A.; Yasuoka, J.; “Power Transformer Temperature Evaluation for Overloading Conditions”; IEEE TRANSACTIONS ON POWER DELIVERY, VOL. 20, NO. 1, JANUARY 2005, pp. 179-184. Hell, M., Costa, P., Gomide, F., “Recurrent NFN in Thermal Modeling of Power Transformers”. IEEE Transactions on Power Deliver, vol. 22, no. 2, pp. 904-910. April 2007. Hell, M.; CostaJr, P.; Gomide, F.; “Participatory learning in power transformers thermal modeling”; IEEE Trans. on Power Delivery, 23(4) 2008, pp. 2058–206. 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Foi professor efetivo da Escola Técnica Municipal de Sete Lagoas (2006 a 2008), onde lecionou disciplinas nos cursos técnicos de eletrônica e eletrotécnica. Foi professor substituto do departamento de engenharia eletrônica da UFMG. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ). Walmir Matos Caminhas possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (1989) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1997). Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Controle de Processos, atuando principalmente nos seguintes temas: inteligência computacional (redes neurais, sistemas nebulosos e sistemas imunológicos artificiais) e diagnóstico de falhas em sistemas dinâmicos. Wallace do Couto Boaventura possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987) , mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (1990) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (2002) . Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica , com ênfase em Sistemas Elétricos de Potência. Atuando principalmente nos seguintes temas: Processamento de Sinais, Modelagem Paramétrica, Equivalentes de Rede, Transitórios Eletromagnéticos, Sistemas de energia e Alta Tensão.