ARTIGO CIENTÍFICO Abordagem odontológica de pacientes com risco de endocardite: um estudo de intervenção Approach of dental patients with risk of endocarditis: an intervention study RESUMO Objetivo: determinar a percepção dos Cirurgiões-dentistas da Estratégia de Saúde da Família do município de Campina Grande-PB na abordagem de pacientes com risco de endocardite bacteriana. Material e método: foi um estudo de intervenção “antes e após”, no qual participaram 33 profissionais. Utilizou-se um formulário semi-estruturado contendo 6 questões sobre o assunto, aplicados em dois momentos, antes e após palestra informativa, sendo esta etapa realizada após 30 dias. O teste estatístico usado foi o McNemar com o nível de significância de 5%. Resultados: de uma maneira geral, os profissionais tinham conhecimento do conceito da endocardite, sendo este elevado após palestra (97% x 100%). O percentual de profissionais que interage com os médicos foi alto e não se alterou após a palestra (72,7%). O regime profilático foi descrito corretamente, nas duas etapas da pesquisa por 39,4% e 90,9%, respectivamente, dos profissionais. As condições necessárias para a administração de antimicrobianos foi elevada de 48,5% para 90%, no segundo questionamento. Conclusão: a palestra informativa aumentou o conhecimento dos profissionais sobre o assunto, e, a universidade, como formadora de opinião deve participar da educação continuada dos profissionais contribuindo para a resolução de nós críticos vivenciados pelos serviços locais de saúde. Erica Manuela do Nascimento* Madhiane Farias Santos* Tássia Cristina de Almeida Pinto** Sérgio D’Ávila Lins Bezerra Cavalcanti*** Luciana de Barros Correia Fontes*** Ana Flávia Granville-Garcia*** * CD, Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual da Paraíba ** CD, Mestranda em Clínica Odontológica, Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual da Paraíba *** CD, Me, Dr, Professor, Programa de Pós-Graduação de Odontologia, Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual da Paraíba Palavras-chave: Endocardite; Antibioticoprofilaxia; Odontologia; Programa Saúde da Família. ABSTRACT Aim: determine the perception of dentists of the Family Health Strategy Program (Federal Government) in Campina Grande-PB in the approach to patients with risk for bacterial endocarditis. Methodology: it was a "before and after" intervention study in which 33 professionals were interviewed. We used a semi-structured questionnaire containing 14 questions on the subject, applied on two occasions, before and after an informative lecture, this step being performed after 30 days. The statistical test used was the McNemar test with a significance level of 5%. Results: in general, professionals were aware of the concept of endocarditis, which was higher after the lecture (97% versus 100%). The percentage of professionals who interacted with doctors was high and did not change after the lecture (72.7%). The prophylactic regimen was described properly in both interviews, by 39.4% and 90.9% of respondents, respectively. The needed conditions for the administration of antibiotics was increased from 48.5% to 90%. Conclusion: the informative lecture increased the knowledge of professionals on the subject and the university, as an opinion maker, must participate in continuing education of professionals contributing to the resolution of critical problems experienced by local health services. Keywords: Endocarditis; Antibiotic Prophylaxis; Dentistry; Family Health Program. Odonto 2011; 19 (37): 107-116 Endereço para correspondência: Ana Flávia Granville-Garcia R. Capitão João Alves Lira, 1325/410, Bela Vista, Campina Grande, Paraíba, Brasil, CEP: 58428-800 E-mail: [email protected] Enviado: 20/02/2010 Aceito: 17/10/2010 107 Nascimento et al. INTRODUÇÃO A avaliação do paciente de uma maneira integrada passou a ser consenso em toda a área odontológica. Diante dessa aceitação, valorizou-se o estado sistêmico do paciente, uma vez que diversos distúrbios podem interferir ou influenciar no tratamento odontológico proposto, comprometendo o bem estar do paciente1. Isto tem estimulado ou obrigado o Cirurgião-dentista (CD) a buscar novos conhecimentos para que o atendimento destes pacientes seja realizado com maior segurança. Neste sentido, há pacientes considerados especiais do ponto de vista odontológico, os quais necessitam de cuidados diferenciados. Entre estes estão os pacientes com risco de desenvolvimento de endocardite. A endocardite é uma doença em que agentes infecciosos invadem as superfícies endocárdicas, produzindo inflamação e danos2. A introdução de bactérias na corrente sanguínea pode levar a uma condição transitória chamada bacteremia, e, neste episódio, bactérias colonizam tecidos cardíacos previamente comprometidos, causando infecção local e, por consequência, a ocorrência da endocardite bacteriana3. Qualquer procedimento que cause injúria pode produzir bacteremia transitória e levar pacientes de alto risco a desenvolver endocardite bacteriana4. O desenvolvimento desta patologia pode estar relacionado a procedimentos odontológicos invasivos em determinados pacientes com condições cardíacas diversas, a saber: válvulas cardíacas protéticas, doenças cardíacas congênitas, endocardite bacteriana prévia, disfunção valvular adquirida, prolapso de válvula mitral com regurgitação valvular, entre outros5. Os estreptococos e estafilococos são responsáveis pela maioria dos casos de endocardite bacteriana6 e substancial mortalidade ocorre devido a esta doença, portanto a prevenção primária sempre que possível é muito importante 7-9. Como método de prevenção, a profilaxia antibiótica tem sido recomendada há quase cinco décadas para pacientes de risco que se submetem a tratamento odontológico 4. Neste sentido, os procedimentos que requerem a profilaxia antibiótica são: extração, reimplantes dentais, cirurgias periodontais, instrumentação endodôntica, etc.5,10. Assim, cabe ao Cirurgião-dentista realizar um rigoroso levantamento da história médica dos seus pacientes, a fim de determinar de maneira consciente os casos de indicação do regime profilático11. Devido à importância do assunto em questão, o presente estudo tem o objetivo de avaliar a percepção do Cirurgião-dentista da Estratégia de Saúde da Família do município de Campina Grande-PB, na abordagem de pacientes com risco de desenvolvimento de endocardite, antes e após palestra informativa. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizada uma pesquisa de intervenção “antes e após” com 33 dos 35 Cirurgiões-dentistas das Unidades Básicas de Saúde da Estratégia de Saúde da Família do Município de Campina Grande-PB. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário auto-aplicável semi-estruturado com 6 perguntas, entre dezembro de 2009 a fevereiro de 2010. No momento inicial, foi explicada a finalidade da pesquisa, sendo então solicitada à participação do profissional por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Odonto 2011; 19 (37): 107-116 108 Abordagem odontológica de pacientes com risco de endocardite: um estudo de intervenção A aplicação dos questionários foi feita em dois momentos, antes e após palestra informativa. Na primeira etapa o profissional respondeu as perguntas e logo após, foi ministrada uma palestra de 10 minutos com informações com abordagem sobre o risco de desenvolvimento de endocardite. Após sanar as dúvidas dos profissionais, foi entregue uma cartilha e um banner explicativo sobre a temática abordada. Após 30 dias, os questionários foram aplicados novamente, e desta forma o impacto da intervenção foi observado. A fidedignidade das respostas foi testada pelo método de validação de “face” em 10% dos participantes da pesquisa. Nesse método, o pesquisador solicita aos tomadores de decisão que explicitem, com suas próprias palavras, o que entenderam sobre cada pergunta12. Para análise dos dados, utilizou-se como técnica de estatística inferencial, o teste de McNemar, com margem de erro de 5.0%13,14. Nas questões de múltipla escolha poderia haver uma ou até três respostas corretas, assim sendo, foi considerado correto quando o profissional respondeu as 3 corretas, incompleta quando acertou até 2 e incorreta quando errava. Previamente a realização da coleta dos dados este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (CAAE: 0461.0.133.000-09). RESULTADOS Na tabela 1 são apresentados os resultados relativos à caracterização amostral. Desta tabela destaca-se que: a maioria (82%, n=27) era do sexo feminino; um pouco mais da metade tinha até 10 anos de formado (57,6%, n=19); 87,9% (n=29) eram especialistas, sendo a especialização mais freqüente a de Saúde Coletiva (37,9%, n=11). Tabela 1. Caracterização Amostral. Campina Grande-PB. 2010. Variável N % Masculino 6 18 Feminino 27 82 Até 10 19 57,6 Mais de 10 14 42,4 Clínico geral 4 12,1 Especialista 29 87,9 33 100,0 Saúde Coletiva 11 37,9 Saúde da Família 10 34,5 Dentística 5 17,2 Endodontia 3 10,3 Ortodontia 3 10,3 Especialidade em Prótese 2 6,9 Odontopediatria 2 6,9 Implantodontia 1 3,4 Sexo Tempo de formado (anos) Categoria TOTAL Especialidade BASE(1) 29 (1): Considerando que um mesmo pesquisado pode ter mais de uma especialidade, registra-se a base (número de especialistas) para o cálculo dos percentuais e não o total. Odonto 2011; 19 (37): 107-116 109 Nascimento et al. Os resultados a seguir são relativos às respostas oferecidas pelos participantes da pesquisa em relação ao conhecimento sobre endocardite, antes e após palestra informativa (primeira e segunda visita, respectivamente). Na tabela 2 são apresentados os resultados relativos ao conceito de endocardite, verificando-se um elevado percentual de profissionais conhecedores do assunto, com aumento do número daqueles que afirmaram saber o conceito da doença (97% e 100%), entretanto não foi observada diferença estatisticamente significante entre a explicação da definição, entre os dois momentos (63,6% x 81,4%, p= 0,180); a interação entre o Cirurgião-dentista e o médico cardiologista (72,7% x 72,7%, p= 1,000) e as condições cardíacas de risco para o desenvolvimento de endocardite (84,8% x 100,0%). De uma forma geral verificou-se um aumento de respostas corretas, após a segunda visita, porém sem diferença estatisticamente significante nas questões analisadas. A única resposta que se manteve inalterada foi a relacionada à troca de informações com o médico cardiologista antes de iniciar o tratamento de pacientes com doença vascular. Tabela 2. Avaliação das questões relacionadas com a endocardite segundo a visita. Tabela de erros e acertos. Campina Grande - PB. 2010. Variável Primeira N % Visita Segunda N % Valor de p Você sabe o que é endocardite bacteriana? Sim Não 32 1 97,0 3,0 33 - 100,0 - ** 21 12 63,6 36,4 27 6 81,4 18,2 p(1) = 0,180 24 9 72,7 27,3 24 9 72,7 27,3 p(1) = 1,000 28 5 33 84,8 15,2 100,0 33 33 100,0 100,0 ** Se sim, então explique: Certo Errado Você troca informações com o médico cardiologista antes de iniciar o tratamento de um paciente portador de doença vascular? Sim Não Qual das seguintes condições cardíacas pode ser de maior risco para a endocardite? Certo Errado TOTAL (*): Diferença significativa a 5,0%. (**): Não foi possível determinar devido à ausência de categorias. (1): Através do teste de McNemar Na tabela 3 são abordadas informações sobre o regime profilático da endocardite bacteriana, sendo observado elevado aumento do número de respostas corretas no segundo momento da pesquisa (39,4% x 90,9%). De uma forma geral observou-se um número maior de acertos na segunda visita, com diferença significativa quando observado a administração de medicamentos em pacientes com alergia a penicilina (6,1% x 87,9%, p< 0, 001). Odonto 2011; 19 (37): 107-116 110 Abordagem odontológica de pacientes com risco de endocardite: um estudo de intervenção Tabela 3. Regime profilático das endocardites bacterianas, antes e após palestra informativa. Tabela de erros e acertos. Campina Grande-PB. 2010. Visita Variável Primeira Segunda % Valor de p N % N 13 39,4 30 90,9 6 14 18,2 42,4 3 - 9,1 - 2 6,1 29 87,9 Incompleto 12 36,4 3 9,1 Errado 19 57,6 1 3,0 TOTAL 33 100,0 33 100,0 Qual é regime profilático recomendado para a prevenção da endocardite bacteriana em adultos? Certo Incompleto Errado Qual é o regime profilático recomendado pela para a prevenção da endocardite bacteriana em adultos, para pacientes com história de alergia às penicilinas? Certo ** p(1) <0,001* (*): Diferença significativa à 5,0%. (**): Não foi possível determinar devido à ausência de categorias. (1): Através do teste de McNemar. Na tabela 4 são descritos os resultados referentes aos procedimentos nos quais é necessária a realização de profilaxia antibiótica. Nesta questão, as repostas fornecidas pós-palestra informativa apresentaram um maior número de acertos (48,5 % x 97,0%). Tabela 4. Procedimentos em que é realizada a profilaxia antibiótica. Tabela de erros e acertos. Campina Grande - PB. 2010. Visita Variável Primeira Valor de p Segunda N % n % Certo 16 48,5 32 97,0 Incompleto 8 24,2 - - Errado 9 27,3 1 3,0 TOTAL 33 100,0 33 100,0 Em quais dos procedimentos odontológicos abaixo você costuma prescrever antibioticoterapia profilática para endocardite bacteriana? ** (**): Não foi possível determinar devido à ausência de categorias. (1): Através do teste de McNemar DISCUSSÃO A odontologia tem desempenhado um papel importante na detecção e prevenção de doenças sistêmicas, visto que várias enfermidades podem ter origem ou repercussão oral. Nesta prática, complicações significativas podem ser evitadas ou minimizadas no atendimento adequado de pacientes com risco de endocardite. Na literatura, há polêmica sobre a ocorrência de endocardites provenientes ou não de tratamentos odontológicos, ou mesmo da eficiência da profilaxia antibiótica na prevenção desta patologia, entretanto, apesar destas incertezas, como medida Odonto 2011; 19 (37): 107-116 111 Nascimento et al. preventiva a American Heart Association (AHA) disponibiliza o protocolo profilático para pacientes de risco, o qual vem sendo seguido para o atendimento destes4,15,16. Diante desta perspectiva, a presente pesquisa foi importante, uma vez que não apenas avaliou a percepção dos Cirurgiões-dentistas da Estratégia de Saúde da Família de Campina Grande-PB, mas também forneceu instruções básicas para o atendimento odontológico dos pacientes com risco de endocardite. O perfil de trabalho da Estratégia de Saúde da Família foi essencial para a escolha dos Cirurgiões-dentistas que a compõem para fazer parte desta pesquisa. Uma das características da estratégia de saúde da família é a integração da equipe, levando os profissionais a discutirem sobre os conhecimentos, complicações e a introdução de novos hábitos na população, diferentemente do modelo biomédico tradicional, que induzia o profissional a isolar-se no seu núcleo de competência. Por isso, é essencial o trabalho em equipe multidisciplinar, pois propõe uma grande diversidade das ações e a busca permanente do consenso, restaurando as múltiplas dimensões da saúde17. Foram pesquisados 33 Cirurgiões-dentistas dos 35 pertencentes à Estratégia de Saúde da Família do município. A maioria apresentava uma ou mais especializações (Tab. 1), demonstrando o interesse destes profissionais por atualizações, provavelmente por este motivo, o perfil educativo desta pesquisa refletiu de forma positiva na receptividade dos profissionais. Dois profissionais não foram encontrados, após três tentativas por motivo de férias ou licença médica. A endocardite é um processo infeccioso na superfície do endocárdio que apesar de incomum apresenta elevado índice (30%) de mortalidade 7. Bactérias orais parecem exercer papel importante como agente etiológico, igualmente, a prevenção desta enfermidade é essencial pelo Cirurgião-dentista4,18,19,20. Na primeira questão os profissionais foram indagados sobre o significado da endocardite bacteriana e apenas um profissional respondeu negativamente (Tab. 2). Resultado similar foi obtido por Coutinho et al.21 na sua pesquisa com Cirurgiõesdentistas dos hospitais públicos do Rio de Janeiro-RJ. Na segunda visita, todos responderam positivamente. Solicitou-se aos sujeitos que relatassem o que era endocardite bacteriana e embora a maioria tenha respondido que tinham conhecimento deste assunto na questão anterior, 36,4% conceituaram erroneamente esta questão (Tab. 2). Após a palestra informativa este percentual caiu para 18,2% (Tab. 2), porém, sem significância estatística. Demonstrando uma dificuldade de alguns profissionais em explicitarem com suas próprias palavras o que foi questionado. De acordo com Rocha et al.2, em seus estudos, fatores como questões éticas e o desconhecimento do estado atual de saúde do paciente, fazem com que Cirurgiõesdentistas solicitem informações ao cardiologista ou médico responsável. Nesta questão, a maioria dos respondentes teve consciência deste fato, uma vez que 72,7% (Tab. 2), tanto na primeira etapa da pesquisa quanto na segunda, afirmaram que trocam informações com o cardiologista antes de atendimentos de pacientes com doenças vasculares. Esta preocupação também foi mencionada em estudos similares21,22. Fatores como alterações valvares significativas, doenças cardíacas congênitas, próteses valvares, “shunts” sistêmicos pulmonares construídos cirurgicamente são importantes para o crescimento de bactérias e desenvolvimento da endocardite. Em adição, são considerados de risco pacientes com histórico de endocardite infecciosa4,15,20. Odonto 2011; 19 (37): 107-116 112 Abordagem odontológica de pacientes com risco de endocardite: um estudo de intervenção Seguindo esta linha de raciocínio, foi questionado aos profissionais sobre a condição de maior risco para a endocardite, havendo um elevado percentual de acertos tanto na primeira como na segunda visita, e a resposta mais citada foram os portadores de próteses valvares (Tab. 2), estando resultados estão de acordo com outros estudos2,2123. Autores questionam sobre a carência de estudos randomizados controlados em humanos que demonstrem a eficiência da profilaxia antibiótica contra a endocardite, ou mesmo se a bacteremia transitória decorrente dos procedimentos odontológicos pode ser suficiente para o desenvolvimento deste tipo de complicação. Defende-se ainda que o uso diário de fio dental e a escovação dental podem induzir a maiores riscos de endocardite do que uma simples extração dental4,19,15. Estes dados remetem a discussão do uso indiscriminado de antibióticos de forma a contribuir para o desenvolvimento de resistência bacteriana19, desta forma a prescrição deste tipo de medicamento deve ser feita de forma oportuna e após análise criteriosa da real necessidade da profilaxia diante do procedimento a ser realizado. Sobre este assunto, Basílio et al.24 e Lauber et al.22 defendem que o uso corrente de antibioticoterapia em tais casos necessita de um conhecimento profundo de farmacologia, uma vez que o emprego incorreto pode aumentar a morbidade do paciente. Em que pese estes questionamentos, e na ausência de estudos elucidativos, a prescrição antibiótica tem sido adotada como prática comum antes de atendimentos odontológicos de risco. Salienta-se que mesmo utilizando estes medicamentos de forma racional é preciso que os profissionais estejam atentos aos seguintes sintomas: febre inexplicada, mialgia, letargia, mal estar, nefrite, artralgia, petéquias, emagrecimento, infartos renais e cerebrais. Estes são sinais e sintomas de endocardite que podem surgir mesmo após profilaxia antibiótica25. Os medicamentos de eleição devem ter potencial bactericida e ser dirigidos a bactérias comumente observadas na cavidade oral, em adição, devem apresentar intervalos apropriados que garantam uma concentração máxima no sangue no período de atendimento26. As recomendações atuais da American Heart Association (2007) indicam a amoxilina em uma única dose de 2g por via oral, uma hora antes do procedimento, sendo a segunda dosagem, anteriormente recomendada, desnecessária15. Este medicamento é de escolha por ser mais bem absorvido pelo trato gastrointestinal e fornecer concentrações séricas mais elevadas por um período maior de tempo27. Em pacientes alérgicos à penicilina, recomenda-se a clindamicina (600mg) ou cefalexina (2g) por via oral ou azitromicina ou ainda claritromicina 500mg uma hora antes do procedimento15. Nestas questões, observou-se um grande número de acertos na primeira etapa da pesquisa, porém na segunda constataram-se resultados superiores (Tab. 3). Estes achados são corroborados por Aranega et al.10 e Lauber et al.22. É importante verificar que cerca de 10 profissionais assinalaram a eritromicina como antibiótico de segunda escolha (pacientes alérgicos a penicilina), contudo este medicamento atinge o pico máximo após 2 horas de administração, sendo essencialmente bacteriostático27 (Tab. 3). Após palestra informativa (segunda fase da pesquisa) nenhum dos profissionais optou por este medicamento e o percentual de acertos apresentou diferença significativa nesta questão (p< 0, 001). Os tipos de atendimentos odontológicos nos quais é recomendada a profilaxia prévia incluem: exodontia; procedimentos periodontais como: cirurgia, raspagem, polimento e alisamento radicular; colocação de implantes e reimplantes dentais; Odonto 2011; 19 (37): 107-116 113 Nascimento et al. instrumentação endodôntica ou cirurgia parendodôntica; colocação de bandas ortodônticas; preparo para próteses subgengivais; anestesia intraligamentar e profilaxia ou implantes com sangramento espontâneo4,28. Um percentual de 48,5% indicou as modalidades de atendimento corretamente, porém, este percentual aumentou significativamente da segunda etapa da pesquisa, evidenciando, como nas questões anteriores mais uma vez os efeitos positivos da palestra educativa (Tab. 4). A partir dos resultados desta pesquisa verificou-se que, a palestra informativa foi um importante instrumento para a melhoria dos conhecimentos sobre o atendimento de pacientes com endocardite bacteriana. Desta forma, estudos com este perfil devem ser realizados com maior frequência, com o intuito de promover uma educação continuada. A universidade como formadora de opinião e com o intuito de influenciar positivamente a assistência à saúde da comunidade deve assumir este papel tornando os profissionais comprometidos com as reais necessidades da população e desta forma contribuir para a resolução de nós críticos vivenciados pelos serviços locais de saúde. CONCLUSÃO Os profissionais têm conhecimento sobre o conceito de endocardite bacteriana, etiologia e profilaxia antibiótica em pacientes de risco sendo que após a palestra informativa aumentou o número de respostas corretas; O percentual de profissionais que interage com o médico antes do atendimento de pacientes de risco de endocardite é elevado - não sendo alterado após palestra informativa; Os profissionais têm pouco conhecimento sobre os procedimentos odontológicos que necessitam de profilaxia antibiótica, havendo considerável melhora após palestra informativa. REFERÊNCIAS 1. Menin C, Bortoloto FG, Gentini RF, Farah GJ, Filho LW, Iwaki LCV et al. Avaliação de pacientes hipertensos na clinica de cirurgia do terceiro ano do curso de odontologia do CESUMAR. ICC. 2006; 8(2): 147-156. 2. Rocha LMA, Oliveira PRD, Santos PB, Jesus LA, Stefani CM. Conhecimentos e Condutas para Prevenção da Endocardite Infecciosa entre Cirurgiões-Dentistas e Acadêmicos de Odontologia. 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