Baixar este arquivo PDF

Propaganda
AVALIAÇÃO DA ESPESSURA DA CORTICAL
INFERIOR DA MANDÍBULA EM RADIOGRAFIAS
PANORÂMICAS
THICKNESS EVALUATION OF THE LOWER MANDIBULAR
CORTEX IN PANORAMIC RADIOGRAPHIES
Márcia Fava1, Renata Rocha Hoffmann2, Filipe Ivan Daniel2, Márcia Rejane Brücker3, João
Feliz Duarte de Moraes4
1
2
Aluna de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Odontologia, PUCRS, Porto Alegre, RS, Doutor em Odontologia, Pro3
grama de Pós-graduação em Odontologia, PUCRS, Porto Alegre, RS, Professora Titular do Serviço de Radiologia Odontológica,
4
PUCRS, Porto Alegre, RS, Professor adjunto do Departamento de Estatística da PUCRS e da UFRGS, Endereço para correspondência: Márcia Fava Rua.Vicente da Fontoura, 2630/303 – Porto Alegre/RS – CEP: 90640-002 - Email: [email protected] Telefone: (51) 33316166
RESUMO
Objetivo: A mandíbula possui vários re-
das ou em relação à quantidade de den-
paros anatômicos que podem ser utiliza-
tes presentes.
dos como indicadores para avaliar a reabsorção óssea e que podem sugerir a
PALAVRAS-CHAVE: Radiografia pano-
existência de osteoporose ou osteope-
râmica; cortical mandibular, reabsorção
nia. A utilização de radiografias bucais
óssea, osteoporose.
para tal finalidade pode ser um método
promissor pela sua facilidade de execu-
ABSTRACT
ção e baixo custo. O objetivo desta pes-
Purpose: Several mandibular anatomic
quisa foi determinar a espessura da cor-
landmarks may be used to evaluate the
tical mandibular em radiografias pano-
bone reabsortion suggesting the exist-
râmicas e comparar essa medida com
ence of osteoporosis or osteopeny. For
idade, sexo e número de dentes presen-
their facility and low cost oral radiog-
tes. Metodologia: Nesta pesquisa, foi
raphies could be a promising method to
realizada a medida da espessura da cor-
detect osteopeny. The aim of this re-
tical mandibular em duzentas e sessenta
search was to determine the thickness of
radiografias panorâmicas pertencentes
the mandibular cortex in panoramic radi-
ao arquivo do Serviço de Radiologia da
ographies and to compare the thickness
Faculdade de Odontologia da PUC/RS,
data with age, sex and number of teeth.
relacionando os dados obtidos com ida-
Methods: In this research, it was deter-
de, sexo e número de dentes presentes.
mine the thickness of the mandibular
Resultados: Diferença estatisticamente
cortex in two hundred and sixty pano-
significante das espessuras das corticais
ramic
mandibulares não foi encontrada entre
School’s Radiology Service, comparing
os sexos, entre as faixas etárias estuda-
the thickness data with age, sex and
radiographies
of
a
Dentistry
Revista ABRO, v.12, n.2, p. 57-62, jul./dez. 2011.
57
number of teeth. Results: Statistical dif-
ças em termos de quantidade ou quali-
ferences in the the thickness of the man-
dade ósseas utilizando diferentes estra-
dibular
panoramic radiog-
tégias radiográficas2. Assim, é possível
raphies did not found between sex, age
identificar pacientes que apresentem
or in relation to number of present teeth.
baixa densidade mineral, sugerindo uma
cortex in
osteopenia mandibular, e recomendar
KEYWORDS: Panoramic radiography;
que seja realizada uma investigação por
mandibular cortex, bone reabsortion,
meio de densitometria óssea3.
osteoporosis
A cortical inferior da mandíbula é
uma estrutura densa e ampla que apareINTRODUÇÃO
ce como uma faixa de osso ao longo da
A utilização de radiografias bucais
borda inferior da mandíbula4. Depois dos
como métodos complementares no di-
15 anos de idade, a espessura dessa
agnóstico de pacientes suscetíveis à
cortical é quase sempre similar, exceto
osteoporose tem se mostrado uma fer-
nas mulheres, nas quais pode se tornar
ramenta promissora quanto à sua facili-
mais fina com o passar dos anos5. Ero-
dade de execução e baixo custo. Como
são óssea ou uma cortical mandibular
a osteoporose afeta um grande segmen-
fina detectada em radiografias panorâ-
to da população, em especial mulheres
micas podem ser úteis na identificação
na faixa pós-menopausa, os cirurgiões-
de baixa densidade mineral óssea ou
dentistas devem estar atentos às modifi-
osteoporose
cações que um exame radiográfico de
menopausa6.
em
mulheres
pós-
rotina possa trazer. Pacientes que ne-
Ledgerton et al. ao examinarem
cessitem realizar radiografias odontoló-
os índices radiomorfométricos da man-
gicas podem ter um método alternativo
díbula em radiografias panorâmicas de
para medir o índice de risco de osteopo-
pacientes do sexo feminino, verificaram
rose1. A mandíbula possui vários reparos
uma correlação significativa com a idade
anatômicos que podem ser utilizados
e a dentição. Os índices analisados de-
como indicadores para avaliar a reab-
monstraram uma redução da espessura
sorção óssea e sugerir a existência de
da cortical mandibular do grupo de paci-
osteoporose, tais como o canal da man-
entes mais velhos em relação aos mais
díbula, a linha miloioídea, a linha oblíqua
jovens3.
externa e a cortical inferior. Usando es-
Este trabalho tem como objetivo
ses pontos é possível detectar mudan-
medir a espessura da cortical mandibular
58
Revista ABRO, v.12, n.2, p.57-62, jul./dez. 2011.
em radiografias panorâmicas e relacio-
mascaradas durante a avaliação das
nar a medida obtida com faixa etária,
radiografias.
sexo e número de dentes presentes.
Figura 1- Representação esquemática da região da
cortical inferior da mandíbula analisada
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi aprovada pelo
Comitê
de
Ética
em
Pesquisa
da
PUC/RS, sob o número 08/04194. Foram avaliadas duzentas e sessenta radiografias panorâmicas pertencentes ao
arquivo do Serviço de Radiologia da Faculdade de Odontologia da PUC/RS, de
pacientes de ambos os sexos, com ida-
Os dados obtidos foram avalia-
de acima de 21 anos e divididas por fai-
dos por meio do teste t para amostras
xa etária (20-29, 30-39, 40-49 e 50-59
pareadas e para amostras independen-
anos). As propriedades radiográficas das
tes, análise de variância univariada
imagens analisadas deveriam permitir a
(ANOVA one way) e regressão linear
visualização adequada da cortical inferi-
múltipla.
or da mandíbula, com o limite inferior e
superior bem definido e forame mentual
nítido.
RESULTADOS
As duzentas e sessenta radiogra-
A medida da cortical inferior da
fias panorâmicas eram pertencentes a
mandíbula dos lados direito e esquerdo
174 mulheres e 86 homens. A média de
foi realizada na região do forame mentu-
idade e de dentes presentes na mandí-
al, por três pesquisadores previamente
bula foi de 36,90 anos e 13,04 dentes
calibrados, com o auxílio de um paquí-
entre as mulheres, e 38,05 anos e 13,08
metro eletrônico digital com resolução de
dentes entre os homens. A espessura
0,01mm (Starret®, Itu, São Paulo, Bra-
média da cortical mandibular foi signifi-
sil). A região analisada foi determinada
cativamente maior (p<0,001) no lado
por duas linhas perpendiculares entre si,
direito (4,264 ± 0,722) comparado com o
localizadas no centro do forame mentual
lado esquerdo (4,092± 0,680). As mé-
e tangente ao limite inferior da cortical
dias de espessura da cortical de cada
mandibular, conforme a figura 1. As in-
lado da mandíbula, distribuídas por sexo
formações sobre idade e sexo foram
estão descritas na Tabela 1.
Revista ABRO, v.12, n.2, p.57-62, jul./dez. 2011
59
Tabela 1 - Espessuras da cortical nos lados direito e
esquerdo da mandíbula, estratificadas por
sexo
EspesEstatística Valor de
Sexo N Média ±
sura da
t
p
DP
cortical
Lado
Fem
Direito
1
4.372 ±
7
0,727
-1,710
Tabela 2 - Espessura das corticais nos lados direito e
esquerdo da mandíbula, estratificadas por
faixa etária
Espessura da
Cortical
Lado
Direito
0,088
4
Masc
Lado
Fem
Esquerdo
Masc
8
4,156 ±
6
0,703
1
4,143±
7
0,678
8
3,987 ±
6
0,676
-1,754
0,081
Teste t de Student (nível de significância de 5%)
Diferença estatisticamente significante das espessuras das corticais
mandibulares não foi encontrada entre
os sexos (p=0,06), entre as faixas etárias estudadas (p=0,746) ou em relação
à
quantidade
de
dentes
presentes
(p=0,277) (Tabela 2).
A cortical do lado direito da mandíbula demonstrou um aumento gradativo de sua espessura até 49 anos, decrescendo nas décadas seguintes. O
mesmo foi observado no lado esquerdo,
com uma redução na espessura entre 50
Lado
Esquerdo
Faixa
etária
N
Média ±
DP
20-29
93
30-39
60
40-49
71
50-59
22
60-77
14
4,280 ±
0,646
4,262 ±
0,805
4,300 ±
0,730
4,128 ±
0,898
4,200 ±
0,520
20-29
93
Estatística Valor
F
de p
0,274
4,145 ±
0,621
30-39 60 3,975 ±
0,866
0,761
40-49 71 4,158 ±
0,711
50-59 22 4,010 ±
0,665
60-77 14 4,027 ±
0,543
ANOVA oneway (nível de significância de 5%)
0,895
0,485
Em relação à presença de dentes,
não se observou uma relação direta entre maior espessura da cortical com um
maior número de dentes presentes (Tabela 3).
Tabela 3 - Espessura das corticais nos lados direito e esquerdo da mandíbula, de acordo com o número
de dentes presentes na arcada inferior
Dentes
N
presentes
Lado Direito
0
4
e 59 anos, voltando a apresentar aumen-
1-3
10
to após os 60 anos (Tabela 2).
4-7
74
mais de 7
172
Média ±
DP
4,028 ±
0,531
4,256 ±
0,570
4,239 ±
0,789
4,281 ±
0,707
Estatística
F
Valor
de p
0,204
0,984
Lado Esquerdo
0
4
3,787 ±
0,169
1-3
5
4,414 ±
0,902
0,441
0,481
4-7
80
4,034 ±
0,631
mais de 7
171 4,116 ±
0,711
ANOVA oneway (nível de significância de 5%)
60
Revista ABRO, v.12, n.2, p.57-62, jul./dez. 2011.
DISCUSSÃO
direito e esquerdo, sendo a média da
Nesta pesquisa foi realizada a
espessura cortical do lado direito da
medida da espessura da cortical mandi-
mandíbula superior à média do lado es-
bular dos lados direito e esquerdo em
querdo, ao contrário do estudo de Ben-
radiografias panorâmicas. Os dados ob-
son, Prihoda, Glass, onde essa diferença
tidos foram comparados à faixa etária,
não foi encontrada8.
sexo e número de dentes presentes, não
A utilização de radiografias bu-
sendo encontrada diferença estatistica-
cais como auxiliares para o diagnóstico
mente significante entre a espessura da
de pacientes suscetíveis à osteoporose
cortical mandibular e os grupos de idade,
pode ser considerada uma ferramenta
ou entre homens e mulheres ou quanti-
promissora quanto à sua facilidade de
dade de dentes presentes. Diferente-
execução e baixo custo. Esta pesquisa
mente destes achados, Ledgerton et al.
focou-se em medir espessura da cortical
verificaram mudanças nos índices radi-
mandibular em radiografias panorâmi-
omorfométricos relativas à idade, vali-
cas, sem os dados clínicos dos pacien-
dando seu uso na identificação de oste-
tes, com a finalidade de definir uma rela-
3
openia . Ardakani e Niafar encontraram
ção entre estas medidas e perdas ós-
diferença estatisticamente significante
seas relativas à idade, sexo e número de
entre a espessura da cortical mandibular
dentes presentes. Estudos onde os da-
e a idade dos pacientes avaliados, con-
dos encontrados nas radiografias pos-
seguindo identificar processo de osteo-
sam ser comparados às características
porose por radiografia panorâmica nas
clínicas dos pacientes devem ser reali-
2
pacientes avaliadas . Para Dutra et al. a
zados a fim de confirmar a relação entre
espessura da cortical mandibular é alta-
perdas ósseas visualizadas em radiogra-
mente influenciada pela idade7. Diferen-
fias panorâmicas e osteoporose.
ça estatisticamente significante também
CONCLUSÃO
foi encontrada por Benson, Prihoda,
Glass na espessura da cortical mandibu-
No presente estudo, não foram
lar quando comparada em relação a se-
encontradas diferenças estatisticamente
xo e idade8.
significantes entre a espessura das cor-
Nesta pesquisa, quando se com-
ticais mandibulares quando relacionadas
parou a espessura da cortical entre os
a faixa etária, sexo e número de dentes
dois lados da mandíbula, foi constatada
presentes nas radiografias panorâmicas
diferença entre as espessuras nos lados
analisadas.
Revista ABRO, v.12, n.2, p.57-62, jul./dez. 2011
61
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Professora Dra.
ção neste trabalho.
Nilza Pereira da Costa por sua contribui______________________________________________________________________________
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.Karayianni K, Horner K, Mitsea A, Berkas
L, Mastoris M, Jacobs R, et al. Accuracy in
osteoporosis diagnosis of a combination of
mandibular cortical width measurement on
dental panoramic radiographs and a clinical
risk index (OSIRIS): the OSTEODENT project. Bone. 2007 Jan;40(1):223-229.
2.Ardakani FE, Niafar N. Evaluation of
changes in the mandibular angular cortex
using panoramic images. J Contemp Dent
Pract. 2004 Aug 15;5(3):1-15.
3.Ledgerton D, Horner K, Devlin H,
Worthington H. Radiomorphometric indices
of the mandible in a British female population.
Dentomaxillofac
Radiol.
1999
May;28(3):173-181.
4.Langlais R, Langland OE. Diagnostic imaging of the jaws. 5th ed. London: Williams &
Wilkins; 1995.
62
5.Wood NK, Goaz PW. Differential diagnosis
of oral and maxillofacial lesion. 5th ed. New
York: Mosby; 1997.
6.Taguchi A, Tsuda M, Ohtsuka M, Kodama
I, Sanada M, Nakamoto T, et al. Use of dental panoramic radiographs in identifying
younger postmenopausal women with osteoporosis. Osteoporos Int. 2006;17(3):387394.
7.Dutra V, Devlin H, Susin C, Yang J, Horner
K, Fernandes AR. Mandibular
morphological
changes in low bone mass edentulous females: evaluation of panoramic radiographs.
Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol
Endod. 2006 Nov;102(5):663-668.
8.Benson BW, Prihoda TJ, Glass BJ. Variations in adult cortical bone mass as measured by a panoramic mandibular index. Oral
Surg Oral Med Oral Pathol. 1991
Mar;71(3):349-356.
Revista ABRO, v.12, n.2, p.57-62, jul./dez. 2011.
Download