UFPB-PRAC_______________________________________________________________XII Encontro de Extensão 6CCSDEFPE03 RESPOSTAS CARDIOVASCULARES AGUDAS PARA EXERCÍCIOS DE MUSCULAÇÃO: COMPARAÇÃO ENTRE JOVENS E IDOSOS Walkíria Valeriano da Silva1; Aline Nóbrega Rabay2; Cyntia Araújo Trindade2; Daniel dos Santos Ferreira2; Gabriel Câmara de Oliveira e Silva2; Lydiane Tavares Toscano2; Maria Irene de Andrade Gomes Silva2; Alexandre Sérgio Silva3. Centro de Ciências da Saúde/Departamento de Educação Física/PROBEX RESUMO Embora a monitoração da frequência cardíaca, pressão arterial e percepção subjetiva de esforço sejam importantes para aumentar a segurança da prática de exercício físico, a avaliação isolada destas variáveis não é capaz de predizer o esforço miocárdico durante o treinamento físico. Isto é melhor obtido apenas pelo duplo produto, de modo que sua medida se torna mais importante na medida em que se aumenta a idade das pessoas, ocorre presença de doenças cardiovasculares ou são praticadas modalidades de exercícios reconhecidas por promoverem maiores estresses cardiovasculares como é o caso dos exercícios resistidos. O objetivo deste estudo foi comparar a reposta do duplo produto (DP) a uma sessão de treinamento com exercícios resistidos (ER) entre sujeitos jovens, idosos hipertensos e idosos normotensos. Participaram do estudo10 jovens (22,3 ± 3,5 anos), 10 sujeitos de meia idade/idosos normotensos (55,2 ± 4,3 anos) e 10 idosos hipertensos (62,5 ± 7,6), previamente praticantes da modalidade de ER. Eles foram submetidos a dois protocolos de exercícios sendo um com intensidade moderada (15 repetições com 60% de 10RM) e outro com carga intensa (8 repetições com 80% de 10RM), nos exercícios Leg 45º e Pulley Frontal. Houve um intervalo de 48horas entre os dois protocolos. A frequência cardíaca (FC), pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) foram mensuradas antes, durante e imediatamente após os exercícios. Os dados foram tratados pelo teste de ANOVA one way (p<0,05). Observou-se que a pressão arterial sistólica não se altera entre jovens e idosos. A frequência cardíaca foi sempre maior nos jovens, seja para exercícios de Leg 45° ou Pulley Frontal, como também independentemente da intensidade (60 ou 80% de 10RM). Como resultado, o duplo produto de jovens foi significativamente maior em relação aos idosos nos dois exercícios e nas duas intensidades estudas. Entre idosos hipertensos e normotensos, não se observou diferenças. Por causa do menor duplo produto entre os idosos, concluímos que o exercício resistido é uma atividade segura do ponto de vista do esforço miocárdico para idosos, mesmo entre aqueles que apresentam hipertensão arterial. Palavras chave: Exercício resistido, Duplo produto, Hipertensão arterial ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ (1) Bolsista, (2) Voluntário/colaborador, (3) Orientador/Coordenador, (4) Prof. colaborador, (5) Técnico colaborador. UFPB-PRAC_______________________________________________________________XII Encontro de Extensão INTRODUÇÃO Nos últimos anos, tem sido demonstrado que, assim como a prática de modalidades aeróbias, o exercício resistido (musculação) é eficaz no tratamento não farmacológico, de doenças como a hipertensão e a insuficiência cardíaca crônica (TERRA et. al, 2008). No entanto, sempre existe um risco associado à prática de exercícios físicos, que está aumentado em portadores de enfermidades cardiovasculares ou em idosos. Por este motivo, as observações das respostas cardiovasculares durante o exercício são importantes medidas para garantir a segurança do treinamento. Dentre as variáveis que precisam ser monitoradas, estão a pressão arterial (PA), freqüência cardíaca (FC) e o duplo produto (DP) (POLITO e FARINATTI, 2003). O duplo produto (FC x PAS) tem sido considerado de grande importância porque FC e PAS, analisados separadamente, podem não corresponder totalmente ao esforço cardíaco observados durante o exercício (SILVA et. al, 2010; CAMARA et. al, 2010). Diversos estudos já compararam a resposta do duplo produto no exercício sob várias condições (LOPES et. al, 2006, MONTEIRO et. al, 2008), (MIRANDA et. al, 2005), em (SILVA, et. al, 2010; POLITO et. al, 2004), mas até o momento não se dispõe de estudos que investigaram se o envelhecimento e a presença de hipertensão arterial são fatores que afetam a resposta do duplo produto e, consequentemente a segurança cardiovascular em exercícios resistidos. OBJETIVO O objetivo deste estudo foi comparar a reposta do duplo produto a uma sessão de treinamento com exercícios resistidos entre sujeitos jovens, idosos hipertensos e meia idade/idosos normotensos. METODOLOGIA Sujeitos do estudo: Foram três grupos, sendo um de jovens normotensos (n=10, 22,3 ± 3,5 anos), um de meia idade/idosos normotensos (n=10, 55,2 ± 4,3 anos) e outro de idosos hipertensos (n=10, 62,5 ± 7,6 anos). Com pelo menos 3 meses de atividade contínua na modalidade e assiduidade de 3 vezes por semana e não usar medicamentos da classe dos betabloqueadores. Todos assinaram previamente o termo de consentimento livre e esclarecido. Desenho do estudo: Os três grupos realizaram dois protocolos de exercícios, sendo um deles de exercício de RML (intensidade de 60% de 10RM) e outro de exercício de hipertrofia (intensidade de 80% de 10RM). Para cada protocolo foi utilizada uma máquina para membro superior e outra para membro inferior. Medidas de freqüência cárdica, pressão arterial e duplo produto foram realizadas antes, durante e imediatamente após os exercícios. Protocolo de exercício: Após duas semanas de adaptação, todos realizaram um teste de 10RM, seguindo um protocolo adaptado de Kraemer e Fry (1995). Quarenta e oito horas após, deram-se início aos protocolos experimentais. A ordem dos protocolos foi determinada aleatoriamente. O primeiro protocolo foi o do exercício caracterizado como RML, que consistiu UFPB-PRAC_______________________________________________________________XII Encontro de Extensão de três séries de 15 repetições com intensidade de 60% de 10 RM nos exercícios de Pulley Frontal e Leg 45°. O protocolo de hipertrofia foi efetuado 48 horas após, nos mesmos exercícios, sendo que com 3 séries de 8 repetições com intensidade de 80% de 10 RM. A cadência utilizada foi de 2 segundos de fase excêntrica e 1 segundo de fase concêntrica, e o intervalo entre as séries foi de 1 minuto para ambos os protocolos. O aquecimento foi realizado na própria máquina para e consistiu de 20 a 30 repetições com carga de 20% de 10 RM. Pressão arterial (PA), Freqüência cardíaca (FC) e Duplo produto (DP): A PA foi medida com um esfigmomanômetro aneróide da marca Missouri (Embu, Brasil), seguindo o protocolo recomendado pelas V diretrizes Brasileiras e Hipertensão arterial (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2006). Os pesquisadores foram treinados para fazer a medida entre 25 e 30 segundos. A PA de repouso (PAR) foi avaliada após os 10 minutos em que os indivíduos permanecerão sentados, juntamente com a medição da freqüência cardíaca de repouso (FCR). Para as medidas de PA em resposta aos exercícios, os sujeitos do estudo foram instrumentados com o manguito antes da realização das séries. Na antepenúltima repetição de cada série no exercício Leg 45°, os pesquisadores iniciaram a inflação do manguito, de modo que imediatamente ao final da série, já foi possível iniciar a desinflação do manguito e a leitura da PA. Como no exercício de Pulley Frontal não era possível fazer a inflação do manguito durante a realização do mesmo, os pesquisadores iniciaram a inflação do manguito imediatamente ao final da série. Com resultado, a medida de PA foi obtida entre 25 e 30 segundos após o final das séries. A FC foi verificada de três em três segundos, durante a execução das séries. Para isso, os sujeitos foram previamente instrumentados com a cinta de um monitor de freqüência cardíaca (Timex SD456, Estados Unidos, Middlebury). Com os valores de FC e PA sistólica, foi calculado o duplo produto dos sujeitos, seguindo a equação: DP (PAS x FC), onde: DP= Duplo Produto; PAS= Pressão Arterial Sistólica; FC= Frequência Cardíaca Analise estatística: Os dados são média e desvio padrão. Foi utilizado o teste de ANOVA one way, com auxílio do software estatístico Instat 3.0 (graph Pad Instata, San Diego, USA), adotando-se nível de confiança de 5%. RESULTADOS A tabela 1 apresenta as características dos três grupos. O IMC se mostrou similar entre os grupos, mas a circunferência de cintura era diferente entre todos os grupos. Jovens e idosos apresentavam freqüência cardíaca de repouso também similares, enquanto a pressão arterial foi maior entre os idosos hipertensos em algumas das medidas basais. Pressão arterial e FC basal eram similares nos dois dias de coletas de dados entre o mesmo grupo. UFPB-PRAC_______________________________________________________________XII Encontro de Extensão Tabela 1: Condições antropométricas e hemodinâmicas basais dos grupos estudados Jovens Idosos normotensos Idosos hipertensos Idade 22,3 ± 3 55,2 ± 4 62,5 ± 7 IMC 22,6 ± 1 24,8 ± 2 26,5 ± 4 Cintura 74,81 ± 7 84,05 ± 8 93,7 ± 8 #* 77 ± 9 71,1 ± 5 72,4 ±15 PAS repouso 60% 119,4 ± 9 120,1 ± 11 132,4 ± 19 PAD repouso 60% 78,5 ± 6 81 ± 6 78,6 ± 14 FC repouso 80% 80 ± 11 73,9 ± 8 74,8 ± 16 # PAS repouso 80% 115 ± 9 114 ± 10 133,2 ±19 #* PAD repouso 80% 75,4 ± 9 75,5 ± 8 81,9 ± 14 FC repouso 60% Os dados estão apresentados como média ± desvio padrão. IMC= índice de massa corpórea; FC= freqüência cardíaca; PAS=pressão arterial sistólica; PAD=pressão arterial diastólica; (*) = Diferença detectada entre jovens e hipertensos; (#) = Diferença detectada entre jovens e normotensos. Na figura 1 estão apresentadas as médias da freqüência cardíaca ao longo dos exercícios e a média da pressão arterial sistólica imediatamente ao final das três séries realizadas, com o conseqüente duplo produto em resposta a cada conjunto de três séries nos exercícios realizados a 60% e 80% de 10 RM. Enquanto o comportamento da PAS foi bastante similar entre os três grupos nos exercícios a 60% de 10RM, a freqüência cardíaca dos jovens se mostrou mais elevada em relação ao grupo de idosos hipertensos no exercício Leg e em relação aos dois grupos de idosos no exercício Pulley. Como conseqüência, o duplo produto dos idosos se mostrou significativamente menor em relação aos jovens para os exercícios Leg e Pulley quando realizados numa intensidade de 60% de 10RM (figura 1, painel A). Nos exercícios a 80% de 10RM, as diferenças entre jovens, idosos normotensos e idosos hipertensos foram semelhantes ao que ocorreu com os exercícios de menor intensidade (60% de 10RM), à exceção do fato de que o duplo produto dos idosos hipertensos não foi menor que para os jovens. Apesar disso, idosos hipertensos e normotensos não diferiram para esta mesma variável. Estes dados estão apresentados no painel B da figura 1. UFPB-PRAC_______________________________________________________________XII Encontro de Extensão 100 50 0 * # * 100 50 * 20000 * 15000 10000 5000 0 0 Pulley Leg 45º Sist (80%) Leg 45º Pulley 100 50 0 Pulley 20000 # * # # # * * Duplo Produto Frequência Cardíaca (spm) 150 150 Pulley DP (80%) FC (80%) 200 Leg 45º 25000 # 150 Duplo Produto 150 Leg 45º Pressão sistólica (mmHg) DP (60%) FC (60%) Frequência Cardíaca (spm) Pressão sistólica (mmHg) Sist (60%) 200 100 50 0 15000 10000 5000 0 Leg 45º Pulley Leg 45º Jovens Pulley Id. Normot. Figura 1: Respostas cardiovasculares aos exercícios realizados. (*) = Diferença significativa entre Jovens e Hipertensos; (#) = Diferença significante entre Jovens e Normotensos. DISCUSSÃO O maior duplo produto foi obtido pelos jovens em relação aos dois grupos de idosos se deu unicamente à custa apenas da freqüência cárdica no exercício. Portanto, a pressão arterial sistólica não se modifica na comparação entre jovens e idosos, mesmo considerando um grupo de idosos hipertensos. Os maiores valores de freqüência cardíaca em jovens se explica porque a freqüência cardíaca máxima é inversamente relacionada com a idade (ROBERTS e ROBERGS, 2002). Logo, uma freqüência cardíaca submáxima para uma mesma intensidade de exercício vai ser menor com o aumento da idade. O duplo produto tem sido considerado a melhor ferramenta para avaliar a segurança cardiovascular durante o exercício, superando a freqüência cardíaca neste fim (POLITO e FARINATTI, 2003). Isto porque o mesmo indica o grau de esforço miocárdico durante o exercício, o que o torna muito útil quando se realiza treinamento com populações especiais, especialmente idosos e cardiopatas, cujo risco cardiovascular no exercício é maior. O principal achado do nosso estudo está no fato de que o duplo produto se mostra menor em idosos, e, principalmente, que a presença de hipertensão não altera do duplo produto de idosos em relação a idosos normotensos. Portanto, do ponto de vista do esforço miocárdico, o exercício resistido pode ser considerado seguro para idosos, mesmo que sejam hipertensos. Este é um dado interessante ao se considerar que a menos de duas décadas, existia uma insegurança por parte de profissionais de saúde quanto aos riscos do exercício resistido Id. Hipert. UFPB-PRAC_______________________________________________________________XII Encontro de Extensão para idosos e cardiopatas. Nosso estudo enfraquece este temor, até porque não somos os primeiros a observar a segurança cardiovascular do exercício resistido para idosos (POLITO e FARINATTI, 2003). Portanto, a conseqüência prática deste nosso estudo é que estamos reforçando um conceito recente de que profissionais de saúde podem contar com opção do exercício resistido para idosos, considerando todos os benefícios que o aumento da força muscular pode trazer para esta população (SEGUIN e NELSON, 2003; HUNTER et. al, 2004). CONCLUSÃO Os dados deste estudo mostraram que o esforço miocárdico durante exercícios resistido não se altera entre jovens saudáveis e idosos, mesmo quanto estes são hipertensos. Portanto, esta investigação corrobora com dados recente de que o exercício resistido pode ser prescrito com segurança como modalidade de exercícios para idosos, independentemente de eles serem afetados pela hipertensão arterial. REFERÊNCIAS CAMARA, F.M.; MIRANDA, M.L.J.; VELARDI, M. 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