Economia Brasileira: melhores perspectivas em meio a “velhos” problemas – a questão externas e nó fiscal Fabrício Augusto de Oliveira1 Em meio ao otimismo – exagerado – refletido na confiança do governo, dos empresários, do mercado financeiro e acionário sobre a recuperação bem mais rápida do que se esperava da economia brasileira e dos primeiros sinais de que a economia mundial também começa a sair da recessão, duas questões, que até há pouco tempo eram consideradas bem encaminhadas, voltam a preocupar o Brasil: a forte apreciação que novamente vem conhecendo a moeda nacional e o reingresso das contas fiscais numa trajetória de rápida deterioração. Por causa do encolhimento do mercado mundial e do declínio expressivo dos preços das commodities, exportações brasileiras conheceram, entre janeiro e julho deste ano, uma queda de 24%, em termos de valor, em relação ao mesmo período do ano anterior, o que, do ponto de vista da balança comercial, foi mais do que compensado por uma retração ainda mais forte de 30% no valor das importações, garantindo um aumento do saldo comercial de US$ 14,6 para US$ 17,4 bilhões neste mesmo período. Com o déficit em transações correntes projetado para US$ 15 bulhões em 2009 (contra US$ 30 bilhões em 2008) e com o ingresso previsto de US$ 20 bilhões de investimentos diretos, este comportamento das exportações não desperta maiores preocupações, mesmo por que o Brasil se encontra com reservas externas superiores a US$ 210 bilhões. A apreciação do Real – e já há projeções de que o dólar pode fechar o ano cotado em R$ 1,75 – traz de volta, contudo, o temor dominante, antes da eclosão da crise mundial em agosto de 2008, de que tanto a indústria e as exportações poderão ser prejudicadas com um câmbio não competitivo, como também de que a vulnerabilidade externa pode encontrar maiores espaços para sua re-entrada no país. Mais preocupante, no entanto, é a questão fiscal, menos pelos resultados que vem apresentando na atualidade, justificados pelos efeitos da crise e pelas medidas adotadas pelo governo para revertê-la ou atenuá-la e mais pelas perspectivas que descortinam para o futuro. Como resultado da queda da arrecadação federal (6,2% reais no primeiro semestre), da redução do superávit primário para 2,5% do PIB e do aumento dos gastos gerais do governo (+2,8% do PIB no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2008), tanto o resultado das contas do setor público consolidado com relação dívida pública/PIB ingressaram numa rota de progressiva deterioração: até junho, o superávit primário do setor público alcançado foi de apenas 2,04% do PIB (distante da nova meta de 2,5% e mais ainda da atingida em 2008 de 3,69% do PIB); a relação dívida/PIB saltou, por sua vez, de 39,6% em dezembro de 2008 para 43,1% do PIB em junho de 2009 (um aumento de 3,7 pontos percentuais do PIB em apenas seis meses). 1 Doutor em economia pela Unicamp e professor do programa de mestrado em Administração Pública da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro. O grave neste aumento dos gastos, viabilizado pela redução da meta do superávit primário, medida justificada também pelo objetivo de compensar a queda da arrecadação, é que 97% de seu total explicam-se pelo aumento dos gastos correntes (28% com o reajuste dos salários dos servidores e 69% com outras despesas correntes, entre as quais se incluem os benefícios previdenciários) e apenas 3% com investimentos, os componentes que podem, de fato, ser considerados anticíclicos. Uma vez decididos, os gastos correntes se tornam, de modo geral, permanentes na estrutura de despesas do governo, o que significa que, à medida que a economia retomar o crescimento, não poderão ser simplesmente reduzidos, pois terão cristalizados seus efeitos no orçamento, aumentando seu grau de rigidez e engessamento. Mesmo com o crescimento do PIB e a expansão das receitas, dificilmente se conseguirá, assim, menos que se promovam novos aumentos da carga tributária, e, o que é mais grave, sem os investimentos terem se beneficiado de toda essa política fiscal “criativa”. Para agravar essa situação, como os efeitos das Medidas Provisórias 431, 441, 442, por meio das quais foram concedidos reajustes salariais mais favoráveis para o funcionalismo público, devem continuar gerando efeitos até 2012 – ou seja, garantindo anualmente a ampliação dos gastos com os servidores -, e o ano de 2010 carrega a certeza, por se tratar de um ano de eleições, de ampliação de gastos para o obtenção de dividendos políticos, não parecem favoráveis as perspectivas, neste campo, para o próximo governo, que poderá ter de enfrentar, desde o início, essa nova bomba fiscal que está sendo armada. Por isso, se é justificável algum otimismo pelo comportamento que a economia brasileira começa a apresentar, especialmente comparada à situação dos demais países desenvolvidos, uma dose de realismo é importante para evitar que não se comentem erros nestes campos como no passado – na área externa e fiscal -, quando o sucesso em questões mais visíveis e imediatas impediu, os governantes, de enxergarem a necessidade de continuarem avançando na construção do que podem ser considerados, de fato, os seus fundamentos mais sólidos.