tipos de pressuposição

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3. Tipos de Pressuposição
Existem várias expressões ou itens lexicais ou mesmo estruturas que são
desencadeadores de pressuposição. Veremos aqui alguns tipos, mas vale lembrar que
não é necessário memorizar esses desencadeadores, para sabermos se há a relação de
pressuposição entre as sentenças ou enunciados; basta aplicarmos a definição em (3),
que podemos prever, sem erro, se existe tal relação. Mas vejamos alguns tipos de
desencadeadores de pressuposição já bem investigados pelos lingüistas.
3.1 As descrições definidas
As descrições definidas geram as chamadas pressuposições de existência; dado
tal descrição, toma-se como pressuposição a existência da expressão definida:
(6) a. O homem aranha salvou toda a cidade.
a’. O homem aranha não salvou toda a cidade.
a’’. O homem aranha salvou toda a cidade?
a’’’. Se o homem aranha salvou toda a cidade, ....
b. Existe um homem aranha e existe uma cidade.
3.2 Pressuposições com verbos factivos
Outros tipos de desencadeadores são os lexicais. Por exemplo, os verbos
chamados factivos (saber, lamentar, adivinhar, perceber, estar triste com, estar contente
com, etc.) são desencadeadores, porque eles pressupõem a verdade do seu complemento
sentencial:
(7) a. João sabe/adivinhou que cachorros voam.
a'. João não sabe/adivinhou que cachorros voam.
a''. João sabe/adivinhou que cachorros voam?
a'''. Se João sabe/adivinhou que cachorros voam,...
b. Cachorros voam.
Podemos constatar que a família de (a) acima, toma (b) como verdade1. Contrariamente,
os verbos não-factivos (imaginar, pensar, achar, etc.) não pressupõem a verdade de seus
complementos. Em (30), não podemos dizer que a sentença (b) é tomada como verdade,
para se proferir a família da sentença (a):
(8) a. João imagina/pensa/acha que cachorros voam.
a'. João não imagina/pensa/acha que cachorros voam.
a''. João imagina/pensa/acha que cachorros voam?
a'''. Se João imagina/pensa/acha que cachorros voam,...
b. Cachorros voam.
1
Repare que tomar alguma coisa como verdade não significa, necessariamente, que essa coisa seja
verdade no mundo.
3.2 Pressuposições com verbos implicativos
Verbos implicativos são do tipo: conseguir, esquecer, evitar que...
(9) a .O João conseguiu abrir a porta.
a’.O João não conseguiu abrir a porta.
a’’’.O João conseguiu abrir a porta?
a’’’.Se o João conseguiu abrir a porta, ...
b. O João tentou trancar a porta.
As pressuposições derivadas desses verbos são: esquecer >> devia ou pretendia, evitar
que >> poderia fazer...
3.3 Pressuposições com verbos de mudança de estado
Outro exemplo de desencadeadores lexicais de pressuposição são expressões que
denotam mudança de estado, como parar de, passar a, etc. Essas expressões pressupõem
o estado anterior à mudança ocorrida:
(10) a. João parou de fumar.
a'. João não parou de fumar.
a''. João parou de fumar?
a'''. Se João parou de fumar, ...
b. João fumava
3.4 Pressuposições com orações subordinadas
Existem, também, alguns tipos de orações subordinadas, como as temporais e as
comparativas, que desencadeiam a pressuposição em (b):
(12) a. Eu já dirigia automóveis, quando você aprendeu a andar de velocípede.
a'. Eu ainda não dirigia automóveis, quando você aprendeu a andar de
velocípede.
a''. Eu já dirigia automóveis, quando você aprendeu a andar de velocípede?
a'''. Se eu já dirigia automóveis, quando você aprendeu a andar de
velocípede, ...
b. Você aprendeu a andar de velocípede.
(13) a. Ele é bem mais guloso do que você.
a'. Ele não é bem mais guloso do que você.
a. Ele é bem mais guloso do que você?
a. Se ele é bem mais guloso do que você, ...
b. Você é guloso.
3.5 Pressuposições com orações clivadas
As construções clivadas2, em (14) e (15), têm como pressuposição (16):
(14) a. Foi o seu comportamento que me aborreceu.
a'. Não foi o seu comportamento que me aborreceu.
a''. Foi o seu comportamento que me aborreceu?
a'''. Se foi o seu comportamento que me aborreceu...
(15) a. O que me aborreceu foi o seu comportamento.
a'. O que me aborreceu não foi o seu comportamento.
a''. O que me aborreceu foi o seu comportamento?
a'''. Se o que me aborreceu foi o seu comportamento, ...
(16) Alguma coisa me aborreceu.
3.6 Orações adjetivas não-restritivas
(17) a. O Pelé, que foi um grande jogador de futebol, fez mais de 1000 gols.
a’. O Pelé, que foi um grande jogador de futebol, não fez mais de 1000
gols.
a’’. O Pelé, que foi um grande jogador de futebol, fez mais de 1000 gols?
a’’’. Se o Pelé, que foi um grande jogador de futebol, fez mais de 1000
gols, ...
b. O Pelé foi um grande jogador de futebol.
E, ainda, podem-se ter mais desencadeadores de pressuposição.
4. Diferenças entre Pressuposições e Implicaturas Conversacionais
As implicaturas e pressuposições compartilham de algumas propriedades: ambas
são calculáveis e canceláveis. Primeiramente, as pressuposições são calculáveis, pois se
tomamos a definição em (3), conseguimos definir se existe ou não, pressuposições entre
sentenças. Ainda, são canceláveis, pois, dependendo do contexto, podemos anular uma
pressuposição existente. Repare as sentenças:
(18) A. O João parou de bater na mulher. >> O João batia na mulher.3
B. Mas que absurdo! O João nunca bateu na mulher.
2
"Clivagem é um termo usado na descrição gramatical com referência a uma construção denominada
oração clivada: trata-se de uma única oração dividida em duas partes, cada uma com um verbo." (Crystal,
D, 1985:49)
3
A notação >> significa que a sentença seguinte é a pressuposta.
A sentença proferida por B anula a pressuposição do enunciado em A. Outro exemplo
que depende de conhecimento que temos do mundo e pode anular uma pressuposição é:
(19) A Maria chorou antes de ter terminado a sua tese. >> A Maria terminou sua
tese.
(20) A Maria morreu antes de ter terminado a sua tese.
A sentença (20) não toma como pressuposição que A Maria tenha terminado sua tese,
pois sabemos que pessoas não costumam fazer tese após terem morrido.
Entretanto, diferentemente das implicaturas, as pressuposições não são
destacáveis, pois elas dependem da forma e não do conteúdo semântico. Veja o
exemplo:
(21) a. (Não) Foi a Maria que chegou tarde. >> Alguém chegou tarde.
b. A Maria chegou tarde.
A sentença em (21a) tem como pressuposição que alguém chegou tarde. Entretanto, a
sentença em (21b), que tem o mesmo conteúdo semântico de (21a), mas uma forma
diferente, não pressupõe que alguém chegou tarde. Portanto, não podemos destacar as
pressuposições.
Podemos também concluir que as pressuposições são convencionais, pois elas
dependem da forma da língua. E, concluindo, diferentemente das implicaturas, as
pressuposições não possuem multiplicidade de interpretações.
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