RELAÇÃO DIETA-FÁRMACOS: UMA REVISÃO Ana Maria de

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RELAÇÃO DIETA-FÁRMACOS: UMA REVISÃO
Ana Maria de Oliveira Silva1
Eli Sombra Pereira1
Gilderlan Alessandro da Silva1
Ruciana Costa Oliveira1
Vanesa Dayane Abreu da Cruz1
Tiago dos Santos Nascimento2
RESUMO
Uma dieta saudável e equilibrada é essencial em todos os estágios do ciclo de
vida, fornecendo nutrientes necessários ao sustento do corpo humano.
Alterações de ordem funcional e/ou estrutural, provocadas por doenças e
infecções agudas ou crônicas, levam à utilização de medicamentos, cujo
objetivo é restaurar a saúde. As interações entre nutrientes e fármacos podem
alterar a disponibilidade, a ação ou a toxicidade de uma destas substâncias ou
de ambas. Portanto, o objetivo do presente trabalho é apresentar uma revisão
dos diversos aspectos envolvidos na interação Dieta-Fármaco. A influência da
dieta sobre a absorção dos fármacos depende do tipo e quantidade de alimento
ingerido, da formulação farmacêutica, do intervalo de tempo entre a refeição e
a administração do fármaco. Assim, é de importância fundamental conhecer os
fármacos cuja velocidade de absorção e/ou quantidade absorvida pode ser
afetada na presença de determinados nutrientes e vice-versa. Por exemplo,
antibióticos, antiácidos e laxativos podem causar má absorção de nutrientes.
Um maior conhecimento em relação a este processo conduz a um controle
mais efetivo da administração do medicamento e da ingestão de alimentos,
favorecendo, assim, a adoção de terapias mais eficazes.
Palavra-Chave:
Interação
fármaco-alimento,
dieta,
administração
de
medicamento.
1Aluno
do curso de graduação de Farmácia, Faculdade Vale do Jaguaribe
2Prof.
Dr. Tiago dos Santos Nascimento, Faculdade Vale do Jaguaribe e Laboratório de
Eletrofisiologia-UECE
INTRODUÇÃO
Quando falamos em nutrição, podemos defini-la como processos que
vão desde a ingestão dos alimentos até à sua absorção pelo nosso organismo.
Os seres humanos são seres heterotróficos e onívoros, ou seja, alimentam-se
de outros organismos e mantêm uma alimentação muito variada, composta de
produtos de origem vegetal e animal. Independente do meio social e cultural de
um indivíduo, o alimento é indispensável e essencial para definir a qualidade de
vida e saúde que o indivíduo estará exposto.
É importante ter um hábito alimentar balanceado contendo a quantidade
adequada
de
alimentos necessários
para
garantir
os
requerimentos
nutricionais. Assim sendo uma dieta balanceada, constituída por proteínas,
vitaminas, sais minerais, água, carboidratos e lipídeos, que são as fontes de
energia e matéria-prima para o funcionamento das células. No entanto se
essas quantidades e qualidades não forem adequadas o equilíbrio pode ser
alterado em caso da falta de um ou mais nutrientes, com consequente
deficiência no estado nutricional e necessidade de suplementação.
Muitos
pacientes
requerem
uma
terapia
com
várias
drogas,
frequentemente sob a supervisão de vários médicos, isto aumenta o risco de
interações medicamentosas adversas importantes, o que ressalta a importância
do conhecimento das interações e da identificação precoce dos pacientes em
risco. Chamamos de interação medicamentosa a interferência de um
medicamento na ação, na absorção, no metabolismo ou na excreção de outra
substância.
O consumo oral é o método preferido de administração, frequentemente
o mais conveniente para adesão ao tratamento crônico. Diferente das vias
parenterais (i. p., por exemplo), no uso oral não há utilização de agulhas para
injeções. Logo, não é doloroso, não precisa de métodos para manter a
assepsia e da ajuda de outra pessoa para administração (Brunton et al, 2010).
Um maior conhecimento em relação a este processo conduz a um
controle mais efetivo da administração do medicamento e da ingestão de
alimentos, favorecendo, assim, a adoção de terapias mais eficazes. Portanto, o
presente artigo tem como objetivo apresentar os diversos aspectos envolvidos
na interação fármaco-nutriente.
METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão da literatura científica do a partir dos artigos
completos de revisão nos últimos 13 anos contidos nas seguintes bases de
dados e indexadores: Google Acadêmico, PubMed e Sielo. Para pesquisa foi
utilizada palavras-chave tais como: “interação”, “dieta”, “metabolismo” e
“Fármaco”.
Obedecendo a metodologia proposta, foram encontrados 12 artigos que
serviram para o embasamento teórico e explanatório da presente revisão.
Entretanto, foram selecionados 8 para citação dos estudos com melhor
metodologia e didática e que se aproximavam mais do objetivo proposto. As
informações importantes foram compiladas da literatura científica para
elaboração dessa revisão explanatória.
ABSORÇÃO E METABOLISMO DOS FÁRMACOS/NUTRIENTES
Os seres humanos, para manterem as atividades do organismo em bom
funcionamento, precisam captar os nutrientes necessários para construir novos
tecidos e fazer manutenção dos tecidos danificados, necessitam de extrair
energias vindas da ingestão de alimentos. A transformação dos alimentos em
compostos mais simples, utilizáveis e absorvíveis pelo organismo é
denominado digestão .( Martinez, 2003).
Existem diversos nutrientes essenciais para a sobrevivência dos seres
vivos, a maioria deles é absorvida preferencialmente, por mecanismo de
transporte ativo, entretanto, os fármacos administrados por via oral são
absorvidos por difusão passiva.
O trajeto dos fármacos no organismo pode ser representado através de
três fases: biofarmacêutica, farmacocinética e farmacodinâmica.
Fase Biofarmacêutica
Compreende todos os processos que ocorrem com o medicamento a
partir da sua administração, incluindo as etapas de liberação e dissolução do
princípio ativo. Esta fase deixa o fármaco disponível para a absorção.
Entretanto, sua natureza química, estado físico, tamanho e superfície da
partícula, quantidade e tipo dos excipientes utilizados, processo farmacêutico
empregado
e
formulação
são
fatores
os
quais
podem
influir
na
biodisponibilidade do princípio ativo, fazendo variar o tempo de absorção e a
quantidade absorvida.
Fase Farmacocinética
Nessa
fase,
o
organismo
irá
interagir
sobre
o
fármaco.
A
farmacocinética é o estudo dos processos de transporte, absorção, distribuição,
biotransformação e excreção. A passagem do fármaco através das membranas
biológicas se dá por mecanismos de transportes. Após essa etapa, vem a
absorção e distribuição, que é a passagem de uma substancia desde o local
em que foi administrada, até a corrente sanguínea e logo depois dissolvida no
plasma e distribuída para os tecidos (Moura et al., 2002).
A biotransformação é a fase em que ocorre o metabolismo, o
metabolismo é dividido em duas etapas, referidas como reações fase I e fase II.
A primeira inclui reações bioquímicas, como oxidação, redução e hidrólise, as
quais induzem a modificações nas moléculas dos fármacos. A segunda fase
corresponde àquelas que conjugam os grupos funcionais dos fármacos a
moléculas endógenas.
Fase Farmacodinâmica
Fase responsável pelo estudo das interações moleculares que regulam
o reconhecimento de um fármaco pelo seu receptor. O resultado desta
interação produz uma resposta celular e, consequentemente, o efeito
terapêutico, cuja resposta é variável e depende de diversos fatores individuais,
além dos farmacocinéticos (Silva, 1994).
INTERAÇÃO FÁRMACO- NUTRIETE
O fenômeno de interação fármaco-nutriente pode surgir antes ou durante
a absorção gastrintestinal, durante a distribuição e armazenamento nos
tecidos, no processo de biotransformação ou mesmo durante a excreção.
Essas interações podem alterar a disponibilidade, a ação ou a toxicidade de
uma destas substâncias ou de ambas. Elas podem ser físico-químicas,
fisiológicas e patofisiológicas.
Inteirações físico-químicas são caracterizadas por complexações entre
componentes alimentares e os fármacos. As fisiológicas incluem as
modificações induzidas por medicamentos na ingestão de alimentos, digestão,
esvaziamento gástrico, biotransformação e clearance renal. Enquanto, as
patofisiológicas ocorrem quando os fármacos prejudicam a absorção e/ou
inibição do processo metabólico de nutrientes.
O trato gastrintestinal representa o principal sítio de interação fármaconutriente, uma vez que o processo de absorção de ambos ocorre por
mecanismos semelhantes e podem ser competitivos. A ingestão de alimentos é
capaz de desencadear no trato digestivo a liberação de secreção que, por ação
qualitativa e quantitativa dos sucos gástricos, age hidrolisando e degradando
ligações químicas específicas. Substâncias sensíveis a pH baixos podem ser
alterados ou até inativados pelo ácido gástrico quando ingeridas com
alimentos, por exemplo, a inativação da penicilina e da eritromicina.
Paralelamente, o nutriente pode influenciar na biodisponibilidade do fármaco
através da modificação do pH do conteúdo gastrintestinal, esvaziamento
gástrico, aumento do trânsito intestinal, competição por sítios de absorção,
fluxo sanguíneo esplâncnico e ligação direta do fármaco com componentes dos
alimentos. (Rascado et al,., 2009).
PROCESSO ABSORTIVO
Esse processo caracteriza-se pela influencia que os nutrientes causão na
absorção dos fármacos, sendo influenciado pelo tipo de alimento, pelo tempo
entre a refeição e administração e com a quantidade de liquido com que foi
ingerido.
Modificação do pH do conteúdo gastrintestinal
Nesse processo a ingestão dos alimentos altera o ph do estômago que
influencia na absorção do fármaco a, pois existem medicamentos que
necessitam de um meio extremamente ácido para terem uma completa
absorção, como é o caso de antibióticos como a claritromicina e a tetraciclina,
assim como outros de dissolução mais rápida que ao contrário, tem uma
melhor absorção no meio menos ácidos
Velocidade do esvaziamento gástrico
Sabe- se que o esvaziamento do estômago se torna lento devido a
presença dos alimentos onde a variação depende do tipo de alimento, assim
como também da quantidade de liquido que beneficia a absorção do princípio
ativo do fármaco por permanecer um tempo maior em contato com a superfície
de absorção.
Aumento da atividade peristáltica do intestino
Os movimento de motilidade, ou seja, movimentos que os músculos lisos
realizam para excretar o bolo alimentar, quando moderados propicia a
dissolução dos fármacos pois favorece 0 contato da substância ativa com a
superfície de absorção. Mas se pode levar em consideração que essa elevação
aumenta a velocidade do trânsito intestinal podendo influenciar na diminuição
da concentração do fármaco.
Competição pelo sítio de absorção
Quando nutriente e fármaco possuem em sua fórmula componentes que
tem a mesma afinidade pela superfície de absorção, as consequências
dependerá de qual vai se ligar primeiro a superfície de absorção, portanto do
que tiver maior afinidade, com risco de perda da substância ativa.
Fluxo sanguíneo esplâncnico
Ao ingerirmos alimentos, há um aumento do fluxo sanguíneo que
suprime o sistema gastro intestinal, onde diminui o efeito de primeira passagem
do fármaco, o qual chega ao seu local de absorção ainda com sua
concentração elevada aumentando seus efeito esperados.
Ligação direta com componentes dos alimentos (complexação)
Acontece quando moléculas do fármaco interagem diretamente com
moléculas do nutriente que dependendo das substâncias, acarreta a possível
perda do fármaco, assim como do nutriente através da excreção fecal.
INTERFERÊNCIA DO FARMACO NO ESTADO NUTRICIONAL
Os artigos mostram que o uso indevido de fármacos altera o estado
nutricional no metabolismo de nutrientes. Além disso, os fármacos têm a
capacidade dos de modificar o metabolismo dos nutrientes e uso prolongado
de fármacos especializados em patologias crônicas, provoca a perda de
nutrientes essenciais. Esses fatos tornam imprescindível o controle no uso
dessas substâncias, pois danificam a mucosa intestinal.
Substancias relativamente simples comumente usadas por pessoas
como antiácidos, laxativos e antibióticos, têm sua influência na perda de
nutrientes, se fazendo necessário a devida informação ao paciente pelo médico
ou farmacêutico. Devido sua característica, o uso prolongado de laxativos
acarreta consequentemente a redução da absorção de glicose, proteína, sódio,
potássio, e algumas vitaminas.
Grandes doses de óleo mineral interferem na absorção de vitaminas
lipossolúveis (A,D,E,K), β-caroteno, cálcio e fosfatos, devido a barreira física
e/ou diminuição do tempo de transito intestinal (Clark et al., 1987; Trovato et
al., 1991). A Osteomalacia pode ser provocada devido a deficiência de cálcio,
essa deficiência e característica do excesso no uso de óleo mineral.
O Aumento na excreção de minerais ocorre com o uso prolongado ou
com a ingestão de altas doses de diuréticos. A furosemida, diurético de alça,
acarreta perda de potássio, magnésio, zinco e cálcio (Roe, 1984b).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No meio acadêmico verifica-se uma vasta literatura demonstrando como
os fármacos nutrientes interagem com organismo. Entretanto, depara-se com a
falta de informações de ordem prática, em programas hospitalares, desde a
década de 80 (EUA) os hospitais vem incentivando profissionais como
farmacêuticos e nutricionistas a trabalharem em função de uma reeducação
não só nos hospitais mas também fora deles dos quais ajudariam muito a
equipe de saúde e a população, principalmente, os usuários de medicamentos
de uso contínuo, portadores de doenças crônicas degenerativas, idosos e
aqueles com estado nutricional insatisfatório.
No Brasil, não há nenhum programa de educação e assistência ao
paciente em hospitais, universitário e não universitários, abrangendo este
assunto. Por outro lado, Nos países desenvolvidos, a exemplo dos Estados
Unidos, são poucos os hospitais que possuem programa de educação e
assistência, com o intuito de determinar a extensão destes processos, os quais
ocorrem no dia-a-dia. Programas de monitorização ajudariam a detectar e
prevenir problemas potencialmente sérios de interação fármaco-nutriente.
A terapia farmacológica do cotidiano envolve processo de interações
com os alimentos que não tem os devidos esclarecimentos médicos
ocasionando por parte dos pacientes a ingestão indevida do medicamento
prejudicando a eficácia do mesmo no organismo.
REFERÊNCIAS
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em: Acesso em: 09 out. 2015.
Artigo (Doutor) -.Interação fármaco-nutriente: uma revisão
2006. Disponível em: Acesso em: 09 out.2015.
Scielo, Curitiba,
BRUNTON, L.L.; LAZO, J.S.; PARKER, K.L. Goodman & Gilman: As bases
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CLARK, J.H., RUSSEL,G.J., FITZGERALD, J.F., NAGAMORI, K.E. Serum
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TROVATO, A., NUHLICEK, D.N., MIDTLING, J.E. Drug-nutrient
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