O USO DA RAZÃO PRÁTICA: SÊNECA NA LEITURA DE SCHOPENHAUER Aryane Raysa Araujo dos santos(bolsista do PIBIC/CNPq), Luizir de Oliveira (Orientador, Depto de Filosofia – UFPI) INTRODUÇÃO: O filosofo alemão Artur Schopenhuer afirma que a faculdade de razão não possibilita a ação virtuosa, pois para ele o fundamento da virtude provém do conhecimento intuitivo, ou seja , do reconhecimento do mesmo sofrimento nos outros indivíduos e até o autosacrifício para aliviar esse sofrimento, é apenas as ações compassivas que podem ser consideradas virtuosa. Nesse sentido o uso da razão apesar de não está interligada com as ações virtuosa, pode impulsionar os indivíduos ao melhoramentos. Ao longo de O Mundo como Vontade e como representação Schopenhauer faz diversas referências ao estoicismo, mas basicamente a um de seus representantes, o filósofo romano Sêneca.Esse fato nos faz refletirmos sobre uma questão,não é porque a filosofia de Schopenhauer nos traz uma leitura determinista no que diz respeito ao caráter que o filósofo alemão não deixa abertura para discussão acerca do aperfeiçoamento do indivíduo pelo uso da razão; e Sêneca nos traz uma leitura na qual a ação racional é a única possibilidade de refrear as ações que não impulsionam para esse aperfeiçoamento. Metodologia:O trabalho foi conduzido de forma sistemática, primeiro fizemos o levantamento bibliográfico sobre a filosofia de Schopenahuer e do filosofo romano Sêneca. Num segundo momento fizemos a leitura dos textos bases de cada autor do Schopenhauer nos restringimos a leitura do Mundo como vontade e como representação, mais especificamente do livro quatro no qual a discussão que almejamos a alcançar está centralizada nesse ponto do livro. No que se refere ao filosofo romano Sêneca fizemos a leitura da obra intitulada cartas a Lucilio.E por fim fizemos a leitura de alguns teóricos que fazem a discussão a respeito da filosofia desses dois autores, com finalidade de enriquecer nosso trabalho. Resultado e discussões: Schopenhauer afirma que temos um caráter determinado , para ele existe três face desse caráter.Poderíamos compreender o caráter inteligível como uma ato originário da Vontade, ou seja, um ato extra temporal e indiviso que se manifesta num determinado fenômeno já o caráter empírico é como esse fenômeno se expõe conforme a experiência.O caráter empírico é peculiar a cada indivíduo e é conhecido conforme a experiência, no modo de ação e decurso da vida.Com base nessa linha de pensamento, podemos afirmar que os homens sempre agem de acordo com seu caráter. Quando uma escolha se apresenta, o homem não sabe como a vontade decidirá, pois diante dos motivos dados só uma decisão é possível, muito embora não compreendamos isso pelo nosso intelecto, apenas aposteri fica acessível ao nosso conhecimento.Nesse sentido,o intelecto só pode clarear as naturezas dos motivos que nos impulsionaram a agir de uma determinada forma, se o homem pudesse agir sob condições iguais, ora de uma maneira ora de outra, ele poderia ser considerado livre.Quando uma situação difícil apresenta- se-nos na maioria das vezes a ponderação racional fala em favor em uma decisão e a inclinação interior em favor de outra.Podemos por meio da reflexão pensar nos prós e contras, no entanto, a decisão propriamente dita já foi tomada pela determinação do caráter.O agir do homem é completamente necessário a partir do confronto dos motivos com caráter,segue-se que dados determinados motivos, o homem sempre age de uma determinada maneira.Ao longo de O Mundo como Vontade e como representação, Schopenhauer dialoga com varias doutrinas filosóficas, mas podemos perceber no que diz respeito a esta leitura determinista sobre o caráter, o filósofo alemão tem uma grande influência do estoicismo, isto pode ser percebido não é apenas no que diz respeito a leitura fatalista que ele tem da realidade; mas também a uma possível saída para o aperfeiçoamento do homem.Para os estoicos todo indivíduo possui uma tensão interior ou estrutura que faz com que não se assemelhem entre si; não existem duas plantas, dois ovos e dois irmãos que sejam rigorosamente iguais. Além disso, os estoicos afirmam que os homens estão extremamente condicionados pelas impressões que recebem de fora e pelo impacto que estas exercem no seu estado mental interno.Desse modo, dadas as mesmas condições, os homens agem sempre da mesma maneira. Além disso, ao lado do caráter inteligível e empírico Schopenhauer acrescenta um terceiro diferente dos dois anteriores, a saber, o caráter adquirido o qual se obtém com o comércio com mundo,isto é, quando pela reflexão percebemos nossas inclinações, pois não é porque sempre agimos do mesmo modo, ou seja, dadas as determinadas situações agimos sempre da mesma forma, que não existe necessidade nos compreendermos.Muitas vezes não nos conhecemos não sabemos as motivações que nos faz agir de uma forma e não de outra. Dessa forma, a razão prática na filosofia Schopenhaueriana entra em cena, pois por meio da racionalidade, podemos entender nossas inclinações. Embora a conduta esteja determinada desde o nascimento até a morte isso não impossibilita que pelo do uso da razão possamos entender nossas motivações e até mesmo conhecermos a parti das ações efetivadas, o que somos mesmo de modo parcial e desse modo evitarmos os meios para não praticamos ações indesejadas, já que aparecendo tais condições o indivíduo sempre agirá da mesma forma.Não podemos mudar o caráter inteligível, no entanto por meio do uso diário da reflexão, ou seja, do autoconhecimento podemos compreender o modo como reagimos no mundo e como apreendermos como lidarmos com os pontos fortes e fracos da nossa individualidade. Nesse sentido não está em nosso poder escolher ser outra pessoa, mas conhecermos através do uso da razão nossa individualidade e procurar melhores meios da desviar de uma situação não adequada está em nosso poder. Conclusão: Nosso intuito neste exposicão foi o de apresentar algumas breves observações acerca da filosofia de Artur Schopenhauer, tendo como foco o diálogo do filósofo alemão e a filosofia de Sêneca no que diz respeito ao uso da razão prática para um melhoramento dos indivíduos. Podemos perceber que todas as ações do homem devem ser consideradas sob um viés prático. A faculdade racional na filosofia de Schopenhauer não pode ser considerado o fundamento do agir moral, pois, assim como a faculdade racional possibilita ao homem agir com prudência e refletir sobre sua conduta é a mesma que possibilita ao homem planejar e executar atos cruéis. Para o filósofo alemão a razão é considerada prática pela capacidade de reflexão e de conhecimento de si que os homens tem em face dos animais. Schopenhauer considera a ética estoica como o desenvolvimento perfeito da razão prática, pois para os estoicos essa faculdade é a única via para o aperfeiçoamento dos o homens, o mundo segundo o estoico é um organismo vivo integralmente racional, nesse sentido, viver de acordo com a natureza, tema fundamental da ética estoica, é viver de acordo com a faculdade racional que é comum a todos os homens.Desse modo podemos identificar a razão prática na filosofia de Schopenhauer como uma faculdade que possibilita ao homem a entender seu modo de agir no mundo e não como fundamento do agir moral como foi assegurado por grande parte dos sistemas morais ao longo da história da filosofia.Para o filósofo alemão, a filosofia é sempre teórica na medida em que se deve manter a atitude puramente contemplativa, é sempre indagar em vez de prescrever regras.Nesse sentido, a virtude não pode ser ensinada, pois se fosse, possível ensiná-las os sistemas éticos formariam pessoas virtuosas desde os tempos de Aristóteles. No que se refere à moral o conhecimento abstrato não pode originar a virtude autêntica,o que ele pode é torna os indivíduos mais conscientes de suas ações.Além disso Defendemos a tese de que mesmo sendo predeterminados pelo nosso caráter, ainda está em nosso poder refletirmos sobre nós mesmos, assim é que acreditamos que a filosofia de Sêneca é uma chave de leitura complementar à filosofia schopenhauriana, porque, para o filósofo romano, mesmo que sejamos determinados por nossa qualidade própria, está em nosso poder o conhecimento nos mesmos com o uso diário da reflexão. Desse modo o uso da razão, para Sêneca, é o único meio possível para o melhoramento dos indivíduos e para entendermos o que queremos e o que podemos fazer, ou seja, entendermos nossa interioridade. Palavras chaves: Razão prática, Caráter, Conhecimento de si, Referências Bibliográficas: FREDE,Dorathea.Determinismo estoico(in.)INWOOD,Brad(org.) Os estoicos.São Paulo:Odysseus,2006. 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