qual são destacados aspectos tais como: treinamento dos enfermos e da equipe de saúde em técnicas de confronto psicológico com a doença {coping> visando reduzir estados de ansiedade e depressão; colaboração na resolução de problemas como, por exemplo, o da comunicação do diagnóstico ou o da preparação para a morte em pacientes terminais; solução ou colaboração na solução de problemas potencialmente modificáveis por meios psicológicos, tais como náuseas antecipatórias, dor etc., através de terapias comportamentais, como relaxamento muscular, hipnose, dessensibilização sistemática, biofeedback etc.; desenvolvimento de estratégias para o confronto com o impacto psicológico do câncer, atacan~ do-se diretamente algumas causas que o produzem, como, por exemplo, a imagem mítica do câncer como sinônimo de morte. No capítulo dedicado à terapêutica e reabilitação, o autor focaliza os efeitos de cura produzidos por fatores alheios aos métodos de tratamento médico, tais como expectativa de cura, desejo de viver, fé no médico ou fé no curandeiro etc., os quais chama efeito placebo. Analisa a possibilidade de uma verdadeira terapêutica psicológica que aproveite sistematicamente a ação curadora placebo do próprio organismo, e que seja capaz de potencializar ao máximo as terapias médicas convencionais. Embora reconhecendo que os estudos nesta área estão ainda em etapa piloto, ressalta a necessidade de que o processo de reabilitação em todos os seus níveis - preventivo, restaurativo, de apoio ou paliativo - se dirija a um objetivo essencial: o de levar o paciente ao grau máximo possível de autonomia e independência, retirando-Ihe o papel submisso e passivo - que a medicina ocidental tradicionalmente lhe confere - para transformá-lo em verdadeiro protagonista de seu futuro. A parte final é dedicada à metodologia de pesquisa em psicologia oncológica. São fornecidos dados da investigação epidemiológica com microorganismos, com mamíferos inferiores e com seres humanos, os quais, apesar de serem ainda insatisfatórios, vêm apontando na mesma direção: a influência positiva ou negativa, direta ou indireta, de fatores psicológicos na origem, evolução, prevenção e terapêutica dos processos cancerosos. O autor termina com um apelo nO sentido de que se compreenda um plano de investigação sistemática das relações entre comportamento e câncer. Na medida em que o câncer continua! sendo um desafio para a ciência, uma enfermidade quantitativa e qualitativamente temida, e para a qual não existe,' todavia, uma terapêutica segura, o livro de R. Bayés é sem dúvida uma contribuição valiosa. WILMA DA CoSTA TORRES Ashen, Akhter. Rhea complex: a detour around oedipus complexo New York, Brandon House, 1984. 279 p. ---o Trojan horse. lmagery in psychology, art. literature & politics. New York, Brandon House, 1984, 287 p. Dois livros diferentes do Ph.D. Akhter Ashen, em que revela sua erudição em psicoanálise, psicologia e cultura geral. No primeiro, apresenta-nos o que ele mesmo chama de nova psicanálise. O que é isto? Buscou argumentos e material na mitologia grega, essa Grécia inesgotável e fecunda, fonte de novas informações para todos os que tratam com ciências humanas. E se propõe redimensionar a psicanálise. 142 A.B.P. 3/86 Não é. sem. propósito' lembrar a visita· que Freud recebeu de Lenormand. dramaturgo francês. de linha psicanalítica ortodoxa em algumas de. suas peças. muito representado no mundo inteiro, inclusive no Brasil. antes da 11 Guerra Mundial. (Em Paris. muito bem apoiado: a companhia teatral de LudmiUa e George Pitoeff.) Ao mostrar-lhe sua biblioteca, Freud· apontou para a estante de teatro grego e disse a Lenormand: "Eis os meus fiadores." Akhter também foi a outras canções gregas, e com muito apetite. para. através do que denominou o complexo de Rea. desviar e alargar os fUndamentos .te6ricos da psicanálise. Inclusive, assinala em rápida passagem. que Freud usou elementos do evolucionismo que os gregos já tinham empregado no mito de Urano e Géa. Lembremos quem é Rea, para que o leitor possa acompanhar o discurso ·teérico do autor. Da união de Urano (céu) e Gea (a mãe terra) nascem CroDOS.e ·Rea (irmãos que também se casam entre si, como Urano e Gea). Como se vê, .não é só na Bíblia que irmão e irmã - e até pai com filha - dormem juntos. para a multiplicação da humanidade. .. Amém! Entijo, o que o autor apresenta como nova psicanálise é a substituição. de forma ampliada, do complexo de edipo pelo de Rea, um desyio (deto"r), como já foi dito. A humanidade, para ser feliz. precisa tornar mais larga a união de .família. Rea é mais que edipo. São laços consangüíneos mais difusos' que devell) .entrar mi àtração e ligação interfamiliar. Não se deve limitar a uma luta de pai e filho pelas atenções da esposa-mãe. As imagens míticas devem ser as de relações sexuais amplas entre parentes. decodificados no mito de Rea. Aí está o Jardim do ~deri. . . Os filhos únicos, os líderes, seja Jesus, Maomé, edipo, Buda, devem ter parentesco psicológico. Todavia, para a psicanálise, ~dipo sozinho' não mais satisfaz. O autor quer, para o equilíbrio sexual, uma família de seis: pai, mie, e quatro consangüíneos - dois machos e duas fêmeas. Rea é este complexo de pa~ .rentes, repita-se. . . Capítulos e mais capítulos se sucedem, desde o mito e complexo de Rea, 'passando por estudos do sonho, dos mitos, Afrodite e sua conexão com Rea, e mais outros enfoques, para terminar em verdadeiros estudos de caso que fundamentam a necessidade do complexo de Rea, isto é, parentes, família. E Akhter quer mais: a liberdade da mulher, o fim da repressão de Afrodite. Julga haver conflito entre a idade de máquina e a mulher, em nossa sociedade. Diz mesmo que a máquina, invenção do macho, é imagem dupla para a mulher: liberdade e repressão das emoções. O livro salta, pois, da mitologia grega para problemas de hoje. . No segundo livro, compilação de vários artigos escritos pelo autor, temos um enfoque diferente, embora algumas vezes apareçam novamente Urano, Oea, Cronos, Rea e até Zeus. Como acontece em todo livro resultante de variadaS colaborações, e ensaios de um mesmo autor, para vários lugares e em épocas diferentes, ocorrem pensamentos e frases de modo repetitivo, às vezes até cansativo. O autor, com sua vasta cultura, faz psicologia, filosofia, epistemologia, numa linguagem lúcida e absorvente. E sempre erudita. . A imagem é colocada como o cavalo de Tróia, instrumento para ação criativa e interpretação em arte, literatura, política, percepção (sobretudo percepção de imagem), aplicação clínica, assimetrias hemisféricas, tratamento de deficientes, diferenças individuais, e mais coisas .. ATHAYDE RIBEIRO DA SILVA Resenhá õibliográfica 143