Vem aí o hom apps e dos se

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ID: 62876680
28-01-2016
Tiragem: 32431
Pág: 46
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 7,26 x 31,00 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 2
Vem aí o hom
apps e dos se
F
Debate Economia digital
António Covas
ace ao novo ecossistema da era
digital e à emergência da
(i)conomia, pode legitimamente
perguntar-se quem será o homem
do “tempo novo”, o homem das
redes e dos ecrãs, da economia
quaternária e da sociedade
colaborativa e voluntária? Para nós
será o homem das apps, o homem
novo dos sete ofícios.
Vejamos o cenário mais provável, em
especial nos países do chamado “mundo
ocidental”. Em primeiro lugar, a economia
pública reduzirá a despesa pública para
poder reduzir os impostos. Pelo meio
reduzirá o emprego público, substituindo
funcionários públicos por prestadores
de serviços em outsourcing. Em segundo
lugar, a economia social e solidária passará
por uma forte racionalização na medida
em que depende bastante dos subsídios
públicos. Pelo meio reduzirá o emprego
social e muitas das suas funções serão
externalizadas para as comunidades locais
da Sociedade Colaborativa ou Sociedade
“CO”. Em terceiro lugar, a economia
capitalista, devido à automatização e
à concorrência, reduzirá ainda mais o
emprego convencional e externalizará
muitas tarefas que passarão a ser oferecidas
pela economia on-demand para onde se
transferirão muitos trabalhadores em
regime de freelance.
Neste contexto em constante adaptação, a
“Sociedade CO” será, em primeira instância,
uma espécie de “banco de urgência”, em
segundo lugar, uma enorme placa giratória
para as economias em trânsito e, por último,
e mais importante, a grande casa comum
para a maioria dos cidadãos “em trânsito”.
Acresce que nesta “Sociedade Co”
circularão, para além da moeda oficial,
várias moedas locais e criativas e, portanto,
o nosso “cidadão multiaplicações”
(multiapps) acumulará rendimentos,
monetarizados e não-monetarizados, com
diversas proveniências: um emprego em
part-time num serviço público e/ou numa
empresa privada, uma prestação de serviço
em regime de freelance numa empresa ondemand, umas horas num banco do tempo
local em troca de um voucher e, finalmente,
uma “inscrição” numa startup colaborativa
de uma parte dos seus recursos ociosos (idle
resources) em troca de uma receita eventual.
De onde se retira que, devido à
quebra estrutural do emprego, estamos
condenados a uma sociedade de regimes
laborais muito diversos, uns em part-time,
outros em regime de freelance, outros ainda
em regime contributivo e colaborativo, sob
muitos formatos, condições e reputações,
se quisermos, uma sociedade onde o
indivíduo “se produz a si próprio” numa
ID: 62876680
28-01-2016
Tiragem: 32431
Pág: 47
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 7,24 x 31,00 cm²
Âmbito: Informação Geral
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mem das
te ofícios!
espécie de corporate individualisme. Por
isso, estamos em crer que regressaremos ao
“homem dos sete ofícios” que o capitalismo
industrial tinha desconstruído para
construir o profissional especializado do
capitalismo industrial. E porquê o “homem
dos sete ofícios” na era da internet?
Em primeiro lugar, porque a
autoformação, oferecida em opensourcing,
estará muito próxima do custo marginal
zero. Em segundo lugar, porque a escassez
de empregos obrigará a repartir os horários
de trabalho e a oferecer um leque mais
diversificado de
oportunidades.
Em terceiro lugar,
porque todo
o mercado de
trabalho se tornará
muito mais volátil
e adaptativo. Em
quarto lugar,
porque se tornará
imprescindível a
complementaridade
de rendimentos,
monetarizados ou
não. Em quinto
lugar, porque
as actividades
da economia
colaborativa
e voluntária
permitirão ensaiar
novas experiências,
saberes e ocupações.
Quer dizer, através
da economia
colaborativa,
as diferentes
comunidades
de utilizadores e
fornecedores organizarão novos formatos
de prestação de serviços com suporte em
plataformas tecnológicas cujas aplicações
informáticas serão instaladas nos telefones
móveis dos jovens e menos jovens que
desejam entrar no “mercado de trabalho”.
É aqui que entra “o homem dos sete
ofícios”. De acordo com as suas capacidades
e experiências, ele irá “inscrever-se em
diferentes aplicações”, geridas muito
provavelmente por uma startup tecnológica
recém-constituída, em condições muito
variáveis de horário, pagamento, prestação
e qualidade de serviço, que a sua “putativa
reputação” lhe permitirá oferecer. Poderão
ser sete ofícios, mas dificilmente serão sete
profissões. Entretanto, enquanto aguarda
por uma chamada, poderá continuar, em
sua casa, a formação permanente num
MOOC (massive open online course) a custo
zero. É o maravilhoso mundo novo que
chega, sobretudo por via das gerações Y e Z
(entre os 12 e os 35 anos)!
Regressaremos
ao “homem
dos sete
ofícios” que
o capitalismo
industrial tinha
desconstruído
para construir
o profissional
especializado
do capitalismo
industrial
Professor catedrático na Universidade do
Algarve
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