do arquivo 46_0189

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Ocorrência de Begomovírus na cultura de pimentão no Estado de São
Paulo.
Denise Nakada Nozaki1; Renate Krause-Sakate1; Fábio Augusto Manetti1; Nobuyoshi
Narita2; Marcelo Agenor Pavan1
1
UNESP/Faculdade de Ciências Agronômicas (Departamento de Produção Vegetal-Setor de Defesa
Fitossanitária, Rua José Barbosa de Barros nº1780, C.P. 237, 18.610-307, Botucatu-SP); 2Apta
Regional Pólo da Alta Sorocabana (Rodovia Raposo Tavares Km 561, C.P. 298, 19015-970, Presidente
Prudente-SP).
e-mail: [email protected]
RESUMO
Os vírus pertencentes ao gênero Begomovirus são transmitidos por mosca-branca do
gênero Bemisia tabaci G., e constituem um dos problemas fitossanitários sérios em
diversas culturas. Plantas de pimentão coletadas em 4 regiões do Estado de São Paulo,
foram submetidas a extração de DNA total e PCR com primers universais para
begomovírus, que amplificam parte da região codificadora para a proteína capsicial.
Isolados positivos foram seqüenciados e análise destas seqüências revelaram identidade
com o Tomato severe rugose virus – ToSRV (AY029750) e com Tomato golden vein virus
– ToGVV (AY751742), espécies descritas infectando tomateiro no Brasil. A presença de
begomovírus em pimentão foi verificada nas regiões de Alvinlândia, Ubirajara, Mogi
Guaçu, Paranapanema e Pirajú.
Palavras-chaves: Capsicum annuum L, Tomato severe rugose virus, Tomato golden vein
virus.
ABSTRACT – Occurrence of Begomovirus infecting pepper crops in São Paulo
State.
Species belonging to the Begomovirus genus are transmitted by whiteflies (Bemisia tabaci
G.) and causes important losses for differents cultivated plants. The DNA from pepper
samples collected from four different producing areas of São Paulo state was extracted
and a PCR reaction with universal primers for begomovirus was carried out to amplify
partial sequences of the coat protein gene. DNA sequences analysis revealed high
nucleotide identity with Tomato severe rugose virus – ToSRV (AY029750), and with
Tomato golden vein virus – ToGVV (AY751742), viruses previously reported on tomato.
Pepper infected with begomoviruses were observed in Alvinlândia, Ubirajara, Mogi Guaçu,
Paranapanema and Piraju areas.
Keywords: Capsicum annuum L, Tomato severe rugose virus, Tomato golden vein virus.
INTRODUÇÃO
Os vírus pertencentes a família Geminiviridae são caracterizados pela morfologia de
partículas icosaédricas geminadas e genoma composto por DNA de fita simples circular.
O gênero Begomovirus é constituído por vírus transmitido por mosca-branca para
dicotiledôneas, causando grande prejuízo em várias culturas em todo mundo, possuem
genoma dividido em dois componentes. Cada um dos componentes (DNA-A e DNA-B) é
responsável por etapas distintas do processo de infecção, sendo o DNA-A responsável
pela replicação viral, e formação da capa protéica e o DNA-B responsável pela
disseminação (célula-a-célula e longa distância) do vírus na planta (Hanley-Bowdoin et al.,
1999). O aumento expressivo da doença nestes últimos anos deve-se possivelmente a
presença de um novo biótipo (biótipo B) da mosca-branca (Bemisia tabaci). O biótipo B
quando comparado ao biótipo A, apresenta uma gama de hospedeiros muito mais ampla,
incluindo várias solanáceas e um grau de adaptação climática e dispersão muito maior
quando comparado ao biótipo A da mesma espécie (Bedford et al., 1994).
Este trabalho teve como objetivo determinar os possíveis locais de ocorrência de
begomovirus na cultura de pimentão no estado de São Paulo e identificar as espécies
predominantes nesta cultura.
MATERIAL E MÉTODOS
Noventa e quatro amostras de plantas de pimentão incluindo as variedades P36R, Lilac e
Mandarin apresentado amarelecimento e distorção foliar foram coletadas nos municípios
de Paranapanema e Piraju; 64 amostras de pimenta Dínamo e pimentão dos cultivares
Atlantic e Máximo na região de Marília (municípios de Alvilândia e Ubirajara), sendo
nestas duas regiões pimentão sob cultivo protegido; 52 amostras de pimentão Magali R
no município de Elias Fausto e 8 amostras das variedades P36R na região de Mogi
Guaçu sob cultivo de campo aberto. Todas as amostras foram submetidas a extração de
DNA total (Dellaporta et al., 1983) e reação de PCR com os oligonucleotídeos
PrV324/PrC883 (Wyatt & Brown, 1996) que amplificam um fragmento de 576bp, parte do
gene que codifica a proteína capsidial de begomovírus. As amostras positivas foram
seqüenciadas, comparados com seqüências do GenBank, analisadas com os programas
Clustal X, e uma árvore filogenética obtida com o programa Mega versão 3.1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No município de Elias Fausto nenhuma das amostras coletadas mostrou-se infectada por
begomovírus. Nesta região não havia sido verificada presença de mosca-branca
associada ao pimentão. Na região de Paranapanema e Piraju 16 amostras coletadas
foram positivas (17,02% do total), na região de Marília apenas 3,12% das amostras foram
positivas (2 plantas em um total de 64) e em Mogi Guaçu 1 amostra das 8 coletadas foi
positiva correspondendo a 12,5% do total (Tabela 1). Em todas as regiões onde foram
encontradas amostras positivas, as plantas de pimentão encontravam-se sobre alta
pressão de mosca-branca. Nas regiões de Paranapanema, Piraju, e Marília a aréa de
cultivo de pimentão havia sido anteriormente utilizada com tomateiro.
Segundo Brown et al. (2001), o sequenciamento da porção 5’ da região codificadora para
a proteína capsidial permite uma classificação provisória da espécie de begomovírus
infectando a amostra, porém com a ressalta já alertada por Padidam et al., 1999 da
ocorrência de frequentes recombinações entre isolados de begomovírus e o problema de
se utilizar uma pequena região genômica para classificar o isolado em espécie. Deste
modo, os primers 324/889 amplificam a porção 5’ do genoma dos begomovírus e foram
utilizados para classificação provisória dos isolados coletados. Foram sequenciados 11
isolados da região de Paranapanema e Piraju, os dois isolados positivos da região de
Marília e um isolado e Mogi Guaçu.
A análise das seqüências de begomovirus obtidas neste trabalho com demais disponíveis
no GenBank identificaram a ocorrência possível das espécies Tomato severe rugose virus
(ToSRV) nas regiões de Paranapanema, Piraju e Marília e do Tomato golden vein virus
(ToGVV, AY751742) ou Tomato yellow vein streak virus (ToYVSV, AY829113) na região
de Marília (Alvinlândia) e Mogi Guaçu. Os isolados de ToSRV aqui analisados
apresentaram identidade de aminoácidos variando de 96 a 98%, enquanto que isolados
de ToGVV revelaram identidade de 93 e 91%.
Os resultados aqui obtidos revelaram que as espécies ToSRV e ToYVSV/ToGVV que
haviam sido relatadas até então no Brasil em tomateiro, atualmente estão infectando
pimentão e utilizando esta planta como possível hospedeira alternativa.
LITERATURA CITADA
BEDFORD, I.D.; BRIDDON, R.W.; BROWN, J.K.; ROSELL, R.C.; MARKHAM, P.G.
Geminivirus transmission and biological characterization of Bemisia tabaci (Gennadius)
biotypes from different geographical regions. Annals of Applied Biology, v. 125, p. 311325, 1994.
BROWN, J. K.; IDRIS, A. M.; TORRES-JEREZ, I.; BANKS, G. K.; WYATT, S. D. The core
region of the coat protein gene is highly useful for establishing the provisional identification and
classification of begomoviruses. Archives of Virology, Springer Wien, v.146, n. 8, p.1581-1598,
2001.
DELLAPORTA, S.L.; WOODS, J.; HICKS, J.B. A plant minipreparations, version II. Plant
Mol. Biol. Rep., v.1, p.19-21, 1983.
HANLEY-BOWDOIN, L.; SETTLAGE, S.B.; OROZCO, B.M.; NAGAR, S.; ROBERTSON,
D. Geminiviruses: Models for plant DNA replication, transcription, and cell cycle regulation.
Critical Reviews in Plant Sciences, v. 18, p. 71-106, 1999.
PADIDAM, M.; SAWYER, S. & FAUQUET, C. M. Possible emergence of new geminivirus
by frequent recombination. Virology, v.265, p.218-225, 1999.
WYATT, S.D. & BROWN, J.K. Detection of subgroup III geminivirus isolates in leaf
extracts by degenerate primers and polymerase chain reaction. Phytopathology. v.86,
p.1288-1293, 1996.
Tabela 1. Presença de Begomovirus em pimentão diagnosticado por PCR.
Município
Plantas
coletadas
e
64
Alvinlândia
Ubirajara
Paranapanema
e Piraju
Elias Fausto
Mogi Guaçu
Cultivar
Positivas
%
2
3,125%
94
Atlantic
Pimenta- Dinamo
Mandarin e Lilac
Mosca
branca
+
16
17,02%
+
52
8
Magali R
P36R
0
1
0%
12,5%
+
196 Piraju
52
200 Piraju
192 Piraju
183 Piraju
190 Piraju
295 Marília
55
189 Piraju
174 Paranapanema
172 Paranapanema
60
173 Paranapanema
188 Piraju
175 Paranapanema
ToSRV.AY029750
SiMoV.AY090555
ToCMoV.AF490004
67
TORMV.AF291705
98
BGMV.M88686
ToGVV.AY751742
233 Marília
93
308 Mogi-Guaçu
0.02
Figura 1. Árvore filogenética referente à parte da região codificadora para a capa protéica
obtida com os primers PrV324/PrC883. Valor de Bootstrap 2000. Programa Mega Versão
3.1.
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