RELATÓRIO DE SÍNTESE A governação electrónica na perspectiva da auditoria Relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho da EUROSAI sobre as tecnologias de informação (EUROSAI IT Working Group) 2005 O Grupo de Trabalho da EUROSAI para as Tecnologias de Informação No congresso trienal, realizado em Moscovo em 2002, a Organização Europeia das Instituições Superiores de Controlo (EUROSAI) criou o Grupo de Trabalho EUROSAI para as Tecnologias de Informação. O objectivo deste grupo de trabalho é facilitar a partilha de conhecimento e experiência entre as Instituições Superiores de Controlo (ISCs) bem como encorajar a implementação de actividades conjuntas na área das tecnologias de informação. O Grupo de Trabalho coordena as suas actividades em articulação com as do Comité Permanente de Auditoria na área das Tecnologias de Informação, no contexto da Organização Internacional das Instituições Supremas de Controlo (INTOSAI). O Grupo de Trabalho é presidido pelo Tribunal de Contas da Holanda e conta com a participação das ICSs de 29 Estados-membros. As iniciativas do Grupo de Trabalho incluem o desenvolvimento e implementação de uma metodologia de auto-avaliação na área da governação electrónica para as ISCs, um Relatório sobre o governo electrónico e um guia sobre a gestão electrónica de documentos. Para mais informação sobre o Grupo de Trabalho consulte www.eurosai-it.org – 2 – RELATÓRIO DE SÍNTESE A governação electrónica na perspectiva da auditoria Relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho da EUROSAI sobre as tecnologias de informação (EUROSAI IT Working Group) em Abril de 2005 Prefácio É com grande satisfação que vos apresento o primeiro trabalho desenvolvido pelo Grupo de Trabalho da EUROSAI 1 para as tecnologias da informação na área do governo electrónico. O governo electrónico é um tema que vem assumindo uma importância crescente para todos os governos europeus, nessa medida constituindo uma área de primordial interesse para todas as Instituições Superiores de Controlo (ISCs). O desafio que se coloca aos nossos governos é o da avaliação das oportunidades que o governo electrónico oferece, ao mesmo tempo que são geridos os riscos inerentes. As ISCs que quiserem acompanhar o passo com o fenómeno da transição de um sistema governamental baseado no papel para um sistema que não o utiliza necessitam de compreender, na generalidade, as oportunidades e os riscos e necessitam de reavaliar também os seus métodos de auditoria. O sumário do Relatório que ora se apresenta é o resultado do trabalho de uma equipa constituída pelas ISCs da Dinamarca, Alemanha, Polónia, Holanda, Portugal e da Federação Russa, com os contributos da totalidade das ISCs de todos os Estadosmembros da EUROSAI. O Relatório consolida e torna disponível o conhecimento e a experiência que os Estados-membros da nossa organização têm ao seu dispor. Apesar de o leitor poder estar já eventualmente familiarizado com a generalidade dos temas cobertos, estou certa de que encontrará algo de novo e interessante para reflexão. O Relatório integral está disponível em inglês, alemão, polaco, português e russo no sítio da página web do Grupo de Trabalho em www.eurosai.it.org . Gostaria de agradecer às ISCs que integram o Grupo de Trabalho por terem permitido que os seus membros participassem neste projecto. Os meus agradecimentos especiais vão para o Tribunal de Contas de Portugal pela forma efectiva como coordenou as actividades dos membros participantes no grupo, criando um ambiente de trabalho cooperante e produtivo. Espero que este Relatório seja para todos vós inspirador e de interesse, agradecendo quaisquer comentários que queiram formular sobre o mesmo. 1 EUROSAI é a organização europeia das Instituições Supremas de Controlo e um ramo regional da Organização Internacional das Instituições Supremas de Controlo (INTOSAI). – 3 – Saskia J. Stuiveling Presidente do Tribunal de Contas da Holanda e Presidente do EUROSAI IT Working Group Haia Abril 2005 – 4 – Introdução A maioria dos países europeus já encetou programas de governação electrónica no contexto da transformação da Europa numa sociedade da informação (ou “digital”). Os governos pretendem assegurar aos cidadãos, empresas, meios académicos e entidades governamentais um acesso aos serviços públicos mais simples, mais rápido e mais rentável. Estes esforços visam aumentar o grau de satisfação dos cidadãos com o Estado – facultando-lhes informação e serviços independentemente do local onde trabalham ou vivem – e reforçar a competitividade das economias nacionais. Os programas de governação electrónica são ainda uma importante componente de um projecto global de modernização administrativa. Espera-se, nesta matéria, que a coerência dos programas de governação electrónica venha dar um impulso ao aparecimento de processos de reestruturação empresarial em toda a administração pública, permitindo simplificar toda a panóplia de estruturas e processos administrativos. As questões de orçamentação e o risco de fracasso tornam premente a necessidade de as Instituições Superiores de Controlo (ISC), darem uma atenção especial aos programas de governação electrónica nos seus respectivos países. O relatório vem ajudar as SAI a compreenderem as principais questões que se colocam à auditoria no contexto da governação electrónica. A governação electrónica: tendências São dois os objectivos subjacentes à implementação da governação electrónica, um externo e outro interno, e consistem, designadamente, em melhorar o intercâmbio de informação com os cidadãos e empresas, e os serviços à sua disposição, por um lado, e em aperfeiçoar o funcionamento do Estado em termos de eficácia e/ou eficiência, por outro. Existe ainda um objectivo democrático que é o aprofundamento da participação política. Os exemplos que se seguem permitem-nos obter uma ideia da riqueza da temática da governação electrónica. Fornecimento de informações. Ao nível de base, os governos podem disponibilizar informação aos cidadãos e às empresas nos seus sites na Internet. – 5 – Contratação electrónica. Vários governos criaram portais para a contratação electrónica com o objectivo de estabelecer um ponto de encontro entre as entidades públicas adquirentes e os respectivos fornecedores. Balcões únicos. Trata-se de pontos de serviços digitais integrados que oferecem um conjunto unificado de serviços, prestados graças à cooperação entre várias organizações. Os empresários, por exemplo, podem aceder a planos de ordenamento do território, apresentar pedidos de licenças de construção, inscrever-se na Câmara do Comércio, pagar os seus impostos ou efectuar outras diligências, tudo isto através de um único ponto de prestação de serviços. Prestação de cuidados personalizados. Um exemplo desta possibilidade é o uso de um cartão inteligente como ponto único de acesso a toda a informação relevante para o tratamento médico de uma determinada pessoa, como por exemplo a sua história clínica, tipo de sangue, alergias, reacções adversas a medicamentos, diagnósticos, exames, receituário, contactos em caso de emergência, condições das apólices de seguro, etc. Infra-estrutura. Foram criadas aplicações de telemática 2 que permitem um tratamento mais rápido e seguro do tráfego. São disso exemplo os sinais nas auto-estradas para informar sobre os limites de velocidade e situações de congestionamento, os sistemas de supervisão do tráfego e os sistemas de cobrança de portagem em troços congestionados 3. Algumas das vantagens que se prevê que a governação electrónica venha a proporcionar aos cidadãos e empresas são a acessibilidade (acesso fácil a informação e serviços em qualquer momento e lugar), pontos únicos de acesso, respostas mais rápidas a pedidos de informação, melhor qualidade dos serviços e custos mais reduzidos da actividade comercial (para as empresas). Os organismos públicos que implementem a governação electrónica podem beneficiar de uma maior eficácia e eficiência no seu funcionamento. A governação electrónica apresenta várias características que a distinguem dos numerosos progressos registados no domínio das tecnologias de informação (TI). É 2 A telemática é uma combinação de tecnologias que conjuga as telecomunicações e a informática. 2 Que permitem cobrar aos condutores uma taxa de portagem pela utilização, em horas de ponta, de determinados percursos com tendência para o congestionamento. – 6 – habitual, por exemplo, a sua aplicação verificar-se em ambientes que não recorrem a documentos em suporte papel, preferindo-lhes os processos automatizados em tempo real. Mas talvez mais notória seja a sua extrema dependência das TI. Porém, é importante frisar que a transição para a governação electrónica consiste, essencialmente, numa reformulação do processo empresarial. Num simpósio realizado pela OCDE, em Junho de 2003 4, e destinado a quadros superiores da função pública responsáveis pela governação electrónica, os participantes salientaram precisamente que o elemento mais importante da governação electrónica é o próprio conceito de governação e não o facto de ser “electrónica” e que, mais cedo ou mais tarde, os líderes políticos teriam de tomar consciência deste facto. Riscos Durante todo o ciclo de vida dos serviços de governação electrónica existem riscos, que iremos dividir, para simplificar, em duas fases: uma fase de pré-implementação/implementação e uma fase de pós-implementação. A fase de pré-implementação/implementação implica o planeamento, o desenvolvimento e a introdução de serviços de governação electrónica. Trata-se de uma fase em que existem, por exemplo, riscos no domínio da administração, tais como a falta de coordenação no planeamento e introdução de serviços de governação electrónica, uma selecção desadequada dos potenciais utilizadores e incerteza sobre a suficiência dos orçamentos. Nas áreas de cariz mais técnico existem outros riscos. Por exemplo, a ausência de orientação metodológica e/ou a não utilização de padrões adequados nas TI podem pôr em risco a interoperabilidade entre diferentes aplicações da governação electrónica. Detectam-se ainda outros riscos na área das componentes e serviços de base das TI, como os portais da Internet, os sistemas de gestão de conteúdos, os servidores de formulários e os serviços de base relacionados com a segurança das transacções. A fase de pós-implementação implica a gestão dos serviços de governação electrónica já implementados. Nesta fase podem verificar-se erros de processamento ou ocorrer casos de fraude, como resultado de precauções inadequadas com a segurança das informações. Um exemplo de tal situação é a 3 O simpósio realizou-se na Casa Branca, em Washington DC, em 9 de Junho de 2003. – 7 – possibilidade de as tarifas ou os direitos aduaneiros cobrados através de canais digitais poderem estar incompletos como resultado de insuficientes medidas de segurança para a protecção desses processos. Existe ainda o risco de que a redundância de canais utilizados pelos serviços reduza os ganhos de eficiência previstos com a governação electrónica. Se, por exemplo, se mantiver um balcão de atendimento em simultâneo com o atendimento electrónico, tal implicará custos de funcionamento adicionais. O auditor dos serviços de governação electrónica deve possuir elevadas qualidades profissionais, em virtude do elevado número de departamentos e organismos participantes envolvidos, do grande número de serviços electrónicos (frequentemente ligados entre si) e dos projectos disponíveis ou em desenvolvimento, bem como das vultuosas verbas necessárias. Estes auditores devem conjugar a posse de conhecimentos de base sobre as TIC em geral com conhecimentos aprofundados sobre plataformas de TIC, associados a competências em matéria de compilação e análise de provas recolhidas em auditorias informáticas. Auditoria a programas e projectos Uma vez que a governação electrónica é uma nova área, devemos ponderar a adequação dos métodos de auditoria de que dispomos actualmente. Embora a governação electrónica seja um fenómeno novo, as TI e as auditorias às TI não o são. Podemos, por isso, recorrer em grande medida à experiência já acumulada e desenvolver novos métodos apenas em caso de necessidade. De acordo com o nosso quadro conceptual, existem três vertentes: objectos da auditoria, tipos gerais de auditoria e a perspectiva temporal. (1) Objecto das auditorias. Os três principais objectos das auditorias são: (1) programas de governação electrónica como um conjunto (“cabaz”) de projectos (incluindo projectos de TI), (2) projectos individuais (incluindo projectos de TI) e (3) sistemas de informação, incluindo recursos de informação como bibliotecas, arquivos, fundos e bancos de dados. Estes objectos correspondem a três níveis de controlo de programas. A nível estratégico, a principal questão do controlo é a eficiência demonstrada na gestão da realização dos programas, ou seja, a sua organização, planeamento e controlo. – 8 – A questão dominante a nível operacional é a realização do projecto de acordo com os requisitos e segundo os cronogramas e orçamentos estabelecidos. Ao nível da aplicação, a questão do controlo prende-se com a necessidade de saber se os sistemas e recursos de informação já existentes ou recém-criados estão a ser devidamente usados. (2) Tipos gerais de auditoria. De uma forma geral, são dois os tipos gerais de auditoria que reconhecemos. O primeiro tipo é a auditoria financeira, ou seja, a auditoria a investimentos e despesas, contabilidade financeira, controlo e prestação de contas a nível interno e eficiência das despesas. O segundo tipo de auditoria é a auditoria do desempenho, ou seja, a avaliação de sistemas de controlo da qualidade, a avaliação da eficiência e eficácia, uma apreciação da eficiência do processo de tomada de decisões, a avaliação da qualidade do serviço e das questões relacionadas com o pessoal, como políticas de pessoal, competências e conhecimentos. Em virtude do elevado grau de automatização dos processos empresariais das entidades sujeitas às nossas auditorias, a auditoria informática, ou auditoria à gestão das TI, deve ser parte integrante tanto da auditoria financeira como da auditoria do desempenho. A gestão das TI, que é um dos domínios da administração de uma organização, constitui a estrutura de relações e processos para dirigir e supervisionar a organização, de forma a atingir as suas respectivas metas através de um maior valor acrescentado e do equilíbrio risco/benefícios no domínio das TI e seus respectivos processos. Engloba o conjunto de questões abordadas na ponderação da forma como as TI devem ser usadas no seio da organização. Trata-se, actualmente, de algo intrínseco e generalizado nas organizações, mais do que uma função separada que ocupe um lugar à margem da organização. O modo como as TI serão aplicadas na organização terá profundas consequências em termos de realização da missão da organização, dos seus objectivos e da sua estratégia 4. _____________________________________ 4 Consultar “Is Auditing Guideline”, um documento sobre a governação informática (# 060.020.050) publicado pela Associação de Auditoria e Controlo de Sistemas de Informação (ISACA – Information Systems Audit and Control Association). (3) Perspectiva temporal. As auditorias podem ser realizadas nas fases iniciais do ciclo de vida dos programas e projectos. Estas auditorias realizadas na fase de pré-implementação dizem respeito ao processo de deliberação sobre as políticas – 9 – orçamentais e outros assuntos relacionados com o controlo financeiro. Numa fase mais tardia do ciclo de vida podem realizar-se auditorias concomitantes (como por exemplo a auditoria a questões orçamentais) enquanto os programas e projectos estiverem em curso. Depois de implementado um programa ou projecto as auditorias realizadas na fase pós-implementação centrar-se-ão nos relatórios de contas sobre a execução orçamental e os efeitos (ou “resultados”) dos programas e projectos. A auditoria tem um papel a desempenhar em cada uma das três fases do ciclo de vida. Porém, e para ser eficaz, a auditoria a serviços da governação electrónica deve ocupar-se predominantemente das fases iniciais do programa (concepção e implementação), permitindo determinar as principais questões relacionadas com o controlo num momento em que é ainda possível à organização reforçar o seu controlo. No relatório em apreço apresentamos uma panorâmica sobre os métodos de auditoria existentes e indicamos quais as componentes do nosso quadro conceptual que requerem o desenvolvimento de novos métodos. Referimos também os métodos de auditoria para o quadro CobiT 5 . ____________________________________ 5 A metodologia CobiT (Control Objectives for Information and related Technology – Objectivos de Controlo para as Tecnologias da Informação e Afins) é uma ferramenta amplamente aceite na administração informática que ajuda a compreender e gerir os riscos e benefícios associados à informação e TI afins. – 10 – A auditoria financeira em ambientes digitais (“sem papel”) Afigurava-se necessário, no nível operacional do processo de auditoria, restringir o âmbito da exposição. Por razões práticas (a experiência disponível e o objectivo de clarificar questões significativas em matéria de auditoria), é sobretudo analisada a auditoria financeira em matéria de contratação electrónica. Em sistemas digitais (“sem papel”), os dados da entidade pública não existem sob a forma dos tradicionais documentos em papel, mas apenas em formato electrónico/digital. A dependência de uma organização em relação às TI vê-se, assim, aumentada e crescem as exigências em termos de acessibilidade e segurança dos recursos relacionados com as TI. Devemos estar cientes dos riscos que os ambientes digitais implicam (ver acima o ponto “Riscos”). É de admitir que alguém possa vir a obter acesso não autorizado a sistemas e dados, tanto através da Internet como do equipamento interno. Existe, assim, um risco de que os dados sejam alterados, copiados (roubados) ou apagados sem que seja possível saber quando tal ocorreu e quem foi o seu autor. O acesso não autorizado abre as portas à fraude. Os controlos de sistemas digitais a implementar nas fases iniciais de um processo de transacção são medidas de segurança poderosas. O seu poder reside mais no cariz preventivo do que na detecção/correcção de falhas de segurança, o que é desejável quando se trata de um fluxo rápido e automático de informação electrónica. Além disso, tanto o ciclo de vida do hardware como o do software se vêem reduzidos, tornando necessária a contínua substituição das componentes por novas versões. Este perfil de risco dinâmico requer uma atenção contínua por parte das administrações. Dada a crescente dependência das TI, e os riscos e elas inerentes, bem como o respectivo perfil de risco dinâmico, deve incluir-se com regularidade a segurança das TI na agenda das administrações de organismos públicos. A segurança das TI é uma questão demasiado importante para se ver reduzida a uma matéria da exclusiva competência dos departamentos responsáveis pelas tecnologias de informação. As administrações dos organismos públicos devem, por exemplo, analisar em pormenor se os seus sistemas digitais foram concebidos e postos a funcionar de uma forma que se coadune com a sua estratégia empresarial. É também responsabilidade da administração garantir que os sistemas possuam uma – 11 – capacidade suficiente de controlo e detecção (designada por pista de auditoria) e que exista um equilíbrio adequado de controlos de prevenção e detecção/correcção para minorar os riscos mais proeminentes. O objectivo da auditoria não é afectado pela introdução de um ambiente digital, dado que o seu propósito principal continua a ser facultar um parecer fundamentado sobre a qualidade das contas anuais apresentadas pelos órgãos dirigentes, de modo a que as ISC possam fazer uma avaliação da qualidade das contas num relatório de auditoria. A auditoria é habitualmente concebida como uma auditoria informática, sendo complementada por uma auditoria de sistemas em caso de necessidade. Na auditoria ao sistema devem ser recolhidas pistas de auditoria comprovadas. A auditoria aos sistemas implica uma auditoria tanto aos procedimentos baseados em TI como aos manuais, e deve incluir controlos gerais das TI que sirvam de base a sistemas para utilizadores (sistemas aplicacionais) e controlos internos. Exemplos de auditorias de sistemas são as auditorias de análise das contas e as auditorias aos recibos e outros comprovativos, eventualmente efectuadas com o apoio de TAAC (Técnicas de Auditoria Assistida por Computador) e baseadas numa avaliação da fiabilidade do sistema de controlo interno. O relatório faz um relato mais detalhado dos passos seguidos por uma auditoria a aplicações de TI. Eis os principais passos: (a) avaliação inicial da aplicação de TI, (b) análise dos controlos das TI em geral, (c) análise dos controlos dos sistemas para utilizadores (sistemas aplicacionais), e (d) subcontratação (outsourcing). Consequências ao nível da organização A crescente digitalização dos processos de trabalho das instituições públicas nos seus respectivos domínios de auditoria coloca novos desafios às ISC. Para uma maior clarificação do conceito de ambiente digital, recorramos a um exemplo. Podemos, por exemplo, imaginar um organismo público responsável por um serviço de ferry-boats que tenha feito a transição de um sistema manual de emissão de bilhetes, em suporte papel, para um sistema electrónico que torna praticamente supérflua a intervenção humana. O organismo público procedeu à instalação de um novo sistema electrónico de venda/emissão/cobrança/pagamento de bilhetes que permite vender bilhetes através da Internet, recebe pagamentos através de sistemas de cartões utilizáveis na Internet, efectua o registo dos veículos embarcados, faz o registo contabilístico, imprime automaticamente as – 12 – facturas, etc. As auditorias neste ambiente não podem ser realizadas da mesma forma que num sistema em suporte papel. Torna-se necessário que as ISC desenvolvam novos métodos de auditoria e explorem as possibilidades oferecidas por ferramentas como as TAAC. Para poderem responder a estes novos desafios as ISC necessitam de se adaptar aos ambientes digitais com que deparam nas suas auditorias. Deverão ser orientadas por iniciativas estratégicas na sua própria transição para processos digitais e para o desenvolvimento processual e formação contínua na área das competências em TI. Será necessário adaptar processos, métodos, qualificações e recursos. No que se refere à transição para processos digitais, as ISC, à imagem de qualquer outra instituição pública, sentirão a necessidade de reforçar a eficiência das suas rotinas de trabalho com a ajuda da informatização. Desenvolverão, por conseguinte, expectativas mais elevadas quanto aos conhecimentos do seu pessoal na área das TI. Torna-se, por isso, imperioso que as ISC desenvolvam iniciativas estratégicas na área das qualificações. Como exemplos podemos referir os programas de formação destinados a ensinar o pessoal a realizar auditorias num ambiente digital e a usar ferramentas automáticas de auditoria. Trata-se de uma actuação que deve ter lugar sob a forma de formação contínua e permanente, uma vez que a evolução tecnológica se processa a um ritmo muito rápido. A organização deve também ser reformulada. A função interna de TI requer aperfeiçoamentos que permitam à organização processar devidamente informação exclusivamente digital. Os servidores de correio electrónico, os firewalls, as protecções de segurança, etc. irão, por exemplo, assumir um papel cada vez mais importante. De igual modo deve reforçar-se a função interna das TI, para poder dar resposta a dados que estejam disponíveis apenas em formato digital. O panorama em matéria de recursos é pouco claro. Pode presumir-se que a necessidade de mais recursos exista apenas durante o período de transição. Um exemplo de uma iniciativa estratégica necessária é a sensibilização em grande escala da administração para a exploração das oportunidades de obtenção de uma maior eficiência graças à estruturação de novos métodos de auditoria. A necessidade de um correspondente acréscimo de investimentos será apenas temporária. – 13 – Observações finais São numerosos os organismos dos mais diversos sectores que implementaram já a governação electrónica ou estão em vias de o fazer. A governação electrónica, quando devidamente implementada, pode proporcionar vantagens aos cidadãos e às empresas, permitindo-lhes, por exemplo, usufruírem de uma maior facilidade de utilização e de um melhor serviço. Mas há igualmente que referir que os próprios organismos podem beneficiar com a governação electrónica, designadamente maior eficácia e eficiência. Por outro lado, a governação electrónica, com a sua enorme dependência das TI, aumenta também a vulnerabilidade do organismo. O organismo é ainda forçado a lidar com várias questões de organização, como a criação de uma organização orientada para o cliente e a integração dos sistemas de front office e de back office. A dimensão dos programas de governação electrónica, o número de projectos relevantes e as diferentes fases (como por exemplo, o planeamento/desenvolvimento, a introdução e a gestão dos serviços de governação electrónica) são factores que acrescentam novos riscos ou agravam os já existentes. A enorme dependência dos organismos e dos seus clientes em relação às TI, bem como a sua vulnerabilidade a ameaças neste domínio, representam um extraordinário desafio para os mecanismos de responsabilização das entidades públicas. Assim sendo, os políticos e administradores devem focar a sua atenção na minimização, logo que possível, dos riscos, de molde a evitar prejuízos potenciais e com uma dimensão que, embora desconhecida, se revela frequentemente considerável. Relativamente às abordagens de auditoria é importante frisar que a abordagem mais conveniente pode diferir de país para país, uma vez que podem ser significativas as diferenças na rede de entidades envolvidas num programa de governação electrónica e na distribuição dos papéis atribuídos aos diversos parceiros. O desenvolvimento do sistema pode, por exemplo, ser objecto de subcontratação externa mas não é imprescindível que assim seja. Quanto às consequências em termos das organizações, a informatização do sector público implica importantes ajustamentos técnicos e orgânicos a nível interno. Requer iniciativas em matéria da transição para os procedimentos digitais, o desenvolvimento de novos métodos e ferramentas de auditoria e o desenvolvimento das competências dos auditores em TI. Estas competências afiguram-se necessárias porque o auditor de serviços de governação electrónica – 14 – deve dispor tanto de um saber-fazer e de competências em termos de auditoria das TIC em geral como de uma especialização em organização e na recolha e análise de provas proporcionadas por auditorias informáticas. Para garantir que se alcançarão as vantagens potenciais e serão minimizados riscos desnecessários – quer para o organismo, que para os seus clientes – afigura-se indispensável uma boa governação das TI. A gestão do projecto e a segurança da informação requerem uma atenção especial. As TI, em virtude do papel decisivo que desempenham na realização da missão do organismo, devem também estar devidamente alinhadas com a estratégia empresarial desse mesmo organismo. Por estas razões, a responsabilidade final pela evolução da governação electrónica não deve ser delegada nos quadros inferiores da administração ou no departamento de TI. Os quadros superiores da administração devem, em vez disso, desempenhar um papel de relevo neste domínio. Uma das chaves do êxito da governação electrónica é a necessidade destes quadros superiores desenvolverem uma visão da governação electrónica que seja simultaneamente estimulante e viável, demonstrando uma liderança clara tendente a permitir a sua realização. – 15 –