1 CURSO DE INTRODUÇÃO À LITERATURA

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CURSO DE INTRODUÇÃO À LITERATURA APÓCRIFA DO NT
(Pe. J. R. Lucas Prazer)
1. CRONOLOGIA DA HISTÓRIA BÍBLICA DO ANTIGO TESTAMENTO
1.1. O Mundo Antigo
4000 a.C.: - Origem da escrita: A história propriamente dita exige documentação através das
inscrições contemporâneas que podem ser lidas por nós. Ou seja, pode-se falar de História, somente
a partir de registros escritos. Isto é verificado pela primeira vez no início do terceiro milênio a.C.
Os criadores da civilização na Baixa Mesopotâmia, no quarto milênio, foram os sumérios, povo
cuja origem é ainda desconhecida. Eles inventaram escrita cuneiforme. Os acadianos, um povo
semita, habitaram a Mesopotâmia, ao mesmo tempo que os sumérios, sucederam à cultura e
religião sumérias e as adaptaram, e, embora sua língua fosse completamente diferente, tomaram
eles dos sumérios a escrita silábica cuneiforme.
2180 a.C.: O Império Acadiano chegou ao fim, pela ação de um povo bárbaro: os “gutos”.
2060 a.C.: Os sumérios tomam o poder dos “gutos”. Há um renascimento da cultura suméria, sob
os reis da terceira dinastia de Ur. A Palestina sofreu o impacto da invasão de povos seminômades,
durante a qual a maioria das cidades cananéias foram destruídas.
2000 a.C.-1750 a.C.: Grupos seminômades se infiltraram na Palestina, e começaram a
estabelecer-se ao ocidente da Palestina e ao norte da Transjordânia.
1.2. História da Salvação
1.850 a.C. - ABRAÃO: A história bíblica, em sentido restrito, começou com Abraão. Isto significa
que Israel surgiu tardiamente, em relação a outros povos. A evidência contemporânea demonstra
que as tradições relativas a Abraão, Isaac e Jacó (e seus 12 filhos: Rúben, Simeão, Levi, Judá,
Zabulon, Issacar, Dã, Gad, Aser, Neftali, José e Benjamim) não são apenas prováveis; elas
possuem base sólida.
1250 a.C. - O ÊXODO: Sugere-se que os hebreus se estabeleceram no Egito durante o período dos
hicsos. O êxodo ocorreu provavelmente entre 1250 a.C. e 1230 a.C. A tal incerteza quanto à data,
podemos acrescentar que é incerto também o itinerário exato dos israelitas. Assim, se não estamos
certos nem da data exata nem da exata localização, estamos seguros de que o próprio êxodo foi e
continuou a ser o fato central da história de Israel.
1220 a.C. - CONQUISTA DA TERRA: Os capítulos dez e onze de Josué associam a conquista de
todo o sul e a conquista de todo o norte da Palestina com duas expedições de reis cananeus e com
duas batalhas em Gabaon e "junto às águas de Merom". Todavia, trata-se de um quadro idealizado:
a Josué, o conquistador, são atribuídos os sucessos atingidos por outros em tempos posteriores. A
conquista teria acontecido entre 1220 a.C. e 1200 a.C.
1200 a.C. – TRIBALISMO - Juízes: O primitivo Israel era uma confederação de doze tribos
unidas em aliança com Iahweh. Não havia governo central e as várias tribos gozavam completa
independência, visto que a sociedade tribal permanecia numa base patriarcal. O período dos Juízes
não cobre mais do que um século e meio.
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1030 a.C. - MONARQUIA: Samue1 advertiu o povo acerca do preço que teria de pagar por um
rei. O povo ainda persistia em seu desejo, de modo que Iahweh falou a Samuel para atender a seu
pedido. A sorte caiu em Saul, que reinou até 1010 a.C.
1000 a.C. – REINADO DE DAVI: apogeu do reino: Davi conquista Jerusalém, e unifica o reino.
Grande desenvolvimento econômico, bélico, social, político e cultural. Inicio da grafação (escrita)
da Bíblia.
970 a.C. - REINADO DE SALOMÃO: Construção do templo. Inicio do declínio do reino
unificado.
931 a.C. – CISMA: O reino é dividido: Israel, Reino do Norte (Capital Samaria), e Judá, Reino do
Sul (Capital Jerusalém).
722 a.C. – QUEDA DO REINO DO NORTE: O Império Assírio (Sargão II) toma a Samaria,
deporta os filhos de Israel, e instala estrangeiros, e promove o sincretismo religioso. Judá se tornou
um vassalo da Assíria. O Império Assírio alcançou o seu apogeu sob Assurbanipal, mas seu
declínio foi extremamente rápido. Em 652 a.C., o irmão do rei, Samas-sum-ukim, liderou uma
revolta na Babilônia e ganhou o apoio dos elamitas; a Babilônia foi tomada em 648 a.C. por
Assurbanipal, que. em seguida, atacou o Elam. A data da morte de Assurbanipal é incerta, mas é
provável que tenha ocorrido em 632 a.C. O maior dos reis assírios e quase o último deles é
particularmente lembrado por causa de sua grande biblioteca, descoberta nas escavações de Nínive.
622 a.C. – REFORMA DE JOSIAS: No Sul, Josias inicia uma Reforma religiosa. No Templo é
encontrado o Livro da Lei (Primeira versão do Deuteronômio).
587 a.C. – QUEDA DO REINO DO SUL - EXÍLIO: Nabucodonosor invade Jerusalém, derruba
os muros, incendeia a cidade, destrói o Templo, confisca os vasos sagrados, e deporta os
sobreviventes (elite) para a Babilônia. Houve três deportações: 597; 597 e 582 a.C. Cerca de 4.600
homens somando-se seus familiares, esse número atinge, aproximadamente, no máximo, 20.000
pessoas.
538 a.C. –IMPÉRIO PERSA: Ciro era o soberano do pequeno reino de Ansã. Em 555 a.C., ele
rebelou-se; por volta de 550 a.C., tinha conquistado Ecbátana, capital de Astíages, e tinha assumido
o controle do Império Medo. Então conquistou a Babilônia ao preço de uma única batalha. Ciro foi
o senhor do maior império que o mundo tinha conhecido. Ciro foi um monarca esclarecido que
procurava ganhar o respeito e lealdade dos povos a ele submetidos. Ele foi particularmente
cuidadoso em respeitar as suscetibilidades religiosas de seus súditos e permitiu-lhes autonomia de
culto; permitiu até às pessoas que tinham sido deportadas pelos babilônios retomarem à sua pátria.
Tudo isso não significava enfraquecimento do poder político.
Havia paz por todo o Império Persa, mas Ciro foi morto numa campanha militar contra povos
nômades além de sua fronteira oriental.
333 a 63 a.C. - IMPÉRIO GREGO: Artaxerxes I perdera o Egito e tinha quase perdido o trono
para o seu irmão mais novo, Ciro; mas seu sucessor, Artaxerxes III Ocos (358-338 a.C. ), vigoroso
e cruel, reconquistou o Egito em 342 a.C. Contudo, a despeito das aparências, o Império Persa
estava chegando ao fim. Artaxerxes III morreu envenenado e foi substituído por seu filho Arses
(338-336 a.C.), menor de idade, que, por sua vez, foi envenenado. O rei seguinte, Dario III
Codomano (336331 a.C.), subiu ao trono no mesmo ano em que Alexandre se tornou rei da
Macedônia. Alexandre Magno sucedeu a seu pai, Filipe, em 336 a.C. Em 334 a.C., começou sua
campanha militar e assumiu o controle da Ásia Menor. A Palestina estava agora sob seu controle.
Em 331 a.C., Alexandre marchou em direção ao centro do Império Persa e levou-o ao fim. Em 326
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a.C., tinha avançado para a índia, além do Indo, mas suas tropas se recusaram a prosseguir. Em 323
a.C., com a idade de trinta e três anos, adoeceu e morreu em Babilônia. Sua breve carreira tinha
mudado todo o modelo e vida do Oriente, mudança que, por fim, devia afetar a história dos judeus.
63 a.C. a 135 a.C. – IMPÉRIO ROMANO: Em 66 a.C., o Ponto e a Bitínia se tornam províncias
romanas. Jerusalém em 63 a.C. é conquistada por Pompeu.
2. SÍNTESE HISTÓRICA DOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO
2.1. INTRODUÇÃO: O cristianismo, mais do que a religião de Israel, não veio a existir num
vácuo. Ainda que uma coisa essencialmente nova, o Cristianismo é também um fenômeno do século
I d.C., e só pode ser totalmente compreendido na ambientação do mundo greco-romano.
A história romana é comumente dividida em três partes: o período dos reis; o período da República;
e o período do Império. Segundo o entendimento tradicional, Roma foi fundada em 753 a.C.; o
primeiro período ia daquele ano até o ano 510 a.C., quando Tarquinio, o Soberbo, último dos reis,
foi deposto. O período da República (509-27 a.C.) é a época em que Roma assumiu a sua posição
na Itália e depois no Mediterrâneo e, na qual, ganhou experiência política e administrativa e
aprendeu com a civilização de outros povos - em particular dos gregos. Os anos de 135 a.C em
diante foram um tempo de expansão comercial, mas de desordem política. O terceiro período, Roma
Imperial, data da ascensão de Augusto, em 27 a.C. É verdade que Augusto mesmo desejou ser
conhecido como “Príncipe” ou “primeiro cidadão”, evitando, cuidadosamente, o título de
Imperador; contudo, na realidade, o Império Romano começou com ele. Aqui, estamos
interessados apenas nos últimos anos da República e nos primeiros anos do Império I.
2.2. CRONOLOGIA DO IMPÉRIO ROMANO
66 a.C. - Pompeu, armado dos maiores poderes jamais possuídos por um general romano, marchou
para o Oriente. Conquistou a Asia Menor e conduziu suas tropas até os pés do Cáucaso e às costas
do mar Cáspio. Na primavera de 63 a.C., ele estava em Damasco e, no fim daquele mesmo ano,
sitiou e tomou Jerusalém, levando, assim, ao fim o último período da independência judaica.
61 a.C. - Celebrou-se seu o triunfo em Roma. A rivalidade entre ele e Júlio César (que,
entrementes, tinha conquistado a Gália) terminou em guerra civil em 49 a.C. César assumiu o
controle da Itália e Espanha e seguiu Pompeu até a Grécia; a batalha decisiva de Farsália, em 48
a.C., resultou na vitória completa de César. Então, em março, de 44 a.C., Júlio César foi
assassinado. Mais uma vez, houve guerra civil: Marco Antônio e o jovem Otávio (filho adotivo de
César), apoiados por Lépido, enfrentaram os conspiradores Brutus e Cássio, os quais foram
desastrosamente derrotados em Filipos, em 42 a.C. O Triunvirato, formado por Marco Antônio,
Otávio e Lépido, dividiu entre si os domínios romanos - mas logo Otávio assumiu o controle do
exército e do território de Lépido. O Ocidente decidiu-se por Otávio, enquanto, no Egito, Marco
Antônio envolvera-se com Cleópatra. Logo houve um conflito aberto e a frota de Marco Antônio foi
destruída na batalha de Actio, em 31 a.C. Marco Antônio e Cleópatra suicidaram-se, deixando
Otávio como único governante do mundo romano.
27 a.C. - Otávio recebeu do Senado o nome novo de “Augusto” e, até à sua morte em 14 d.C., foi o
governante do mais poderoso império que o mundo tinha conhecido. Ele restaurou a paz, a ordem e
a justiça por todo o Império. Seu benéfico governo parecia a maior bênção, em contraste com os
longos anos de conflito civil.
14-37 d.C. - Tibério sucede ao grande Augusto. Esse foi governante capaz e experimentado, mas
seu temperamento suspeitoso o levou, em seu último ano, a um reinado de terror.
37-41 d.C.- Calígula o sucede. Era depravado e reinou como um déspota e caprichoso. Por ocasião
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de seu assassínio, o relutante Cláudio tornou-se imperador (45-54 d.C.) e comprovou que era
governante competente.
54-68 d.C.- Nero sucedeu-lhe. Foi o primeiro grande perseguidor dos cristãos. Seu assassínio foi
seguido por um período de conflito civil e pelo aparecimento de imperadores efêmeros: Galba, Oto
e Vitélio. Naquele momento, ficou claro que o poder verdadeiro estava com o exército. As legiões
do Danúbio e do Oriente escolheram como imperador o general Vespasiano, então ocupado na
Palestina.
69-79 d.C. – Vespasiano revelou-se uma escolha feliz.
79-81 d.C. – Tito, seu filho e sucessor, reinou por dois anos apenas.
81-96 d.C.- Domiciano (filho de Tito): Os dias de Nero retornaram. Foi o segundo grande
perseguidor dos cristãos.
96-98 d.C. – Nerva, um advogado idoso, foi indicado pelo Senado, depois da morte de Domiciano.
Ele adotou como seu filho o hábil general Trajano - que de fato logo lhe sucedeu. O
98-117 d.C. – Trajano cujo reinado marcou nova era para Roma.
2.3. VISÃO GERAL
Por ocasião da morte de Augusto, o Império Romano, prolongando-se desde a Itália, abrangia a
Espanha, a Gália, grande parte da Germânia, os Balcãs, Ásia Menor, Síria e Palestina, Egito e o
norte da África. O Mediterrâneo tornara-se um lago romano, e a autoridade de Roma se estendia a
todas as suas costas. Durante o século I d.C., as legiões romanas a levaram para muito mais longe.
Por todo o Império, os diferentes grupos étnicos eram justapostos em vez de amalgamados;
características e tradições nacionais eram preservadas. Contudo, muitos contatos nas esferas
econômica, cultural e religiosa tenderam a compensar as diferenças. Nas cidades, a língua falada
mais comum era o grego koinê (comum ou corrente), mas nas áreas rurais as línguas nativas ainda
estavam em uso. O Império era dividido em províncias. A Palestina era governada por um
procurador, que estava sujeito ao legado da Síria. Uma vasta rede de estradas ligava as províncias
espalhadas pelo Império.
Uma característica da sociedade romana era o enorme número de escravos: havia quase tantos
escravos quantos cidadãos livres. Um escravo podia ser posto em liberdade por seu senhor ou pelo
estado e, assim, se tornava um homem livre, mas ele não se tornava, desse modo, um cidadão. Só os
cidadãos romanos gozavam os mais amplos direitos civis. Entre outros privilégios, eles eram
imunes de castigo corporal e não podiam ser executados por crucificação, se condenados à morte; e
tinham o direito de apelar para o tribunal de César. A cidadania romana podia ser concedida como
recompensa por serviços prestados ao Império, ou podia ser comprada (cf. At 22,25-28), e era
hereditária.
2.3.1. Tendências filosóficas
No mundo greco-romano, a metafísica de Platão e Aristóteles tinha perdido o interesse. Agora, a
ênfase era colocada sobre os problemas da vida humana, especialmente da conduta e felicidade do
indivíduo. Os filósofos do século I cristão eram, de fato, ecléticos (isto é, escolheram elementos de
uma variedade de sistemas filosóficos), mas o estoicismo e o epicurismo contribuíram mais para a
sua filosofia generalizada.
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2.3.1.1. Epicurismo tem sofrido de um equívoco sobre sua idéia ética. O fundador do sistema foi
Epicuro de Samos (342-270 a.C.), que, na verdade, fez do prazer o fim da vida; contudo, devemos
compreender o que ele queria dizer por prazer. Dois fatos devem ser notados: primeiro, que Epicuro
não se referia aos prazeres do momento, sensações individuais, mas ao prazer que permanece por
toda a vida; e, em segundo lugar, que o prazer. Para Epicuro, o prazer consistia antes na ausência da
dor, em vez de na satisfação positiva. Esse prazer deve ser encontrado principalmente na serenidade
da alma. Desde que o único prazer durável é a saúde do corpo e a tranqüilidade da alma,
moderação e autocontrole são necessários por um lado, e a fuga do envolvimento nos assuntos
políticos e públicos, por outro lado. Epicuro admitia a existência dos deuses, mas eles ficavam à
parte do mundo e eram indiferentes aos problemas humanos. Embora o interesse por Epicuro fosse
sempre limitado, mesmo no século I d.C., seus pontos de vista foram adotados por pensadores tais
como Lucrécio e Cícero, por poetas como Virgílio e Horácio, e sua influência continuou pelo
menos até o século seguinte.
2.3.1.2 Estoicismo: O fundador da escola estóica foi Zenão (336-264 a.C.). A influência do
estoicismo continuou depois de sua morte e foi a filosofia dominante no período greco-romano.
Visto que o estóico sincero era um homem de notável integridade moral, ele e o desafio da
autodisciplina e ascetismo exigidos pelo modo de vida estóico atraíam a muitos numa época de
prevalecentes padrões morais baixos na vida pública e privada. A divindade estóica é material; ela
existia desde a eternidade na forma de fogo primevo e, contudo, ela está na mente ou alma do
universo que emergiu dela. Deus, o Logos, é o princípio ativo que contém dentro de si as formas (as
“sementes”) de todas as coisas que devem existir. A alma do homem é parte do fogo divino que
veio até os homens em sua criação; a imortalidade pessoal não é possível, porque todas as almas
retomam ao fogo primevo na conflagração, quando o universo é consumido para renascer - o ciclo
continua eternamente. Visto que a alma humana é essencialmente una com o elemento divino, viver
de acordo com os mais altos ditames do próprio ser é viver em harmonia com o divino propósito e,
assim, atingir a virtude. A ética estóica é preponderantemente uma luta contra as paixões e afeições,
uma tentativa de alcançar um estado de liberdade moral e independência do exterior. Os estóicos
proclamavam a igualdade e fraternidade de todos os homens; ensinavam que, a superioridade está
apenas na prática da virtude e que só a virtude, acarretando ascetismo e autocontrole, pode trazer a
felicidade. Em resumo, um sistema filosófico tinha tomado alguma coisa do caráter de religião.
2.3.2. Tendências religiosas
2.3.2.1. As Religiões de Mistério: Mesmo antes da era helenística, a adoração tradicional dos
deuses do Olimpo, tinha declinado entre os gregos. Depois de Alexandre, sua influência, pelo
menos na mente dos homens cultos, aumentou pouco e, por fim, desapareceu completamente. A
atitude romana para com a religião nacional foi mais conservadora; contudo, no século I d.C.,
também, pelo menos na capital cosmopolita, ela teve de render-se a outras influências. De fato, os
homens estavam procurando alguma coisa que as religiões tradicionais não podiam oferecer:
sentimento religioso pessoal e a esperança da imortalidade. Por cultos mistéricos, quer-se significar
ritos sagrados pelos quais alguém era iniciado nos segredos religiosos e divinos; o conhecimento
desses segredos garantia a proteção do deus ou deusa da religião mistérica em questão e assegurava
a felicidade eterna do iniciado.
Os mistérios eleusinos tinham se desenvolvido em torno do mito de Deméter. Perséfone, filha de
Deméter, deusa da terra, tinha sido levada para o mundo inferior por Hades. Por meio da
intervenção de outros deuses, Perséfone foi restituída a sua mãe, mas devia retomar ao mundo
inferior durante quatro meses por ano. Os mistérios celebrados em Elêusis representavam a
enlutada Deméter e o feliz retorno de Perséfone - simbolizando o renascimento da natureza na
primavera. Originalmente, o culto de Deméter parece ter tido o propósito de garantir boas colheitas;
mas, mais tarde, o ciclo da vida e morte da natureza foi vista como um símbolo da vida e morte do
homem, e a participação nos mistérios eleusinos asseguraria vida nova num mundo além da morte.
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O mais antigo e mais popular dos cultos mistéricos helenísticos foi o de Dionísio, e no começo da
era cristã, os mistérios dionisíacos eram celebrados por todo o mundo greco-romano. Dionísio era o
deus do vinho. Seus devotos, especialmente mulheres, depois de um jejum e purificação
preparatórios, eram, por meio de cerimônias noturnas e da ingestão de vinho, tomados por um
frenesi “divino”. No enlevo de seu êxtase, conseguiam uma união mística com a divindade por um
momento, um prenúncio da eterna felicidade. O segredo da iniciação completa nos mistérios foi
bem guardado, e não conhecemos mais do que um esquema geral dessas religiões. Os mistérios
alimentavam uma crença numa vida além-túmulo e estimulavam o recurso a deuses “salvadores”, e
deram origem a um senso de unidade pessoal com a divindade.
2.3.2.2. O Culto ao Imperador: A noção de divindade dos reis era uma idéia antiga e comum no
Oriente. Alexandre, o Grande, verificou que seus súditos orientais (e egípcios) o consideravam
como um deus. A prática tinha mais dificuldade de encontrar um lugar em Roma, mas foi,
finalmente, usada como um valioso fator político. Na era helenística, a própria cidade de Roma
tinha alcançado o status de uma divindade e o culto da Dea Roma (“deusa Roma”) se desenvolveu.
No Oriente, foi logo acompanhado pelo Culto ao Imperador. Depois de sua morte em 44 a.C., Júlio
César, por decreto do Senado, foi declarado um dos divinos protetores do Estado. Augusto não
exigiu honras divinas em Roma, mas foi adorado como uma divindade no Oriente, onde templos
foram erigidos em sua honra (como o templo de Augusto construído por Herodes, o Grande, em
Sebaste, a Samaria restaurada. Imperadores posteriores exigiram abertamente honras divinas
durante sua vida. O culto do imperador assegurou um firme domínio e foi propagado em parte
alguma, mais entusiasticamente que na Ásia Menor. Nesses cultos, o Imperador romano era
aclamado “Salvador” e “Senhor”, títulos divinos.
2.3.3. O Mundo Judaico
2.3.3.1. A Palestina sob os romanos: A Dinastia Herodiana (37 a.C. - 4 d.C.). Embora Herodes,
O Grande, nunca tivesse recebido afeição ou até o respeito de seus súditos judaicos.Foi um
governante capaz e enérgico - pelo menos aos olhos dos romanos. Em relação a Roma, seu status
foi o de rex socius, ou “rei aliado”, gozando de autonomia e liberdade de tributo, mas sujeito a
Roma em assuntos de política externa e obrigado a fornecer tropas ao exército imperial em tempo
de guerra. O reinado de Herodes foi marcado por grandes construções que lhe permitira dar
expressão à sua admiração pelas coisas gregas e o capacitaram a expressar sua devoção a Augusto.
2.3.3.2. As Seitas e Partidos Religiosos judaicos
2.3.3.2.1. Fariseus. O movimento dos hasidim, do período dos Macabeus, sobreviveu, nos tempos
posteriores, em dois ramos: fariseus e essênios. Os fariseus emergiram durante o reinado de João
Hircano (135-104 a.C.). Como os hasidim antes deles, eles foram os campeões da Torah. Além
disso, sua atitude independente para com as autoridades romanas apelava ao povo. Em geral, os
fariseus vieram da classe média. De acordo com Josefo, os membros do partido chegavam a 6.000
no tempo de Herodes. Enquanto enfatizavam a ação da Providência divina, eles também insistiam
na liberdade humana. Eles esperavam ansiosamente pelo estabelecimento do reino de Deus na terra,
e tinham uma viva esperança messiânica. Como teólogos morais, eram muito mais abertos e
progressistas que os saduceus. Por outro lado, a preocupação com as prescrições orais que eles
colocavam em pé de igualdade com a Lei escrita - podia e de fato levou ao legalismo e até a uma
casuística pueril. Eles tornaram a observância da Torah uma carga insuportável e desde que,
segundo o seu ponto de vista, a fidelidade a Deus era expressa através da fidelidade a toda a Torah
(escrita e oral).
2.3.3.2.2. Saduceus. Seu nome provavelmente signifique “sadoquitas”, descendentes ou partidários
de Sadoc, sacerdote de Salomão (cf. lRs 2,35). Aparecem primeiro como um partido organizado no
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tempo de João Hircano. Em geral, os saduceus pertenciam à rica aristocracia sacerdotal. Eram
“conservadores”. Os fariseus se empenhavam na formação dos padrões religiosos das massas; os
saduceus estavam interessados principalmente na administração do templo e no ritual e se
conservavam separados das massas. Os saduceus enfatizavam a importância da Lei de Moisés,
especialmente as regulamentações que disciplinavam o sacerdócio e o sacrifício. Quando o Templo
e seu culto chegaram ao fim, eles não tiveram mais razão de ser e. também desapareceram da
história.
2.3.3.2.3. Escribas: aparecem primeiro no reinado de Salomão como cultos servidores civis; eles
são os organizadores e autores da literatura sapiencial em Israel. Nos tempos pós-exílicos, o escriba
era alguém versado na Lei. No século I a.C., os escribas, que eram advogados, moralistas e
teólogos, eram os guias e mestres da comunidade judaica. Alguns deles eram celebrados fundadores
de escolas, com Hilel e Shamai, no início do século I d.C.; outros tinham grande autoridade, como
Gamaliel, mestre de São Paulo. Embora nos Evangelhos os escribas sejam muito freqüentemente
associados com os fariseus, os termos “escriba” e “fariseu” não são idênticos.
2.3.3.2.4. O Sinédrio. Era um senado de sacerdotes e leigos com setenta membros. Os membros do
Sinédrio eram divididos em três grupos: os chefes das famílias sacerdotais, os anciãos
(representantes da aristocracia leiga) e os escribas. O terceiro grupo era farisaico em espírito; os
outros eram saduceus. Sob os procuradores, o Sinédrio tinha considerável poder. O conselho tinha a
sua própria força policial e podia prender malfeitores e puni-los, quando condenados. Podia
pronunciar sentença de morte; contudo, a sentença tinha de ser ratificada pelo.
2.3.3.2.5. Essênios: Josefo (o historiador judeu do fim do século I d.C.), que apresenta as seitas
judaicas como “filosofias”, descreve os essênios como uma “terceira filosofia” - depois dos fariseus
e saduceus. Ele dá a impressão de que eles emergiram durante o reinado de Jônatas (160-142 a.e.) e
parece que podemos considerar a seita como um ramo dos hasidim. O essenismo é visto como um
movimento monástico de ascetas sacerdotais. Todas as coisas são possuídas em comum e os
membros da seita são recebidos carinhosamente em qualquer de seus núcleos. Embora Josefo
conhecesse um grupo de essênios que permitiam o casamento, a seita como um todo observava
perfeita continência. O candidato à admissão na ordem tinha de primeiro se submeter a um
postulado de um ano, depois do que era admitido aos ritos de purificação. Os integrantes da seita
tinham grande respeito pela Torah, e eram notavelmente meticulosos na observância do sábado.
Mandavam oferendas ao Templo, mas eles próprios não participavam do culto do Templo. A
maioria dos estudiosos concorda que os integrantes da seita de Qumrã, se não são idênticos, são
estreitamente relacionados com os essênios.
2.3.4. Outros Grupos
2.3.4. 1. Zelotas: No ano 6 ou 7 d.C., quando o legado Quirino 18 pôs em operação um censo geral
na Palestina, os exasperados judeus se rebelaram. Esses homens reuniram um grupo, de insurretos
em torno de si e dirigiram uma campanha militar contra os romanos, primeiro na Galiléia e, depois,
na Judéia. Os zelotas eram ardentes patriotas que se consideravam agentes da ira de Deus e
instrumentos da libertação de seu povo. Eles faziam uso de quaisquer meios, para livrar-se do
opressor estrangeiro e para punir os judeus suspeitos de colaboração. Visto que, livrando-se de seus
inimigos, eles usavam comumente uma pequena adaga chamada sica, eram conhecidos por
“sicários” pelos romanos.
2.3.4.2. Herodianos: São mencionados três vezes no Novo Testamento (Mc 3,6;12,13; Mt 22,16) e
são também mencionados por Flávio Josefo. Eles não eram uma seita religiosa nem um partido
extremista, como os zelotas, mas os amigos e os que apoiavam a família de Herodes. Encontravamse principalmente na Galiléia, o domínio de Herodes Antipas, embora algumas famílias de
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Jerusalém tivessem permanecido ligadas aos Herodes. Parece que, sob os procuradores, os
herodianos se aliaram com os fariseus. Embora logo desaparecessem da cena palestinense, os
Evangelhos sugeririam que, ao tempo de Jesus, eles eram um importante fator na situação existente.
2.3.4.3. Samaritanos não eram uma seita ou grupo judaico, mas é conveniente considerá-los aqui.
Os samaritanos dos tempos do NT eram descendentes do povo heterogêneo estabelecido em
Samaria, depois de 721 a.C. As sementes da inimizade entre eles e os judeus foram semeadas nos
primeiros dias do retorno do Exílio; a ruptura final veio no tempo de Alexandre, o Grande, quando
(de acordo com Flávio Josefo) o templo cismático foi construído no monte Garizim. Só
reconheciam o Pentateuco. Eram muito discriminados pelos judeus. Certamente, por conta disso,
Jesus colocou um samaritano como o modelo da caridade cristã.
2.2.5. A Diáspora judaica: “dispersão” é freqüente no Judaísmo do período helenístico como um
termo técnico para o estabelecimento de judeus no exterior. O movimento começou no século VI
a.C., quando muitos dos exilados em Babilônia escolheram permanecer ali, mas realmente tornou-se
mais efetivo no tempo de Alexandre. No século I d.C., o número total de judeus estabelecidos por
todos os países pode ter chegado em torno de quatro milhões. Traços característicos da Diáspora
foram, antes de tudo, a estrita vida comunitária dos judeus que viviam nos diferentes centros e, em
seguida, o contato Íntimo mantido entre as várias células, com Jerusalém como o ponto focal de
toda a vasta rede.
Muitos gentios que tinham se cansado das religiões pagãs e que estavam preparados para admitir o
princípio do monoteísmo foram atraídos para o Judaísmo. Eles foram livremente admitidos ao culto
da sinagoga. Vieram a conhecer e a apreciar as principais doutrinas da religião, e começaram a
observar certas práticas judaicas.
3. O CÂNON DAS ESCRITURAS
3.1. Cânon e canonicidade: O termo grego kanõn significava originalmente uma “vara de medir”
e, mais tarde, num sentido derivado, uma “regra” ou “norma”. Os Padres usaram essa palavra com o
sentido de “regra de fé”, e o cânon das Escrituras foi considerado como a regra escrita de fé. Por
último, o cânon das Escrituras veio a significar aquilo que entendemos por ele hoje: a coleção de
livros divinamente inspirados, recebidos pela Igreja e reconhecidos por ela como a infalível regra de
fé e prática em virtude de sua origem divina. Canonicidade significa que um livro inspirado,
destinado à Igreja, foi recebido como tal por ela. Embora todos os livros canônicos sejam inspirados
e nenhum livro inspirado exista fora do cânon.
3.2. Livros Protocanônicos e Deuterocanônicos: Quando comparamos versões católicas e
protestantes do AT, verificamos que as últimas enumeram 39 livros - como a Bíblia hebraica enquanto as católicas aceitam 45 livros. Essa discrepância, obviamente por si só um grande
problema, também tem originado uma confusa terminologia. Os livros controvertidos são os
seguintes: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus, ao lado de partes de
Ester e Daniel (Est 10,4-16,24; Dn 3,24-90;13-14). São denominados “Deuterocanônicos”:
significa que houve uma certa hesitação acerca de tê-los universalmente aceitos como canônicos,
isto é, como inspirados. Por contraste, os livros ”Protocanônicos” são aqueles sobre os quais nunca
houve dúvidas na Igreja. Os livros Deuterocanônicos do AT, ao lado de 3 e 4 Esdras e Oração de
Manassés, são chamados de apócrifos pelos protestantes, isto é, “livros que não são colocados em
pé de igualdade com as Escrituras Sagradas. Certos livros do NT (Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3
João, Judas, Apocalipse), que, nos primitivos séculos cristãos, levantaram dúvidas ou hesitação em
algumas partes, são também chamados de “Deuterocanônicos”, mas são aceitos agora por todos os
cristãos.
3.3. Formação do Cânon: O único critério, inteiramente suficiente, do fato da inspiração é o
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testemunho da Igreja; e a Igreja, no Concílio de Trento, definiu formalmente a extensão do cânon.
3.3.1. História do Cânon: No século I d.C., os judeus possuíam uma coleção de livros sagrados
que eles sustentavam serem inspirados por Deus, e nos quais viam a expressão da vontade divina,
uma regra de fé e de prática. O NT também é um valioso testemunho, porque ele contém citações
ou alusões da maioria desses livros; seu silêncio com respeito aos outros não é significativo, visto
que não há razão pela qual todos os livros do AT devessem ter sido citados. A coleção dos profetas
foi fixada na primeira metade do século II e, desde aquele tempo, tomou o seu lugar, lado a lado
com a Lei de Moisés. A posição que consideramos, a que limitava o cânon aos livros mais antigos e
tradicionais, é a do farisaísmo. Sabemos que os saduceus consideravam apenas o Pentateuco como
canônico, como se viu.
A Igreja cristã possuía, desde o primeiro dia de sua existência um cânon das Escrituras inspiradas: o
AT. Contudo, para a Igreja primitiva, este AT era, em seu sentido mais profundo, profecia do
Cristo. Entretanto, o próprio Cristo tinha comissionado os seus Apóstolos para proclamar a boa
nova e edificar a comunidade cristã, e os tinha enchido do poder do Espírito Santo. Assim, por volta
do ano 125, havia grupos de escritos que possuíam a garantia apostólica, e cuja autoridade era
reconhecida por todas as comunidades que os possuíam. Contudo, não havia pronunciamento oficial
e as coleções variavam de igreja para igreja. Temos poucos relatos de outros escritos apostólicos na
primeira metade do século lI. Clemente conhecia Hebreus; Policarpo conhecia 1 Pedro e 1 João;
Pápias conhecia 1 Pedro, 1 João e Apocalipse. Na segunda metade do século, Atos, Apocalipse e,
pelo menos, 1 João e 1 Pedro eram considerados canônicos; eles tomaram o seu lugar ao lado dos
evangelhos e das epístolas paulinas.
Podemos notar quatro fatores que influenciaram a formação do cânon do NT: 1) os muitos apócrifos
que a Igreja rejeitou; 2) a heresia de Marcião, que tinha estabelecido o seu próprio cânon, o qual
consistia de um Lucas corrigido e dez epístolas de Paulo (excluindo as pastorais e Hebreus); 3) os
heréticos montanistas, que reivindicavam revelações adicionais do Espírito Santo; 4) a grande
abundância de escritos gnósticos.
Admite-se geralmente que no começo do século III, o cânon do NT incluía a maioria, se não todos,
dos livros canônicos. A lista mais antiga que possuímos é aquela do fragmento muratoriano,
documento descoberto na Biblioteca Ambrosiana, em Milão, em 1740; ela registra os livros que
foram aceitos em Roma por volta do ano 200. Contudo, na segunda metade do século IV, Cirilo de
Jerusalém, o Concílio de Laodicéia e Gregório Nazianzeno com sua obra e ouvintes de suas
palavras; e a importância deles foi ainda maior nos tempos apostólicos. Portanto, a Igreja primitiva
tinha três autoridades: o AT, o Senhor e os Apóstolos. Contudo, a autoridade última, decisiva era
Cristo, o Senhor, que falou imediatamente em suas palavras e obras e mediante o testemunho dos
Apóstolos, suas testemunhas.
No começo, as palavras do Senhor e o relato de seus feitos eram repetidos e relatados oralmente,
mas logo eles começaram a ser redigidos. Em sua obra missionária, os Apóstolos tiveram viram a
necessidade de escrever a certas comunidades. É provável que já pelo fim do século I ou começo do
século II, treze epístolas paulinas, excluindo Hebreus, fossem conhecidas na Grécia, Ásia Menor e
Itália. Todos os manuscritos e textos das epístolas paulinas resultaram de uma coleção que se
harmoniza com nosso Corpus Paulinum. O Concílio de Trento reafirmou o cânon atual que temos
em nossas Bíblias.
Para entender o significado do termo “apócrifo”, faz-se mister compreender o significado de
“canônico”. Em grego, “canônico significa, entre outras coisas, regra, vara para medir, modelo,
princípio, lista. Em jerga arquitetônica, significa “molde”, “forma”. Assim, aquilo que “encaixa” no
cânon é perfeito.
O NT emprega “cânon” com o sentido de “juízo” ou medida (Gl 6,15; 2Cor 10,13-16).
Quando no século II d.C. surgiu o perigo do sincretismo e da dissolução da mensagem cristã, a
Igreja se viu obrigada a fixar aquilo que considerava a autêntica mensagem de Cristo. Daí, ao termo
canônico passou a significar a norma que abarca as verdades de fé ortodoxas e exclui as
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heterodoxas. E se falou de um cânon obrigatório da Verdade anunciada pela Igreja; esta Verdade se
expressava no cânon da fé, na regula fidei, na “regra da fé”.
Por uma divina disposição, a Igreja Hierárquica (Apóstolos e seus sucessores) recebeu do Mestre o
encargo e a missão de zelar pela Verdade e integridade da Palavra de Deus. O “cânon” de Cristo
vive na Igreja, que se sente ligada a Ele (Orígenes, De principiis, 4,2) e O comunica mediante à
Tradição viva.
Já desde os primórdios se considerou com reverência o que pertencendo a esta Tradição viva tinha
sido fixado por escrito. E logo apareceram junto à Bíblia de Jesus (AT) e da Igreja primitiva (NT),
ou seja, junto ao AT, esses 27 escritos que hoje se conhece como NT. Somente eles foram
reconhecidos finalmente pela Igreja como pertencentes à Tradição cristã total e sem falsificações,
de modo que, com toda a justiça, deveriam ser denominados “canônicos”.
Entretanto, muito cedo, pelo menos a partir do II século, começaram a surgir outros documentos
cujos autores se passavam por algum apóstolo ou personagem importante da vida de Jesus, com o
intuito de difundir idéias próprias ou de determinado grupo, como se fosse pensamento do Senhor.
Por essa razão, coube à Igreja fazer valer a doutrina verdadeiramente apostólica e rejeitar esses
escritos. Um exemplo dessa espécie de literatura é o chamado Evangelho de Pedro.
Mas uma definição eclesiástica do cânon vinha também sendo exigida por causa de diferenças
surgidas por parte de mestres do erro como Marcião. Este herege gnóstico que apareceu na metade
do século II unia zelo religioso com talento organizador, repudiava completamente o AT.
Proclamou uma nova Bíblia: somente o Evangelho de Lucas e abreviações das Epístolas paulinas
(menos as Pastorais: I e II Tm, Tito).
Se perguntarmos pelos critérios empregados para determinar a canonicidade dos escritos
transmitidos, enfrentaremos um problema assaz complexo: nenhum dos princípios aduzidos pelo
repertório canônico mais antigo pode ser empregado sem reservas. Exigiu-se uma origem
apostólica, pois assim parecia se garantir a autenticidade da doutrina. Mas havia materiais que
circulavam entre as comunidades com o nome de um Apóstolo sem proceder realmente dele,
enquanto que escritos indiscutivelmente canônicos, como Marcos e Lucas não eram atribuídos a
Apóstolos. Depois se exigiu que os escritos em questão fossem dirigidos à toda Igreja, mas Paulo
não só escreveu à comunidades singulares como também à pessoas isoladas.
Consideremos ambos os critérios com maior profundidade. No século II, apenas nadie podia provar
seriamente, utilizando métodos históricos, a origem apostólica de um escrito. Pois bem, se os
ministros da Igreja eram conscientes de possuir o cânon da verdade, teriam de revisar à luz desta
Tradição normativa da fé, com toda justiça e direito, a genuína origem de um autêntico ou suposto
escrito apostólico.
Quando no repertório do chamado Canon Muratori, em homenagem a seu descobridor, para que um
escrito seja considerado inspirado, exige-se também que seja dirigido à toda Igreja. Apontava-se,
pois, a aplicação de uma regra que não incluía nenhum escrito de caráter esotérico e tão pouco
revelações ocultas. Hoje temos que afirmar com maior precisão que tal critério resulta inaplicável,
já que os escritos do NT são coynturales e precisamente aí radica para nós uma poderosa garantia
de sua autenticidade; mas a partir do ponto de vista da Igreja do século II, que já os lia publicamente
em todas as comunidades, não carecia de fundamento a recusa de materiais surgidos subitamente
com caráter de revelações as entidades particulares: alguns escritos apostólicos autênticos tinham
sido difundidos em vez de ficarem reservados; por esta razão não era segura a origem apostólica de
materiais que não estivessem divulgados e nem se lessem por toda a Igreja.
Assim, pois, a determinação do cânon é um ato emanado da autoridade magisterial da Igreja. A
autoridade dos primeiros testemunhos não se transmitiu a um conjunto de escritos, mas aos
primeiros ministros que se tornaram discípulos dos Apóstolos, as primeiras testemunhas, e
continuaram possuindo e transmitindo a Sagrada Tradição eclesial. Por isso, a Igreja pode viver 300
anos sem um cânon escriturístico solidamente determinado.
Pois bem, os escritos apócrifos nos dão a conhecer os materiais que a Igreja, iluminada pelo Espírito
Santo, não quis incluir no cânon.
O termo grego άπόκρυφσς significa oculto. Ocultavam-se escritos, porque se considerava seu
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conteúdo tão valioso que não se queria comunicá-lo a outrem; e também porque se escondiam
aqueles cujo fundo era questionável. Significava também que sua origem era duvidosa. Em alguns
deles, sobretudo os chamados “mágicos”, há recomendação de escondê-los e os manter em lugar
secreto. Enfim, como se tem dito, esses apócrifos não foram reconhecidos como inspirados o termo
apócrifo significa “falso”, “falsificado” “não canônico”.
4. ELENCO DOS PRINCIPAIS APÓCRIFOS E PSEUDO-EPÍGRAFOS DO AT
4.1. “as origens”
O Primeiro Livro de Adão e Eva:
- O Conflito de Adão e Eva com Satanás
O Segundo Livro de Adão e Eva
Livro dos Segredos de Enoque
Livro da Ascensão de Isaías
Conto dos Patriarcas
O Martírio de Isaías
Melquisedec
Narração do Dilúvio da Epopéia de Gilgamesh (Relato Babilônico)
O Testamento de Abraão
A Assunção de Moisés
Caverna dos Tesouros
Livro de Enoque (I Enoque)
• Primeira Parte: O Livro dos Anjos
• As aventuras de Enoque
• Segunda parte - As Alegorias
• Terceira Parte
• Quarta Parte
• Quinta Parte
• Final do livro
4.2. Testamento dos Doze Patriarcas
I. Testamento de Rubén - Da Intenção
II. O Testamento de Simeão - Da Inveja
III. Testamento de Levi - Do sacerdócio e da presunção/Testamento mais antigo de Levi
(Fragmento aramaico)
IV. Testamento de Judá - Da valentia da cobiça material e da luxúria
V. Testamento de Issacar - Da simplicidade
VI. Testamento de Zebulon - Da compaixão e misericórdia
VII. Testamento de Dan - Da raiva e da mentira
VIIIa. Testamento de Neftali - Da bondade
VIIIb. Testamento de Neftali - Segundo a crônica hebraica de Jerchmeel
IX. Testamento de Gad - Do ódio
X. Testamento de Aser - Do duplo aspecto da maldade e da virtude
Xl. Testamento de José - Da castidade
XlI. Testamento de Benjamim - Da reta intenção
4.3. Textos poéticos
Hino da Pérola
Sobre a Origem do Mundo
O Livro dos Jubileus
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5. ELENCO DOS PRINCIPAIS APÓCRIFOS DO NT
5.1. Livros da Infância de Jesus
Livro da Infância do Salvador
A História de José, o Carpinteiro
Evangelho Árabe da Infância
Excertos do Evangelho Armênio da Infância
José e Asenath
Evangelho Pseudo-Mateus da Infância
O Livro Sobre a Origem da Abençoada Maria e a infância do Salvador
Evangelho Pseudo-Tomé (Narrações sobre a Infância do Senhor, por Tomé)
5.2. Evangelhos
Proto-Evangelho de Tiago
(Natividade de Maria)
Evangelho de Nicodemos
(Atos de Pilatos)
Descida de Cristo ao inferno
(Versão Grega)
Descida de Cristo ao inferno
(Versão Latina)
Evangelho de Bartolomeu
(Tradução da Versão Latina)
Evangelho de Pedro
Evangelho Segundo Tomé, o Dídimo
Evangelho de Maria Madalena
Evangelho de Judas Scariotes
Excertos do Evangelho de Maria
Agrapha Extra-Evangelho
Evangelho Segundo Felipe
O Evangelho da Verdade
O Evangelho de VaIentino
5.3. Epístolas
Ciclo de Pilatos
Retrato de Jesus
Carta de Lentulus Publius de Jerusalém ao Imperador Tibério César
Retrato do Salvador / (Nicephorus Calixtus)
Carta de Pôncio Pilatos Dirigida ao Imperador Romano sobre Nosso Senhor Jesus Cristo
Carta de Tibério a Pilatos
Relatório do Governador Pilatos Sobre Nosso Senhor Jesus Cristo. Enviado a César
Augusto em Roma
Correspondência entre Pôncio Pilatos e Herodes
Carta de Pilatos a Herodes
Carta de Herodes a Pilatos
Julgamento e Condenação de Pilatos
Morte de Pilatos, o que condenou Jesus
Sentença Dada por Pôncio Pilatos Contra Nosso Senhor Jesus Cristo
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A Vingança do Salvador
5.4. Declarações de José de Arimatéia, Aquele que reclamou o Corpo do Senhor, e que contem
a causa dos dois ladrões
5.5. Cartas do Senhor
Cópia da Carta que o Rei Abgaro escreveu a Jesus e que lhe enviou a Jerusalém por
Intermédio do Mensageiro Hannan
Resposta que Enviou Jesus ao Rei Abgaro pelo Mensageiro Hannan
Resposta de Jesus (Segundo Versão de Louis de Dieu)
Ditames que Acompanharam a resposta de Jesus (Segundo o Manuscrito Árabe da Biblioteca de
Leyden)
5.6. Discurso sobre o Domingo
Dia Santo do Senhor entre todos os outros em que Jesus Cristo, Nosso Deus e Senhor,
Ressuscitou dentre os mortos. Abençoe, Senhor
5.7. Apócrifos da Assunção
Livro de São João Evangelista (o Teólogo)
Tratado de São João. o Teólogo, sobre a Passagem da Santa Mãe de Deus
5.8. Passagem da Bem-Aventurada Virgem Maria
(Narração Erroneamente Atribuída a José de Arimatéia)
5.9. Apocalipses
Apocalipse de Baruch
Apocalipse de Adão
Apocalipse de Abraão
Parte I: A Narrativa
Parte II: Apocalipse de Moisés
Apocalipse de Elias
(seqüência do Apocalipse de Sofonias, 18,6)
Apocalipse de Pedro Apocalipse de Tomé
EVANGELHOS – ATOS DOS APÓSTOLOS – EPÍSTOLAS E APOCALÍPSES
APÓCRIFOS
Passemos, pois, a conhecer Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Epistolas e Apocalipses apócrifos.
a) “Evangelho”: “Boa Notícia”. Era utilizada no culto ao Imperador. As comunidades cristãs o
atribuíram a Cristo e ao seu Mistério.
Podemos classificar os evangelhos apócrifos em três tipos distintos:
b) Apócrifos de tipo Sinótico = tenta plagiar os canônicos.
c) Apócrifos de tipo Gnósticos = querem transmitir ou propagar a doutrina “gnostica”.
d) Apócrifos de Complementação: pretendem complementar os canônicos naquilo que eles
omitem, com o objetivo de satisfazer a curiosidade piedosa.
EVANGELHOS APOCRIFOS DE TIPO SINÓTICO
Podem ser classificados como tais: os Evangelhos Judeus-cristãos; o Evangelho de Pedro; e, em
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certo sentido o Evangelho dos Egípcios e também certos fragmentos de papiros com escritos
“evangélicos”.
I - EVANGELHOS JUDEUS-CRISTÃOS
1. Evangelho dos Nazoreus: Muito parecido ao canônico Evangelho de Matheus. Era lido entre os
judeus-cristãos da Síria; seria uma versão aramaica daquele Evangelho canônico.
2. Evangelho dos Hebreus: Provavelmente, surgiu na mesma época do anterior; escrito em grego.
Sabemos que os judeus que falavam essa língua eram denominados “hebreus”. Assim, esse
evangelho era dirigido aos judeus-cristãos que falavam grego.
3. Evangelho dos Ebionitas: Também foi escrito em grego, durante a primeira metade do século II,
provavelmente, na Palestina (ao Leste do Jordão), onde preferencialmente habitava esse grupo. O
que se conhece desse escrito revela seu caráter herético: nega o nascimento virginal de Jesus.
Assim, a filiação divina de Jesus não procede de Sua geração divina e nascimento milagroso, mas
da união do Espírito Santo à Sua pessoa a partir do Batismo.
4. Evangelho de Pedro: É mencionado por Eusébio, na sua Historia da Igreja. Encontrado em
1886-87, no Egito (Ajmim). O fragmento começa sua narrativa aludindo os fatos que se deram
depois que Pilatos “lavou as mãos”: a sentença de morte, a morte e a ressurreição de Jesus. É
baseado nos canônicos.
5. Evangelho dos Egípcios: Surgiu na primeira metade do século II, no Egito. Conhecemos esses
escritos por meio de S. Clemente de Alexandria que o refuta como herético. De fato, esse escrito
condenava o matrimonio e a procriação: “Salomé perguntou ao Senhor: ‘Até quando a morte vai
existir? Eu te digo: ‘Até quando as mulheres continuarem engravidando’. São consideradas obras
das mulheres tanto a concepção quanto a corrupção”.
II - EVANGELHOS DE TIPO GNÓSTICO
Evangelho Segundo Tomé: Era usado pelos membros da seita gnóstica.
Apócrifo de João, Livro Sagrado do Espírito Invisível, Epístola do Bem-aventurado Eugnotes, A
Sabedoria de Jesus, O Diálogo do Redentor.
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INTRODUÇÃO À LITERATURA APÓCRIFA
INTRODUÇÃO
1- Como surgiram. os Evangelhos: Palestina e Império Romano no tempo de Jesus. Expansão do
cristianismo.
2- Heresias dos Primeiros séculos da Igreja
.
a) Ebionismo: Movimento Judeu-cristão depois de 70: Jesus é reconhecido como o profeta
anunciado por Moisés, mas não como "Filho de Deus". Cristo é um homem comum como os
demais, nascido de José e de Maria.
b) Elcasaísmo: Fundado por Elxai. Também negava a divindade de Cristo: mais judeu que cristão.
Hb 6,38 os condena.
c) Nicolaismo: Condenavam o Deus do AT, e pregava a liberdade total.
d) Gnosticismo:
3- Cânon e canonicidade
a) "Livros Protocanônicos"
b) "Livros Deuterocanônicos"
4- Livros Apócrifos ou não canônicos
A palavra “Apócrifo”, do grego, “apokrypba”, escondido, nome usado para determinar:
a) Assuntos secretos, ou misterioso, ignorado, falso ou espúrio;
b) documentos não canônicos;
c) Trata-se de uma lista de aproximadamente 112 livros: 52 do AT- 60 do NT.
d) Apesar de existir um imenso debate sobre a interpretação dos evangelhos apócrifos
encontrados, na sua grande maioria, em 1945, em Nag Hammadi (no Egito), poucas pessoas
tiveram tempo de entender o que acontece, de fato, no meio religioso.
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA (a completar)
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Paulinas, SP, 1972.
BAUER, Johannes Baptist (org.); Los Apócrifos Neotestamentarios, Ediciones Fax, Madrid, 1971.
BUENO, Daniel Ruiz (Verson, intruducciones y notas); Padres Apologetas Griecos. Edición bilingüe
15
completa, BAC, Madrid, 1979, 2 ed.
DANIÉLOU, Jean – MARROU, Henri; Nova História da Igreja I. Dos primórdios a São Gregório
Magno, Vozes, Petrópolis, 1984, 3 ed.
FOLCH GOMES, Cirilo; Antología dos Santos Padres. Páginas seletas dos antigos escritores
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OLIVEIRA TRICCA, Maria Helena (comp.); Apócrifos I. Os Apócrifos da Bíblia, Mercúryo, São Paulo,
SP, 1995.
--------------------------------------------------; Apócrifos II. Os Apócrifos da Bíblia, Mercúryo, São Paulo, SP,
1995
OTERO SANTOS, Aurélio; Los Evagelios Apócrifos. Colección de textos griecos y latinos, versión
crítica, estudios introductorios y comentarios por, BAC, Madrid, 1985, 5 ed.
PROENÇA: Eduardo de (org.); Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia, Fonte Editorial LTDA, São
Paulo, SP, 2005.
QUASTEN, Johannes; Patrologia I. Hasta el concilio de Nicea, BAC, Madrid, 1984, 3 ed.
ROMAG, Dagoberto; Compendio de História da Igreja I. A Antiguidade cristã, Vozes LTDA, Petrópolis
– São Paulo, 1949, 2 ed.
Pe. J. R. Lucas Prazer
16
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