Utilização do bambu em estruturas de casas populares ROHR, Franciele (1) RECH, Gracielle Rodrigues da Fonseca (2) CONTE, Vanessa (3) BENÍCIO, Danielle Rocha (4) (1) FAI Faculdades de Itapiranga – Especialista em arquitetura comercial com ênfase em construtibilidade E-mail: [email protected] (2) FAI Faculdades de Itapiranga – Especialista em arquitetura comercial com ênfase em construtibilidade E-mail: [email protected] (3) FAI Faculdades de Itapiranga – Especialista em arquitetura comercial com ênfase em construtibilidade E-mail: [email protected] (4) UDESC – Profª. Orientadora. Mestre em Arquiteura e Urbanismo (na Área de Concentração Conservação e Restauro) pela Universidade Federal da Bahia (UFBa). É doutoranda em Teoria e História das Artes Visuais junto ao Programa de Pós Graduação em Artes Visuais (PPGAV) do Centro de Artes (CEART) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). E-mail: [email protected] Resumo: Cada vez mais está se falando em materiais renováveis, dos quais se insere o bambu. Apesar de o Brasil possuir uma das maiores reservas de bambu, a técnica construtiva que utiliza essa espécie vegetal ainda é muito pouco. Sua utilização tem baixo custo, é ecologicamente correta, além de adaptar-se facilmente a qualquer lugar do mundo. O presente artigo tem como objetivo verificar a viabilidade do uso do bambu nas estruturas de casas populares. A metodologia adotada no trabalho consistiu em uma pesquisa bibliográfica em artigos científicos, livros e na internet sobre o Bambu e sua aplicação nas construções populares. Para tanto um breve estudo histórico de sua utilização tem de ser feito, serão abordadas suas características como resistência e durabilidade e um estudo comparativo com outras casas feitas de alvenaria. O bambu vem como uma promessa para o futuro, seu cultivo e uso diminui os impactos ambientais, o desmatamento e disponibiliza preços acessíveis para todas as classes sociais devido ao seu baixo custo de construção. Com isso conclui-se que se devem incentivar estudos sobre o Bambu na área de Edificações para promover novos conhecimentos sobre a planta aplicada em estruturas em casas populares, auxiliando na preservação do meio ambiente, pois o mesmo é um material renovável, abundante na natureza e não emite gases prejudiciais durante seu beneficiamento. Palavras-chave: Bambu; Casa Popular; Estrutura. Abstract: Increasingly we are talking about renewable materials, which inserts the bamboo. Although Brazil has one of the largest bamboo reserves, the construction technique that uses this plant species it is still very little. Their use has low cost, is environmentally friendly, and adapt easily to anywhere in the world. This article aims to determine the feasibility of using bamboo in public housing structures. The methodology used in the work consisted in a bibliographic research in scientific articles, books and on the internet about Bamboo and its application in popular buildings. For such a brief historical study of its use has to be done will be addressed its characteristics as strength and durability and a comparative study with other houses made of masonry. Bamboo comes as a promise for the future, its cultivation and use reduces environmental impacts, deforestation and offers affordable rates for all walks of life because of their low cost of construction. Thus it is concluded that should encourage studies of Bamboo in the Buildings area to promote new knowledge about the plant applied for public housing structures, helping to preserve the environment, because it is a renewable, abundant material in nature and does not emit harmful gases during its processing. Keywords: bamboo; Popular home; Structure. 1. Introdução Os bambus são plantas herbáceas e lenhosas, pertencentes à família das Gramineae ou Poaceae, com mais de 1.250 espécies classificadas e distribuídas em cerca de 90 gêneros distintos. Desenvolvem-se em regiões com clima tropical e subtropical com temperatura moderada, adaptandose tanto ao nível do mar quanto em altitudes próximas de quatro mil metros (LÓPEZ, 1974). A utilização do bambu já é feita há milênios e hoje ainda é considerada uma novidade e promessa do futuro. Uma alternativa para a construção civil, o bambu contribui para uma arquitetura mais sustentável e coopera para a minimização, ainda que parcial, do problema habitacional existente no Brasil. A importância de verificar a viabilidade da sua utilização em estruturas de casas populares é de grande relevância. Considerando, a grande produção de lixo, inclusive na construção civil, a escassez de alguns materiais, o grande número de pessoas que não tem acesso aos profissionais da arquitetura e nem condições financeiras para morar em uma boa casa e consequentemente habita de forma desconfortável e insalubre, tornam cada vez mais imprescindível uma busca de materiais alternativos, que sejam renováveis, duráveis e que não poluam, é um desafio para o homem que precisa conviver com a escassez de recursos. É preciso, então, analisar um breve histórico do uso do bambu, as características dele enquanto espécie vegetal, considerando resistência e durabilidade, características construtivas e um estudo de residência feita com ele. 2. Objetivo O artigo tem como objetivo pesquisar o bambu como planta, suas formas de cultivo e manuseio, analisando suas características como material sustentável, bem como os custos e a viabilidade do seu uso em construções de casas populares. 3. Justificativa Na busca de materiais alternativos para serem utilizados na construção civil com o objetivo de minimizar ao máximo os impactos ambientais e a geração de resíduos, o presente artigo toma importância uma vez que além da questão ambiental busca soluções alternativas para auxiliar o déficit habitacional no país. Para tal, será abordado um estudo sobre a utilização da planta ao longo da história, suas características, sua resistência e durabilidade, além de mostrar através de exemplo, que um protótipo e casa popular têm todas as condições de ser construído com bambu. Considerando a questão econômica, pesquisas mostram o grande déficit habitacional do Brasil, e de pessoas que vivem em condições precárias e desconfortáveis. Já pela questão ecológica, o que mais se ouve falar é sobre o aquecimento global, que está ocorrendo em função do aumento de poluentes, principalmente gases derivados da queima de combustíveis fósseis na atmosfera. O desmatamento e a queimada de florestas e matas também colaboram para este processo. Os raios do sol atingem o solo e irradiam calor na atmosfera. Como esta camada de poluentes dificulta a dispersão do calor, o resultado é o aumento da temperatura. Podem-se verificar as consequências de tudo isto em nível global. Pensando nesses problemas, e em ações que possam colaborar na solução destes, é que se pensa na utilização de materiais alternativos, que possam diminuir a poluição, o desmatamento e criar formas mais baratas de construção que podem ser acessíveis a todas as classes sociais. Quando fizemos nossos projetos não podemos deixar de lado a questão ambiental, considerando o impacto ambiental que vem sofrendo o nosso planeta, resultante da ação do homem sobre o meio ambiente. Em relação a isso é que podemos pensar no bambu como uma alternativa considerando que seu processo de crescimento e de pouco impacto para o meio ambiente. 4. Método empregado Para o seguinte artigo foi realizada uma pesquisa exploratória, que é feita a fim de familiarizar o pesquisador, satisfazer a curiosidade, testar a viabilidade de realizar um estudo mais detalhado, ou seja, tentativa de desenvolver um entendimento geral inicial de algum fenômeno. Inicialmente buscou-se em um âmbito geral um estudo sobre o bambu enquanto espécie vegetal, seu modo de cultivo, características físicas considerando resistência e durabilidade, também é importante saber de que forma ele pode contribuir e ser utilizado para poder ser considerado um material sustentável. As fontes baseiam-se em pesquisa bibliográfica mais na parte de conceituação da planta, na pesquisa de artigos científicos, ou artigos publicados que falam além do produto, sobre sustentabilidade, e sobre a sua aplicação foram feitos estudos de caso. 5. Resultados obtidos Breve histórico do uso do bambu Algumas das construções mais antigas feitas de bambu podem ser encontradas em casas tradicionais de países como Japão e China. Além disso, é utilizado na produção de uma miríade de artefatos úteis e decorativos. Podem ser encontradas inclusive pontes, com vãos enormes e tencionados com cordas de bambu. Na América do Sul, o bambu já é utilizado há cerca de 5.000 anos, o que pode ser comprovado em sítios arqueológicos no Equador, habitados por indígenas. Foram feitos com bambu da espécie Guadua Angustifólia cercas, barricadas, aquedutos e até prisões. No Brasil, o homem rural aproveitou a diversidade de usos do bambu, fabricando utensílios de cozinha e mobiliários com grande habilidade. Atualmente, com o êxodo rural, pode-se encontrar esse homem rural em muitas cidades. Assim, também nas cidades verificou-se a beleza, praticidade e versatilidade do material. O reconhecimento de obras antigas que foram construídas inteiramente com bambu, ou que tem parte da estrutura feita com o mesmo, pode comprovar a durabilidade do material. Esse conhecimento pode ser retomado e utilizado, visando um aperfeiçoamento de materiais e tecnologias. Características do bambu enquanto espécie vegetal Antes de utilizar o bambu, é importante que se compreenda o seu desenvolvimento, suas fragilidades e potencialidades. Como comparação, pode-se dizer que sua resistência é 1/5 da resistência do aço CA-50. O grau de resistência mecânica depende da idade do colmo. Trata-se de um material leve e flexível e, por ter uma elevada relação peso/resistência, tem sido muito utilizado para a substituição da madeira e do aço na construção civil. O bambu é uma gramínea gigante (Imagem 01) que tem um crescimento muito rápido, podendo ser cortado em três anos. Apresenta característica tubular e é basicamente composto de longas fibras vegetais. Ele pode ser moldado ou desfiado e agrega funções e adequações inerentes à sua forma. É de fundamental importância que se escolha o tipo certo de bambu e que se tenha o correto tratamento para cada aplicação. Para fazer o bom uso do bambu, deve-se ser criterioso e ter o conhecimento dos tipos de bambu existentes, pois cada espécie tem uma finalidade diferente, devido ao tamanho, grossura e espessura. No Brasil, existem várias pessoas aperfeiçoando o conhecimento sobre a planta. Em Pedro de Toledo, a 150 km de São Paulo, existe uma “escola”, onde arquitetos, engenheiros, biólogos, etc. aprendem técnicas acerca de sua utilização, como por exemplo, identificar o bambu que pode ser cortado e modos de encaixe das varas na estrutura, as quais foram inspiradas nas construções colombianas. Conforme Lima (2007), a construção com bambu é rápida e a triangulação das peças, que são padronizadas, favorece a estrutura (Imagem 02). A estrutura pode ser feita de várias maneiras podendo adequar-se ao gosto de cada pessoa. A planta exige vários cuidados no preparo, para que se possa usá-la efetivamente. Desde o corte, é importante saber o momento e o modo correto de cortar. Quanto à cura, vários processos de tratamento de secagem são usados, o que aumenta a vida útil do bambu em até 25 anos, reduz rachaduras e fendas de dilatação e compressão. Existem também tratamentos e métodos que previnem o ataque de fungos e insetos, aumentando a durabilidade, bem como eficiência e proteção contra umidade. Além disso, é importante tratá-la com biocidas, pois, “O amido do bambu reage com o cimento, que não endurece”, aponta Morena (2007). É essencial ter bem claro que existem muitas espécies de bambu e que nem todas são adequadas e boas para a utilização em construções. Características do bambu considerando resistência e durabilidade Várias pesquisas na construção civil vêm avaliando a resistência e durabilidade do bambu nos últimos anos. Percebe-se que, apesar das varas serem estreitas, o material não é frágil. Sua compressão, sua flexão e sua tração já foram testadas em laboratórios em diversas oportunidades, como afirma Pereira (2007) que, inclusive, reside há dez anos em uma casa feita de bambu. Imagem 01 – Caule do Bambu Fonte: www.paisagismobrasil.com.br. Acessado em 10 de agosto de 2015. Imagem 02 – Estrutura feita com bambu Fonte: www.arcoweb.com.br. Acessado em 10 de agosto de 2015. Arquitetos e engenheiros de todo o mundo utilizam o bambu em suas obras. O material tem características estruturais que possibilitam o seu uso, como por exemplo, em vigas, lajes e pilares, tornando a construção de excelente qualidade. O desempenho do bambu é tanto, que pode ser chamado de aço verde. Conforme Lerena (2007), ele resiste à tração (alongamento) como o aço. Dentre 1200 espécies de bambu encontradas no Brasil, oito poderiam substituir o aço, além de que o consumo de energia do bambu é 50% menor. Características construtivas Quanto à utilização do bambu na estrutura de casas, ele pode ser usado como coluna, viga (Imagem 03), lastro, dentre outros usos. Por exemplo, um grupo da Universidade Federal de Alagoas junto com o SEBRAE ergueram dois modelos onde o bambu se encontra em pilares, paredes e na estrutura do telhado. Também na Unicamp, o bambu foi substituído pelo aço nos pilares e vigas e tomou o lugar da brita no concreto. Conforme Sartori (2004), a aplicação do bambu em paredes, pilares e vigas apresenta uma redução de 40% do custo da obra, comparando com a mesma feita em alvenaria. Um dos arquitetos mais conhecidos pela utilização do bambu é Simon Vélez, pioneiro e divulgador de técnicas baseadas no material. O arquiteto costuma utilizar o bambu em obras de grande porte, como estruturas de telhados, pontes, catedrais, etc. com o objetivo de demonstrar a sua resistência e seu alto potencial construtivo. Embora projete casas de alto padrão com bambu, também tem grande preocupação com os problemas sociais, e vê no bambu uma solução alternativa para a construção de moradias acessíveis às pessoas de baixa renda, e para a geração de empregos. Imagem 03 – Modo de encaixe dos pilares e vigas. Fonte: www.arcoweb.com.br. Acessado em 10 de agosto de 2015. Ghavami (2007), diz que é possível até mesmo estruturar lajes com bambu. Ele inclusive já elaborou até colunas cilíndricas com a planta. CASA POPULAR (ESTUDOS) A partir de protótipos de casas desenvolvidas com bambu remete-se ao desempenho do mesmo. Construções que tenham uma estrutura de bambu envolvida por argamassa elaborada com raspas dessa planta e de pneus, já existem. Essas são mais resistentes que as obras feitas com materiais convencionais, como alvenaria, por exemplo. Além de vantagens ecológicas, as casas de bambu, têm custo de produção reduzido e seu processo de construção é mais rápido. Teste realizado na cidade de Três Rios – RJ Um dos maiores exemplos de construção de casa de bambu para população carente encontrada no Brasil é na cidade de Três Rios – R.J.. Esse projeto de construção alternativa e ecológica pode servir de modelo para todo o Brasil. O número de casas construídas e a metragem delas são imprecisos, pois existem discordâncias de alguns autores em suas publicações na internet. Cassús (2007) coloca que são duas casas de 50m², enquanto M a m e d e ( 2 0 0 7 ) fala que são cinco casas e Pinho (2007) informou que cada casa tem 31m². A matéria-prima utilizada na construção dessas casas é o bambu, que pode ser inclusive, utilizado em paredes, pisos, telhados e até mesmo na geração de energia elétrica. Essas casas em Três Rios foram um projeto pioneiro do SEBRAE junto com uma organização ambientalista, nelas o bambu substitui o aço nas placas de pré-moldados e sua fibra faz parte da composição do concreto, junto com borracha moída de pneu usado, cimento e cal. Substitui-se o uso da brita por material mais leve e que proporciona um maior conforto acústico e térmico. Cada casa construída, não é usada somente para testes, mas sim, como moradia. Feitas de painéis de vedação com grelha de bambu e concreto, onde o bambu é preservado 200 anos sem contato com oxigênio, passa 24 horas dentro da forma e um processo de cura de 14 dias. Conforme Cassús (2007), em cada casa com 31 m², foram utilizados uma tonelada e meia de borracha, 240 varas de bambu na estrutura e 60 varas moídas junto com o concreto. As casas prontas para a moradia, tiveram um custo final em torno de R$ 8.500,00, sendo que o preço das casas construídas com materiais comuns da habitação popular ficou em torno de R$ 13.500,00. Teste realizado na cidade de Maceió – AL Outra experiência foi uma casa de 38,00m² como citou Vasconcellos (2007). A casa, que também foi feita com o apoio do SEBRAE, segue o mesmo sistema das casas feitas em Três Rios. Ela contou com pilares, vigas e painéis pré-moldados de bambu. Essa estrutura tem todo o “esqueleto” de bambu, sendo este preenchido com um material que, em vez de brita, leva borracha reciclada e bambu picado, material batizado de “microconcreto”. Um estudo feito pela Universidade Federal de Alagoas sobre a casa constatou que com a estrutura toda feita com bambu e, posteriormente rebocada, apresentou diferença de temperatura do exterior para o interior de 9,2 graus, devido à borracha moída de pneu usado, que é um material mais leve e que proporciona um maior conforto acústico e térmico. 6. Considerações finais Conhecendo, então, um pouco da utilização do bambu, que já vem aparecendo nas edificações há milênios, e com embasamento de diversos estudos e testes realizados, pode-se dizer que o bambu, tem toda a viabilidade de estar entrando cada vez mais no mercado, e estar suprindo necessidades de habitações de maneira acessível, e junto com isso estar colaborando com o ambiente, uma vez que foi considerado um material renovável, e que pode ser utilizado completamente sem perdas. 7. Referências bibliográficas FREIRE, Wesley Jorge; BERALDO, Antonio Ludovico. Tecnologia e materiais alternativos de construção. 2003. QUEIROZ, Araci; CAPELLO, Giuliana; WENZEL, Marianne. Bambu, madeira do futuro. Arquitetura e Construção, São Paulo, p. 104-111, abril 2007. SCHRODER, C. H. Construções com bambu. Pedro de Toledo, SP; Três Rios-RJ, Globo News, 2007. 1 vídeo disco (23:25 min). SOUZA, Adriene Pereira Cobra Costa. Bambu na Habitação e Interesse Social no Brasil. 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